quarta-feira, julho 08, 2015

antes ingénuo que cínico

Adversários de Pedro Passos Coelho têm verberado a aparição pública da mulher, na visita à terra-natal desta, Guiné, evidenciando os efeitos que provoca a quimioterapia a que está a ser sujeita, sendo o mais visível a queda do cabelo. Dizem os críticos que se trata de aproveitamento eleitoralista, apelando ao condoimento e compaixão.
Posso estar a ser ingénuo, e sei por experiência de vida que há gente capaz de tudo; mas não alinho nesse coro por duas razões: é preciso ser-se muito baixo para se aproveitar da doença grave do cônjuge em benefício próprio, por isso recuso-me a considerar que isso possa sequer ser equacionado pelo casal (não me refiro, é claro, a directores de campanha, mercenários e outros prostitutos). 
Em segundo lugar, como nenhum de nós pode ter a certeza se se trata de aproveitamento ou, pelo contrário, de mera afirmação de vontade individual, a possibilidade de essa crítica, potencialmente áspera, ser injusta, torna-a cruel para quem a sofre. Por isso, não só não critico, como me recuso a acreditar que haja a procura da criação de um efeito de comoção geral a benefício do Governo. E digo mais: também para os críticos de Passos e do governo não vale tudo; mesmo que se possa pensar, há coisas que se devem calar. É um sinal de superioridade e civilização. 

4 comentários:

hmbf disse...

também para os críticos de Passos e do governo não vale tudo


É um facto, mas aqui há um grande "mas". E esse grande "mas" é o da comunicação social medíocre que faz o frete sem sequer ser necessário os agentes de serviço se preocuparem com o assunto. Em suma, a exibição da figura da senhora é notícia? Alguém ainda se recorda de como foi com Guterres, que passou por algo semelhante?

Ricardo António Alves disse...

A chamada "comunicação social" é uma lixeira, sobre isso nem vale a pena perder tempo. Quanto ao resto, guardo prudente (e respeitoso) silêncio.

Lina Arroja (GJ) disse...

Concordo consigo, RAA. Há gente para tudo, mas neste caso, só a vontade da própria seria capaz de ter a coragem e a libertação necessária para se apresentar despojada de toda a vaidade feminina num acto público. Tanto mais, que sabia que a critica poderia ser avassaladora.
Quem já passou pelo mesmo,como é o meu caso,sabe quanto é penoso o caminho do reencontro com o espelho e com os olhares misericordiosos.
Por isso, um grande aplauso a esta mulher que apenas pretende ser ela própria com a imagem que tem, neste momento, independentemente de ideias e preconceitos.

Ricardo António Alves disse...

GJ, como vai isso?...

Pois, eu não faço esse tipo de julgamentos, até porque tenho um certo pudor em meter-me por esses caminhos tão pessoais. O que não invalida, como diz ali em cima o Henrique, a crítica à abjecção da imprensa tablóide, bem pelo contrário.