quinta-feira, fevereiro 29, 2024

ucraniana CCXXVIII - ainda o inqualificável Macron e um recado de Putin, para ele e para os outros

Nós já sabíamos, de há muito, que a Europa é tragicamente governada por aprendizes de feiticeiro e impostores. Macron é apenas mais um da linhagem inaugurada por Sarkozy e continuada por Hollande. Mas se pensarmos bem, de Aznar a Pedro Sánchez, ou de Blair a Boris Johnson, entre muito outros cadastrados, o Velho Continente muito tem enfraquecido e infligido sofrimento a terceiros por esse mundo além. Olha-se para Putin e compara-se com estes desmunidos e é todo um abismo que se cava. (Veja-se a forma como reage ao truão hexagonal.)

Já sei o que vão dizer do russo, e francamente estou-me nas tintas. Porque me hei-de preocupar com o modo como Putin governa a Rússia, se entre nós temos à cabeça dos estados os mais inqualificáveis bandalhos? Poderia acrescentar muito mais àquela lista sórdida. Como dizia ontem o comandante Farinazzo, Macron "é um nada" -- porém é um nada que reúne 31 chefes de estado e de governo para pôr-se em bicos de pés. Eu, se estivesse lugar de Marcelo, atribuiria de imediato a Ordem da Liberdade ao cidadão que enfiou uma chapada neste idiota perigoso. 

Em tempo: a estratégia propagandística dos peões do Pentágono : a ameaça de um ataque da Rússia a países da Nato. Qualquer pessoa informada rir-se-ia; no entanto, a vasta maioria da população não faz a mínima ideia, e precisa de ser condicionada pelas nossas queridas "democracias liberais" da ameaça do lobo, que é neste caso um urso. Fá-lo a liderança ucraniana, repetem-no estes indigentes europeus, que acham que podem derrotar a Rússia, mas na realidade condenando a Ucrânia à destruição e ao seu provável desaparecimento enquanto estado.

colagens

«Janela fechada»

«Tua gruta, Vesúvio» 

«Um pouco de poesia»


1, Sebastião da Gama

2. Dick Hard

3. António Jacinto


terça-feira, fevereiro 27, 2024

ucraniana CCXXVI - Macron profetiza

Depois de ter reconquistado a presidência francesa às vésperas da invasão da Ucrânia, fazendo o papel de mensageiro da paz (e tratado por Putin com merecido desprezo), o desacreditado Macron arrebanhou uma série de colegas para o Eliseu, de onde emanou uma alarvidade e uma profecia.

A alarvidade desta aventesma é a de admitir a possibilidade, de há muito a ser ponderada, de enviar tropa para combater na Ucrânia. Pode ser um truque para amansar os concidadãos pelos gastos enormes em armamento, cujo fim é o de ser destruído pelos russos e retardar o seu avanço, mas o imbecil pondera que a França entre em guerra com a Rússia...

O profeta Macron antevê um ataque militar da Rússia nos próximos anos... Parece que ele quer fazer por isso, ainda para mais se for de motu proprio enfiar-se numa guerra com o país de Putin sem uma decisão colectiva da Nato, que deveria ser uma aliança defensiva e não um instrumento ao serviço do Pentágono. Com as diatribes que têm feito: (pseudo?) mercenários em operações, auxílio às tropas ucranianas via satélite, para não falar da sabotagem dos gasodutos, parece mesmo que estão a pedi-las. 

Outra coisa: veja-se como o indigente que escreveu esta notícia caracteriza Robert Fico, o primeiro-ministro da Eslováquia: "populista", apesar de integrar o Partido Socialista Europeu, "conhecido pelas suas posições anti-Ucrânia". Ou seja: ser contra a guerra -- em especial esta guerra que destruirá a Ucrânia e que provavelmente a deixará apenas com o território que antes era polaco e pouco mais --, ser contra esta guerra, é ser, como se infere do que escreveu o analfabeto, é ser "populista". Disse Fico, antes de partir para a "cimeira" em Paris, para a reunião com os homólogos: "Tudo o que querem é que a matança continue." Aí está o populismo.

Charlie Parker, «Now's the Time»

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

«Ferreira de Castro -- Uma Biografia» I (1898-1919)


















Índice: Uma biografia de Ferreira de Castro

I- Um ursinho em Ossela (1898-1911): Alguma poesia. Salgueiros: o que pode haver num nome. Uma terra antiga. Paisagem… . …e povoamento. O brasão de Ossela. Os Castros. Um pai de quem não se fala. Infância. Um benemérito local e os dois mestres de Ferreira de Castro. Margarida. Primeiras leituras. João de Deus. A «Educação Cívica». Faustino Xavier de Novais. Eduardo de Noronha, Do Minho ao Algarve. Os jornais. História de João Soldado. Tradição oral. As lágrimas dos foguetes. A fuga, ou as razões de uma partida. O caso Margarida. Contexto económico e social. O último dia.

II- No coração da selva (1911-1914): A travessia. De Belém do Pará ao rio Madeira. Rumo ao coração da selva. Patrão, procura-se. Conhecimento do inferno. Os índios, os outros. Os dias do Paraíso. Cartas de longe. As duas Raimundas. Charadas. Manoel Sabino Durães. Jornais. «O Amor de Simão». Horas Nostálgicas. O adeus ao seringal.

III- Na Feliz Lusitânia. Do Pará ao Rio (1914-1919):  Belém do Grão-Pará. A cidade desconhecida. “Cassiporé”. Viver em Belém. O Jornal dos Novos. Criminoso por Ambição. Alma Lusitana. Portugal. Patriotismo e nativismo. Um temperamental. Uma agenda. O jovem galante. O Rapto. Rugas Sociais. Às voltas pelo Brasil, até ao Rio de Janeiro. A bagagem literária. Zola. Schopenhauer. Tólstoi. Euclides da Cunha. Regresso.

Cronologia (1898-1919)

À venda na Wook.


curtas

 «Acontecimento único a abalada, para terras longínquas, da meia dúzia de homens que anualmente emigrava, era também ali, comoção única, o momento da largada do navio.» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1938) «Mas sobretudo os olhos, aquelas duas contas reluzentes, coisa mínima e tão alerta sempre, maliciosos ou compungidos, consoante o que conta é digno de riso ou de lamento.» A. M. Pires Cabral, «O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984) «No fim ficava tudo identificado: o rapaz, a gaja, o pai da gaja, o cínico, o amigo do rapaz e o bandido.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)

domingo, fevereiro 25, 2024

ucraniana CCXXV - a derrota do jornalismo, da cidadania e da liberdade: dois anos de incompetência e miséria moral

Uma regra básica do jornalismo é a de ouvir ambas as partes em qualquer situação. E nem me refiro às versões dos dirigentes, que essas passam sempre de um modo ou de outro, mas as pessoas, os lados, e já agora também as opiniões.

Para além das doses maciças de propaganda a que somos sujeitos, algo nunca visto desde a Guerra Fria, para além da censura objectiva, como o do acesso aos canais russos (de propaganda, segundo a Comissão Europeia), não me lembro de ter assistido a um atropelamento tão grosseiro da liberdade de informar e do direito a ser informado.

Exemplo: enquanto que o sofrimento da população ucraniana é mostrado (e bem), o sofrimento dos russos do Donbass -- aqueles que o Bloco de Esquerda e o Livre esquecem quando dizem defender o direito à autodeterminação dos povos -- é praticamente silenciado, até porque ali não devem ter escolas, nem parques infantis, nem crianças (as tais que foram deportadas para a Rússia...).

Não é crível que, nomeadamente nas televisões e nas rádios, não haja jornalistas com deontologia. Claro que há; mas ou vão por sua conta, como Bruno Amaral de Carvalho (com o bónus de serem insultados por colegas de profissão), ou então é claro que não temos notícias do outro lado. (Honra seja feita à CNN-Portugal, creio que o único órgão de imprensa que transmitiu as suas reportagens).

Este atentado grosseiro à cidadania e à liberdade de informar e ser informado, é tragado por nós com a facilidade com que se bebe um copo de água.

Para além do básico, que é a ausência, ocultação e manipulação da informação, e do condicionamento dos cidadãos como se fossem atrasados mentais, temos o afastamento, silenciamento -- sem esquecer as múltiplas pressões e suspeições -- levantadas sobre quem tem uma perspectiva não alinhada (salvo, outra vez, a CNN-Portugal, apesar das doses maciças de propaganda da casa-mãe que despeja, e da impreparação de muitos dos pivôs). A RTP, televisão pública, é claramente insatisfatória, e é vergonhoso não ter ainda enviado um repórter para o Donbass, talvez porque o patrão não deixe. Tenho muitas vezes criticado José Eduardo Moniz, mas comparado com a nódoa do congénere da RTP, que nem sei quem é, fez mais aquele pela cidadania e pela liberdade, numa estação privada do que a televisão pública.

Poderia falar de outros casos grosseiros de manipulação e condicionamento, como o da Rádio Observador, para quem já nem serve o coronel Mendes Dias, assumido defensor de uma vitória do Ocidente, mas analista honesto, para não falar do major-general Carlos Branco, que rapidamente deixou de ser convidado para comentar. Para eles, militares só os majores-generais Isidro e Arnaut e civis do jaez do catedrático de circo cardinali que por lá têm. 

Claro que por muita censura da Comissão Europeia e manipulação merdiática, hoje podemos sempre aceder à informação que queremos, sem termos de estar exclusivamente sujeitos às declarações patetas dos nossos governantes e escapando à informação unilateral que procura impedir-nos de formarmos o nosso juízo.

Haver uma estação pública de televisão e rádio que, numa guerra desta magnitude e consequências, se abstém do dever de informar com equilíbrio e isenção, ouvindo e reportando o que sucede nos dois lados, é o grau zero do jornalismo, um atentado à cidadania, um crime contra a liberdade.   

Bob Marley & the Wailers, «Bad Card»

sábado, fevereiro 24, 2024

colagens

«(Ah, cão, asno de ouro, corro ao cadáver.)»

«Bebo-o a colherinhas de olhos» 

«O espanto inunda as mãos (aves sem peso)»


1. José Emílio-Nelson

2. Luísa Dacosta

3. Fernando Jorge Fabião

quadrinhos


 

continuo a reconhecer-me no que escrevi há dois anos (ucranianas CCXXIV)

 Aqui. Hoje, creio que estou mais pró-russo que há dois anos, mais antiamericano.

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

caracteres móveis

«Era então a Amazónia um imã na terra brasileira e para ela convergiam copiosas ambições dos quatro pontos cardeais, porque a riqueza se apresentava de fácil posse, desde que a audácia se antepusesse aos escrúpulos.» Ferreira de Castro, A Selva (1930) 

«Mulheres, de enxada, pés a chapinhar nos canteiros alagadiços, talhavam regos, abrindo e vedando caminho à serpente de água preciosa.» Romeu Correia, Calamento (1950)

«O padre irou-se outra vez: deixou cair a caixa, no excesso da indignação; verteu no peito da camisa quatro pingas de rapé; escumou pelos cantos da boca; pisou uma perna do papagaio; entalou o rabo da gata, que saltou, bufando, para o peitoril da varanda; e acabou por dizer, em voz cavernosa, que Rosa, no dia seguinte, sem mais delongas, seria fechada no Recolhimento de S. Lázaro, para não ver sol nem lua.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

ainda Navalny, sem bater mais no morto, mas assestando a mira aos tolos cá da parvónia

Mão amiga fez-me chegar o artigo do major-general Carlos Branco, a propósito do mal contado caso da morte de Navalny ( o discurso cavernoso de crepes de Lobo Xavier, que quase choru na "Quadrarura", ou a penosa indignação selectiva de Pacheco Pereira não conseguem competir com o descabelo de Assis -- Navalny, o Mandela russo...:). 

Eu, que sou um mero curioso destas coisas, não totalmente desinformado, sinto-me sempre confortado quando vejo alguém da craveira de Carlos Branco coincidir no essencial com o que penso sobre o assunto).

Claro que não é preciso ser um génio para levantar dúvidas e questões (ou afirmar umas quantas certezas) ocorridas em torno da morte do "democrata" reciclado Navalny; com alguma leitura e estudo, basta ter honestidade intelectual, e saber pensar.

Bob Dylan, «The Lonesome Death of Hattie Carroll»

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Navalny, o fascista reciclado pelos Estados Unidos e beatificado pelo pateta Assis

O maior pateta da política portuguesa dá pelo nome de Francisco Assis, o tal que era contra a Geringonça e agora é cabeça de lista do Pedro Nuno Santos pelo Porto. Comparar o racista e neo-fascista Navalny com Nelson Mandela é revelador... 

Não querendo ficar atrás embora com menos sucesso, o habitual João Gomes Cravinho, trouxe à liça o Humberto Delgado. Depois, estes bicos de pés de mandarmos chamar o embaixador russo, só faz rir, pela completa falta de noção de ridículo, sem falar no mau aspecto que dá do país, cãozinho amestrado e obediente à voz dos donos (tutela partilhada...). Para além do duplo critério, claro, relativamente ao embaixador israelita, como escreveu hoje Pedro Tadeu no Diário de Notícias.

Mas, na verdade, que importa a coerência, a compostura, a prudência, a isenção, o brio?...

Em baixo, belas demonstrações do malogrado "Mandela" russo, de acordo com a cabecinha vesga do Assis.

quadrinhos


 

terça-feira, fevereiro 20, 2024

curtas

«A boca nua de dentes, salvo o tal canino e os restos do outro, chupada para dentro, sarcástica o mais das vezes, comovida outras, com uma língua que vem frequentemente humedecer os beiços, numa passagem rápida, como a que certos batráquios disparam para capturar insectos.» A. M. Pires Cabral, «O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984) «O Norberto nunca se chateava, desenrolar espaço era o seu passatempo favorito (o seu olhar levíssimo partia amiúde nas asas das gaivotas oblíquas), afiava mastros por conta dos donos das embarcações que iam ao cais falar com ele e cuspir para as ondas, agitando o braço direito (o esquerdo, conforme rezam as crónicas da época, era paralítico de nascença).» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) «Os colos eram todos gordos menos o da tia Augusta que tinha dois ossos -- um em cada perna, mas também não era mau.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Tamás Benedek, «Summa» para cordas (Arvo Part)

a estória do Navalny tresanda a gasoduto, e todos os que não andam distraídos sabem disso (ou por que raio precisava o Putin de mandar matar o Navalny?)

Talvez por que seja louco, dir-me-ão em fina análise de mulher-a-dias (com respeito por estas e nenhum pelos outros)... Ou porque tem cancro, ou porque ficou apanhado pela covid-19, entre outras interpretações sofisticadas.

Na sexta-feira dava fifty-fifity quanto às suspeitas sobre a autoria da morte (isto, se o homem não morreu vítima de qualquer embolia): agora, tenho cada vez menos dúvidas de que, não se tratando de uma síncope qualquer (sim, Navalny era um preso político, mas também um agitador perigoso e racista, como há tempos escrevi; e sempre suspeitei dele como um peão dos americanos, ou que deles se nutria -- talvez mais esta segunda hipótese: alguém, como Bin Laden, que depois lhes fugiria ao controlo), 

As reacções pressurosas da administração americana, muito parecidas no tempo com as que foram proferidas por ocasião da sabotagem dos Nordstream (aqueles que Biden ameaçou destruir, ao lado do gnomo alemão -- eu vi), deixam no ar o cheiro a canalha. O Lula, que, ao contrários da maioria dos líderes europeus em particular portugueses, não é um pacóvio nem menino a cheirar a leite, já disse ao pessoal para ter calma.

Agora, estes atrasos de vida da União Europeia fazem mais um filme com a viúva -- um filme para a fotografia --, sabendo que a única coisa que podem contra a Rússia é serem peões do Pentágono. (Alguém sabe dos nosso tanques Leopard?...) Que lixo.

Se a morte do Navalny foi perpetrada por serviços secretos ocidentais, tal não passa de um sinal de desespero: uma tentativa burra de criar um levantamento popular (a burrice (e a ganância) dos americanos é lendária); ou a criação de um clima emocional que leve a Câmara dos Representantes a libertar as verbas para que a Ucrânia continue a comprar armamento aos Estados Unidos... Ou ambas, e quiçá outras que me escapam. Enfim, nada que verdadeiramente conviesse a Putin, embora, estando na mó de cima com esta guerra com os Estados Unidos, pudesse ser tentado a transfigurar-se em Vladimir, o Terrível, para fazer o gosto ao Ocidente, isto a crer nos profundos perfis desenhados pelas esportuladas centrais de comunicação. 

colagens

"Chama o saci: -- Si si si si!"

"Forma-se a onda e depois outra e outra" 

"Lembra um daqueles briosos cães-pastores"


1. Manuel Bandeira, "Berimbau"

2. Antero Abreu, "Onda vai onda vem"

3. A. M. Pires Cabral, "A um comprimido hytacand"

domingo, fevereiro 18, 2024

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

NAVALNY x ASSANGE, felizmente temos "os nossos valores"

Chego ao restaurante, televisão sem som sintonizada na RTP3, vejo que Alexei Navalny morreu na prisão; saio, e o tema continua, ininterruptamente. Pude verificar que a Casa Branca emitiu um comunicado a dizer que se a notícia se confirmar "será uma tragédia"; Blinken a sustentar que o acontecimento ilustra "a fraqueza e a podridão do regime de Putin"; e ainda aquela camela inútil que é vice-presidente, cujas emanações da cavidade oral não pude apurar. Cereja no topo do bolo: a anedota demissionária que passa por ministro do Estrangeiros português, acusa o presidente russo do sucedido.

Ri-me várias vezes. Não da morte de um homem na prisão, por muito detestável que fosse o seu trajecto de antigo militante da extrema-direita xenófoba russa. A CIA teve sempre a inclinação para recrutar e branquear neo-nazis e tralha conexa para transformá-los em paladinos da liberdade. Dos nossos valores, portanto. Não tenho nenhuma prova de que Navalny trabalhasse para a CIA, mas não tenho dúvida de que estava feito com os americanos. O método topa-se à légua, e já foi experimentado muitas vezes desde há décadas. E os russos sabem-no.

Isto para dizer que, se ele foi assassinado na prisão, não faço ideia sobre quem terão sido os mandantes. Ou melhor, faço: ou foi o Kremlin (é verdade que com Putin cada vez menos se brinca, apesar de agora ter dado em humorista) ou foi a CIA (currículo vasto).

Vai ser um dia a ouvir os papalvos do costume, ainda bem que estou em viagem.

Já agora: o que é feito do Julian Assange? A sorte que ele tem em pertencer ao mundo livre. 

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

Charlie Parker, «What's New»

caracteres móveis

«Então reproduz de cór a paisagem que se vê da janela, cria os seres primordiais, mistura verão e inverno, atenua a cegueira (o excesso) do sol incidindo sobre a sílica, mica esmigalhada, vidro moído num almofariz (sabe-se lá), aumenta os grãos de areia até ao tamanho que parecem ter, de noite, quando o vento atira contra as vidraças as suas enormes pedradas.» Carlos de Oliveira, Finisterra (1978)

«O fervor com que ela falava de Alighieri acendia-lhe o cinzento dos olhos, habitualmente muito frio, e os movimentos da cabeça, virando-se para ele enquanto caminhavam pela Quinta da Saudade, captavam o sol do entardecer e revelavam reflexos, até aí insuspeitados, de mogno antigo ou malvasia velho.» Helena Marques, O Último Cais (1992)

«Tristes hortejos manifestavam a presença daquela gente em tão ermas paragens.» Romeu Correia, Calamento (1950)

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

quadrinhos


 

os debatentes, so far e até agora

Pedro Nuno Santos - parece que ainda não encontrou largueza suficiente para este estúpido modelo comprimido de entrevistas paralelas.

Luís Montenegro - Bastante melhor do que estava á espera, especialmente quando fez gato-sapato do pobre Ventura, e com visível gozo. Ri-me.

André Ventura - Excrescência. Não serve para nada, a não ser excitar o medo e os instintos primários da populaça -- só a populaça vota no Chega (populaça, independentemente do estatuto social que tenham).

Rui Rocha - Pertencem-lhe os melhores desempenhos, com Mariana Mortágua.

Paulo Raimundo - Melhora o desempenho de debate para debate. Dicção a melhorar também. O debate com Tavares foi o melhor até agora.

Mariana Mortágua - Pertencem-lhe os melhores desempenhos, com Rui Rocha. No final do confronto com Ventura, deixou-se afogar pela bruteza do catterpilar, o que não deve causar estranheza. Até para evitar equiparar-se.

Inês Sousa Real - Eloquente, mesmo prejudicada por razões de saúde. Mas no entanto, repetitiva. A ideia de um partido "útil á democracia" é bem sacada.

Rui Tavares - O mais criativo e surpreendente. Tanto, que até alinha com a Nato, quando deveria ser, especialmente em relação à miséria da política da UE, o tal grilo falante que almeja.  Quer a autodeterminação dos povos, mas não se preocupa com os russos do Donbass e da Crimeia, e até se esquece dos catalães. 

curtas

«Era como um lírio ou como a neve a impressionar-se de vincadas recordações -- ninguém se apercebera daquela sua aventura -- mas D. Branca não podia ficar toda a vida com a mesma cor -- é tão difícil conservar uma coisa completamente branca!» Ruben A., «Branca», Cores (1961) / «O pai da parturiente, um homem resignado, esperou-me com uns olhos em que havia prece.» Fernando Namora, «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949) / «-- [...] O senhor já pensou que poderiam perfeitamente existir bosques aéreos e que o homem deveria andar no fundo dos mares ou no espaço celeste com tanta facilidade como anda aqui na terra?» Ferreira de Castro, O Senhor dos Navegantes (1954)

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Bob Marley & The Wailers, «Real Situation»

"dois pobres diabos em Kiev" - ucranianas CCXXIV


Mão amiga fez chegar-me este texto de Carlos Matos Gomes.  Eu não o diria melhor, e uma das razões prende-se com o facto de Matos Gomes, além de militar experimentado, historiador da Guerra Colonial -- em que participou como oficial-comando -- é também o romancista Carlos Vale Ferraz. Aliás basta ler as declarações transcritas pelo pobre ministro da Educação no portal do Governo (agora com logo modernaço) para perceber-lhe a indigência.


«A reportagem do passeio de dois tristes que são ministros da República Portuguesa

deixou-me naquele estado em que perguntamos se nos devemos rir ou interrogar se é verdade o que vemos. Aqueles dois tristes são ministros do governo português? Que raio foram fazer? Anunciar que vão dar uns euros para reconstruir uma escola?

Ninguém acredita que aquelas pungentes figuras de quase sem abrigo tenham ido a Kiev fazer um anúncio que não é mais do que uma promessa que diariamente fazem os mais ignorados presidentes de juntas de freguesia em Portugal. Aquelas duas sombras vagueantes foram em peregrinação a Kiev cumprir ordens. 

A guerra na Ucrânia está num atoleiro de várias lamas, a da corrupção, a das dissidências internas típicas das épocas de derrota, de degradação da sociedade civil, de incapacidade militar, de reconhecimento do que desde o início da aventura se sabia: não se deve provocar o leopardo com uma vara curta e a Rússia era um leopardo, uma superpotência; e por fim há a degradação da boa vontade dos benfeitores que meteram a Ucrânia na encrenca em que está. 

A solução da vivaça Ursula Van der Leyen, do inteligente Borrel, do senhor que está agora de primeiro-ministro em Inglaterra, o quarto ou quinto da mesma peara do Brexit, dos estrategas de Washington, agora ocupados com Israel, foi o de mandar uns pobres diabos a Kiev animar a família de Zelenski. De Portugal zarparam dois espécimes, o habitual viajante Cravinho e o quase desconhecido interlocutor do fero Mário Nogueira dos professores e do assanhado e quase sempre desgrenhado compère que dirige o STOP. A sério: em tempo de eleições, o Partido Socialista entende que é boa propaganda enviar dois figurantes de segunda linha a Kiev, para promover uma criatura desacreditada, uma guerra cada vez mais criticada e cada vez mais identificada com os interesses americanos e menos com os interesses europeus, uma guerra que já é apresentada como a responsável pelas dificuldades de apoio à agricultura e à indústria europeia, responsável pela inflação e pela crise económica?»

domingo, fevereiro 11, 2024

caracteres móveis

«Algumas vezes também o haviam tentado essas estradas líquidas que cortavam a selva imensa, mas sempre um pavor instintivo, amálgama do que se dizia de febres perigosas e de vida bárbara e instável, o detivera em Belém.» Ferreira de Castro, A Selva (1930)

«Era o mal ruim da Índia, do Brasil e das outras terras descobertas, todas a porem a teta na boca de quem se habituara a luxar, sem suor que lho merecesse.» Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)

«Fora, no Largo de S. João, andava o povo de alevante, como se o campanário houvesse soltado voz de franceses à vistaAquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

Bob Seger, «Evil Edna»

sábado, fevereiro 10, 2024

"A Derrota do Ocidente" (2024), por Emmanuel Todd - ucranianas CCXXIII

Emmanuel Todd, La Defaite de l'Occident (Gallimard). Historiador e antropólogo, Todd reflecte sobre a situação desgraçada a que chegámos na guerra entre os Estados Unidos e a Rússia na Ucrânia, num livro que parece suculento, e que boa parte de comentadores, académicos e governantes incompetentes e jornalistas deveriam ler. Em baixo, a entrevista à TV5, de que retirei estes tópicos:

1. Os Estados Unidos caíram na armadilha do nacionalismo ucraniano que ele próprios alimentaram.

2. O Ocidente, que vive num mundo de ilusões económicas, não percebeu, por incompetência, que não podia sustentar uma guerra longa contra a Rússia.

3. A cegueira com que se encarou a Rússia e a sua realidade conduziu o Ocidente à derrota a que se assiste.

4. A derrota da Nato provocará a aproximação entre Alemanha e Rússia.

5. O mundo angloamericano assiste à neutralização e pulverização da moral protestante -- referência a Max Weber -- substituída por um niilismo especialmente destrutivo.

6. Duas Ucrânias: uma russa (Crimeia, Donbass) e russófona, e outra ucraniana propriamente dita, em que os partidos pró-Rússia foram proibidos.

7. No jogo geopolítico europeu deste conflito, os grande actores são: a Rússia, a Alemanha, que controla o centro-leste da do continente e a Inglaterra, em delírio belicista e decadência profunda. Em termos geopolíticos, a França não conta, por não ter adoptado uma posição autónoma em face do eixo Londres-Varsóvia-Kiev. A França equivocou-se completamente, mas isso também não tem importância nenhuma, dadas as suas debilidades.

8. Caracterização da produção intelectual académica norte-americana como medíocre, a que se junta uma prevalência niilista de pulsão conducente à violência e à guerra. Não devemos esperar dos Estados Unidos posições racionais ou mesmo razoáveis, pelo que tudo é possível. O início da guerra em Gaza demonstra-o: a primeira reacção dos EUA. foi a da opção pela violência e cobertura a Israel, dando-lhe a sensação de estar livre para actuar como lhe aprouvesse.

9. Sim, Trump é uma ameaça, mas os Democratas, cujo partido está totalmente corrompido, também o são, 

10. O problema demográfico da Rússia, cuja população está em decrescimento, não lhe permite veleidades imperialistas.

11. A doutrina militar russa continua defensiva, mas mudou: atendendo ao desequilíbrio demográfico desfavorável para a Rússia relativamente ao Ocidente, em caso de ameaça, passou a encarar a possibilidade de emprego de armas nucleares tácticas.

12. Em face da propaganda que sustenta o perigo de uma invasão russa, Todd pergunta-se se estaremos a ser governados por pessoas sérias, que sabem ler, trabalham e analisam os dados...


sexta-feira, fevereiro 09, 2024

vermelho e negro

«Desgraçados os países que caem nos excessos industriais, que consagram aquela teoria política pela qual um governo despreza as necessidades espirituais para só se ocupar dos interesses materiais e positivos!» Eça de Queirós, in Distrito de Évora (1867) / «Hoje para continuares a ser republicano tens que te matricular num partido, tens que te guiar por um programa, tens inevitavelmente que pôr-te em contradição com o teu correligionário de ontem, opondo as tuas ideias às ideias dele -- talvez mesmo a tua browning ao seu revólver.» Manuel Ribeiro, «A um herói da Rotunda», O Sindicalista (1910-11) / «Os governos dum país civilizado, a título de exportarem a civilização, levam-lhes o canhão que os mata e o comércio que os rouba.» Mário Domingues, «Colonização», A Batalha (1919)

Prosas Esquecidas, ed. Alberto Machado da Rosa (1965); ** Na Linha de Fogo (1920) *** A Liberdade não se Concede, Conquista-se. Que a Conquistem os Negros!, ed. António Baião (2023); 

Ainda Mortágua, a Ucrânia e a Nato (ucranianas CCXXII)

Pois, é, pois é... Mariana Mortágua disse no debate com Rui Tavares que é pela autodeterminação dos povos -- e esquece-se dos russos do Donbass, e tudo o que se passou à sua volta para torpedear o problema que ali existe. O BE (tal como o Livre), por omissão, é objectivamente parte da frente organizada pelo imperialismo americano, sem distinguir-se dos restantes, a começar pelo Chega (volto a falar da ignóbil fotografia na Assembleia da República). Não seria obrigada a pôr-se ao lado do imperialismo russo, é certo, mas há uma decência que seria necessário observar, sem fazer o jogo precisamente dos mesmos tipos que no início do século cometeram a chacina do Iraque. É que são os mesmos, sem tirar nem pôr. Como Mortágua não é estúpida, e sabe disto tudo, poderemos sempre cogitar sobre o que faz o Bloco de Esquerda na vanguarda organizada do complexo militar-industrial norte-americano, cujo braço político é o Pentágono. e os títeres, Joe Biden (tão senil que nem o querem julgar) -- Biden, e companhia. 

ui... o "conservador" Tucker Carlson entrevistou Putin, um cartazito no Rato e o "debate" Mortágua-Tavares

* Assim qualificava o rodapé de ontem da cnn, e suponho que o resto dos propagandistas do Pentágono. Mão amiga fez-me chegar a transcrição, (enquanto não podemos ver na net). Hilariante, como Putin fala  da fronteira sul dos Estados Unidos.

* No Rato, um cartazito não sei de que força política: "Ou estás com a Ucrânia, ou estás com Lula." Exactamente, ou quase, porque a Ucrânia, como se tem dito, espécie de Afeganistão da Europa, é um território onde as potências lutam. 

* No frente-a-frente Mariana Mortágua - Rui Tavares, a moderadora pergunta sobre Portugal e a Nato: deve ficar ou sair? Mortágua não tem coragem de afirmar o que quer que seja -- pega e escuda-se na Constituição para não ter que dizer que deve sair; Tavares, à mesma pergunta, também não tem coragem de dizer sim ou não, chuta para canto com a fantasia paupérrima de uma força de defesa europeia, que ele deveria saber e sabe que só existirá com alemães a mandar, franceses cooptados até ver, e todos os outros a obedecer e a servir interesses de terceiros, que é o que sucede agora. Patético.

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Bob Dylan, «When the Ship Comes In»

os debates: o instinto matador de Rui Rocha, com breve alusão aos flatos emanados com nauseante estrépito pelo 'Expresso', cada vez mais pasquim

 Rocha-Santos: Um equilíbrio ao longo do debate que terminou com uma série de estocadas mortíferas de Rui Rocha (TAP, CP, habitação), que revela um instinto matador, e Pedro Nuno Santos em nítida dificuldade (só estou a falar da performance).

Real-Ventura - Um reencontro, com Inês Sousa Real em baixa condição física, prejudicando-lhe o tiro bem ensaiado: o número de propostas (zero) aprovadas na legislatura, por parte de "Ventura e os seus doze deputados". A razão: os projectos estavam mal feitos.

Raimundo-Real - Foi um tomar chá entre duas pessoas bem educadas, que nem a questão das touradas perturbou.

Montenegro-Mortágua - Mariana Mortágua muito bem, grande desenvoltura; Montenegro, melhor do que eu estava à espera.

Rocha-Ventura - Não é fácil debater com vendedores de banha da cobra. A frase de Ventura ("A IL só sabe privatizar e despedir."), repetida várias vezes, deve causar um bom efeito no seu eleitorado. Rocha muito bem na questão dos imigrantes -- mesmo depois daquele exemplo criminosamente boçal sobre a pena a aplicar quando um imigrante violasse uma criança...  A certa altura Rocha encolhe os ombros, como a dizer que não vale apena argumentar com o bazófias. Na verdade, dirigem-se a dois eleitorados diferentes.

Rocha-Tavares - Nalguns casos, mais próximos do que parecem (A vida não é só economia). Dois bons momentos: Tavares quando, em tom épico, disse querer ver os utentes de cara levantada quando entram no SNS, sejam ricos ou pobres; Rocha, quando o oponente falou nos custos sofridos pelos portugueses para salvar a banca, ao que este responde: "Não tenho nada que ver com isso." -- ou seja se é para falir, é para falir: meu deus: BPN, BPP, BES, que escumalha, aqueles conselhos de administração, bem vestidos, bem penteados, bem perfumados, bem bandalhos.

Um episódio à margem: o Expresso tem à frente uma série de pacóvios que se atribuem o direito de eliminar partidos ou dirigentes das suas promoções. A imagem relativa aos debates, em que Paulo Raimundo, do PCP, não aparece, é das coisas mais nauseabundas que já vi. Como digo há muito, eu não compro o pasquim há décadas, apesar de lá escrever um ou outro colunista que aprecio, em especial Miguel Sousa Tavares.  Lembro-me de há uns bons anos, num canal infantil que os meus filhos viam, dum separador autopromocional em que um rapazinho falava e arrotava ao mesmo tempo. A voz-off perguntava: 'Porque faz ele isto?' E a resposta era: 'Porque posso...' Assim o Expresso e os insignificantes que mandam nele: peidam-se com estrépito miasmático à frente de todos. Porquê? Porque podem, e não têm vergonha naquelas carinhas (é olhar...)

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«Aqui era uma manada de bois soltos, em direcção do curral, guiados por uma criança de palhoça e pernas nuas, os quais paravam a olhar com aquela expressão de composta curiosidade, que lhes é peculiar, para o recém-chegado visitante da aldeia.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

«Era de novo Fevereiro, e um fim de tarde arrepiado e cinzento, quando eu desci os Campos Elísios em demanda do 202.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901) 

«Repetiu a sedução dos vestidos e dos diamantes; encareceu as delícias do teatro; soprou-lhe a vaidade, imaginando-a invejada pelas mulheres de todos os negociantes do Porto; enfim, por não fechar o discurso sem uma imoralidade, com palavras equívocas, dissertou pouco cristãmente acerca dos deveres da mulher casada.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

quadrinhos


 

curtas

«Aspiração única era fugir para bem longe daqueles cento e meio de quilómetros quadrados, lugar de desterro e prisão perpétuas.» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1938) / «E tal comoção a agitava, e tão convulsa estremecia, que, ao atirar a esmola aos pequenos varinos, do seu dedo esguio resvalou sobre a areia fofa a aliança de noivado.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894) / «Mas por esse tempo veio morar para defronte do armazém dos Macários, para um terceiro andar, uma mulher de quarenta anos, vestida de luto, uma pele branca e baça, o busto bem feito e redondo e um aspecto desejável.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst., 1902)

sábado, fevereiro 03, 2024

Arthur Rubinstein, Colin Davis, Concerto para piano #1 de Brahms

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«Cem passos andados, fez-lhe o almocreve notar um pequeno ponto branco, que se divisava ao longe, por entre a rama do arvoredo, mas já indistintamente, em virtude do adiantado da hora e da intensidade da neblina.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

«Gementes, gementes e de madeiras escanzeladas, surgiam picotas, cravadas à boca dos poços, um homem a cada balde, braços e tronco em vaivém, rins derreados, na tarefa do regadio.» Romeu Correia, Calamento (1950)

«O avô de Raquel, também André de seu nome, legara à neta uma utilização fácil e fluente da língua italiana, um alegre apreço por Vivaldi e uma devoção quase religiosa pela Divina Comédia Helena Marques, O Último Cais (1992)

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

The Beatles, «A Taste of Honey»

curtas

«Macário, aos vinte e dois anos, ainda não tinha -- como lhe dizia uma velha tia, que fora querida do desembargador Curvo Semedo, da Arcádia -- "sentido Vénus".» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst., 1902) / «Os homens, o pai e o marido, esperavam cá fora, sentados numa laje que ocupava quase todo o pátio, onde se abria um canal para esgoto das urinas escapadas das furdas.» Fernando Namora, «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949) / «Sobre o seu regaço, na flanela branca do fato, a cabeça negra do cão deixava-se afagar, olhando-a com reconhecimento, quando dois pequenos varinos enlutados se chegaram, pedindo esmola para a mãe, doente e viúva.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894)