domingo, setembro 15, 2024

tempo de novela

«O "bagatelle" deixou a lata, pousou uma das mãos sujas sobre a escada e olhou para o beiral: / -- Vou pintar a palavra "Missão" no telhado, por causa dos bombardeamentos... / -- Muito bem. É preciso -- apoiou Mounier, sempre com um tom descuidado e já a afastar-se.» Ferreira de Castro, A Missão (1954) § «Quando comecei a pôr vulto no mundo, meus fidalgos, era a porca da vida outra droga. Todas as semanas contavam dias de guarda e, por cada dia de guarda, armava-se o saricoté dos terreiros. Não andaria Nosso Senhor de terra em terra -- eu cá nunca me avistei com ele -- mas a verdade é que a neve vinha com os Santos e as cerejas quando largam do ovo os perdigotos.» Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas (1922)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Quando na rua se lhe deparava um dos soberbos adoradores, Rirette enleava e, em voz trémula, despedia-se como selvagem ou Madalena arrependida. Por vezes, uma sugestão forte conduzia os três àquelas paragens em que a luxuriante triunfara. Faziam-no então, com a covardia de foragidos que matam saudades, na sombra, irreconhecível sob véus espessos o semblante de ambas. Bem repetia a velha a Rirette:
-- Larga o gajinho!
-- Não.
-- Vai, ao menos, ter com um de "ces messieurs..."
-- Não e não!»
Aquilino Ribeiro, "Filhas de Babilónia" ("Maga"). Novela (1920