quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Marcelino da Mata, Mamadou Ba, o presidente do TC e as luminárias do Ministério da Educação -- estou tão cansado

 De Marcelino da Mata sabia que era o oficial mais condecorado e pouco mais. Li algumas coisas en passant nos últimos dias, que familiares próximos terão sido mortos pelo PAIGC, talvez trazido à tona para equilibrar uns feitos  selváticos de que da Mata se vangloriava.

Vamos assentar no seguinte: uma guerra colonial é sempre um crime cometido por quem a promove, não os militares necessariamente, mas sem dúvida o estado. Crimes de guerra cometemo-los aos molhos, e até do outro lado, basta lembrar a selvajaria da UPA em 1961, A política portuguesa nas colónias foi criminosa. Ponto final parágrafo, não há discussão. É sempre um crime quando se nega aos povos o direito à autodeterminação, e daqui não há saída. É por isso que, com as devidas distâncias, o estado espanhol surge como criminoso na política de opressão que exerce sobre a Catalunha, não me venham cá falar em hungrias. E com a aquiescência da UE, já agora.

Mamadou Ba ao dizer que Marcelino da Mata está a expressar a sua opinião, com todo o direito; e se o que veio a lume é verdade com toda a razão. Eu não subscrevo o estilo, mas tem direito à sua opinião, tal como os palermas que assinaram uma petição para o deportar têm direito a fazê-lo, petição que nem será discutida, por asnática, além de inconstitucional. E queriam deportar o homem para onde, se ele é português? Arre! que são animais.

Outros animais são os que andam a vasculhar no cesto dos papéís do presidente do Tribunal Constitucional. Só tenho pena que ele tenha recuado um pouco, mas percebo, é presidente do TC, tem de resguardar-se. Mas se o presidente do TC começa a encolher-se por causa das ilgas...

Outras criaturas que já deviam ter ido borda fora são o secretário de Estado da Educação, cujo nome me falece na memória, e, lamento dizê-lo, o ministro Tiago Brandão Rodrigues, por conivente com um caso de perseguição aos dois alunos (duas crianças,...) cujo tribunal administrativo de Braga, numa sentença salomónica, obrigou a transitar de ano, uma vez que o interesse (superiores, pode ser?) destes dois rapazes prevalece sobre quaisquer outros. O que faz o Ministério da Educação? Recorre da sentença. E o ministro que o titula não tem condições para continuar ministro.


10 comentários:

Jaime Santos disse...

O tribunal impôs o bom senso e o cumprimento da Lei, contrariamente ao que defendiam aqueles que acham que estas coisas das igualdades de género são de ensino opcional. Deveríamos aplaudir. Quanto ao recurso, vai levar sopa e é muito bem feito.

Já quanto a Caupers, leu bem as alarvidades que ele escreveu? Aquilo não é conservadorismo social, posição perfeitamente respeitável, é machismo marialva e má educação (embora haja muito quem ache que o primeiro justifica os segundos, o que é de uma valente hipocrisia à luz da moral cristã, note-se), e o pior nem foi o que ele escreveu sobre o lobby gay, mas imagine-se que tinha dito o mesmo sobre o suposto lobby judaico.

Tal como na história do professor de Direito que comparou o feminismo ao nazismo, a inimputabilidade dos académicos parece que é infinita até estas coisas cairem na praça pública.

A CRP concede o direito à má-educação e à propagação de imbecilidades, não concede proteção quanto à reação pública contra elas. Porque se concedesse, isso sim seria censura. Quem fala o que quer, ouve o que não quer...

Em relação ao resto, de acordo, mas a política do Estado Espanhol está apesar de tudo a milhas da do Estado Colonial Português e a Catalunha continua tão dividida eleitoralmente como antes. Agora, uma coisa é certa. A protelar uma consulta sobre o direito à auto-determinação, o lado unionista ainda perde por larga margem aquilo que provavelmente teria ganho se a tivesse feito a tempo e horas...

E a prisão do rapper é que não se compreende mesmo. Crime de lesa-majestade? Viva a República (espanhola, catalã, ou as duas)!

R. disse...

Pois, meu caro, mas o que os pais não querem é que os filhos sejam sujeitos à tal inculcação de parvoíces como a ideologia de género que só interessam a meia dúzia de pessoas. No fundo o que diz o Caupers. Garanto que só li esse texto; os outros não li, a não ser que você me garanta que me vou rir. O que me chocou naquele texto foi um tom tão pouco formalmente académico e magistral -- ou agora para prender a atenção dos alunos universitários já se tem que falar com eles como se fossem atrasados mentais?
E depois o lobby gay: eles podem ser uma minoria, inexpressiva é o que de facto não são, como se vê pelo cagarim. Já não se pode ouvi-los.

Eu garanto que se fosse pai daquelas crianças já as tinha posto num colégio decente e poupava-os às cruzadas parentais, que aqui entre nós têm odor a beatice da santa madre igreja.

Eu até já me tinha esquecido daquele cartaz que pergunta se ter duas mães muda alguma coisa. Que coisa mais estúpida. Eu quero crer que o Caupers tem arcaboiço para não se deixar intimidar. Porque obviamente há ali uma orquestração de intimidação preventiva para o futuro. O artigo do Diário de Notícias, na forma como foi redigido é clarinho. Mas você agora deixou-me com a pulga atrás da orelha, e acho que vou à procura dos outros textos. Acho que pelo menos me vou sorrir.

Jaime Santos disse...

Li o artigo da Visão, que tem passagens deliciosas (ou melhor, deliciosamente alarves), mas não li o do DN.

Confesso que o que mais me impressionou (negativamente) relativamente à personagem foi a sua justificação para negar a uma mulher de 50 anos a investigação da sua paternidade (o filho do patrão da mãe dela teria engravidado a progenitora).

Sinistro, a resvalar para o processo de intenções, na minha modesta opinião. Neste País, as elites políticas continuam a ter sobrenomes sonantes e os preconceitos de classe que os acompanham...

Daqui: https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2021-02-18-joao-caupers-quem-e-o-juiz-do-tribunal-constitucional-critico-da-deriva-liberal-das-mulheres/

Estou como o RAP, acho que quem fala em lobby gay tem uma visão algo conspirativa da sociedade, mas se calhar o problema é meu porque, tal como ele saio pouco :), mesmo no período anterior à pandemia.

Em bom abono da verdade, parece que Caupers deixou claro que era contra a discriminação de indivíduos com base na orientação sexual, mas de outro modo seria contra o texto constitucional...

Mas se o meu caro não tem problemas que um juiz como este seja Presidente de uma das instâncias mais altas do País, eu tenho, pelo menos até ele pedir desculpas claras por tais disparates.

Aliás, que melhor passagem para condenar Caupers do que as suas próprias palavras (do artigo da Visão):

“A maioria dos nossos agentes políticos é francamente medíocre: nas tontices e dislates que profere, na falta de verticalidade e de sentido de responsabilidade, no que não diz e muitas vezes insinua, no que faz e, sobretudo, no que não faz”.

Os juízes também são agentes políticos, cabe notar...

Vem-me à memória o excelente texto de Fialho de Almeida que postou, em que ele falava de 'roufenhos fados'. Somos e seremos sempre a mesma caterva de gente imunda e mal-educada. Até porque o exemplo vem de cima...

Não me venha falar em liberdade de expressão, por amor de Deus, ou porventura só no pior sentido, no do direito à cloaca, que existe e deve ser mantido, mas não honra ninguém, muito menos um Juiz Conselheiro...

Termino citando a argumentação do Juiz Gorsuch, do Supremo Tribunal dos EUA, num caso que envolvia discriminação de homossexuais e pessoas transgénero no local de trabalho, ele que é um católico conservador comme il faut, e que votou do lado da maioria que considerou a dita discriminação como ilegal:

"[...] applying protective laws to groups that were politically unpopular at the time of the law’s passage — whether prisoners in the 1990s or homosexual and transgender employees in the 1960s — often may be seen as unexpected."

"But to refuse enforcement just because of that, because the parties before us happened to be unpopular at the time of the law’s passage, would not only require us to abandon our role as interpreters of statutes; it would tilt the scales of justice in favor of the strong or popular and neglect the promise that all persons are entitled to the benefit of the law’s terms,"

Mesmo o Juiz Kavanaugh, outro católico conservador, votando vencido, soube saudar o avanço nos direitos destas minorias.

Isto é conservadorismo social, meu caro, as tiradas de Caupers são mera má educação, indigna de um Jurisconsulto e Professor Universitário...

R. disse...

Meu caro,

fui ler, e já responderei com mais detalhe. Sim, aquilo é miserável; quanto à questão da maternidade de susbtituição, nunca pensei muito nisso, mas à partida concordo com ele.

Jaime Santos disse...

Sim, nem todas as posições são condenáveis, mesmo que não concorde com elas, algumas são simplesmente as posições de um conservador e no caso da maternidade de substituição, a hierarquia de direitos é mesmo aquela que ele enumera, na minha modesta opinião, primeiro o nascituro/a, depois a gestante e só finalmente os que a ela recorrem.

Repito, os conservadores sociais puros (se isso existe) são pessoas honradas e necessárias para refrear certos ímpetos excessivos dos progressistas. Reformar, para preservar, dizem eles. O Papa Francisco, que é um santo homem, é porventura o melhor exemplo que encontro de alguém assim.

Onde Caupers se limita a ser um conservador social, nada contra isso, o TC deve refletir uma pluralidade de opiniões. O meu problema é mesmo com o machismo alarve e os preconceitos de classe...

R. disse...

Sobre o lobby gay: seria de estranhar se o não houvesse, uma vez que foi um grupo da população perseguido, primeiro, depois descriminado, e suponho que ainda hoje ostracizado. Entre isso e a promoção

Em relação ao RAP, ele é muito engraçado, mas se há coisa que ele não faz é levantar ondas. Vai extremamente bem na corrente.

O machismo alarve e os preconceitos de classe, entre outros, perfeitamente. No primeiro texto do Caupers que o DN foi desenterrar só me lembro duma certa brejeirice de prof. universitário a quere fazer-se interessantemente irreverente.

O facto de ele catalogar os homossexuais como minoria inexpressiva só falha no adjectivo. Curiosamente, sem conhecer o texto, também usei a mesma analogia com os vegetarianos, a propósito doutro assunto.

Em relação à liberdade de expressão, ele só a limita se quiser. Obviamente que como presidente so TC tem de autolimitar-se. Mas se se encolher nas convicções, já é péssimo. E isto porque o texto do Diário de Notícias é feito claramente para o condicionar, pelo menos.

Que há um problema grave de condicionamento das opiniões é um facto, indesmentível e grave, e não só mestes sectores. Lembra-se do que sucedeu aí na Universidad do Porto a propósito daquela conferência dos cientistas que contestavam o aquecimento global? E a contestação não é apenas dos pares, que essa é francam,ente desejável e respeitável. Lembro-me do ataque desferido pelas luminárias do Eixo do Mal, que sem saberem ler nem escrever, se atiraram à dita universiadae e à professora que organizava o colóquio. Isto é terrível, e dá, claro, margem para que as reacções da outra parte sejam cada vez mais violentas. Veja aibda o caso do Marcelino da Mata: o bruaá público não sai da dicotomia herói-torcionário, quando o home terá sido ambas as coisas e mais que isso.

Para finalizar: a propósito da adopção por casais homossexuais (em que em prinípio fui a favor, embora ache a ideia do "casmento" lamentável): há vinte anos, você podia ver na televisão uma psicóloga respeitada (muito provavelmente a propósito deste assunto, não me lembro bem) que uma criança necessita de uma figura masculina e outra feminina para o seu desenvolvimento harmonioso. Não sendo psi, não sei se isto está certo, mesmo parecendo-o; o que sei é que se tratava de um lugar-comum dito por qualquer terapeuta ou pedopsiquiatra. Alguém tem a coragem de dizê-lo hoje em dia? Sim, há; mas estão relegados para as margens; e se se atreverem, deixam de ser convidados.

Sempre foi assim, em todos os temas: estava a escrever e a lembrar-me doutro tipo de condicionamenbto, que não tem que ver com este: lembrava-me do Carlos Santos Pereira, um jornalista extraordinário que aquando da Guerra da Iugoslávia não ia nas cantigas da propaganda ocidental papagtuada pelos pivôs dos telejornais. Claro que só o convidavam para o 2.º canal, at´r que deixaram mesmo de fazê-lo. O mesmo se passa com o Pezarat Correia. Quem aparece sempre são sempre os mesmo gajos, totalmente acríticos em relação à política tradiiconal dos EUA e da UE nalguns casos.

Jaime Santos disse...

As luminárias do Eixo do Mal falavam de Caupers esta semana e uma coisa disseram de certo. Conhece algum vegetariano que tenha sido espancado ou insultado por causa do seu estilo de vida?

É uma péssima comparação, sobretudo saída da pena de um Juiz Conselheiro do último tribunal de recurso da Nação e que avalia a constitucionalidade das Leis incluindo e sobretudo as que versam sobre direitos, liberdades e garantias.

As minorias que estão referidas na CRP estão lá por boas (ou antes, péssimas) razões.

Quanto à conferência sobre o aquecimento global, em Ciência as opiniões não são todas iguais, nem merecem todas o mesmo respeito. O Piers Corbyn que cá veio, agora anda a negar a existência do SARS-COV2.

Mesmo os chalupas têm o direito à sua opinião, mas acha que eu daria um bom plenary speaker numa conferência sobre literatura portuguesa?

Se puxo dos galões académicos é justamente nestas ocasiões. Sim, eu sei mais e não vou perder tempo com idiotas... E se a UP gastou dinheiro com eles, acho lamentável...

Quanto ao manifesto contra a conferência, só prova a ingenuidade (arrogantes somos todos os que somos profissionais de alguma coisa) de quem o promoveu. Deveriam pura e simplesmente ter ignorado a coisa, assim só lhe deram relevo...

E depois, existe uma tendência que sinceramente me irrita. Quando alguém como Caupers é contestado, fala-se imediatamente de censura. A liberdade de expressão protege contra a repressão, não protege contra a crítica. Quem está no espaço público é bom que se habitue à réplica e ao escrutínio. Mesmo à réplica injusta. Sobretudo quem detém o poder...

Curiosamente, neste caso como no caso de Gentil Martins (terá havido outros de que falamos, mas a memória não chega para tudo), a minha discordância para com estes senhores parte não tanto dos princípios deles, mas sim da maneira como eles se exprimem.

O médico, que tem a desculpa da idade, disse que nunca teria promovido um homossexual (um anormal segundo ele), o que a ser verdade tratar-se-ia de discriminação. Algo imoral segundo os princípios dele, note-se.

Este Juiz estabelece um conjunto de considerações bastante grosseiras sobre mulheres, políticos e gays. E a filha de uma empregada segundo parece, que deveria ter o direito de saber quem é o seu Pai, por todas as razões, incluindo os bens que poderá herdar dele...

Afinal, o único mérito exigido para tal é o da partilha de sangue. Há até quem se baseie nesse princípio, imagine-se, para governar Estados, mas uma reles filha de uma empregada só pode vir dar o golpe do baú...

Vindas de um homem de Esquerda e de um conservador social, essas considerações também não abonam a favor desse senhor e fazem-me temer que ele poderá ter toda a competência que quiser, mas poderá ter também um problema de carácter, o que é péssimo em relação a quem tem que administrar a Justiça. Mas guardo o juízo até se conhecer a reação dele à polémica...

Há quem diga que o bom e velho princípio da liberdade de expressão se resume a que não há coisas que não se devem dizer. Eu acho que há imensa coisa que nós não devemos dizer e que fazemos isso todos os dias. Chama-se boa educação e decência.

Só não compreendo por que razão é que chegados ao espaço público (ou pior às redes sociais, sobretudo sobre a capa do anonimato), existe uma inimputabilidade (e contra mim falo, porque já perdi a paciência com imensa gente, muito embora pense que nunca insultei ninguém) de que nunca gozaríamos com aquelas pessoas que conhecemos...

R. disse...

Caro, pessoas com problemas por etilos de vida alternativos houve e ainda há, pense nos naturistas, normalmente também vegetarianos...

O que é grave, do que li, é o que respeita à criada, o resto, como diria o João César das Neves, que é inimputável em questões que não se prendam com a economia, não interessa a ninguém. (Ora aí está um gajo que não se deixou intimidar).

Já não me lembro disso: o Gentil Martins disso que não promoveria um homossexual?... Parece incrível. Ele é do tempo em que eram perseguidos se não fossem muito discretos; deve ter conhecido vários colegas.

Mas eu também acho que podem e devem ser criticados, mas incomoda-me um bocado o lobby gay que está por detrás deste vasculhar no cesto dos papéis. E, por amor de Deus, aquele textículo é caso para tentar fazer caça ao homem? (dizem que foi a Cãncio, não sei, mas não estranho). Isto é uma acção típica de lobby gay (mal) disfarçado, e já não tenho paciência em 20121 para choradeiras daquela rapaziada. Apesat de alguns problemas poderem subsistir, já não estamos propriamente em África, onde a perseguição é a doer, ou nos países árabes.

Ainda sobre a conferência na Universidade do Porto: se uma professora da respectiva faculdade achou pertinente -- e, se bem me lembro, muitos deles (ou todos?) eram académicos, a hostilidade é estranha, para quem está de fora: ou são chalupas ou são vendidos a soldo das petrolíferas. E a polémica acesa é uma coisa de que gosto (eu também já as comprei, no meu campo; modetamente, claro está). R, meu caro, não se subestime: tenho a certeza que você seria mais qualificado para dissertar sobre uma obra literária do que vários que andam por aí a fazê-lo -- que não pensam pela sua cabeça, mas alugam-nas para papaguear o que outros dizem.

Jaime Santos disse...

Meu caro, obrigado pela gentileza (quelque a peu ironique, bien sur :) ), mas eu nem de alterações climáticas falaria fora deste nosso contexto de conversa de café (em tom mais elevado, é certo).

Uma coisa é aquilo de que realmente percebo, outra são discussões que não exigem grande estudo (a não ser que se trabalhe nelas), representam apenas cultura geral que infelizmente falta a muitos cientistas e ao resto da população.

Mas Piers Corbyn não é um académico: https://en.wikipedia.org/wiki/Piers_Corbyn. Não é sequer um climatologista sério. A Professora que o convidou é uma académica, mulher de Esquerda segundo julgo saber, mas da área da Geografia Física e não da Climatologia, e entre as duas há um mundo de diferença.

Não é seguramente alguém vendido às petrolíferas, mas cabe lembrar que tradicionalmente a Esquerda é progressista, a Ecologia é de facto uma visão conservadora (mas não conheço o pensamento da senhora, tendo apenas compartilhado uma mesa com ela uma vez ao almoço).

Não se esqueça que a mudança de paradigma não vai apenas mexer com o bolso de muita gente rica, vai igualmente custar muitos empregos. Gerará mais se formos optimistas, mas não para as mesmas pessoas...

Isto dito, não sei por que razão ela foi convidar um crank como Piers Corbyn...

No passado, havia razões para questionar a tese das alterações climáticas serem de origem antropogénica (influência da atividade solar), ou mesmo se o aumento dos níveis de CO2 não seria compensado largamente pela deflorestação (porque as áreas vazias não absorbem tanto a luz solar), atualmente as dúvidas situam-se apenas na incerteza das predições (por exemplo não sabemos bem qual o efeito das nuvens), mas elas são provavelmente otimistas, pelo menos olhando para os fenómenos extremos que temos presenciado.

O problema do aquecimento global é que é uma discussão científica com implicações políticas e económicas profundas e não um debate político, logo não há simetria entre posições.

Eu concordo que existe um viés ideológico em muitas temáticas, veja-se a tentativa da Direita em equiparar a contestação à UE pelo PCP e pelo BE ao racismo de Ventura, por exemplo, mas acho que quando se fala de Ciência e sobretudo num problema como este, um dia é preciso encerrar o debate e passar à acção, sob pena de sofrermos graves consequências.

Tenho dúvidas que Câncio se deixe manipular. Pode-se não gostar do que ela pensa, but she is her own woman... Mas não acho nada estranho que se vasculhe os escritos de quem chega a estes altos cargos. É isso que acontece nos EUA, por exemplo, e nós seguimos-lhe o exemplo.

O que me chocou mais nas palavras do homem nem foi a referência ao lobby gay, foi mesmo o tom chão, embora não me tenha surpreendido, já encontrei académicos que até ao vernáculo recorrem. Depois de uns copos de uísque com os amigos tudo bem, com quem nunca falaram, tenham santa paciência. E, claro, o processo de intenções à filha da empregada.

A utilização de linguagem escorreita é essencial em política porque expurga o discurso da violência verbal, pelo menos da mais reles e note que é bem verdade que ela permite a perpetuação de relações de poder injustas.

Depois, ou a violência verbal é acompanhada de violência física, tarde ou cedo, e é perigosa, ou não é e é fanfarronada (na maior parte dos casos) e é absolutamente desprezível, própria dos bullies e dos cobardes...

R. disse...

cato, na minha ignorância não me atrevo a ir contra a corrente. Qua acção do ser humano tem efeitos devastadores é inquestionável. Ranto quanto julgo saber, e é muito pouco, os chamados #negacionistas" (expressão acintosa, só merecida pelos alugados das petrolíferas), dizem que o clima da terra ao longo da sua existência teve e terá ciclos de aquecimento e arrefecimento (prevê-se mesmo a possibilidade de uma mini-idade do gelo para daqui a pouco). Eu para além disto não vou. R você fala-me no Corbyn, mas havia muito mais gente, e isso é que me intriga...

Sem dúvida em relação a Cãncio, como a Isabel Moreira, aquilo é uma causa delas. Em relação à última fiquei chocado quando ela disse que um tipo de esquerda tem que impor limites á linguagem, porque se não o fizer, é de direita. Ora como não lhe reconheço nenhuma qualidade taxonómica, não gostei. Se um inidivíduo diz que é de esquerda ou de direita, mesmo que tendencialmente, porque nada é a preto e branco, é porque se sente como tal. E, quanto a isso, não há grande coisa a fazer.

Compartilho da sua preocupação, embora eu seja um péssimo exemplo. Mas como não sou político e sempre gostei do vernáculo... Mas aceito uma autocontenção em determinados aspectos. Ainda ontem tive de coibir-me de gozar com o nome do Ascenso -- ao contrário do que faz o Rentes de Carvalho hoje no seu blogue --, e não estou nada arrependido. Gozar com o nome (coisa, que, confesso já fiz, em estado de grande irritação), defeitos físicos e por aí fora apequena quem o faz.

Mas é v erdade que a violência discursiva está a instalar-se, e com diz, a seguir vem a outra.