domingo, julho 21, 2024

os Estados Unidos desconjuntam-se, e parece irreversível

Há dias, um pequeno escândalo com uma jovem cantora country, a cantar embriagada o hino nacional, enquanto os jogadores de baseball levavam a mão direita ao coração -- manifestação de patrioteirismo saloio --, é apenas um dos muitos indícios de como tudo aquilo se está a desconjuntar. 

Sim, os Estados Unidos têm coisas óptimas, uma das quais é a relativização do peso da religião no conjunto da sociedade; sim, têm grandes universidades (melhor fora), estando longe de ser os únicos; têm plena liberdade de expressão, enquanto ela não for ameaçadora dos interesses instalados; têm uma pujante cultura, mesmo que ameaçada pela censura woke que campeia nos media de massas e nas universidades. 

Em suma, têm tudo o que muitos outros países possuem, e têm também coisas péssimas, para além do imperialismo de rapina, a pior das quais parece que lhe foi constitutiva; o poder do dinheiro, em que tudo se compra e vende -- a começar pelo Poder --, nada estando a salvo do instinto de rapina e ganância. 

Antes de ser-se cidadão, nos Estados Unidos é-se consumidor. As baixas do capitalismo selvagem em que aquele horror se exerce não tem limites, e estende-se a tudo. A crise do subprime de 2008 não foi mais do que a repetição da crise de 1929, em menor escala. Tudo se vende, tudo se compra; tudo se justifica para ganhar mais dinheiro, ou gastar menos. Até ao grotesco -- como a história de Ivana Trump, a primeira mulher do ex e futuro presidente, ter sido enterrada junto ao buraco n.º 1 de um campo de golfe, por razões fiscais lá muito deles

É a ganância que comanda aquela sociedade doente, com a maior população prisional do mundo, e tudo, tudo, é um alvo: os indivíduos, as famílias, as crianças. O escapismo é sempre possível para estes desgraçados: as seitas religiosas, o gangsterismo ou todo o tipo de adições, induzidas subrepticiamente ou à descarada.

Frequento diariamente um café que está sempre ligado a um desses canais de música non stop da grande indústria do entretenimento. A forma como ali os adolescentes são um alvo, em que outros adolescentes ou jovens adultos servem de isco, é algo de escabroso.

Significa isto que tenho alguma atração pelo estatismo de feição chinesa? Não. Mas dispenso os filisteus que são muito lestos a cantar hossanas à democracy na América, especialmente quando não passa de uma superpotência criminosa, como se vê com a guerra que causaram na Ucrânia -- e que já perderam, podem os ucranianos estar-lhes gratos -- ou o apoio e cobertura à acção do governo criminoso de Israel.

Serviço público: a crónica de Viriato Soromenho Marques, no Diário de Notícias  de ontem; e um áudio sobre Noam Chomsky  que me apareceu agora no YouTube, parecia que estava a adivinhar

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