terça-feira, dezembro 03, 2013

mansos, mas perigosos

Na excelente entrevista que deu ao Expresso, Rui Nunes disse que o impressionava "a mansidão" dos portugueses, acrescentando: "Este povo foge, não enfrenta."
Trata-se de uma meia verdade. Nem vale a pena irmos aos Lusitanos, esse beirões bárbaros, para lembrarmos como foi dura a conquista romana ("não se governam nem se deixam governar", não é?). Este país fez-se à estalada, e os quase nove séculos que leva de existência ininterrupta (a união filipina foi isso mesmo, a junção, e não a fusão de duas coroas), não permitem que nos possamos caracterizar como bons de assoar. É Manuel Alegre quem costuma dizer que a história dos brandos costumes é uma treta. Basta lembrarmo-nos da sangrenta guerra civil ou, anos antes, das invasões napoleónicas, em que francês capturado era francês grelhado ou crucificado como um cristo numa superfície de madeira mais à mão, até apodrecer; e também não foi com suavidade que sustentaram uma guerra colonial em três frentes durante treze anos; como não tinham sido gentis no Índico, uns séculos antes, passando a fio de espada populações autóctones ou pondo a tormento os comandantes de barcos inimigos, antes de os incendiarem e afundarem, com as tripulações lá dentro...
Os portugueses serão mansos, até se sentirem acossados. Nessa altura mostram a sua natureza de animais ferozes, gente que joga à bola com as cabeças decepadas dos inimigos, que amputa os seios às mulheres, que fabrica cristos de carne e osso.

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