quarta-feira, fevereiro 05, 2025

a Rússia e a Europa Ocidental

Leio no jornal mais um artigo medíocre e cheio de lugares-comuns dum especialista qualquer em relações internacionais e matérias conexas (parece que se reproduzem em viveiros, tantos são). Com argúcia de marrão (ou marrona), sustenta que a Europa nos últimos anos se pôs nas mãos de uma potência hostil. Entre a desonestidade e a debilidade intelectuais, convém dizer que a Rússia era tudo menos hostil à UE, até ao momento em que esta passou a portar-se como rafeiro amestrado dos Estados Unidos. Estes, obviamente (está-lhes na natureza pioneira do oeste selvagem), à cooperação preferiram o domínio -- e os resultados estão aí. Putin referiu-se com justificado desprezo aos líderes europeus como cães-de-guarda da América -- e já nem a palavra vassalos utiliza, socorrendo-se antes da imagem do animal doméstico que abana a cauda e se senta aos pés do dono.

Isto para dizer que a Europa deve tratar da sua defesa, etc. Esquecem-se, porém, de referir a necessidade que há em modificar a arquitectura institucional europeia com redefinição de poderes de acordo com legitimidades democráticas, o que, a 27, é virtualmente impossível, pois os países têm os seus interesses próprios, que muitas vezes não são coincidentes, quando não resultam conflituantes. Como sabem disso mesmo, o que dizem e escrevem estes especialistas de trazer por casa? Nada. Fazem de conta que se esquecem ou que o problema não existe.

Tudo isto, que nos levou ao ponto a que chegámos, está mais do que documentado e é sabido pelos verdadeiros historiadores e intelectuais impolutos; não vale a pena gastar latim com estas nulidades, que só serviram para ajudar a condicionar a opinião pública, que, no entanto, não é completamente cega. A situação teria tudo para piorar, continuasse a política dos neocons na Casa Branca, e iria correr mal (ou ainda pior) para o nosso lado. A crise política, económica e institucional na UE ainda agora está a começar -- e se o intento de Putin foi o de desmantelá-la, está a consegui-lo, paulatinamente. No entanto, o fantoche da Casa Branca foi substituído por Trump, que virou tudo de pernas para o ar -- para já, com uma diplomacia inenarrável e perigosamente divertida (nunca a política internacional, que me lembre esteve tão sísmica desde a implosão da União Soviética) -- o que sairá daqui, para além da divisão do planeta por áreas de influência -- ninguém sabe.

Voltando ao início: não sabemos que União Europeia vai sobrar à medida que os nacionalismos forem ganhando poder. Ficaria admirado se a UE tivesse em si as lideranças com determinação e coragem de arrepiar caminho. Para já, vamos continuar, em Bruxelas, Estrasburgo, em diversas capitais, como até aqui, e com a maioria dos paupérrimos colunistas e comentadores a insistir em banalidades e análise (de) sebenta.

 

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