terça-feira, outubro 10, 2023

antologia improvável #515 - A. M. Pires Cabral

 

SILÊNCIO


Há momentos em que tudo o que desejo

é o silêncio e seu bálsamo. Momentos

que a própria música conspurcaria.


Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço

não é o silêncio que alguma autoridade

decreta, seja direcção-geral, escola, igreja.


O silêncio que ambiciono há-de ser

sereno como nuvens e ervas bravas

e água em repouso e asas imóveis

de borboleta.


Há-de ser como o doce cansaço

que, depois que o vento tem passado, 

fica a cintilar sobre as coisas

que o vento alvoroçou.


Caderneta de Lembranças (2021)

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