«Tinham acabado de almoçar. / A sala esteirada alegrava, com o seu tecto de madeira pintado a branco, o seu papel claro de ramagens verdes. Era em Julho, um domingo; fazia um grande calor; as duas janelas estavam cerradas, mas sentia-se fora o sol faiscar nas vidraças, escaldar a pedra da varanda; havia o silêncio recolhido e sonolento de manhã de missa; uma vaga quebreira amolentava, trazia desejos de sestas, ou de sombras fofas debaixo de arvoredos, no campo, ao pé da água; nas duas gaiolas, entre bambinelas de cretone azulado, os canários dormiam; um zumbido monótono de moscas arrastava-se por cima da mesa, pousava no fundo das chávenas sobre o açúcar mal derretido, enchia toda a sala de um rumor dormente.» Eça de Queirós, O Primo Basílio (1878)
«-- Olhava em torno de esguelha, com lumes de esperteza no canto do olho. / -- Lá vem o Chumbo. Aquele é o Antero Chumbo. / Eram baforadinhas sonoras que ele saboreava como um perfume. Sorvia o comentário, seduzindo-o, provocando-o.» Tomás Ribeiro Colaço, A Calçada da Glória (1947)
«Não será portanto necessário perguntarmo-nos se o que nos junta é a paixão comum de exercícios diferentes, ou o exercício comum de paixões diferentes. Porque só nos perguntaremos então qual o modo do nosso exercício, se nostalgia se vingança.» Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, Novas Cartas Portuguesas (1972)
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1 comentário:
«Foi Manuel Severim de Faria o primeiro que abordou com candidez de alma e gravidade majestosa, requisitos do perfeito genealogista, o tema da fidalguia em Luís de Camões. E rompeu deste jeito: 'A família dos Camões é natural do Reino da Galiza; seu apelido dizem alguns que é alcunha do pássaro Camão, a quem os antigos chamaram Porfírio, celebrado de muitos autores pela admirável propriedade de morrer vendo cometer adultério contra o senhor da casa.'
O próprio Camões, parafraseando Alciato, o rememora nas suas redondilhas. Cala todavia que o seu patronímico tenha ali o étimo, já porque lhe faltassem as fumaças de fidalgo, ou a derivação seja tão falaciosa, que não lhe acudisse à rima:
'Experimentou-se algum'hora / Da ave que chamam camão, / Que se da casa onde mora / Vê adúltera a Senhora, / Morre de pura paixão.'»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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