terça-feira, novembro 24, 2015

Três razões para o terrorismo islâmico na Europa: 3. o relativismo cultural

Passaram mais de dez anos sobre os ataques de Madrid e Londres. As prédicas nas mesquitas (mas também nas prisões e em associações ditas culturais) prosseguiram. 
Repito-me: na Europa não pode haver lugar para indivíduos que usam a lei e a democracia para coagir cidadãos e envenenar-lhes as mentes; não pode haver lugar para os que tratam as mulheres como propriedade sua e com inferiores. E muito menos para uma interpretação cobarde do laicismo, como sucede em locais de França, e porventura não só, que leva a episódios ridículos como o da proibição do Presépio em vários municípios, para não se ferirem susceptibilidades...
Chegados a este estádio, a questão põe-se com uma simplicidade infantil e como uma clareza meridiana: não partilham dos valores democráticos e liberais, resistem-lhes, sabotando-os, se forem estrangeiros, borda fora; se forem nacionais, estão fora da lei -- para isso há os tribunais e as prisões.
Isto soa um bocado lepénico, e é pena, mas não nos deixam alternativa. Sejamos intolerantes para com intolerância. Não demos aos nossos inimigos (pois é de inimigos que se trata), a corda com que nos querem enforcar.

4 comentários:

Jaime Santos disse...

Deixe-me responder-lhe às razões 2 e 3 num único comentário. Relativamente à situação social que leva muitos jovens provenientes de meios migrantes e desfavorecidos a alinhar com o radicalismo jihadista, estou de acordo. A Europa tem voltado as costas à formação destes jovens (o mesmo se passa na Alemanha com a comunidade turca) e a sua incapacidade para singrarem na vida deixa-lhes como único motivo de orgulho a sua suposta identidade islâmica, Trata-se no fundo de um problema de ressentimento social. Com armas na mão passam à posição de dominadores. Para isso é necessário criar uma contra-doutrinação republicana, que inclua também oportunidades de subirem na vida e de sentirem orgulho em serem Franceses e Europeus. Já relativamente ao discurso de ódio, tenho sérias dúvidas em relação ao que preconiza. O apelo (ou mesmo a glorificação) da violência devem ser perseguidos, mas será que poderemos impedir um discurso de ódio? Se o fizermos, de seguida teremos que proibir o discurso de ódio contra as religiões e quem define o que é ódio e o que é crítica válida ou sátira (mesmo que grosseira)? Parece-me que aqui serão os próprios muçulmanos que se opõem à violência que têm que desenvolver uma contra-argumentação e desencadear uma batalha intelectual contra estes movimentos, até porque há tradições islâmicas de cariz anti-violento, como o sufismo (que os salafistas detestam). Por último, será necessário fazer o óbvio que é trabalho de polícia, combate ao financiamento e se necessário o recurso a meios militares. Aparentemente, o Governo iraquiano (xiita) avisou a França em Setembro de 2014 que poderia ser objeto de ataques e os Franceses levaram um Ano a reagir (ver o tal artigo de Juan Cole na 'The Nation')...

Ricardo António Alves disse...

Deixe-me primeiro agradecer-lhe a atenção prestada a estes posts.
Sim, o combate deve ser feito (ou deveria sê-lo) dentro da comunidade islâmica, também já o escrevi aqui noutra ocasião. Quanto à proibição, não tenho qualquer dúvida de que os discursos de incitamento ao ódio devem ser reprimidos. Pois não o são também, e bem, a violência étnica / racismo ou as organizações fascistas? Se a negação do Holocausto (e agora também a do genocídio arménio) é criminalizada, como não reprimir, com eficácia e todos os meios, a pregação do ódio que chega dolorosamente a vias de facto? É que não se trata de reprimir a liberdade de expressão, em que um teólogo escreve, no recato do seu gabinete, uma obra em que preconiza a adopção universal da lei islâmica; trata-se mesmo duma ameaça, já em fase de concretização. Claro que a repressão é sempre a última solução, mas, chegados aqui, poderemos dispensá-la? Não o creio. E, obviamente, as sociedades ocidentais reverem, tornando-as mais efectivas, as suas políticas de integração, bem como todo o desastre que tem sido a política externa ocidental, a qual, diga-se nem teve o aval inicial da França.
Enfim, temos aqui um problema para muito tempo; e, ou se consegue revertê-lo já, ou isto vai ser mau para todos -- a começar pela França.

Jaime Santos disse...

A França criticou e bem a aventura iraquiana, mas recordo-me de nos anos 90 um jornalista se insurgir com a tolerância que os EUA e a França mostravam com os talibâs afegãos, na esperança de que estabilizassem o País e permitissem a construção de um pipeline. Dizia o dito jornalista que se queriam os talibãs, que os aturassem a seguir. Não foi preciso esperar muito. E repare que isto foi na época de Clinton e de Chirac/Jospin... A rebelião na Líbia e a desestabilização do regime de Assad, por outro lado, foram apoiados pela França (embora Assad tenha reprimido violentamente manifestações pacíficas no início, pelo que estava a pedi-las). Por último, a França tem apoiado acriticamente quer as Monarquias do Golfo (que com certeza financiam secretamente estes movimentos), quer Israel (a Esquerda Francesa em particular), o que aliena os Muçulmanos (e os Palestinianos e os Curdos são pelos vistos os mais seculares de todos os Muçulmanos). Ou seja, mesmo se o principal erro/crime foi de facto a estúpida invasão do Iraque pelo tandem Bush/Blair, a França tem muitas culpas no cartório...

Ricardo António Alves disse...

Sim, não tenho dúvidas quanto a isso. Quanto à Líbia, a postura do Kadafi não foi diferente do do Assad. Diria até que foi mais ostensiva. Aliás, todas as potências, pequenas e grandes europeias, têm os seus pecadilhos. Se recuarmos aos anos 90, basta lembrar a antiga Jugoslávia, o modo como a desagregação foi provocada e o imbróglio que continua a ser a Bósnia-Herzegovina, já para não falar da aberração política que é o Kosovo.