Há anos que se fazia sentir a premência de algo como isto, em face da política alemã & satélites (cujo rosto é o miserável presidente do EuroGrupo), e a exemplo do que sucede com o Grupo de Visegrad, que agrupa os países da Europa Central que pertenceram ao ex-bloco soviético. Muito significativa é a participação da Espanha, embora não a alto nível, dada a situação política interna.
Já não estamos em tempo do servilismo embaraçoso que caracterizava o anterior governo (as declarações do líder do PSD, a propósito desta cimeira, são bem reveladoras), nem de passarmos pela vergonha de termos um legume que representava o governo de Portugal que era conhecido pelo 'alemão'.
8 comentários:
O Porfírio Silva faz notar que o grupo de Visegrado provavelmente assusta mais Merkel que a EUMed, mas não ouvimos Schaeuble dizer nada sobre ele. Ora, dado que o problema dos imigrantes e refugiados também afeta de sobremaneira países como a Itália e a Grécia (e até certo ponto a Espanha e imagino que Malta e Chipre), era bom que esta iniciativa também se debruçasse sobre essa questão. Tarde ou cedo os alemães vão ter que escolher se querem alinhar pela cartilha ordoliberal, se pela matriz liberal e humanista que está espelhada na sua Lei Fundamental e no próprio conceito de Economia Social de Mercado (distinto do ordoliberalismo, por mais que a Esquerda da Esquerda queira insinuar o contrário). E essa matriz é hoje sobretudo representada pela atitude dos países do Sul (excluindo a França, mesmo se só até certo ponto, e porque está sob a pressão dos atentados islamistas)...
O que me parece importante neste encontro, há tanto esperado, é o acordar para a realidade crua que nos foi lançada à cara pela UE, como um pano encharcado: os países movem-se por interesses, e a retórica que embalou muito ingénuos como eu de que haveria uma União Europeia, não passava disso mesmo: retórica. Quanto a mim, devemos fazer tudo para salvar o projecto europeu, mas já não podemos ir em cantigas, como, para espanto geral (para meu espanto...), alguns gabinetes europeus (Alemanha, Holanda, Finlândia) tiveram a áspera franqueza de nos mostrar.
Sem dúvida, mas não me parece que a atitude de Merkel ao permitir a entrada em massa de refugiados se tenha devido apenas a interesses egoístas da Alemanha. Por isso, por vezes os Governos agem (tarde e a más horas, é verdade) com altruísmo. E isso criou um problema à Alemanha. E o que os países do Sul devem fazer é ajudar a resolver este problema, pela defesa de valores, mas também por interesse próprio, até porque a Grécia e a Itália também beneficiarão disso. Merkel perceberá imediatamente (já Schauble não tenho tanto a certeza) que o apoio dos países do Sul numa questão que pode ditar a sua morte política deve ter contrapartidas (e a atitude estranhamente silenciosa da Alemanha na altura da discussão das sanções talvez tenha tido alguma coisa que ver com isso).
Sim, eu dou esse crédito a Merkel. Até porque o historial alemão há-de compelir muitos deles a uma espécie de ressarcimento das malfeitorias praticadas ainda não há muito tempo.
Sem dúvida, por força da educação, os alemães (que continuam uns cabeças duras em termos ideológicos) são no geral profundamente anti-fascistas (os de Direita inclusive). Mas com o crescimento da AfD (um cómico alemão chama-lhes os Affen fuer Deutschland ;-) ), esta atitude pode ser posta em causa (basta pensar na atitude atual da coligação de poder na Dinamarca, que não honra nada a memória do salvamento dos judeus da Dinamarca em 43, incluindo refugiados, e que levou Arendt a tecer um rasgado elogio aos dinamarqueses no 'Eichmann em Jerusalém'. ela que dizia mal de toda a gente, inclusive dos próprios judeus). E aí, convém que se forme uma coligação de gente com princípios, Portugal, Itália e Grécia incluídos, por oposição aos fachos do grupo de Visegrado...
Parece que o próprio rei envergava uma estrela de David, em solidariedade com os judeus dinamarqueses.
Não, esse foi um mito que se propagou graças, creio, à propaganda anti-nazi. A realidade chega para honrar a memória dos dinamarqueses de então. Curiosamente, a principal figura nesse processo foi um diplomata alemão que, sabendo da intenção dos nazis em finalmente deportar os judeus da Dinamarca (onde se incluíam refugiados, assim como cidadãos dinamarqueses), conseguiu garantias na Suécia que eles receberiam os judeus e depois avisou o líder do Partido Social Democrata da Dinamarca, que passou a informação à comunidade judaica, que assim se remeteu à clandestinidade. Aliás, metade do dinheiro para pagamento da operação de transporte foi doado por famílias ricas dinamarquesas. Eu, que adoro Copenhaga (ainda agora passei lá um mês em trabalho), não percebo como eles agora tomam as atitudes que infelizmente tomaram relativamente aos refugiados sírios...
Era um belo mito... Estive no Museu da Resistência, em Copenhaga, ainda teenager.
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