«Uma vez, numa aula de filosofia (o professor era um pobre diabo, muito lendário pela degradação intelectual a que chegara, e a quem, certo dia, na indisciplina ruidosa que eram essas aulas, demonstrámos o argumento de Diógenes arrastando todas as carteiras, sentados nelas, para os vários cantos da sala), D. Ramon levantou-se, e objectou que todos os seres vivos tinham alma, o que, segundo as regras da ciência, era uma verdade, e não um ponto controverso da especulação filosófica.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst., 1979)
«Os atalhos velhos, abandonados, encheram-se de mato. Vai-se agora pela estrada, ou corta-se pelos caminhos abertos nos baldios pelos tractores da Câmara. Da linha do comboio de via estreita, abandonada, ficaram os carris a marcar a presença, e um ou outro poste donde pendem ainda os fios do telégrafo.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
«Abro a porta devagar, ela range para o espaço do jardim. É um jardim morto, as plantas secas, os canteiros arrasados nas pedras que os limitavam. Alguns têm só terra ou hastes secas de roseiras. Vejo-as do portão, o carro à entrada a trabalhar. Depois meto-o na garagem, que é um barracão ao lado de casa.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
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1 comentário:
«É de todo intolerável qualquer preconceito ou paixão facciosa quanto a averiguar se o poeta era fidalgo ou escudeiro, fidalgo de meia-tigela ou proletário, palaciano ou homem da rua, viveu e morreu tranquilamente, confortado ou não com os sacramentos da Igreja. Neste capítulo, o padre Macedo é suspeito. Ajusta-se o meu sentir com o do visconde de Juromenha que se exprime por estas palavras: «Que Luís de Camões fosse filho de um plebeu ou de um nobre pouco importava para a sua fama...». De qualquer lado do quadrante que se encaminhem, os biógrafos estão de acordo sobre o seu génio multiforme.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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