sexta-feira, agosto 26, 2016

últimas do burquíni: agora eram os ciganos


Fernanda Câncio, jornalista e cronista que considero enquanto seu leitor, na crónica de hoje no Diário de Notícias, é bem o exemplo do beco sem saída em que se meteram aqueles que não tomam posição, a não ser em termos muito vagos e com coisas como esta: «Que o livre-arbítrio das mulheres vença o fundamentalismo dos homens proibicionistas e obrigacionistas»... Por detrás de frases de efeito duvidoso, o vazio absoluto dos chavões.

Mas, voltando a Câncio: agora são as mulheres ciganas, cujo lugar na família tradicional roma está longe de ser invejável, Como muitos dos que são contra o tratamento a que são sujeitos uma parte das muçulmanas na Europa, nunca manifestaram preocupação pela outras, tal significará, neste raciocínio cabriolante, que lá no fundo não deve ser bem a situação da mulher que move uns quantos. É extraordinário. Como se quem se preocupasse com os direitos cívicos dos negros americanos no fundo tivesse, consciente ou inconscientemente, outra motivação, por não reparar que ao lado existe uma reserva de índios...

Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Mas o que interessa é misturar, confundir. Acresce que nunca vi bandos de ciganos agressivos a meterem-se com casais namorados, por comportamento indecente, escorraçarem prostitutas das ruas, já nem por comportamento, mas porque não podem apedrejá-las, agredirem um médico que no hospital se atreve a dirigir-se e tocar numa paciente islâmica acompanhada pelo marido -- mesmo que a paciente esteja a parir, mesmo que ele seja o único médico de serviço no banco. Tudo isto e muito mais, e muito pior se passa em inúmeras cidades europeias. Mas não há uma reacção, um basta. Ou quando há, aqui del«rei que é islamófobo, ou coisa pior.

Câncio pode sugerir e insinuar que há outra coisa que não a defesa dos direitos das mulheres nesta reacção: provavelmente racismo, intolerância etc. E obviamente que também o há. Mas eu também posso admitir que a decisão do Supremo francês, entretanto tomada, suspendendo a proibição do 'burkíni', a coberto de uma esdrúxula concepção de liberdade e direitos humanos, tenha sido motivada pela prudência ou, mais cruamente, pelo medo do acirrar dos ódios, portanto pelo pavor da reacção do fundamentalismo islâmico -- como se lê tão bem, apesar dos sublinhados outros, na última frase deste post de Vital Moreira.

De cedência em cedência até ao mais do que expectável desenlace, que não será, obviamente o triunfo do islamismo em França, à Houellebecq, mas da tomada do poder pela extrema-direita, como de há muito venho dizendo -- para além das vindictas irracionais de ambos os lados, com muito sangue e sofrimento inocente, Entre a cobardia, a alucinação idiota e o racismo bestial, cristão ou muçulmano, ainda só estamos no princípio da história.


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