sexta-feira, junho 11, 2021

a nova carta do Atlântico e o Moedas a funcionar -- três parágrafos de impaciência

1. A burocracia é estúpida, serve os medíocres, assegura-lhes o rame-rame das suas estúpidas vidas sem percalços de maior. São os chamados não-fodem-nem-saem-de-cima da vida. A comunicação dos nomes dos organizadores duma manifestação anti-Putin: trata-se, claramente, disso mesmo: burrice, estupidez, desleixo, ignorância. Sabe lá a criatura que cumpriu os procedimentos alguma coisa do que estaria em causa. Do Putin só sabe que é um malandro que persegue homossexuais e manda envenenar opositores; quanto ao mais já ultrapassa aquela mona, ocupada com tanta coisa, dos acidentes da vida à última posta numa das três ou quatro redes sociais com que se embala. A notícia de que a Câmara de Lisboa fez o mesmo com a embaixada de Israel, a propósito de uma manifestação pró-Palestina, revela isso mesmo. Só um tosco não o vê. 

2. Claro que isto é uma oportunidade para a política de casos em que o PSD voltou a entrar. Rio parecia que tinha mudado a estratégia imbecil do tempo de Passos Coelho, mas caiu nela e agora já não consegue de lá sair. (Sairá de forma muito rápida depois das autárquicas, a não ser que ganhe Lisboa, ou a Amadora...). Enquanto isso, o agudo Moedas -- que dera tão boa conta de si como comissário europeu, valendo-lhe um convite da Gulbenkian -- saudoso da parvalheira, vem fazer figuras destas. O Biden, antes de se encontrar com Putin resolveu ensaiar-se uma vez mais com a restauração da "Carta do Atlântico", com o inefável Johnson a tiracolo. Talvez Moedas, inspirando-se em Barroso, porteiro da Cimeira das Lajes (ele até vira provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque), queira ser uma espécie de engraxador e oferecer-se como anfitrião duma guerra contra a Rússia  

3. Finalmente, o deslumbrante José Rodrigues dos Santos, entrevistando Medina para o Telejornal, usou pelo menos três vezes a palavra delação, além de ter aberto a notícia com ela. Ora, delação significa denúncia com dolo, em troca de qualquer benefício. Eu bem sei que à maior parte das pessoas isto passa ao lado, mas que diabo!, Medina é insultado desta forma e não reage? Não põe o Santos na ordem? Porque o Santos não será analfabeto, sabe bem o que está a fazer. Quando se é insultado em público sem se reagir -- e Medina, pelo seu temperamento poderia sempre fazê-lo de modo elegante e assertivo ao mesmo tempo --, que raio de imagem damos aos outros?

3 comentários:

Rui Luís Lima disse...

Ao escutar a notícia ontem, até pensei que estava a 1 de Abril e não a 10 de Junho.
Gostei do que li!
Um abraço!
Rui

Jaime Santos disse...

Não morro de amores por Putin, mas nem por isso interpreto isto como outra coisa que não o desleixo com que o funcionalismo público trata os nossos dados pessoais.

Não há obviamente qualquer conluio com a Rússia, e eles têm mais que fazer (o FSB deve estar farto de saber quem são os imigrantes russos politicamente ativos em Portugal).

O facto de que o responsável máximo pela secretaria-geral da CML é um destacado militante centrista não aquece nem arrefece mais esta polémica, que serve os opositores de Fernando Medina (trata-se, pelo vistos, de uma pessoa com um elevado sentido de serviço público).

Pude uma vez apreciar com horror como uma pequenina besta de um burocrata utilizou os dados pessoais de uma aluna para fazer uma demonstração à nossa frente numa instituição onde trabalhei. Quando reagi, quase que fui insultado.

Os nossos dados pessoais são tratados a pontapé... Sim, é espírito pidesco, mas não tem motivação política, muito simplesmente eles estão-se nas tintas porque não são sancionados quando as coisas correm mal...

R. disse...

O dias das mentirolas. Obrigado, Rui, outro!

Caro Jaime, é como diz. E os que não estão, bem podem ir pregar para outra freguesia.