quarta-feira, fevereiro 19, 2020

JornaL

Aeroaborto. Ouvi na rádio: sem parecer vinculativo das autarquias envolvidas, aborta o aborto do Montijo -- pelo menos à face da Lei, que parece que é para respeitar, sob pena de processo, julgamento e cadeia. Como a as autarquias do PCP, Moita e Seixal, protegendo as suas populações, irão vetar aquela miséria, pensada para encher mais os bolsos para alguns (o 'Turismo', ai o 'Turismo'...), temos o aeroporto do Montijo abortado. Ou será que não?... Vamos lá a estar atentos às manigâncias, sim?... E o secretário-de-estado, a fazer de nós estúpidos e dos pássaros inteligentes. Vão ouvir a crónica do Bruno Nogueira de hoje na TSF.

Racismos. Dou parcialmente razão ao Pinto da Costa: aquela manifestação dos símios do Guimarães, mais do que uma manifestação de racismo é-o antes de estupidez. O plantel está cheio de negros, e uma das sua principais figuras, Neno, que creio também ser dirigente, antigo guarda-redes que passou também pelo Benfica, é negro. Atribuo o primarismo da manifestação, em primeiro lugar, a uma boçalidade que ainda não nos largou enquanto povo. É sabido como somos atrasados, impreparados, incultos e aldrabões -- embora com cada vez mais e maiores bolsas de "excelência". Quando eu era miúdo, na primária, cantava com os meus colegas: "Em Macau, o bom chinês limpa o cu ao português". O país ainda é muito isto; e o racismo larvar é mais animal que pérfido. Em tempo, e para o tempo: falo do caso Marega.

Vergonha. É algo que a Igreja Católica não tem, nem nunca teve. Aqueles nacos de homilias nas missinhas de Domingo, passados no Telejornal, são do melhor que tenho visto. Ai os padrecas, que me moem a paciência.

1820. É verdade: este ano comemora-se o Bicentenário da revolução de 1820, aquela que, entre outras coisas, arejou a sacristia que era este país.
O Deus verdadeiro. O Eric Clapton tocou ontem com o Roger Waters em Londres.

6 comentários:

Jaime Santos disse...

Assino mais ou menos por baixo.

Mas cabe dizer que aquelas manifestações simiescas não são exclusivas do tuga. Há uns anos em Itália, houve uma equipa que abandonou o campo do adversário quando um dos seus jogadores foi objecto de insultos semelhantes aos que foram dirigidos ao Marega.

Se o Sérgio Conceição tivesse decidido fazer o mesmo, aí é que eu lhe bateria palmas (sou benfiquista e acho que o Guimarães mereceria perder o jogo na secretaria).

Seja como for, a atitude do Marega permitiu que muitos outros se levantassem e dissessem o mesmo. Há muitos anos, era eu adolescente, assisti exactamente aos mesmos insultos dirigidos ao Oceano no velho Estádio das Antas.

E nós, os que não insultávamos, ríamos. Ri-te, ri-te, ó Simeão... É como diz, o racismo é sobretudo fruto da nossa boçalidade. Mas olhe que anda por aí quem queira aproveitá-lo para se promover politicamente, e isso já ultrapassa a mera má educação...

Por último, 1820 sem dúvida arejou o País. Só que também expulsou as ordens religiosas, deixando muito património ao abandono até há poucos anos, convém não esquecer. Assim como instalou no Poder uma casta de políticos que não inovaram e se continuaram a aproveitar dele... O VPV tem um livro sobre isso, os Devoristas...

E cabe também lembrar que essa grande figura do Iluminismo Português, o Marquês do Pombal (que o era, sem ironia, basta olhar para a forma admirável como reagiu ao terramoto de 1755) aproveitou um atentado ou assalto a D. José para culpar Távoras e Jesuítas e assim se livrar de uns empecilhos que impediam as suas ambições imperialistas e o desejo de escravizar os nativos no Paraguai. E com isso também atrasou o processo de instrução pública em Portugal...

E nem vale a pena falar da I República, mesmo se as ideias de Afonso Costa, quando não a sua prática política, de separação do Estado e da Igreja, facilmente seriam aceites hoje por qualquer prelado minimamente liberal, honesto e preocupado com a independência da própria Igreja...

A ICAR não foi só algoz, também foi vítima...

R. disse...

Sim, é recorrente, mesmo nas conversas, mas como no Guimarães acho eu que ainda não se tinha visto nada assim.
Mas a malta nem tem bem noção; marias vão com as outras.
Sim, claro. Foi uma grande e verdadeira revolução., Obviamente teve todos esses custos. Ainda hoje há edifícios religiosas nas mãos de particulares.
O Pombal não admitia poder para além do do Estado. Mas ele tinha um plano e contava com os oratorianos.
Sim foi vítima dos seus abusos. E depois com o Salazar foi, na generalidade uma serventuária.

Jaime Santos disse...

Muito desse racismo é o da conversa de café, da anedota que é contada sem intenção malévola, da grunhice no Estádio (o Marega esteve emprestado ao Guimarães o que talvez permita explicar o ódio particular que lhe foi dirigido).

Só que isso tem consequências. A boa educação e o tratamento decente dos outros implica, pois claro, o policiamento da nossa linguagem e do nosso comportamento, de outro modo, meia-volta o racismo passa a ser de novo politicamente aceitável (todos os Venturas se declaram por enquanto anti-racistas, só que definem o racismo de modo distinto).

Quanto a Pombal, de acordo. Mas as vozes dividem-se ainda sobre os efeitos da expulsão dos Jesuítas no sistema de ensino. Évora fechou, muito embora muito de que se ensinasse por lá era sobretudo Teologia ...

Foi de facto serventuária, salvo algumas vozes cimeiras corajosas, como D. António Ferreira Gomes, assim como muitos leigos e padres, aqui e nas então colónias. Mas se foi serventuária, pelo menos não colaborou de forma tão ativa com o regime como a Igreja Espanhola colaborou com Franco...

A persistência do Franquismo em Espanha de que falamos no contexto da Catalunha também deve ao fedor a água benta que contamina a Direita espanhola...

R. disse...

Quanto ao policiamento da linguagem, depende. Eu nunca tive de policiar-me para dizer negro em vez de preto, que então era ofensivo, agora já não sei bem...

Quanto á Igreja, tem você toda a razão...
Ontem foi um bom dia.

Jaime Santos disse...

O comentário sobre o policiamento da linguagem não lhe era dirigido a si, mau grado o desprezo que tem ao politicamente correto. Eu diria aliás desse politicamente correto que a intenção é boa, mas o que é demais é moléstia...

Sim, ontem foi um bom dia. Mas hoje foi um dia mau, faleceram Jean Daniel e VPV...

R. disse...

Não sabia do Jean Daniel. O Telejornal foi um obituário pegado.