«Também o Mouro astuto está confuso, / Olhando a cor, o trajo e a forte armada; / E, perguntando tudo, lhes dizia / Se porventura vinham de Turquia.»
Os Lusíadas (1572) - I-62
conservador-libertário, uns dias liberal, outros reaccionário. um blogue preguiçoso desde 25 de Março de 2005
«Também o Mouro astuto está confuso, / Olhando a cor, o trajo e a forte armada; / E, perguntando tudo, lhes dizia / Se porventura vinham de Turquia.»
Os Lusíadas (1572) - I-62
«Só a avó, já doente do cancro, navegava ao acaso na poltrona de inválida, de radiozinho de pilhas encostado às farripas da orelha, contemplando a sorrir, sem entender, os democratas que de quando em quando rebolavam aos encontrões no corredor e vasculhavam o resto das pratas com o cano dos revólveres, repetindo os discursos estranhos dos altifalantes dos cegos.» António Lobo Antunes, Auto dos Danados (1985)
«Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo -- entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse ao menos ia até o quintal.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)
«Dá o cronista-mor do Reino razão plausível do altar provisório nestes tortuosos termos: Foi para que, com a duplicada presença de Cristo sacramentado e crucificado, reconheça Castela que para uma de suas traições se nos duplica Cristo para defensa.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)
Ivo Andrić: «Na maior parte do seu curso, o rio Drina corre através de gargantas apertadas, entre serras abruptas ou profundos desfiladeiros de arribas escarpadas. Apenas de quando em quando as margens do rio se dilatam em vales abertos, formando, de um ou do outro lado, chãs de terra fértil, ora planas, ora onduladas, próprias para cultivo e povoamento.» A Ponte sobre o Drina (1945) - trad. Lúcia e Dejan Stanković § Hans Christian Andersen: «Tinham vindo recomendados pelo nosso Ministro para Espanha e Portugal, dal Borgo, ao Almirante Wulff, em cuja casa ficaram hospedados, frequentando a escola do professor Nielsen. Depressa aprenderam o idioma dinamarquês, tomando amor à nossa terra.» Uma Viagem a Portugal em 1866 (1868) - trad. Silva Duarte § Mikhail Bakunin: «É uma classe condenada pela sua própria história e psicologicamente cilindrada. Marchava dantes na frente, era esse o seu poder; hoje recua, tem medo, condena-se a si própria à destruição.» O Socialismo Libertário - «O movimento internacional dos trabalhadores» (1869) - trad. Nuno Messias § Leonid Andreiev: «Confirmada a demência de Egor Timofeievich Pomerantzev, subchefe da Repartição de Administração local, os amigos promoveram uma subscrição em seu benefício, a qual rendeu o bastante para que ele fosse internado num manicómio particular.» Os Espectros (1904) - versão de Manuel do Nascimento § Michael Gold: «Cerra os dentes, garante que não falará e morde os lábios. / Com a boca sangrenta, jura que jamais soltará uma só palavra. / Com a boca sangrenta, jura que os cinco fortes polícias nunca o obrigarão a falar.» Michael Gold, «Cárcere», Para a Frente América... - trad. Manuel do Nascimento
«Que eu vivo à espera dessa noite estranha, / Noite de amor em que me goze e tenha, / ...Lá no fundo do poço em que me espelho!»
Poemas de Deus e do Diabo (1925[26]) - «Narciso»
Eu vou partir do princípio de que os candidatos são honestos, e também patriotas. Num momento em que a ameaça da guerra espreita, essa honestidade e esse patriotismo importam -- mas também, tanto quanto estas qualidades, a noção da História de Portugal e de como, mercê de muitas contingências, iremos, daqui a uns meros três anos, assinalar os 900 anos de independência, no aniversário da Batalha de São Mamede, na qual D. Afonso Henriques fundou uma dinastia, um país e uma futura nação, a partir de povos de diferentes etnias: celtas, romanos, germânicos, berberes, árabes e por aí fora. Estivemos para soçobrar mais de uma vez, mas persistimos -- pela língua e pela cultura, em primeiro lugar; pela religião, também; e pela Coroa nos primeiros séculos, e o Estado a seguir.
Portugal não resiste sem a língua e sem a cultura, mas precisa, sempre precisou, de uma visão estratégica -- e agora cada vez mais, não apenas por razões militares mas pelo progressivo domínio de um sistema financeiro transnacional que tudo subjuga -- da Economia (das sociedades, portanto) ao indivíduo.
A visão estratégica de Gouveia e Melo é incomparavelmente mais sofisticada e informada que a de Mendes e Seguro -- pelo menos é o que se retira das banalidades que têm dito. A crítica ontem, expendida pelo almirante, à lista de compras do Governo em matéria de defesa não poderia ter sido mais certeira. Onde está o Conceito Estratégico de Defesa Nacional, como já aqui perguntei, a propósito doutras eleições? Está arrumado a um canto; por isso, comprar armamento agora é, como disse o candidato, começar a "construir a casa pelo telhado".
É isto que o distingue dos outros; o que fará com essa distinção se for eleito, não sei.
Jorge Amado: «Publico esses rascunhos pensando que, talvez, quem sabe, poderão dar idéia do como e do porquê. Trata-se, em verdade, da liquidação a preço reduzido do saldo de miudezas de uma vida bem vivida.» Navegação de Cabotagem (1992) § José Duarte: «Não acham que é muita... / Música... / para tão poucos minutos?» Cinco Minutos de Jazz (2000) § Machado de Assis: «E diziam-lhe que não era nada, que eram macacoas do tempo; um acrescentava graciosamente que era manha, para fugir aos capotes que o boticário lhe dava no gamão, -- outro que eram amores. Mestre Romão sorria, mas consigo mesmo dizia que era o final. / "Está acabado", pensava ele.» Histórias sem Data (1884) - «Cantiga de esponsais» § Manuel Tiago: «Ao Lambaça, que julgava ter de fazer passar a fronteira a algum importante dirigente, André parecia uma criança insignificante e inofensiva, diminuindo, quase ao ridículo, a incumbência. A André, o aspecto e a expressão de Lambaça avivavam desconfiança e prevenções acerca do seu carácter.» Cinco Dias, Cinco Noites (1975) § Camilo Castelo Branco a Eduardo Costa Santos (1867) .../... «A maior parte dos livros que me propõe em troca, a tenho nas Memórias da Academia. Outros, afora aqueles, já os possuo, e alguns não interessam ao género dos meus estudos.» in António Cabral, Homens e Episódios Inolvidáveis (1947)
«Cartas de antes do noivado... / Cartas de amor que começa, / Inquieto, maravilhado, / E sem saber o que peça.»
A Cinza das Horas (1917) - «Cartas de meu avô»
No debate com António Filipe, Jorge Pinto, reproduziu (com candura ou sem pudor) o palavreado propagandístico desavergonhado da von der Leyen -- a começar pela inenarrável conversa do "rapto" de crianças supostamente ucranianas pelos russos. (Creio que não se degradou a empregar a infame palavra "deportação", de ressonância nazi, que a UE e a anterior administração americana usaram numa das muitas campanhas de lavagem ao cérebro da opinião pública europeia).
Disse também Jorge Pinto que é pela autodeterminação dos povos. Também eu sou -- mas tanto falo do povo tibetano como dos russos do Donbass, perseguidos na sua integridade, como toda a gente sabe, e que só os ingénuos, os desmemoriados ou os pulhas se esquecem de falar.
«A cada carro que abranda mandam estacionar. / Agarrados aos ossos sujos, zurzidos, / Baloiçam no alcatrão.»
Humoresca (2002)
«I- De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens. -- Parte para Santarém. -- Chega ao Terreiro do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede. -- A Dedução Cronológica e a Baixa de Lisboa. - Lord Byron e um bom charuto. - Travam-se de razões os ílhavos e os bordas-d'água -- os da calça larga levam a melhor.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)
«Olho-o um instante, olho a casa, circunvago o olhar. Preparar o futuro -- o futuro... E uma súbita ternura não sei porquê. Silêncio. Até ao oculto da tua comoção. Preparar o futuro, preparação para a morte.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
«No intuito de expiar o sítio, segundo a pia frase de Fr. Francisco Brandão, ergueu a piedade um altar encostado à seteira por onde o regicida abocara a escopeta, e aí foi arvorada aquela milagrosa imagem do Crucificado, que despregou a mão revolucionária no dia em que o duque bragantino foi aclamado rei.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)
«uma ponte esquecida / feita de tábuas, / de saudade apodrecida»
Flores de Cinza (2025) - «Outra margem»
Quando a Cia orquestrou o golpe de estado na Ucrânia, em 2014, a UE, aprovou. Quando uma prócere americana proferiu Fuck the EU!, a UE gostou. Quando Trump impôs e humilhou, a UE anuiu e continuou a pagar. Agora, quando os dois beligerantes, Rússia e Estados Unidos, se preparam para decidir a situação no terreno, marimbando-se para a Europa, depois da obediência canina, do que estava a UE à espera senão ser desprezada?
«Um cansaço agradável / enchia as tardes de tagarelice e jogos de cartas.»
Peças Desirmanadas e Outra Mobília (2000) - «Camionetas Bedford»
A propósito da guerra entre a Rússia e os Estados Unidos que decorre na Ucrânia, e que os segundos querem, desde Trump, acabar, não perdendo tudo, Gouveia e Melo tinha vindo a fazer declarações nuançadas relativamente ao papel de Portugal nesta grave crise.
Era (é, será?) uma posição interessante e prudente, que contrasta com a vacuidade seguidista e a irresponsável da generalidade das lideranças políticas portuguesas.
Ontem, porém, numa estratégia de efeitos eleitorais duvidosos, quis entalar António Filipe com conversa fiada. Recebeu o troco, e ficou colado àquele grupo que demonstra não ter nem pensamento estratégico ou, talvez pior, que se está nas tintas, desde que venha o voto. Ora o almirante conhece muito bem os factos, razão de sobra para não se pôr ao mesmo nível daquele artista que dizia aos portugueses que "é(ra) preciso derrotar a Rússia"...
A outra foi sobre o estúpido pacote laboral, uma indignidade suficiente para qualquer ministro pintar a cara de preto. Podia ter aprendido com o Seguro e chutar para canto, se não quisesse mostrar-se tão equidistante, redondo ou, como disse Filipe, "neutral": este pacote não constava do programa eleitoral dos partidos que governam, portanto é insusceptível de passar pelo crivo do PR.
«Todo o Verão tem o seu assombro / paisagens altas / onde principio a escrever / (num silêncio de sinos) / vocábulos escassos, dissonâncias / numa saudade de rosas e luz estilhaçada.»
Na Orla da Tinta (2001)
«I. Ainda os membros dispersos do cadáver de Domingos Leite Pereira apodreciam nos postes, quando saiu uma procissão de triunfo a desempestar especialmente as Ruas dos Torneiros e da Fancaria.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)
«Um silêncio súbito, silêncio da terra. Só vozes ermas dos campos, ouço-as no calor parado da tarde. Reparo agora melhor no pequeno jardim. Uma selva bravia. As plantas selvagens irromperam de todo o lado, aos cantos dos muros à volta, junto à casa. Há algumas armações de madeira ainda, já apodrecidas, suspensas de arames, sem flores.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
«Fez-se um silêncio de expectativa risonha. E o professor, debruçando sobre a secretária os bigodes pendentes e amarelados, perguntou-lhe: -- Quais regras da ciência? -- E ele, entreabrindo os lábios finos que nunca se sabia quando sorriam ou se apertavam de contrariedade, respondeu: -- A observação e a experimentação. -- Ah, muito bem, e como foi que o senhor observou e experimentou a alma dos animais? -- Como, senhor doutor? Pessoalmente --. E foi uma gargalhada geral.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst., 1979)
«Que o sangue que era o seu seja o rictus da tara, / A máscara de sal, / A vingança do pobre. / E que o Exterminador, no seu trono de enxofre, / O faça tilintar os guizos da tortura / Até que o mundo o esqueça / E mais ninguém o chore.»
A Liturgia do Sangue (1963) - «In memoriam»
«Como são belas de facto as árvores na Place des Vosges! mas nesse dia / eu andava pelo Marais com a mais uma vez morte presa aos cabelos»
Siquer Este Refúgio (1976) - «Quarto Bairro, Paris»
Neste artigo, Pedro Ponte e Sousa faz uma análise muito serena e pormenorizada da catástrofe que tem sido para a União Europeia e para a própria Ucrânia a política seguida de confronto com a Rússia -- peitar a Rússia com as costas aquecidas pela Administração Biden, abdicando de uma posição própria, que agora querem ter, quando lhes falta os meios. They don't have the cards...
O que já então era um disparate e um absurdo é-o agora ainda mais. Não é só Ursula e quem a rodeia que são uma catástrofe; também as lideranças nacionais (quase todas) , na sua estupidez incomensurável, a que se juntou uma constelação de detritos académicos e meia dúzia falcões já de pantufas postas, cuja insânia poluiu e condicionou o ambiente informativo e me(r)diático, É difícil lembrar manipulação mais rasteira, veiculada pelos palerminhas da comunicação social -- designação horrível para o verdadeiro jornalismo.
«Uma vez, numa aula de filosofia (o professor era um pobre diabo, muito lendário pela degradação intelectual a que chegara, e a quem, certo dia, na indisciplina ruidosa que eram essas aulas, demonstrámos o argumento de Diógenes arrastando todas as carteiras, sentados nelas, para os vários cantos da sala), D. Ramon levantou-se, e objectou que todos os seres vivos tinham alma, o que, segundo as regras da ciência, era uma verdade, e não um ponto controverso da especulação filosófica.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst., 1979)
«Os atalhos velhos, abandonados, encheram-se de mato. Vai-se agora pela estrada, ou corta-se pelos caminhos abertos nos baldios pelos tractores da Câmara. Da linha do comboio de via estreita, abandonada, ficaram os carris a marcar a presença, e um ou outro poste donde pendem ainda os fios do telégrafo.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
«Abro a porta devagar, ela range para o espaço do jardim. É um jardim morto, as plantas secas, os canteiros arrasados nas pedras que os limitavam. Alguns têm só terra ou hastes secas de roseiras. Vejo-as do portão, o carro à entrada a trabalhar. Depois meto-o na garagem, que é um barracão ao lado de casa.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
«Uma dor intensa / Sem motivo / E um pingar pulsado / No fundo do poço»
Os Meus Dias (2018) - «Águas do fim»
«Que importa o nome, a fala, / Que importa um eco ou voz, / Se quem dá nome ao nome / -- O amor -- têmo-lo nós?»
Primaveras Românticas (1872)
«fusão do céu e do mar / linha que não se divisa»
Sobreviver em Tarrafal de Santiago (1985) - «Paisagem concentracionária»
«amanham descalças as ervas dos rios // sufocam azuis, estaladas de ferida // são fodidas à noite como fábricas»
Columbários & Sangradouros (2003)
Pelo que ouvi, a Úrsula rejeita o chamado plano americano para a Ucrânia, ou seja a capitulação desta, ou seja acredita, estupidamente, que pode fazer frente (em nome de quem na UE?) sozinha à Rússia, contando com a crescente hostilidade dos Estados Unidos, sem falar no apoio da China e da neutralidade colaborante da Índia... Não serão o Canadá ou o Japão (entretido agora com a China...) que irão fazer a diferença.
Como a cabeça dos europeus resiste à manipulação, esta vigarista não desiste e propõe-se fazer uma grande conferência internacional sobre as "crianças raptadas" pela Rússia. Não têm vergonha nenhuma estes porcalhões.
Negação, fuga para a frente, a trafulhice do costume. A criatura aparece "nas redes" com a bandeira da Ucrânia por detrás. É grande a resistência para aceitar que a política que ela liderou, com a aquiescência dos zeros-europeus é um rotundo fracasso, uma derrota total, que passará por mais uma humilhação da União Europeia -- e é tão bem feito para estes poltrões.
As contrapropostas são de tal maneira anedóticas e estúpidas, que a Meloni já se viu na necessidade de se demarcar desta imbecilidade. Não será a única, claro, mas por enquanto é ainda dos poucos que contam.
«Ramon Berenguer de Cabanellas y Puigmal já era célebre, quando, por fusão de duas turmas, passou a ser meu colega no 6.º ano dos liceus. As suas calmas e sonhadoras extravagâncias, o seu ar de senhor de idade, o mistério de adulto de que rodeava a sua figura pequena e atlética, a sua profunda convicção de que, desde o século XII ou XIII, a Espanha devia à sua família o condado de Barcelona, as perguntas absurdas feitas com o ar mais convicto e ingénuo do mundo, com que ele era o terror dos professores inseguros, e o seu famoso sistema filosófico que tudo explicava e o dispensava, "graças ao controle das energias do cérebro", de estudar as lições (salvo em casos de última emergência), tudo isto não fazia dele um ídolo nem um chefe, mas um ente respeitadíssimo, apesar da ironia com que todos o apontavam.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst. 1979)
«Por estes lados, o viajante só vê montes. Desertos, amarelados, pedregosos, às vezes com uma ermida no alto, outros coroados de espinhos. Nalgumas encostas os sulcos dos campos lavrados. Aqui e além bocados de vinha, casebres perdidos, rochedos cobertos de musgo, aldeias tão longínquas que são apenas manchas brancas na paisagem.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
«E a que foi acontecendo aos outros -- é a História que se diz? abro a porta do quintal. É um portão desconjuntado, as dobradiças a despegarem-se. Há muito tempo já que aqui não vinhas. Sandra era da cidade, gostava da capital, detestava a vida da aldeia. Lá ficou.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
Refiro-me, entre várias coisas, à proibição da língua russa, às perseguições dos grupos nacionalistas e tolerância (no mínimo) para com os neo-nazis e, mais que tudo, terem-se prestado a fazer do país um proxy dos americanos. Há indignidade maior?...
A UE, com os imbecis de turno, dá-me vontade de rir; mas devia fazer-me chorar.
Também me diverte ver alguns defuntos, jornalistas, professores de Relações Internacionais ou de Direito Internacional, na sua maioria.
O nosso Rangel diz que há margem para trabalhar. É assim mesmo, pá -- America first...
«2. Se uma libélula / pousasse / agora / sobre a água, / nasceriam / flores.»
Entre a Cicuta e o Mosto (1992) - «Armando Alves: três instantâneos para a sua pintura»
O maior risco que Portugal enfrenta, em 20 de Novembro de 2025, não é a crise da habitação nem um governo miserável que quer fazer dos trabalhadores gato-sapato, (Viva a Greve Geral!), as listas de espera na Saúde Não. O grande perigo é a nossa satelitização por uma Comissão Europeia e governos pseudodirigidos pelo Starmer (que nem para vender enciclopédias porta-a-porta), o Macron (mais um gestor na política) e o gajo da Alemanha, cujo nome não me ocorre, com dimensão de chefe de recursos humanos, nos empurrem para uma estúpida guerra que não tem nada que ver connosco, porque criada pelos Estados Unidos e agarradas com pundonor por estes zeros.
Dos três candidatos que podem ser eleitos -- espero que todos patriotas --, já ouvi tudo de Marques Mendes e não gostei; ainda não consegui ouvir nada de Seguro; e ouvi o suficiente de Gouveia e Melo para ainda estar para ver. Sim, eu sei daquela frase bombástica dita há já bastante tempo na eventualidade de a Rússia atacar a Nato -- uma obviedade que decorre dos tratados, e os tratados são para honrar, no articulado que o país assinou.
A questão é que o Putin é muito mais inteligente do que estes imbecis -- e portanto não atacará a Nato, se esta não o encurralar (foi por isso mesmo que a Rússia atacou a Ucrânia, lembram-se?). Como os Estados Unidos saltaram fora do chavascal que aqui arranjaram, não estou a ver estes bonecos com atitude suicida. Para além do que, havendo um país da Nato que ataque a Rússia (a Polónia tem no governo um neocon por via vaginal, cuidado com ele), ou se emaranhe em provocações no Báltico, ou ainda surjam outras acções engendradas pelo Zelensky, (que não descansa enquanto não nos mete lá dentro) -- partindo um hipotético ataque de um país da Nato, a única obrigação de Portugal é manter-se à margem desta geopolítica insana de roleta russa...
Quero um presidente patriota, não mais um fantoche. Por isso são tão importantes as eleições de Janeiro. Nunca, desde 1976, tivemos uma eleição presidencial tão importante.
«Por toda a parte o mistério encarnava / Natural como a selva a dois passos / Da casa grande»
Elegias de Londres (1987)
Michael Gold: «Sem dó, as matracas erguem-se e baixam. Impiedosamente, os pés trituram a cara do preso. / Os polícias, como amantes em espasmo, roncam alto. Os colarinhos estão amarrotados, viscosos, nojentos. / O prisioneiro cerra os olhos por instantes, e vê miríades de estrelas que refulgem no seu mundo de dor.» «Cárcere», Para a Frente América... - trad. Manuel do Nascimento § Woody Allen: «"O que é que se faz, Ernest?", perguntei-lhe. Desatou a falar da morte e da aventura como só ele sabia e, quando acordei, já tinha levantado o acampamento e estava sentado junto de uma grande fogueira, preparando para todos nós uns deliciosos aperitivos de pele.» Getting Even / Para Acabar de Vez com a Cultura (1966) - trad. Jorge Leitão Ramos § Hans Christian Andersen: «O pai queria que os filhos conhecessem o povo e a língua do país de que era cônsul. A instabilidade política no infeliz Portugal daquele tempo deve tê-lo também levado a tomar tal resolução.» Uma Viagem em Portugal em 1866 (1868) - trad. Silva Duarte § Mikhail Bakunin: «Em plano inferior, a média e a pequena-burguesia, classe outrora inteligente e desembaraçada, mas hoje sufocada, aniquilada e lançada no proletariado pelas progressivas usurpações da feudalidade financeira. Ela encontra-se numa situação de tal modo miserável que ela junta todas as vaidades dum mundo privilegiado com todas as miséria reais dum mundo explorado.» O Socialismo Libertário - «O movimento internacional dos trabalhadores» (1869) - trad. Nuno Messias
«Mastigas solidão / em cada naco de silêncio,»
Flores de Cinza (2025) - «Solidão»
«Para sempre. Aqui estou. É uma tarde de verão, está quente. Tarde de Agosto. Olho-a em volta, na sufocação do calor, na posse final do meu destino. E uma comoção abrupta -- sê calmo. Na aprendizagem serena do silêncio. Nada mais terás de aprender? Nada mais. Tu, e a vida que em ti foi acontecendo.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
«No desânimo da sua mágoa, posso ser tudo: participante, juiz, padre confessor, irmão mais velho. Enquanto eu apenas oiço ecos. Uns dele, outros do meu íntimo, alguns que não sei o que os causa, nem de que fundos aparecem.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
«"É óbvio", disse Mister DeLuxe, "não estou a falar dos burriés, estou a falar das idiossincrasias de Molero". Debruçou-se sobre a secretária e virou uma folha do calendário de mesa. "Ainda estávamos no dia de ontem", disse ele. "Temos várias pistas", disse Austin, "um tabique, uma casca de banana, uma sina, um escarrador, uma tela de Miró, uma mancha negra debruada a vermelho.» Dinis Machado, O que Diz Molero (1977)
«Lastimável como um cão extraviado / do aconchego dos donos.»
Douro: Pizzicato e Chula (2004) - «Solar em ruínas»
Só há duas maneiras de debater com um trampolineiro: uma é usar de ironia, a outra é mostrar, pelo contraste, que não se é da mesma igualha. Sem ter deixado de recorrer à primeira, o quanto satis compatível com um verdadeiro candidato presidencial, Seguro recusou-se a entrar na taberna, e foi sempre superior a Ventura, o que, tendo os nervos controlados, não é difícil.
«Do seu dono / que seria / sem o burro? / Que faria?»
Animais Nossos Amigos (1911) - «O burro»
Vergílio Ferreira: «Penso pouco na morte, hoje, começa a ser-me um fenómeno natural. Um certo cansaço? Uma fadiga de tudo. Estar. Ser, olhando erradiamente, ler talvez. A sensação de que tudo está feito.» Conta-Corrente 1 (1980). § José Bacelar: «Ora a Vida, todos o sabem, é uma coisa infinitamente complexa. Os lados, as facetas das coisas (facetas umas habituais, outras raramente apontadas) são em número infinito. Por outro lado, em número infinito (porque o homem é vário) são também os pontos de vista. E o espírito livre não pode por isso admirar-se de que as coisas sejam olhadas pelos homens de maneiras quase sempre muito diferentes.» Arte, Política e Liberdade (1941) § Machado de Assis: «O dia não acabou pior; e a noite suportou-a ele bem, não assim o preto, que mal pôde dormir duas horas. A vizinhança apenas soube do incômodo, não quis outro motivo de palestra; os que entretinham relações com o mestre foram visitá-lo. «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884) § Camilo Castelo Branco a Eduardo Costa Santos (1867): «Meu amigo: // D. Ana e eu lhe agradecemos mui cordialmente a oferta de um laborioso e utilíssimo trabalho. Na 2.ª edição do "Cavar em Ruínas", se se fizer em minha vida, farei menção da nota do meu amigo» .../... in António Cabral, Homens e Episódios Inolvidáveis (1947) § Jorge Amado: «Consciente e contente que assim seja, reúno nesta Navegação de Cabotagem lembranças de alguém que teve o privilégio de assistir, e de por vezes participar, de acontecimentos em certa medida consideráveis, de ter conhecido e por vezes privado com figuras determinantes.» Navegação de Cabotagem (1992) § Manuel Tiago: «André era também baixo, magro e moreno. De cabeça descoberta, os cabelos tombavam sobre a testa. A expressão contraída mais destacava a sua juventude. / Desagradaram nitidamente um ao outro.» Cinco Dias, Cinco Noites (1975) § José Duarte: «Amanhã... / Billie cantará para vocês... / e para mim aqui sozinho». Cinco Minutos de Jazz (2000)
Pôr o Miranda Sarmento a fingir que tem um pensamento geopolítico, geoestratégico ou geo-histórico estruturado e a fazer de conta que toma decisões, ou que nelas tem qualquer participação é só grotesco.
Sabe lá ele o que é ou será "uma derrota para a Europa"! Aliás, a Europa já entrou nisto derrotada -- a questão é saber até onde nos levará esta catástrofe, com figurações idiotas de sarmentos e outros costas.
«Sigo no barco que sobe o rio. Porém / não sinto que subo o rio: sinto, em vez disso, / que o rio me sobe a mim»
Douro: Pizzicato e Chula (2004) - «Um barco sobe o rio»
«Os soldados são peitos de homem com osso»
Columbários e Sangradouros (2003)
«Eu vi-lhe as nádegas, para mim, doce encanto. / E contra tanto enleio, o meu olhar, / Copiosamente urinava.»
Humoresca (2002)
Ainda não decidi o meu voto, mas nesta altura nenhum outro me deu mais gozo e vontade de o fazer.
Gostaria, porém, que não houvesse segunda volta -- o que parece muito difícil -- só para não ter que aturar mais quinze dias de conversa de taberna. Havendo, é claro que votarei em qualquer pobre que venha a defrontar aquele arroto.
«Só de nostalgias faremos uma irmandade e um convento, Soror Mariana das cinco cartas. Só de vinganças faremos um Outubro, um Maio, e novo mês para cobrir o calendário. E de nós, o que faremos? // 1/3/71» Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Novas Cartas Portuguesas (1972)
«"O quê?", perguntou Mister DeLuxe. "É curioso pensar", disse Austin, passando por cima da pergunta directa, "que o rapaz tirava burriés do nariz quando era pequeno, mas não os comia logo". "Hã?", fez Mister DeLuxe. "Não os comia logo", acentuou Austin, "colava-os à parede para os comer no dia seguinte". Houve uma pausa. "Gostava deles secos", explicou.» Dinis Machado, O que Diz Molero (1977)
«Ele retomará o seu desabafo, avivando detalhes, corrigindo versões. Por vezes, a certificar-se de que o sigo ou precisado de cumplicidade, faz de mim testemunha, cada frase torna-se um pedido de compreensão. E porque eu digo que compreendo, para ele é como se eu também tivesse estado presente.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
Andaram a coçar os tomates em vez de proibirem um partido que usa o racismo e a xenofobia como estratégia de crescimento junto dos animaizinhos, quando só tinha um deputado...
Se a República não for capaz de lidar com esta porcariazita de trazer por casa, uns cartazes de reles incitamento à discriminação racista -- por mero e descarado oportunismo (o Ventura é um boneco sem convicções) --, se não for capaz disso, nem merece existir, nem haverá quem a salve.
«Era o momento mais frio das águas / Um tempo norte / De películas densas / Vidro e aço / Sobrepostos»
Os Meus Dias (2018) - «Águas do fim»
Segue-se a norma adoptada em Angola e Moçambique, que é a da ortografia decente.