terça-feira, setembro 13, 2022

uma guerra stalinista, segundo um general da nato (ucranianas CXXIV)

 O major-general Isidro Morais Pereira, comentador da guerra, apresentado como ex-representante de Portugal na Nato, não tem, neste particular, deixado os seus créditos por mãos alheias. No outro dia, compungido com a destruição provocada pela guerra, disse que os russos levam a cabo uma "guerra stalinista" na Ucrânia, pelo volume de destruição infligido. Dando de barato ao major-general a bestialidade da guerra, e recordando que as malfeitorias infligidas pelo Zé Estaline aos alemães na II Guerra foram para baixo de um décimo da que foi exercida por Hitler a todos os povos da União Soviética (russos e ucranianos à cabeça), o lamento do general suscita-me duas observações: a primeira prende-se com a orografia do território, insusceptível de confronto em campo aberto, em especial quando a desproporção de meios é grande, sendo, portanto, nas cidades e ao seu redor que as refregas acontecem; em segundo lugar, esqueceu-se de que a defesa ucraniana colocou o arsenal bélico dentro, em cima e em torno dos edifícios, ocasionando aquelas imagens de civis usados como escudos humanos, que a insuspeita Amnistia Internacional denunciou, para raiva dos propagandistas do "Ocidente alargado" -- uma maneira de os comentadeiros se referirem aos Estados Unidos sem lhe dizerem o nome.

Acho também extremamente cómico este general Nato, intelectualmente propulsionado pelos nossos (deles) valores, que, como sabemos, são muito democráticos, e até liberais... Nem é preciso recordar a liberalidade com que despejaram napalm no Vietname, faz meio século; ainda há pouco levaram a democracy (os nossos, deles, valores) aos iraquianos chacinados.

Podemos chamar muitos nomes ao Putin (eu, nem por isso, até ver): que tem um nacionalismo distorcido, que é ditador ou mesmo um mauzão (esquecendo-nos que ele salvou a Rússia da debâcle e está a prevenir hoje voltar ao caos dos tempos de Ieltsin -- mas isso é outra história, certamente contestável e com sombras várias). O que não se pode dizer do Putin é que ele invadiu a Ucrânia para rapinar as riquezas do país, como os democráticos e liberais americanos fizeram no Iraque.  Esses arautos do "Mundo Livre" -- criminosos de guerra -- ainda mexem e têm nome, sendo Biden, volto a lembrar, com o seu voto favorável à invasão, no mínimo cúmplice e co-responsável moral pela miséria de que foram agentes, o crime mais hediondo de que fomos testemunhas. 

A Guerra da Ucrânia, perversa, como todas as guerras, não tem mais nem menos valor do que a guerra no Tigré (em África) ou no Iémen (na Ásia), que estão aí a decorrer na indiferença de todos.  O resto é conversa fiada é para tolinhos.

5 comentários:

Unknown disse...

Texto muito bom e suficientemente esclarecedor para muitos. Abraços Ricardo

R. disse...

Obrigado, caro leitor/a...

R. disse...

Reparo agora que é impossível aceder ao seu blogue ("Notícias sem Censura") por aqui, ou via google. Será mais um exemplo dos nossos ricos valores em acção? Vou tentar por outro lado.

sincera-mente disse...

Caro Ricardo, respaldado pela amizade que nos une, e deixando-lhe um abraço sincero, permito-me lavrar um comentário irónico-negro-amargo-trágico e também actual, que assenta bem ao seu texto: em sinal de gratidão pela amigável convivência de seis meses com o exército libertador, mais de 400 se suicidaram em Izium; outras centenas o tinham já feito em Bucha e outros locais...
Agora a sério: tenho esperança que o sacrifício de tantos inocentes acabe por abrir os olhos àqueles que não querem ver e se entretêm (ainda) em análises ideológicas e de geo-estratégia.

R. disse...

Caro Fernando, os seus comentários são sempre bem-vindos. Sem entrar em pormenores sobre o que são aquelas 400 cruzes, e muito menos, voltando a Bucha, desvalorizei, o que lhe posso afiançar é que nem eu nem você. ou qualquer outros a não ser os que estão no terreno sabe o que é aquilo, quem lá está enterrado. Há-de vir a saber-se, se são soldados e de que exército, civis ou paramilitares. No entanto sempre lhe digo que nunca vi uma guerra sem mortos, mas também nunca vi tanta manipulação. Claro que irá responder-me que a Ucrânia foi injustificadamente atacada e todos os outros argumentos conhecidos. Ora eu posso deplorar pessoalmente que o recurso tenha sido a guerra, mas lá injustificadamente é que não foi. E creio que ao fim destes seis meses já tenha desconfiado que a guerra é entre a Rússia e os Estados Unidos, com a Ucrânia a servir de campo de batalha e os ucranianos de carne para canhão -- excepto uma classe endinheirada que eu vejo a passear-se de Mustan, Bentley, Tesla e outras espécimes topo de gama, conduzidos por mamrmanjos na casa dos trinta e quarenta que decidiram salvar o coiro, enquanto que os imigrantes aqui e noutras partes abandonavam famílias e empregos para pegar em armas para defender o país. Isto foi um aparte, mas não percebo como pode um tipo sentir-se bem a fazer surf, quando os concidadãos estão de arams na mão -- aliás nem sei como raio eeles estão aqui, com a proibição a todos os homens até sessenta anos de abandonarem a Ucrânia.

Quanto aos seus votos, acompanho-os, mas no entanto sei também que só no Paraíso eles serão cumpridos.

Abraço e mande sempre.