sábado, junho 10, 2017

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Deve dizer-se que o humor de Carlos Ceia já existe, em larga medida e altíssimo grau, cento e cinquenta anos antes no Camilo. Atente-se à advertência aos «Leitores! De hás verdade sobre a Terra, é o tpmace que eu tenho a honra de oferecer às vossas horas de desenfado.» Meio século mais tarde, um miúdo, que viria a ser o escritor Ferreira de Castro, alinhava, em plena Amazónia, o início dum romancinho... verde. Nada mal, na verdade. Aprendera a lição sabichona do bruxo de Seide, crismando o protagonista com a graça de Simão Rafael dos Anjos, procurando também ele cativar os leitores com um aviso nas capas dos fascículos que mandava imprimir em Belém do Pará, que vendia de porta em porta: «Sensacional romance -- expurgado de phantasia»...

1854 - «Em 1815, um dos mais abastados mercadores  de panos da Rua das Flores, na cidade do Porto, era o Sr. António José da Silva.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago

1916 - «Num lugar denominado Santo António, pertencente à freguesia de Ossela, moravam dois rapazes que, pela educação que receberam, distinguiam-se dos outros, rudes camponeses.» Ferreira de Castro, Criminoso por Ambição

2004 - «[2 de Fevereiro de 2003 (Está um dia cinzento.)] Querido Diário, / Se não acertar com a primeira frase do romance, vai-se o leitor embora e fico a sós com as minhas personagens, num delírio de duas centenas de páginas que enterro debaixo da minha imaginação inútil.» Carlos Ceia, O Professor Sentado

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