quarta-feira, janeiro 22, 2020

JornaL de a a z

Aviação climática. A APA encomenda estudo à ANA, dona da obra, sobre impacte do projectado aeroporto na avifauna e do risco para as aeronaves e a gente que irá dentro delas. Quando se trata de encher bolsos, é sempre tempo de avançar. E por falar nisso, agora é tempo de tribunais mas também de preparar a resistência cívica, que é o que se espera dum país que se pensa semicivilizado, porém sempre governado à sombra dos interesses.

Greta. És linda.

Isabel dos Santos. Gosto bastante, quanto à estética. Vem dos negócios e da finança, um mundo sórdido, como os dos tráficos vários, como se vê, de resto, pelos ratos que agora lhe viram as costas. Por mim ia tudo raso. Obviamente, uma guerra de poder. Mas, repito, gosto bastante. Em Angola, o meu clube é o MPLA, que está assim dividido, como o Sporting

Primo. Achei piada ver o primo de Sócrates a afastar a matilha.

Racismo. Se não é, parece, e do feio. Uma mulher é espancada dentro dum carro da polícia por causa da porcaria dum passe da filha de oito anos, que deve ter ficado muito bem, depois de ter assistido à cena. Arranhões? Em último caso há as algemas. Carga de porrada numa senhora é mesmo de chungaria. E, já agora, bilhetes de autocarro? Não devia a polícia andar a prender assaltantes, banqueiros?

Trump. Amigo do ambiente, e da aviação climática.

8 comentários:

Jaime Santos disse...

As notícias quanto a Isabel dos Santos são boas, claro. Mas ainda estou para ver se o seu caso representa mais um esforço na moralização de um regime cleptocrata ou se é meramente um caso exemplar do género 'se não me obedecem, acontece-vos o mesmo que a ela'. Kopelika e Vicente ainda não foram incomodados, por exemplo.

Estou para já disposto a dar o benefício da dúvida a Lourenço até porque sei que ele precisa de aliados e não pode ir atrás de todos ao mesmo tempo. A seu devido tempo se perceberá se é uma versão africana de Putin ou algo melhor do que isso, que é o que eu espero. Mas mesmo Putin conseguiu pelo menos estancar a sangria na Rússia, honra lhe seja feita. Mas um autocrata é ainda assim um autocrata.

Agora, o MPLA é mais um exemplo egrégio daquilo em que se tornou o nacionalismo progressista anti-colonial, a lembrar a velha observação reacionária de que o sonho dos escravos não é serem livres mas tornarem-se eles próprios senhores...

Por último, meu caro, os Países são sempre governados à sombra de interesses. Chama-se capitalismo e não é bonito. O problema é que as alternativas são piores ainda. Enfim, como dizia o outro, o preço da Liberdade é a eterna vigilância...

R. disse...

Eu quanto a Isabel dos Santos sou agnóstico, e prefiro acreditar na versão de Lobo Xavier, que a fortuna lhe vem da Unitel, e foi a sua capacidade gestionária que... Claro que cada um acredita no que quer, e não é um país com 40 anos que tem os altos padrões que o nosso tem, como sabemos.
Também gosto do Lourenço, desde logo porque foi o tipo que limpou o Savimbi.
O MPLA, como lhe digo, é o meu clube em Angola, como o PAIGC o é na Guiné a a Frelimo em Moçambique. Mas, claro, não podemos ter ilusões, quando se trata do poder.
Sim, o capitalismo, mas não só, também coisas estranhas como identidade e mitologias fundacionais, que por vezes até chocam de frente com os interesses, e á aí que as coisas se animam.

Jaime Santos disse...

Savimbi era um líder bárbaro, mas ninguém merecia morrer daquela maneira. O blogue é seu, mas o termo 'limpar o sebo' fica-lhe mal...

Pois, e com Isabel dos Santos tudo começou quando ela decidiu 'vender ovos', não foi :-)? Eu, esse tipo de agnosticismo, reservo-o para a barra do tribunal...

Acho que ela e os restantes acusados devem poder defender-se com todas as garantias, como Sócrates por cá, por exemplo. Já aquilo que se vem sabendo ao longo dos anos sobre a sua capacidade enquanto gestora (e a Senhora não é desprovida de qualidades, incluindo inteligência, note-se) e a sua natural proximidade com o poder anterior não abona muito em favor dela (mas isto é um julgamento ético, não jurídico, como é óbvio).

Mais do que identidade e mitologias fundacionais, que muitas vezes não passam de lendas como o nome indica (e quando me falam muito de patriotismo lembro-me logo do Doutor Johnson) a mim interessa-me mais viver num local decente e agradável e deixar os que se seguem algo de preferência melhor do que o que recebi, porque foi isso que me ensinaram aqueles que (imediatamente) me precederam... É esta a minha mitologia fundacional, se quiser, limita-se a umas três ou quatro gerações...

R. disse...

Não me fica nada mal, bem pelo contrário. O que mal fica é ser hipócrita e usar eufemismos. Savimbi era pior que um 'bárbaro', como você diz, palavra ainda com alguma dignidade, pela carga histórica que tem. Era um facínora, um racista, um déspota que tramou milhões de pessoas. Ora criaturas destas devem ser extermindas -- palavra muito mais crua do que a limpeza do sebo, mas com toda a razão de ser: a humanidade e os angolanos em particular ficaram muito melhor com a sua eliminação -- outra palavra terrível. Posso ter andado distraído, mas o Savimbi morreu com as botas calçadas, como um bandido armado -- recorro à velha terminologia do MPLA... -- que era o que ele era, foi perseguido e executado, como era necessário. O mesmo sucedeu com Ceausescu, graças a Deus, não serei eu que o lamente. Se você me falar od Khadafi, aí concordo, mas foi executado pela populaça, a quem ele, de resto, chamara 'ratos', do palanque, claro.

Isabel dos Santos, é como lhe digo, gosto bastante mais do que dos outros ratos, estes verdadeiros, que fogem dela como se de lepra...

Quanto às mitologias, isso é para si que é um tipo esclarecido; para a mole tem que ver com algo que ela pensa que é. E por isso, ela move-se.

Jaime Santos disse...

A mim causa-me urticária que alguém acabe executado, mesmo como resultado de uma operação militar. Ele teve, é certo, capacidade de se defender, coisa que Kadhafi não teve. Não me repugna o recurso à pena de morte para punir crimes do calibre de um genocídio, mas aí faz-se Justiça e o recurso à pena capital é assumido.

Depois, não sei sinceramente se a malta do MPLA não tenha alinhado pelo mesmo diapasão de Savimbi (recordo as purgas no final dos anos 70, em que morreram o irmão da atual Ministra da Justiça e a sua cunhada, por exemplo). A designação de 'barbárie' é normalmente reservada apenas para os derrotados.

Também no caso de Ceausescu, não me parece que tenha sido tal coisa, se bem me recordo até foi sumariamente julgado, condenado e executado por alguns dos que antes o serviam, para se ver que a lealdade entre os ratos, como você diz, depende do lado para que o vento sopra.

Justamente, algo que a mole pensa que é. Não tenho nada contra a celebração da nossa História, por exemplo, mas dela e não dos mitos. Esses só servem para o patriotismo barato, aquele que leva a bandeira para os jogos da seleção e pensa que já fez muito e que se for necessário ainda exclui quem nos procura esquecendo que a hospitalidade é uma obrigação muito antiga, especialmente para um povo vagabundo como o nosso.

Para mim, a Pátria ou a Nação ou o que quer que isso seja, são as pessoas no aqui e agora e no futuro e o território (daí a importância da defesa do meio ambiente e da nossa bela paisagem) e não uma qualquer entidade eterna e abstrata que transcende o tempo (as nações desfazem-se como a História mostra).

Aliás, digo sempre que é muito bom que a soberania popular seja limitada, desde logo pela Lei, porque de outro modo transforma-se em tirania exercida pela maioria ou mesmo minoria de turno. O facto de que existe uma instância de apelo das decisões dos nossos tribunais, o STJE, deixa-me mais seguro, não menos. Como se viu na recente decisão sobre a trapalhada do Meco, aliás...

R. disse...

Outro contexto, o que não significa seja desculpável, mesmo que os perdedores pretendessem uma linha mais dura e pró-soviética. Mas não posso falar muitio porque pouco sei do assunto.

Quase de acordo em relação à História e totalmente em relação às mitografias; no entanto, é um lugar-comum, mas nem por isso falso, que não teremos futuro nem sequer presente se negligenciarmos o passado. Desconhecê-lo é andar às cegas.

Jaime Santos disse...

Com certeza, não teremos futuro se negligenciarmos o Passado, a começar pelo património histórico, cultural e ambiental, que foi aquilo que aqueles que vieram antes de nós nos legaram e de que temos apenas a custódia, não propriedade para fazermos com ele o que nos apetece.

Esse património é testemunho do que fomos e daquilo em que nos tornámos. Cuidar dele é mais uma maneira de cuidar das pessoas e de guardar lições para o futuro.

A História é porventura a mais subversiva da Ciências porque dissolve os mitos e nos apresenta a realidade nua e crua. Isso pode ser muito mais difícil de aceitar, mas é seguramente bem mais interessante e estimulante.

Claro, isso pressupõe que as pessoas se comportam como adultas o que infelizmente é mais a excepção do que a regra...

R. disse...

Exacto. Como adultas ou pessoas de bem.