Dedicatória impressa: «a meu irmão / Julio d'Assis Esperança / / companheiro de todas as horas, na admiração profunda pela amizade de sempre.»
Segundo título do escritor, depois da narrativa A Vertigem (1919).
Protagonistas principais:
Carlos d'Azevedo -- banqueiro, tuberculoso em estado adiantado. Casa com a filha do sócio, entretanto falecido.
Alda -- Mulher de Carlos, jovem e abnegada. O marido oculta-lhe o estado de saúde, passível de contágio.
Henrique -- braço direito de Carlos. Fora noivo de Alda, escondendo uma ligação paralela, que vem a ser descoberta. Revela escrúpulos e uma atitude altruísta pouco coerente com a deslealdade passada -- como se se tratasse duma redenção.
O romance está construído como um longo testemunho de Carlos dirigido a Alda, redigido na prisão, após o assassínio de Henrique às suas mãos. Perturbado pelo interesse solícito de Henrique pela saúde da mulher, Carlos mata aquele, impedindo uma possível união de ambos após a sua morte.
O estilo escorreito de Assis Esperança é prejudicado pelo vezo naturalista que encharca o texto, bebido certamente em muito Zola e Abel Botelho -- v.g. as copiosas referências médicas e respectivos tratados concernentes à enfermidade --, defeito de que o escritor rapidamente se libertará.
Alguma ideologia libertária de Assis -- crítica à autoridade, à organização social, à família como instituição, à religião -- atravessa o relato de Carlos d' Azevedo, um homem do establishment que, dominado pela doença hereditária, é também um revoltado.
Incipit -- A todos os magistrádos, por vontade dos homens, encarregados do meu julgamento, aos médicos, aos legisladôres; a ti, minha esposa, flôr d'altura, para que não me condenes antes de me ouvir; a toda essa coorte de inúteis, a toda essa caterva de animais feridos de morte, a toda essa legião de criminosos sem consciência, que são os incubadôres dum mal.
Nota: o meu exemplar pertenceu a Julião Quintinha, escritor e jornalista, uma grande figura cultural do anarquismo português. Dedicatória autógrafa: Ao conterraneo / Julião Quintinha, com um grande abraço de muita admiração pelo seu talento / Assis Esperança
A capa (horrível) é de Lyster Franco.
4 comentários:
Pois aqui está uma belíssima rubrica sua!
Achei tudo super interessante!
Obrigado, Ana Paula, veremos se é para continuar...
Um abraço :|
Conheço muito pouco de Assis Esperança. O clube de leitura tem despertado a minha curiosidade.
Alguma edição recente que recomende?
PS. Em relação aos nossos blogs, penso que é a questão dos rss/feeds.O que é o sistema de carrocel?
É o sistema ali da barra da direita, que vai chamando para cima os blogues acabados de actualizar. É giro. O seu e alguns mais é que ficam lá para baixo, sem que eu perceba porquê...
Quanto ao «clube», de recente, por enquanto nada.
O Assis é um caso interessantíssimo de longevidade, que publica entre os anos 10 e 70 (!). É um dos grandes nomes do romace social, prévio aos neo-realistas, tal como o de Ferreira de Castro, de quem foi muito amigo.
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