quarta-feira, setembro 11, 2024

tempo de romance

«Primeiro, de bandeirolas a tirar miras para o erguer das travessas e a mandar homens na rebaixa, até os tabuleiros poderem receber uma lâmina de água para a sementeira; depois, a dirigir aquele caudal que todos os dias entrava Lezíria dentro, pela regadeira mestra, não fossem afogar-se os pés de arroz ou morrer alguns por míngua.» Alves Redol, Gaibéus (1939) § «Depois de ter corrido a cidade, recomeçava: Preferia os becos, as sombras, os cantos e as escadinhas escusas. E envolvia no mesmo ódio furibundo as luzes dos cafés e os raros transeuntes normais que recolhiam. Era pela antemanhã que o meu delírio atingia o auge.» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934) § «-- Lá está! -- grita uma voz, louca de alegria. Era certo. Pela proa, um pouco aberto por bombordo, despontava de facto no horizonte um pequeno recorte de costa, ilhota perdida ou cimo de monte, cume de serra afinal.» Joaquim Paço d'Arcos, Herói Derradeiro (1933) § «À esquerda, para lá ainda da falda do outeiro, esbranquiçava, por entre a ramagem estática, o casario da aldeia. Desse lado, certamente de debicar os brincos vermelhos das cerejas, um gaio vinha, de quando em quando, esconder no pinhal o cromatismo da sua plumagem. "Chuá! Chuá!" E era o único grito que quebrava o silêncio, também volátil, das velhas árvores em êxtase.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) § «O destoante casario campeava, porém, já fora da catedral e formava, com o seu largo abraço saindo-lhe discretamente dos flancos, uma como que cintura defensiva lançada à roda da venerável cabeceira do templo, onde resplendia ainda o diadema estilhaçado das capelas góticas.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Dois caminhos rompiam ali: um que cortava a Serra, povos em fora, de vila para vila, o outro direito ao paul, onde o Javardo andaria, com um zango esparvadiço, rondando por entre os amieiros e recolhos dos juncais.
Boas sortes, a botar um feno que vinha abaixo de balofo, eram as suas. Mas, desde que se metera em andanças com a Zefa do Alonso, S. Torcato em diante, que não abria ali talhadoiro, a pontos que se veria o sabugo à erva se, por uma raridade, as escorralhas não transbordassem das lameiras vizinhas alagadas. Os mais anos, por aquele tempo, era dito e feito à beira do rego, testo sobre o rabo do sacho, a ouvir a água dando-se à erva numa taramelice de freirinha a rezar, enquanto a noite ia de rotina pelos mundos além.»
Aquilino Ribeiro, "Terras do Demo". Romance. (1919) - publicado