quarta-feira, novembro 16, 2022

José Saramago, centenário

 É um dos grandes, o Nobel fica-lhe muito bem, como ficaria a vários outros antes dele, portugueses e brasileiros.

Além de ser dos grandes é único: só Saramago é Saramago; há que escreva à Saramago, como houve quem escrevesse à Eça, por exemplo; mas o que distingue um verdadeiro escritor é o seu estilo único e reconhecível.

As minhas preferências vão para em especial para Levantado do Chão (1980), Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984). E ainda, mas menos, Ensaio sobre a Cegueira (1994) e A Viagem do Elefante (2008).

Curiosidades: Manual de Pintura e Caligrafia (1977), quando Saramago era igual a tanto outros, um suficiente + (não sou professor); Terra do Pecado (1947), juvenília promissora.

Romances falhados: A Jangada de Pedra (1986) e Ensaio sobre a Lucidez (2004), duas boas ideias, mas uma vai perdendo força e a segunda estampa-se por completo a meio da narrativa.

 Do pouco que li dos Cadernos de Lanzarote (1994-1998), salvam-se umas pepitas: muito distantes, porém, dos magníficos diários do Régio e do Torga; abaixo, inclusive, dos do Vergílio Ferreira, que não logra o nível dos primeiros. 

Do teatro, li há décadas A Noite. Guardo uma sensação agradável, mas nada de marcante; ao contrário de As Pequenas Memórias, muito conseguidas. A propósito: um dia, se tiver tempo, paciência e disponibilidade, farei o inventário dos vários paralelismos dos percursos de Ferreira de Castro e José Saramago, do nascimento à morte, há vários, e curiosos). Por falar em biografia: 

Não tenho nenhum livro de poesia dele. Recordo-me muito bem da «Fala do Velho do Restelo ao Astronauta», dos bancos da escola...

O Conto da Ilha Desconhecida (1997) não me ficou.

Saramago foi, ainda, um excelente blogger, embora não fosse ele a postar. Tenho de comprar o livro onde isso está reunido, O Caderno (2009).

Sentimentos de culpa: não ter lido ainda a História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), Todos os Nomes (1997), As Intermitências da Morte (2005) e Caim (2009). Curiosidade pelos restantes, em especial Clarabóia (2011, póstumo), também do ainda jovem José Saramago, que nasceu na aldeia da Azinhaga do Ribatejo -- que conheci bem na infância -- faz hoje 100 anos.

Não recomendo a biografia de Joaquim Vieira, que se perde no gossip, em histórias de saias que não interessam a ninguém. Mas eu quero lá saber se o Saramago era femeeiro?  A vida pessoal é o que menos interessa num escritor, por muito relevante e movimentada que tenha sido, o que acontece com poucos (alguém já pensou na chatice de vida que teve, por exemplo, o Vergílio Ferreira?) Numa biografia, nada deve ser escamoteado (salvo por razões atendíveis), mas o que importa mesmo é o que o biografado fez e deixou. É por isso grande a expectativa com que vou agarrar a de Filomena Oliveira e Miguel Real.


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