quarta-feira, setembro 21, 2016

Sócrates, Lula e os justiceiros

Se o comportamento da Justiça em Portugal, no que respeita a Sócrates e a outros, é a rebaldaria que se vê, independentemente das contas que terão a prestar (convém escrever sempre isto, para aplacar os masturbadores anti-Sócrates), no caso de Lula, a mesma Justiça (ahahah...) é infecta. Aquele procurador ainda consegue parecer mais estúpido do que o Ventinhas sindicalista.
Como é que o retirante salvo da fome e quase iletrado ousou?; como teve o topete na puta da sua vida de se tornar presidente do país que lhe dava a favela como destino?

8 comentários:

Jaime Santos disse...

Pois, mas no momento em que o PT entra no jogo da corrupção, é evidente que as forças reacionárias se vão aproveitar de tal para fazer duas coisas: primeiro, salientar que afinal, a cruzada da Esquerda contra as desigualdades tem algo de hipócrita, porque os seus militantes pregam uma coisa e praticam outra e segundo, procurar acusar esses militantes de todos os crimes e mais algum, de modo a neutralizá-los, utilizando o seu domínio sobre o aparelho de Estado. Aliás, entre nós, alguma Direita utilizou o caso de Sócrates para atacar o 'Centrão' político e defender que o Estado se deve retirar completamente da Economia, porque isso é um incentivo à corrupção. A social-democracia e o keynesianismo são equiparados a crimes e as indiscrições de Sócrates (refiro-me àquilo que ele já admitiu) só ajudaram à festa...

Ricardo António Alves disse...

Claro que há e houve corrupção, no PT como no PS; ela está sempre onde está o poder. E claro que isso não desobriga a justiça de um comportamento irrepreensível, até porque, não o tendo -- como sucede, por exemplo, com o tráfico dos processos para os tablóides (e a troco de que benefícios?...)-- equipara-se aos alegados criminosos que pretende investigar, julgar e punir.
Ora, do meu ponto de vista, pior do que políticos corruptos -- que serão sempre tão inevitáveis, dada a natureza humana, como excepcionais, pois que a maioria, por ética ou medo das consequências, não incorre nesses crimes -- (pior do que políticos corruptos) é uma justiça e uma imprensa venais, logo corrupta, pois que ambas, imprensa e justiça, são dois pilares das sociedades livres e democráticas. Estando ambas doentes, a sociedade fica à mercê de todos os desmandos.

Jaime Santos disse...

Sim, claro trata-se da velha pergunta de quem guarda os guardiões... Em princípio, a imprensa deveria cuidar de denunciar os abusos de poder, incluindo da parte dos magistrados, mas no momento em que se mete na cama com eles para violarem o princípio da legalidade processual, de facto deixa de existir como o último elemento que vela pelo cumprimento das Leis e torna-se um elemento prevaricador. E o pior é que nem sequer há jornalistas que denunciem as malfeitorias de colegas, não sei se por corporativismo, se por corrupção no sentido de todos quererem ter acesso às mesmas fontes. Um Sócrates ou um Lula culpados não poderiam desejar mais nada, porque mesmo que acabem condenados poderão sempre queixar-se, com razão, de denegação de Justiça...

Ricardo António Alves disse...

Não há espaço para os jornalistas decentes: ou são postos nas prateleiras pelos videirinhos, ou substituídos por estagiários a ganharem meia dúzia de tostões.
Quanto à possível culpabilidade de Sócrates, nem isso vão poder provar.

Jaime Santos disse...

Não ando a ler o CM e por isso não sei em que estado está o processo :). Aguardo a eventual acusação para me poder pronunciar, mesmo se caberá ao coletivo de juízes decidir (se houver acusação). Espero que Sócrates, se acabar condenado, não o seja por haver 'ressonâncias de verdade' no processo e sim porque haverá crimes cabalmente provados. Mas mesmo que isso aconteça e a instrução mais o eventual julgamento sejam conduzidos de forma impecável, o que se está a passar na fase do inquérito é suficiente para inquinar tudo o que se poderá seguir. Aliás, noutras jurisdições, a violação dos direitos dos arguidos é suficiente para declarar a invalidade do processo. No caso dos 'Pentagon Papers', Ellsberg não chegou a ser acusado porque se soube que a Casa Branca tinha ordenado o assalto ao consultório do seu analista, à procura de informação que servisse para o condenar.

Ricardo António Alves disse...

Não sei o que me causa mais impressão: se a incompetência, se a impunidade.

Jaime Santos disse...

A impunidade. Sem ela, a incompetência ainda existiria, mas seria mais contida...

Ricardo António Alves disse...

Tem razão...