sexta-feira, outubro 23, 2009

O Pulido Valente às vezes é parvo

O Vasco Pulido Valente é o publicista que melhor escreve, entre nós. Lê-lo é um verdadeiro prazer, excepto quando ele deixa de se dar ao respeito.
No Público de hoje, atira-se ao Saramago: depois da inevitável alusão ao prec, chama-lhe praticamente analfabeto funcional por não ter a escolaridade obrigatória e, no fundo, ser um autodidacta -- alguém que está impedido de aceder às misteriosas alegorias bíblicas. Um argumento maravilhoso.
A mim, entristece-me que o Pulido Valente, de inegável talento e saber, faça estas figuras de parvo. E não é a primeira. Se a memória não me atraiçoa, quando os restos mortais do Aquilino foram trasladados para o Panteão, ele ter-se-á referido à mediocridade do Aquilino (como agora se refere à mediocridade do Saramago).
O Saramago, goste-se ou não, é dos poucos escritores vivos em Portugal com voz própria -- e será um dos três ou quatro do seu tempo que muito provavelmente entrará no cânone. O que talvez não suceda com o Pulido Valente -- que ainda há pouco fazia figura de corpo presente num vomitório denominado "Jornal Nacional" da tvi.

4 comentários:

Manuel Nunes disse...

Caro Ricardo,
Lá vi o seu comentário no blogue. A polémica é tão vasta que até me atrevi a mandar umas achas para a fogueira. Quanto ao VPV, não era de esperar coisa diferente. Em relação ao Saramago, como sabe, é o nosso romancista vivo que mais admiro. Mais pela escrita do que pelas ideias, mas é de escrita que se trata, e essa é a confusão que fazem muitos dos que o denigrem.
Bem, até breve.
Manuel

Ricardo António Alves disse...

É difícil escapar a isso numa sociedade hipermediatizada, como a nossa.
É como você diz: num escritor, a escrita, antes de tudo; depois, as ideias. Mas também estamos a pedir à sociedade o que ela não tem: critério.
Um abraço

Ana Paula Sena disse...

É verdade, RAA. Li o artigo que refere. Há coisas inacreditáveis!

Ricardo António Alves disse...

Mal empregado talento.