terça-feira, janeiro 30, 2024

como os imigrantes tornaram um sítio chulo num local aprazível

Por falar em mínimos, já deveria ter escrito sobre o caso do Martim Moniz e da operação de intimidação dos neonazis. A CML também os cumpriu, apesar de tê-lo feito de forma pífia,  escudado-se num parecer da polícia para proibir uma provocação de âmbito criminal -- e apesar do seu voto unânime de repúdio pelo que se preparava.

Há uma série de tinhosos  o lumpen social a vegetar na grande Lisboa, em relação aos quais não vale a pena gastar latim. São meros delinquentes, e a delinquência, ou se reconverte -- missão morosa -- ou se interna.

Quando eu era jovem, o Martim Moniz era um lugar chulo e porco; hoje é um aprazível espaço cosmopolita. Eu gosto sempre de passar por lá. Com isto não quero dizer que o país não deva ter uma política de imigração. Claro que deve, apesar das dificuldades; e que todos os imigrantes possam gozar dos direitos e deveres dos restantes cidadãos. Se há para aí uns quantos cadastrados em função de crimes graves. é para deportar. mas só uma amiba se deixa ir atrás da conversa que instila o medo pelo outro. Quem conviva  com eles diariamente -- e todos convivemos -- sabem que são pessoas como nós, mas mais frágeis e desprotegidas. Mais uma razão para não haver complacência com a xenofobia.* 

É preciso espicaçar estes políticos medrosos a fazer o que é seu dever sem se escudarem por detrás da legalidade. Esperar pelo parecer da polícia quando um bando de energúmenos desanalfabetos queria atemorizar os imigrantes e também os nossos concidadãos, numa espécie de faroeste, em que as quadrilhas entravam aos tiros pela main street é duma mariquice inqualificável.  Não é só a sociedade civil que deve estar vigilante -- e esta estava, daí a contramanifestação convocada --, mas o Estado, a Câmara, o Governo, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional. Será pedir muito?

* Mantenho que em Portugal o racismo é classista e não de outro tipo, com excepção para os ciganos. Mas que há xenofobia, isso é evidente, e ela atinge o nepalês, o ucraniano e o brasileiro -- a não ser que apresente uma compostura sustentada por sinais exteriores de riqueza. A xenofobia, ao contrário de racismo, é um fenómeno eminentemente de pobres. 

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