sexta-feira, setembro 18, 2015

bobós em espaço público

A ecologia merdificada do espaço público gera caralhices noticiosas como a do incidente ocorrido na Festa do Avante!, que não interessam a ninguém. E não interessam porque, a não ser que haja provas, é a palavra da alegada vítima contra a do PCP. Como não conheço a vítima nem o PCP, não faço fé em nenhuma.
Mas já que estamos no domínio do picaresco, apetece-me elaborar sobre o assunto (tive sempre uma estranha atracção pelo grotesco...).
Para começar, sou um adepto de bicos em espaço público, versão hetero, mas nada contra o homo. Sou adepto, em locais próprios para o efeito ou em sítios em que não haja grandes possibilidades de uma família andar a passear tranquilamente e se depare com cenas macacas. Sendo um entusiasta daquilo a que os brasileiros chamam boquete (saravá, leitores desse lado!), sou-o também da Festa do Avante! (não há relação; não há contradição...) Não falhei uma edição das que se realizaram no Alto da Ajuda, in illo tempore; e, hélas!, só me desloquei uma vez à Quinta da Atalaia, por preguiça. Quais festivais, qual carapuça!, aquilo é que é -- toda a gente se sente lá bem e ninguém anda a ver se somos  camaradas ou não.
Assim, sobre as duas versões vindas a público, apetece-me escrever o seguinte:
versão 1) dois homens trocaram um beijo em público no recinto da festa e foram agredidos por elementos da organização. A ser verdade, tal é uma selvajaria e o PC tem que tomar medidas para que não volte a acontecer um episódio semelhante. É violência e homofobia odiosa.
versão 2) dois marmanjos (ou um casal hetero -- para o caso tanto faz) ajavardam o espaço público. Nesse caso, a organização não só faz bem em expulsá-los, como (embora seja ilegal, concedo mas quero lá saber) uns calduços bem aviados nos elementos masculinos é altamente recomendável, para que para a próxima pensem duas vezes antes de partilharem a boçalidade com a público. 
Homofobia? Não me fodam. Lembra-me um episódio passado com um amigo, que, ao aproximar-se do portão da casa, dá com um tipo a mijar-lhe à entrada. Ao perguntar-lhe se ele também fazia isso à porta da casa dele (e provavelmente a pergunta foi feita com umas asneiradas à mistura, compreensivelmente), o rapaz, que por acaso era negro, respondeu-lhe: "Epá, isso é racismo!"... 

6 comentários:

Jaime Santos disse...

Se realmente os dois indivíduos estavam a praticar sexo oral num local público e notório e se os Seguranças não fizeram mais do que expulsá-los (eu teria também chamado a Polícia e feito queixa), não tenho nada a obstar. Já não gosto muito da sua gracinha relativa aos tabefes. É que isso de ser ilegal não é coisa com que se brinque, Ricardo. Recomendar a violência para corrigir comportamentos parece-me uma atitude muito pouco democrática...

Ricardo António Alves disse...

Caro Jaime Santos, eu não estou aqui para ser democrático (qualidade que muito prezo), mas para dizer o que me apetece; só respondo por mim, não tenho outras obrigações. Mas respeito a sua opinião.

Vamos admitir a possibilidade do sexo oral: como é que alguém que desrespeita os outros violentamente, exibindo a prática de um acto íntimo a quem quer que passe, seja criança, novo ou velho, pode merecer -- pelo menos de mim, que não sou agente de nenhuma autoridade -- outra atitude que não a da execração pública, seja de que modo for? Não tenho esse grau de civilidade para com a javardice.

Jaime Santos disse...

Para mim merece igualmente a execração pública (assumindo que foi isso que aconteceu), e espero bem que ainda exista uma figura qualquer do Código Penal que puna isso, pelo que uma queixa fundamentada, com testemunhas, que levasse os dois praticantes a julgamento, com o devido opróbrio, seria mais do justificada e não me venham falar de homofobia. Agora, um enxerto de porrada é outra coisa, é fazer Justiça pelas próprias mãos. E depois imagine que daqui para amanhã, uns quantos skin-heads justificam uma agressão homofóbica da mesma maneira, como castigo de um atentado aos costumes, e o Ricardo diz o quê? Que confia na palavra de dois seguranças comunas, mas não na de dois fascistas?

Ricardo António Alves disse...

No plano dos princípios, estou de acordo consigo. Mas, repito, eu, neste sítio, digo o que me dá na gana. Obviamente que desaprovo qualquer espécie de "vigilantes", o que não me impede de verberar a minha indignação por um alegado comportamento desse tipo. E repare que eu fui suficientemente cuidadoso para ponderar as duas possibilidades: a do alegado abuso dos seguranças e a da alegada prática do sexo oral.
Quanto a actos de skinheads, não lhes dou nenhum benefício da dúvida.

Jaime Santos disse...

O Ricardo não dá, mas eles podem à mesma usar o seu argumento, o que é bom para os 'comunas' é bom para nós. Não eram apenas os Nacional-Socialistas que tinham milícias durante a Alemanha de Weimar, lembre-se. Dizer o que nos dá na real gana não é boa política, parece-me... E depois, como digo, provavelmente teria sido bem mais exemplar para os dois marmanjos a humilhação pública de irem a tribunal e nem poderiam fazer-se de vítimas... Com a vantagem de que estava tudo dentro da Lei...

Ricardo António Alves disse...

Só posso responder por mim... Quanto ao mais, é como lhe digo: eu aqui sinto-me e quero-me livre para dizer o que me dá na gana. É a vantagem de não ter responsabilidades políticas. Mas agradeço as suas observações.