quinta-feira, abril 24, 2025

zonas de conforto

António de Cértima: [14.8.1961] «Subo um pouco mais e, da planura verdejante do Rond Point, os olhos divertem-se a seguir o movimento da multidão zebrada de cores que sobe e desce a Avenida, e a aprisioná-la lá em cima, num cartaz modernista, junto do Arco glorioso que nos fala das preocupações arquitecturais e do instinto das batalhas do vencedor de Arcole e Austerlitz.» Doce França (1963) § Fialho de Almeida: «Porque, seriamente, nós volvemos de novo à flor desta sagrada terra que nos devora, uma vez, muitas vezes, em regiões várias, climas, vários e disfarçados consoante o humorismo da química que nos manipula.» «Pelos campos», O País das Uvas (1893) § Machado de Assis: «Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo; mas a verdade é esta: -- a causa da melancolia de mestre Romão era não poder compor, não possuir o meio de traduzir o que sentia.» «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884) § José Bacelar: «Gritar, vituperar, amaldiçoar -- está bem ainda. Mas ai daquele que não faz como os outros -- ai daquele que friamente levanta um pouco o véu.» Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana (1936) § Eugénio de Andrade a Jorge de Sena (1955): .../... «Bem vê, portanto, que a nossa camaradagem e amizade sai intacta do prémio, como não podia deixar de ser. / Diga-me quando puder qualquer coisa sobre a antologia do Pascoaes. Não voltou a pegar-lhe? Era bonito aparecermos com isso no próximo inverno. Quando passar pelo Porto, previna-me. Gostava de estar consigo. / lembranças à Mécia e o melhor abraço do seu / Eugénio.» Cartas de Eugénio de Andrade a Jorge de Sena, ed. António Oliveira, 2015 § Raul Brandão: «A terra é dos probes -- teima ele. / Cheira a monte e arfa no escuro uma coisa sagrada -- o sonho dos pobres. As figuras da realidade desapareceram, outras figuras estão presentes como sombras carcomidas e que chegam ao céu. Um momento a brasa ilumina as mãos da senhora Emília que parecem de morta.» O Pobre de Pedir (póst., 1931)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

[17 de Dezembro de 1872]
Meu Carlos
Estou esperando prova da 5ª folha a ver se ainda hoje ta remeto.
Não necessito dinheiro para as despesas da impressão. Agradeço-te o oferecimento. Nas poucas obras, que tenho editado, costumo só pagar as despesas depois que recebo a obra.
Estou à espera do médico. Isto assim não pode continuar. Ou a ciência dos palpites me salva, ou vou para as malvas, muito cedo. Estou além de tudo sobrecarregado de compromissos literários que me esmagam. Só pensar neles me tira toda a vontade de trabalhar. Imagina tu uma obra de 1600 páginas -- a versão de um dificílimo "Dicionário de Educação e ensino"; variadíssimo em ciência, com uma tecnologia ainda bárbara em Portugal! Depois, 2 romances originais, um que hei-de entregar em 15 de Janeiro, e outro e outro em 15 de Março. A minha independência tem-me sido muito cara. Trabalho há 22 anos, tenho 101 volumes publicados, e tenho a honra de te dizer que tendo ganho 36 contos a escrever, e tendo gasto 12 contos do meu património, os meus filhos não têm a herdar de mim 2 patacas da Junta Suprema.
Ri-te do desafogo do teu Camilo, e recomenda-me muito do coração a S. Exas.
Teu C.
"Camilo Íntimo-Cartas inéditas de Camilo Castelo Branco ao visconde de Ouguela" - Clube do Autor, SA (2012)