sexta-feira, setembro 05, 2014

sem fazer batota

«Russell, com a sua prosa esbelta, voltaireana e saudavelmente impertinente, lavava-me dos contorcionismos característicos do pior que se fazia nas universidades e desnudava, sem pudor, uma inteligência destemida, que não precisava de uma toilette pedante e, afinal, pirosa, para se impor. Por essa altura também desencantei numa estante não muito ostensiva da "Minerva Central", que voltei a visitar com regularidade, um exemplar, de poche, que ainda conservo, do romance La Peste, de Camus. A beleza descascada do seu estilo solar (mas que não evitava a sombra), a honestidade nua e sedutora daquela linguagem e daquelas emoções -- tudo, mas tudo ia direito ao alvo, sem fazer batota.»

Eugénio Lisboa, Acta Est Fabula -- Memórias-III-Lourenço Marques Revisited (1955-1976) (2013)

2 comentários:

beatriz j.a. disse...

Não conhecia este texto. Gosto especialmente da última frase, «tudo, mas tudo ia direito ao alvo, sem fazer batota» porque ela própria vai direito ao alvo :)

Ricardo António Alves disse...

Sem dúvida :)