quarta-feira, agosto 31, 2016

Brasil: o cómico da situação


Nunca vira turistas brasileiros antes dos governos de Lula e Dilma. Antes disso, via-se brasileiros que eram portugueses que viviam desafogadamente, o que lhes permitia visitarem a família, ou então lusodescendentes. Havia sim, e (há), imigrantes, gente que fazia o caminho para cá, vindos de todo o Brasil, do nordeste ao sul, gente humilde, fugida à pobreza, a violência. Turistas brasileiros, aos magotes, em excursão,só há poucos anos.
Quando Lula foi eleito pela primeira vez, disse que o seu mandato valeria a pena se conseguisse que todos os brasileiros (todos), pudessem usufruir de pelo menos uma refeição por dia. Assim era,e ainda é, o Brasil, um dos países mais ricos do mundo e também dos mais miseráveis, porque é iníquo: um país que tem uma pequena elite plutocrática quando uma porção enorme do povo é extremamente pobre. Os responsáveis por essa iniquidade tiveram hoje uma vitória, regressam ao poder, fazendo tábua rasa do voto do povo. E quem deita fora os votos dos eleitores? Os seus representantes, que, à direita, são um conglomerado de caciques, pastores evangélicos, vigaristas de várias procedências. Portanto, golpistas; portanto, traidores, E, além disso, o cómico da situação, muitos deles, ao contrário da Dilma, delinquentes de ficha suja, como as criaturas acima retratadas. (Com que cara vai o Temer apresentar-se ao Obama, aos líderes europeus, nas Nações Unidas. Com a cara de pau que tem, Esperemos que alguém lha cubra, com creme. Aí o espectáculo ficaria completo.)




4 comentários:

Jaime Santos disse...

Eu não acho piada nenhuma à situação, ela lembra-me a citação de Tácito em que ele diz que o único refúgio do crime uma vez descoberto reside na audácia. Os principais suspeitos do 'Lava-Jato' alcandoraram-se ao poder inventando um suposto crime de responsabilidade, uma vez que num regime presidencial o/a Presidente não pode ser destituído por motivos políticos (tive que explicar isto recentemente a um casal brasileiro, mesmo se detesto todos os regimes de natureza presidencial, EUA e França incluídos), aproveitando a impopularidade de Roussef... O Brasil dos coronéis e negreiros, ultramontano e iníquo, está vivo e recomenda-se. Ironicamente, estes fachos descendem em linha direta dos senhores que, descontentes com a Lei Áurea, acabaram com a Monarquia Constitucional e a substituíram por uma República Presidencial de Natureza Militar...

Ricardo António Alves disse...

Uma república, digamos, coronelista. Os Braganças, aliás,foram melhores do quer os que lhe sucederam, cá e lá.

Jaime Santos disse...

Para quem, como eu, é republicano, é triste ter que admitir que a 1ª República Portuguesa foi pior do que a Monarquia Constitucional. Mas pelo menos cá a Revolução fez-se em nome da Separação entre o Estado e a Igreja (e sabe Deus ;-) quão avançado era o pensamento de Afonso Costa para a época, tem piada ouvir hoje certos prelados defenderem que a defesa das Liberdades da Igreja é melhor assegurada pela dita separação, o mesmo que ele dizia há mais de um século), ou em nome da instrução pública (e segundo julgo saber nos poucos e instáveis anos da República conseguiram-se reais progressos nessa matéria). No Brasil, foi mesmo uma república fundada por coronéis negreiros. E, tirando o proto-fascista Sidónio, cá nunca ninguém se lembrou de defender o presidencialismo. Ninguém, isto é, salvo o Presidencialismo de Primeiro-Ministro de Salazar (que reservou a Presidência a militares de cujo apoio precisava, mesmo se teve problema sérios com Carmona e Craveiro Lopes) e depois a tentativa (felizmente malograda) de Eanes de fundar um Partido à sua imagem. Viva a nossa Monarquia Constitucional disfarçada, sem Rei (tirando o D. Marçelo I), mas com roque, e sobretudo sem todos os inúteis que carregam títulos nobiliárquicos e que abundam no Norte da Europa ;-)...

Ricardo António Alves disse...

Em matéria de regime, sou agnóstico. Desde que o sistema seja politicamente liberal, tanto se me dá.