quarta-feira, julho 22, 2020

um parágrafo de Tomás Ribeiro Colaço

«Dias sem conta, Antero releu gulosamente as próprias palavras que, assim compostas noutro jornal, com outro tipo, assumiam novo sabor. Andava ufano. Aquilo estava bem! Ter a coragem de chamar aos Lusíadas com tão firme poder de síntese anacrónica o cartaz luminoso das Descobertas; escrever com tão valente garotice que Luís de Camões previu muito, sabia ver e prever, tinha o olho da previdência; definir com tamanha arte de crítica sintética, o poema épico, concurso hípico das Musas; conceder, com tão bizarra ironia: -- eu admiro ainda assim um Luís de Camões; cuidou muito bem do seu reclame; era um Luís de oiro, do oiro das Descobertas, oiro sem liga, como uma perna nua..." -- Caramba! Aquilo sim que era novo. Era coisa que vinha de algures denunciando Alguém. Antero Chumbo tinha uma obra, em marcha.»
A Calçada da Glória (1947)

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