quinta-feira, junho 16, 2005

Antologia Improvável #19 - António Barahona

NÚRIA

A lentamente bela bruxa cisne magro
A lentamente mate cor do pão de trigo
A lentamente Núria de navalha e ligas

Ah lentamente o corpo se compara ao cubo
e muda as asas quentes em arestas frias!
Mãos vestidas de roxo a festejar tristeza
em Sexta-feira Santa d'oração medonha!

Ah lentamente a Espanha em procissão nas ruas,
cabelos desgrenhados mais guitarras nuas!
Ah Núria, rosa-névoa, lâmina de pétalas
a recortar raízes dos meus olhos d'húmus!

Ah lentamente lentamente aponto e estico
o arco: assobia a flecha no teu flanco
e, de repente, no meu sangue flui um barco

Paço d'Arcos, 13.X.72
Noite do Meu Inverno

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu também conheci uma Núria e ela também me fez fluir o sangue pelo barco. :)

Ricardo António Alves disse...

Todas, Anátema amigo, com as propriedades de Núria, nos fazem fluir o sangue pela proa. Felizmente existem, e poetas como o Barahona para cantá-las.