segunda-feira, junho 30, 2025
se fosse húngaro, provavelmente também teria marchado (ou, melhor dito, desfilado)
Para muitos serei um homofóbico, qualificativo em que não me reconheço, pois sendo a homossexualidade uma característica que caracteriza uma pequena parte da humanidade (li há anos, algures, que rondará os 6% da população), como não há seres humanos de primeira nem de segunda, e qualquer um poderá ter essa tendência congénita, toda a liberdade e toda a tranquilidade deve ser reconhecida a esse grupo significativo de pessoas;
Embora deteste a subcultura gay extravasada pelo kitsch, não me passa pela cabeça proibir as suas manifestações organizadas, desde que públicas e reconhecidas;
Conheço as origens do pride (um massacre ocorrido nos Estados Unidos na década de 1970) e a necessidade legítima de levantamento da comunidade homossexual pelos seu legítimos direito a existir livremente e em paz;
Posto isto, estou completamente de acordo com Orbán e Putin quando limitam a inculcação da homossexualidade nas escolas, através de programas manhosos; entre outras coisas vejo-o como um abuso e um atentado à autodeterminação sexual dos jovens; uma coisa é a abordagem científica curricular da sexualidade humana em cadeiras como a Biologia e afins; outra é circo activista;
No entanto, se fosse húngaro, teria muito provavelmente estado na manifestação de ontem, em que participaram milhares de manifestantes que não eram certamente activistas do lóbi gay, antes cidadãos que não aceitam o abuso de poder por parte do Estado;
Podemos ter todas as reservas, e até aversão relativamente a certas manifestações deste grupo de pessoas -- eu, que detesto carnavais e réveillons certamente tenho --; mas não me passa pela cabeça autorizar que um governo, qualquer que ele seja, se arrogue o direito de limitar a liberdade individual e o direito de manifestação, sob falsos pretextos, como o da "defesa das crianças". Não é assim que se defende o princípio da livre e informada educação.
Qualquer governo que procure limitar a liberdade individual que não interfira com a liberdade de outro indivíduo torna-se ilegítimo e deve ser derrubado. (Note-se, porém, que me refiro estritamente à liberdade individual; quanto a organizações, o Estado já deve dispor do dever de avaliar caso a caso.)
Por isso, em princípio, se fosse húngaro teria desfilado ontem.
2 versos de Dick Hard
«Comer-lhes a rata / não é de bom Tom»
«Tom e Jerry», De Boas Erecções Está o Inferno Cheio
domingo, junho 29, 2025
o que está a acontecer
«Os outros já desesperavam inquietos. Queriam partir quanto antes, não fossem presos ali mesmo. Já o Tarolho lhe pedira que se fizessem à vela. Logo dois partidos: um que se esperasse mais um pouco, outro, insofrido, que se largasse imediatamente. E tanto praguejaram e berraram, que temeu pela empresa.» Joaquim Lagoeiro, Viúvas de Vivos (1947)
«Entretidos na conversa, não se lhes dava da paisagem nem da vista ampla que dalguns pontos da estrada se enxergava, afeitos já àquele caminho que ela diàriamente trilhava e que ele, se não diàriamente, pelo menos frequentes vezes percorria. Alheios ao mundo em redor, não se transmitiam confidências mas partilhavam da mesma apreensão.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)
«Mas não tardou que argoladas fortes soassem à porta e Jesuíno, em tamancos, as calças presas no abdómen por um negalho, camisa de estopa deixando espreitar pelos bofes a pelúcia de cerdo à mistura com o alcobaça vermelho, cigarro nos beiços, toda a sua pachorra eclesiástica mais rabugenta que cão dormido, foi ver. / Era a Feliciana, e enfadado rosnou: / -- Diabos te carreguem... esqueces sempre a chave!» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)
sábado, junho 28, 2025
sexta-feira, junho 27, 2025
Portugal diante dos crimes israelitas na Cisjordânia (limpeza étnica, colonatos ilegais) e em Gaza (infanticídio, geronticídio, genocídio): melhor, mas insuficiente
Entretanto, 72 pessoas abatidas 72 quando iam à procura de ajuda.
A Europa é uma puta velha e porca, fingindo preocupar-se com os parques infantis de Kiev e com as crianças deportadas do Donbass.
Em tempo: parace que foram 'só' 21. É igual.
quinta-feira, junho 26, 2025
serviço público - Miguel Sousa Tavares: "Vamos gastar dinheiro que não temos a comprar armas de que não precisamos para uma ameaça que não existe"
algumas observações:
1) não digam a ninguém, mas vê-se logo que Miguel Sousa Tavares é comunista;
2) vou pedir à Bolota, a minha cadela, que explique ao pivô o que realmente é a guerra da Ucrânia;
3) não é só o Rutte que não se importa de fazer figura de estúpido, nem a maioria dos jornalistas e comentadores de aviário: embora ninguém consiga ultrapassar a sabujice de António Costa & seus rapazes, também Montenegro junta a voz ao coro dos indigentes dos governantes da UE, muito naquela base de enquanto o pau vai e vem, etc.;
4) o que a Espanha tem de melhor, não é o Sánchez, essa enguia, mas uma Yolanda Díaz.
Ver aqui.
(O que diz a seguir sobre o "problema" da imigração, também vale muito a pena)
4 versos de Armando Taborda
«o incerto / é o mais concreto / porto // onde chegar.»
Palavras, Músicas e Blasfémias que Envelheço na Cidade (1996)
quarta-feira, junho 25, 2025
o que está a acontecer
«Tarde de infinita benignidade -- era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela, de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -- ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão. Mas não tardou que argoladas fortes soassem à porta e Jesuíno, em tamancos, as calças presas no abdómen por um negalho, camisa de estopa deixando espreitar pelos bofes a pelúcia de cerdo à mistura com o alcobaça vermelho, cigarro nos beiços, toda a sua pachorra eclesiástica mais rabugenta que cão dormido, foi ver.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)
«Seguiam sem pressa, um pouco vergados pelas próprias figuras, olhando mais o piso da estrada do que os amplos horizontes à sua volta. Grave preocupação os prendia, diferente das que lhes atribuiria quem por noivos enleados erradamente os tomasse. Onde já iam na vida de uma os tempos de noivado, quando viriam na vida do outro que a seu lado caminhava, respeitoso, preso talvez do encanto daquele convívio, mas incapaz sequer de ousar exprimir essa prisão!?» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)
«Os companheiros, impacientes por largar, mas faltava um, o Inácio. Talvez se tivesse aquecido demais nalguma taberna, para ganhar coragem para a grande aventura, e, agora as pernas lhe vergassem, e a vista turva também o não ajudasse no caminho. E se o fosse procurar?» Joaquim Lagoeiro, Viúvas de Vivos (1947)
5 versos de Fernando Grade
«o sol pastoril muda de rosto, / os vinhedos voam como traineiras, / e o cão aparece, ao centro do mapa, / já curado por um chá materno de uvas / e trovões.»
«Brinde à saúde do cão», O Livro do Cão (1991)
terça-feira, junho 24, 2025
4 versos de Vítor Oliveira Jorge
«há quanto tempo para te encontrar / escarvo violentamente neste papel / tentando esculpir para lá dele / teu corpo verdadeiro»
Sem Outra Protecção Contra a Noite (1980)
segunda-feira, junho 23, 2025
Putin e o Duque de Alba
Depois dos ingleses, os portugueses são o povo europeu que mais defende a continuação do "apoio à Ucrânia"; mas o mais divertido é que, logo após a Polónia -- que tem a história que se sabe --, os bons dos nossos compatriotas são, com os romenos, os que mais temem uma invasão da Rússia. Mais, por exemplo, do que a Estónia -- que também tem a história que se conhece... Mas há paciência para esta gente?; a caminho dos novecentos anos de história e sai isto?...
Mas talvez eu não esteja a ver bem; talvez Putin, que anda a marcar passo há mais de três anos no Donbass, envie uma esquadra do Árctico, passe o Báltico e o Mar do Norte e desembarque num lajedo ao pé da Guia, onde, em 1580, o Duque de Alba fez o mesmo, tomando Cascais, executando o governador, D. Diogo de Meneses, só parando em Alcântara, onde o rei D. António lhe deu combate, mas foi derrotado.
Dever ser isso: do muito que lêem e meditam, sai-lhes, aos nossos portugueses, esta sofisticação, quando deles só esperamos raciocínio em modo de espasmo intestinal.
2 versos de Mário Máximo
«Entre uma estação e outra da nossa vida / alguém utilizamos como transporte.»
«Como transportes públicos», Um Milhão de Anos (1986)
domingo, junho 22, 2025
quem tem poder, exerce-o
Mutatis mutandis foi o que se passou na Ucrânia e agora no Irão. A Rússia violou o Direito Internacional, reagindo à golpada de 2014 em Kiev, manobrada pelos Estados Unidos; estes atacaram ontem o Irão, livrando de piores lençóis aquilo que o saudoso Carlos Matos Gomes classificou como o 51.º estado norte-americano, ou seja, Israel.
Isto deixaria embaraçados uma boa parte de comentadores -- arregimentados uns; ignorantes ou outros -- e políticos imbecis, como boa parte cá do burgo, quando dizem que a Rússia não foi atacada (de facto não o foi, convencionalmente), como os Estados Unidos não o foram pelo Irão -- não contando, obviamente com o seu proxy (ou 51.º estado, se preferirem).
Nunca mais me esquecerei de um pateta de um doutorado da treta que, querendo rebater o major-general Agostinho Costa arengava: "Estava a Ucrânia posta em sossego, quando a Rússia atacou" -- etc. É preciso ser-se muito estúpido e totalmente vesgo relativamente às matérias em que se é "especialista". Vai ser divertido ouvir esta e outras luminárias a propósito do que se está a passar.
Quanto a isto -- independentemente de todos os desenvolvimentos cogitáveis do processo em curso --, parece-me que a Rússia passou a estar muito mais à vontade na Ucrânia para abocanhar o que falta das suas regiões históricas. Quanto à velha Formosa, província rebelde da China, esperemos que a sabedoria milenar daquela gente consiga resolver a questão de forma pacífica -- se os americanos deixarem...
como disse Agostinho Costa, os EUA atacaram o Irão em dois dias
Foi na quinta-feira à noite, diante de uma incompetente malcriada, que há três anos vem com conversa de meia-tigela sobre a guerra na Ucrânia, para não falar do burrico de turno que faz o papel de jornalista.
Priva, aliás, de que Israel estava (está?) à rasca, caso contrário não precisariam que os americanos viessem em seu socorro.
Vejamos o que se segue no jogo de sombras da diplomacia e na acção dos serviços secretos de todas as partes.
(Estava a ouvir em directo Carlos Branco na cnn-Portugal, e agora, na RTP3, dois jornalistas a sério: Miguel Szymansky e José Manuel Rosendo.)
sábado, junho 21, 2025
o que está a acontecer
«Prelúdio - O caminho da torre Pela estrada plana, que, bordejando as baterias do campo entrincheirado, liga a fortaleza de S. Julião da Barra à estação de Oeiras, seguiam naquela tarde outonal de Novembro de 35 dois vultos, que, a distância, semelhavam, pela gentileza do garbo e interesse na conversação, par de noivos que, desejando-se solitário, houvesse buscado caminho pouco frequentado para seu passeio e íntimas confissões.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)
«I- Rubicundo, pesadão de farto, o estômago bem lastrado com lombo de vinha-de-alhos, padre Jesuíno saiu a espairecer para a varanda que a aragem da serra brandamente refrescava. Manjericos e craveiros floriam dentro de velhos potes, e tão abertos, tão medrados, que do mainel transbordava para casa e sobre o pátio uma onda álacre de primavera.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)
«E fiz este assento, que assinei -- Filipe Moreira Dias. // À margem esquerda deste assento está escrito: // Foi para a Índia em 17 de Março, de 1807. // Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço de dezoito anos lhe há-de fazer dó.» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (1862)
sexta-feira, junho 20, 2025
2 versos de Fernando Namora
«Palavras foram o vinho / de uma sede inventada.»
«Palavras», Marketing (1969)
quinta-feira, junho 19, 2025
zonas de conforto
José Régio: «Uma luz vermelhentada tosquenejava triste no escuro; e dir-se-ia que ninguém mais saíra nessa estação deserta e lúgubre, perdida em distâncias que a Rosa Maria nem pareciam Portugal.» Davam Grandes Passeios aos Domingos (1941) § Augusto Casimiro: «Que o Amor da tua terra seja o Amor de toda a Terra, resumido mas purificado para realizar-se melhor.» O Livro dos Cavaleiros (1922) § Fialho de Almeida: «Pois estas analogias tão nebulosamente poéticas, este ar de família que as coisas brutas conservam das coisas vivas, não as pensem casuais ou fantasiosas: está provado que resultam duma ascendência logicamente propulsionada, com sua biografia, sua evolução, caracteres herdados, e mais ainda, vícios transmitidos.» O País das Uvas (1893) - «Pelos campos» § António de Cértima: «No entanto, no nosso espírito não deixa de tomar forma a ideia de que o verdadeiro Paris não vive aqui, apegado aos substratos das margens do Sena, mas sim espalhado por continentes e nações na pessoa de todos os artistas, de todos os intelectuais e de todos os sábios que se têm alimentado da sua cultura e das claridades do seu génio. / Paris, uma cidade? Não, uma expressão espiritual do orbe.» Doce França (1963) § Frei João Álvares aos monges do Paço de Sousa (24-XII-1467): .../... «E mal pecado, porque somos em tal ponto que os nossos rectores e os que nos hão-de governar mais atendem a nos trosquiar que nos aproveitar.» .../... in Andrée Rocha, A Epistolografia em Portugal (1965) § Machado de Assis: «Como um pássaro que acaba de ser preso, e forceja por transpor as paredes da gaiola, abaixo, acima, impaciente, aterrado, assim batia a inspiração do nosso músico, encerrada nele sem poder sair, sem achar uma porta, nada.» Histórias sem Data (1884) - «Cantiga de esponsais»
o que está a acontecer
«I-I - Quem, de longe, remire Alfamar, cada renque horizontal das suas casas brancas como a escalar os dois regaços do cerro intonso e altaneiro que um castelo de traça mourisca ainda hoje simula proteger -- ajuizará sobre o desafogo de vistas dessa vila algarvia, a várzea, que ostenta à ilharga, engalanada com a vegetação das hortas bem cultivadas e sortidas.» Assis Esperança, Pão Incerto (1964)
«1. Empurrados do interior, os povos buscavam o litoral na esperança de uma mandioquinha, de um caldinho de peixe, de um cana para chupar, ou de folhas verdes para mastigar. Qualquer coisa que lhes desse, ao menos, a ilusão de alimento. Mas nas povoações da beira-mar, mesmo nas terras maiores, os haveres tinham sido também arrasados pelos ventos da miséria.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)
«A SEARA - A festa -- 1. O vento arrastou as nuvens, a chuva cessou e sob o céu novamente limpo as crianças começaram a brincar. As aves de criação saíram dos seus refúgios e voltaram a ciscar no capim molhado. Um cheiro de terra, poderoso, invadia, tudo, entrava pelas casas, subia pelo ar.» Jorge Amado, Seara Vermelha (1944)
«Escolhera o mestre do barco aquela noite negra, para que a Lua não assistisse à largada. Também não compareceram as estrelas, com grande contentamento do velho João Frade, posto lhes quisesse muito, mas no alto, em plena derrota, para conversar com elas sobre coisas noutros tempos acontecidas, já que sem idade para sonhar com vida nova.» Joaquim Lagoeiro, Viúvas de Vivos (1947)
quarta-feira, junho 18, 2025
2 versos de Arnaldo Santos
«Não sei se as dálias eram sonhos / Crescendo por acaso no carreiro...»
«Passeio», Fuga (1960)
terça-feira, junho 17, 2025
o rei dos salamaleques
Nisto, ele está sempre a jogar em casa.
2 versos de José Agostinho Baptista
«entretanto alguma coisa se passou que ultrapassa a / excessiva solidão do poema.»
«A Maria C.», Deste Lado Onde (1976)
segunda-feira, junho 16, 2025
os meus desejos para esta guerra
Do que eu gostaria mesmo mesmo era que o Netanyahu levasse com um míssil nos cornos.
Depois, o regime dos aiatolas poderia cair, e o Irão tornar-se algo mais digno dos seus milénios, uma sociedade sem discriminação das mulheres -- muito acima da condição geral das mulheres árabes, apesar de tudo --;
e de preferência sem o descendente do pseudo-Xá, filho de um militar de baixa patente que através de um golpe de estado, apeou os verdadeiros reis da Pérsia e se entronizou a si próprio.
2 versos de Rui Knopfli
«Atiramos pedras pr'além do muro / e escutamos o som opaco da queda.»
«Tédio», O País dos Outros (1959)
domingo, junho 15, 2025
alhures
«Tanto eu como Gertrude Stein examinámos as últimas obras de Picasso cuidadosamente e Gertrude Stein foi de opinião que "a arte era mera expressão de algo". Picasso discordou e disse: "Deixem-me em paz. Estava a comer." Na minha opinião Picasso tinha razão. Estava mesmo a comer.» Woody Allen, Getting Even / Para Acabar de Vez com a Cultura (1966) - «Memórias dos Anos Vinte» - trad. Jorge Leitão Ramos § «Os polícias transpiram, rosnam e praguejam. As matracas erguem-se e baixam-se sobre o homem sem liberdade. / Na cela há cinco polícias fortes e um preso. // Para principiar, torceram-lhe os braços até estalarem as articulações. Bateram-lhe na cabeça com as matracas. Depois, deram-lhe valentes pontapés, ao acaso.» Michael Gold, Para a Frente, América... -- «Cárcere» (trad. Manuel do Nascimento) § «Não me perguntes o que foi feito da rapariga porque perdi a sua morada. Não imaginas o tempo que já perdi à procura dela! Daqui vem a minha doença. Quando te conheci acabava de ler o último nome da lista dos telefones deste ano. De repente reparei que te parecias muito com a mocinha de atrás dos arbustos e perguntei-te:» Félix Cucurull, «Carta de despedida», Antologia do Conto Moderno - trad. Manuel de Seabra § «O meu pai, que Deus lhe perdoe, estava encarregado da moenda de uma azenha que fica à beira daquele rio, onde foi moleiro mais de quinze anos. E estando a minha mãe uma noite na azenha, pejada de mim, vieram-lhe as dores do parto e pariu-me ali mesmo. De maneira que posso em boa verdade dizer que nasci no rio.» Anónimo, Lazarilho de Tormes (1554) - trad. Ricardo Alberty. § «Todavia, esse homem, particulazinha da criação, deseja louvar-Vos. Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não repoisa em Vós. / Concedei, Senhor, que eu perfeitamente saiba, se primeiro Vos deva invocar ou encomiar, se, primeiro, Vos deva conhecer ou invocar.» Santo Agostinho, Confissões (396-400) - trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina
o que está a acontecer
«E lá ia, que remédio!, de balde ao ombro, a espreitar alguma maracha que precisasse de engravatada, por oscilação de terras, ou canteiro mais soberbo por desequilíbrio da gleba. Bem regara aquela maldita com o seu suor; longas horas de repouso tinha perdido à sua volta. Mas também a alegria de ver todo o arrozal farto de espigas o dava por bem pago no fim do contrato.» Alves Redol, Gaibéus (1939)
«Porque diabo este pacóvio largou tudo e abalou também? / E os outros, -- toda a malta da terceira, imunda, sórdida -- miseráveis, porque trocam a sua pobreza livre pela escravidão? E eu?» Joaquim Paço d'Arcos, Diário dum Emigrante (1936)
«Às quatro paredes brancas, seguiam-se a capoeira da criação e o quintal, mui cultivado, muito verde -- as couves gordas, os feijoeiros abraçados às estacas e as ervilhas cheias de garridice por terem flores como violetas.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)
sábado, junho 14, 2025
sexta-feira, junho 13, 2025
4 versos de Carlos Queirós
«Viver! -- O corpo nu, a saltar, a correr / Numa praia deserta, ou rolando na areia, / Rolando, até ao mar... (que importa o que a alma anseia)? / Isto sim, é viver!»
«Ode Pagã, Desaparecido (1935)
quinta-feira, junho 12, 2025
oscinco bateristas de Ian Paice
há 150 anos com as mãos nos bolsos
Faz hoje 150 anos que o genial Rafael Bordalo Pinheiro criou o Zé Povinho, caricatura do povo português, que ficou sem o que fazer depois da independência do Brasil. Gonçalo Mendes Ramires bem sugeriu África como remédio para a apatia, mas já era tarde. Bordalo pertencia a essa Geração de 70, a mais crítica da nossa contemporaneidade -- Santo Antero, papá Eça, avô Ramalho, tio Joaquim Pedro, philosophe...
Queriam-nos mais europeus, sem deixarmos de ser portugueses. Os mais expeditos, ambiciosos, aventureiros emigraram; os outros ficaram, agarrados à enxada. Salazar ajudou bastante, até que, faz hoje quarenta anos, Mário Soares assinou a nossa inevitável adesão à CEE, no claustro dos Jerónimos
Imagem magnífica a da cerimónia no vetusto monumento doutras eras, e também túmulo do venturoso Manuel I: o que éramos e o que queríamos ser. Numa geração, passámos da enxada ao 5G.
Como escreveu o Almada Negreiros, "Coragem portugueses", etc.
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Rui Ochôa |
2 versos de José Régio
«Quando eu me poupe a falar, / Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!»
«Invocação ao meu anjo», As Encruzilhadas de Deus (1936)
quarta-feira, junho 11, 2025
bandidos à solta
São pequenas aberrações, larvas para extermínio antes que se desenvolvam. A polícia deve saber onde param, nas claques dos futebóis, por exemplo, mas não só. Atacaram em grupo, como é timbre destes cobardes, que se dizem nacionalistas, mas aposto que cada-palavra-cada-erro. Nacionalistas, dizem-se, pobres diabos, que atacam o actor Adérito Lopes, que, n'A Barraca, sob a direcção de Maria do Céu Guerra, interpretava o papel de Camões no Dia de Camões. Nacionalistas de caricatura cujo grupo se autoidentifica com um nome inglês... Trinta anos depois de o pacato Alcindo Monteiro ser assassinado por criaturas destas.
"Remigração", parece que estava escrito nos papelotes que estes inúteis deixaram no local do crime. Compreende-se, têm medo que o RSI não dê para todos... "Remigração" é também uma palavra usada pela cúpula do Chega, o segundo partido da parvalheira. Les beaux esprits...
Grande admiração pela classe de Maria do Céu Guerra, enorme!, no modo como se refere ao sucedido; e elogio claro a Carlos Moedas, que logo se deslocou ao local, dizendo que "isto não pode acontecer"! (Estou-me nas tintas se estamos em pré-campanha.) Pois não pode... Isto não é caso de polícia, mas de contraterrorismo. Têm os meios, mexam-se!...
4 versos de Camões
«A noite se passou na lassa frota, / Com estranha alegria e não cuidada, / Por acharem, da terra tão remota, / Nova de tanto tempo desejada.»
Os Lusíadas, I, 57 (1572)
o que está a acontecer
«A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete.» Eça de Queirós, Os Maias (1888)
«I. Óbito do autor. Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.» Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
«Debalde muitos homens de génio revestidos da autoridade suprema tentaram evitar a ruína que viam no futuro: debalde o clero espanhol, incomparavelmente o mais alumiado da Europa naquelas eras tenebrosas e cuja influência nos negócios públicos era maior que a de todas as outras classes juntas, procurou nas severas leis dos concílios, que eram ao mesmo tempo tempo verdadeiros parlamentos políticos, reter a nação que se despenhava.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)
terça-feira, junho 10, 2025
2 versos de Florbela Espanca
«Desde que o meu bem partiu / Parecem outras as cousas:»
in «Trocando Olhares», Antologia Poética
o que está a acontecer
«Vendo-o assim, "Piloto" hesitou um instante, enquanto agitava mais a cauda e tremuras de alegria lhe percorriam o corpo. Logo se decidiu. E, humilde, foi colocar o focinho sobre a coxa do amo, como era seu costume, quando este o chamava, à hora da comida, nos dias em que os dois andavam pastoreando o gado, lá nos picarotos da serra.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
«Quando o chefe voltou, depois do expediente e do sinal de partida, padre Dionísio, que aguardara solitário relanceando morosamente a vista, saiu-lhe ao encontro e inquiriu se não viera ao comboio qualquer pessoa da herdade dos Cardeais-» Manuel Ribeiro, A Planície Heróica (1927)
«Em 1875, nas vésperas de Santo António, uma desilusão de incomparável amargura abalou o meu ser; por esse tempo, minha tia D. Patrocínio das Neves mandou-me do Campo de Santana, onde morávamos, em romagem a Jerusalém: dentro dessas santas muralhas, num dia abrasado do mês de Nizam, sendo PONCIUS PILATUS procurador da Judeia, ELIUS LAMMA legado imperial da Síria e J.-KAIAFA Sumo Pontífice, testemunhei, miraculosamente, escandalosos sucessos: depois voltei -- e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral.» Eça de Queirós, A Relíquia (1887)
segunda-feira, junho 09, 2025
amanhã é feriado, vou perguntar ao Zelensky se está bom no Guincho
Nos canais de bardanotícias aqui da parvónia, o Zelensky continua a ser um Churchill -- como disse, certo dia, o Fareed Zakaria... pouco importa que tenha sido uma marioneta de americanos e britânicos contra os ucranianos e com isso tenha deitado o seu país a perder, em função dos interesses americanos e não só (lembremos o papel de duas abjecções como Joe Biden e Boris Johnson no prolongar da guerra, para esvair a Rússia -- o verdeiro objectivo -- quando da primeira tentativa de acordos de paz).
Não especulo sobre as intenções deste bicho, se vai morrer de armas na mão, como seria sua obrigação, depois do mal que tem feito, ou se há alguma ponta de verdade no que dizem os seus detractores, sobre um eventual e bem esportulado enriquecimento ilícito -- não vou por aí, não me interessa, nem sequer é preciso...
Basta dizer que à conta da criatura e de quem a sustenta, a Ucrânia está como está, e a caminhar para muito pior. Mas, não contente com isso, seguindo à risca o gizado pela trupe neo-con do lado de lá do Atlântico, tem procurado, desde o princípio, envolver-nos a todos na guerra -- o que só não conseguiu ainda, não por bom-senso das lideranças europeias (meu deus, a nulidade do Costa, parece que engenheiro de pontes, é presidente do Conselho Europeu...), mas porque ainda não puderam. Mas há quem não descanse enquanto tal não suceder, não só do lado de lá, como, pasme-se, do lado de cá do Atlântico. Que imbecis, que vigaristas...
Para as notícias dos bardacanais, e os zeros que os dirigem, Zelensky, em vez de a sua acção ser abordada segundo um prima jornalístico (chamam àquilo jornalismo, certo?) -- ou seja: um político apanhado em determinadas circunstâncias, reagindo melhor ou pior de acordo com elas, o que nos dão é uma caricatura de propaganda reles, em que cada espirro e cada flato que o homem emane equivale a um tratado de clarividente liderança; ele tudo sabe, tudo vê, é um predestinado, um Churchill.
2 versos de Cesário Verde
«Se eu não morresse, nunca! E eternamente / Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!»
«O sentimento dum Ocidental - IV. Horas mortas», O Livro de Cesário Verde (póst., 1887)
sábado, junho 07, 2025
sexta-feira, junho 06, 2025
ucraniana CCCXCI - o jornalismo por e para atrasados mentais - e começa no título
É da prestimosa cnn-Portugal, e reza assim: "Rússia lança um dos maiores ataques aéreos de sempre contra civis depois do ataque da Ucrânia aos bombardeiros russos".
Vejamos: "Rússia lança um dos maiores ataques aéreos de sempre". O cidadão comum que se aflige com a guerra, embora tudo aquilo o ultrapasse (questões políticas, económicas, culturais, militares -- geoestratégicas, em suma), depois de sujeito à propaganda esmagadora que os do seu lado lhe impingiram, hecatombes russas, baixas sobre baixas, etc., fica de pulga atrás da orelha quando lê, ao fim de 18 pacotes de sanções, que a Rússia lança "um dos maiores ataques aéreos de sempre". Sente-se estúpido, enganado, não acredita no que vê e lê, e já desconfia das próprias imagens. Bravo, "jornalismo"!
E contra quem lança a Rússia este poderosos ataques aéreo: "contra civis", pois claro -- não há-de escapar um ataque com míssil hipersónico contra qualquer jardim infantil; há três anos e meio que os russos declararam guerra contra creches, hospitais, parques infantis, lares da terceira idade, canis, num genocídio atroz...
Vamos ler a "notícia" e quantas vítimas resultaram de "um dos maiores ataques de sempre contra civis"?: "pelo menos quatro mortos". Se eu fosse um palestino de Gaza, ou habitante do Rio de Janeiro, quereria rapidamente procurar refúgio na Ucrânia.
Palma-cavalinhos que não se enxergam; são tão estúpidos, ó valha-me deus!...
5 versos de Arnaldo Santos
«Cansados / Mansamente / Escondendo-se no crepúsculo de uma esquina. // Escondiam-se do mundo / E de si próprios.»
Fuga (1960)
quinta-feira, junho 05, 2025
não vejo retrocesso nenhum na Cultura
Ao contrário do que defende um pensador de alto coturno, não vejo retrocesso nenhum na pasta da Cultura. Onde antes estava uma nulidade política e um equívoco, está agora uma dirigente nacional do partido no poder. Claro que não tem a dimensão cultural de um David Mourão-Ferreira, de uma Gabriela Canavilhas, ou uma visão de largo espectro como Lucas Pires, Manuel Maria Carrilho ou Pedro Adão e Silva. Mas tem uma ou duas coisas que faltam a muitos: tem poder e não está confinada aos nichos da 'cultura'. Se tiver alguma substância (que até parece ter, independentemente de parecer deixar-se contaminar por wokismos saloios -- deve ser da idade), poderá fazer um lugar aceitável. Logo veremos se não será outro Santana Lopes, politicão e popularucho. O facto de ter acoplado o desporto e a juventude, no primeiro caso, um sec. de estado chega; no segundo, as grandes decisões nunca passam por ali.
a cobardia de Portugal -- que vergonha, que vergonha, como nos envergonham!
Nem se trata deste governo em particular. Depois de Espanha, Eslovénia e Irlanda terem reconhecido o Estado palestino (nem falo no Brasil, que o fez há anos, na primeira presidência de Lula, creio); nem com a prática de genocídio: a morte indiscriminada, a fome usada como arma aos olhos de todos, ninguém em lado algum se admiraria que Portugal fizesse o que é justo, com as facilidades que o criminoso Netanyahu e o seu governo fora-da-lei nos tem dado.. Mas não, os primeiros-ministros que temos tido só mostram medo -- medo de irritar os americanos, ou até os ingleses quem sabe (li algures que Malta, o país mais pequeno da UE se prepara para fazê-lo).
Venham cá falar do Putin, grandes vigaristas!...
Como é possível um país com a história de Portugal e com a sua cultura, descer tão baixo? Como é possível diminuirmo-nos assim? Como podem politcóides de meia-tigela que elegemos desbaratar a história que temos, os nossos recursos históricos e diplomáticos. Que voz não poderíamos ter no mundo. mas temos isto, claro. Governos cobardes, um povo amarfanhado, como convém.
Que vergonha olhar para isto tudo...
4 versos de Armando Taborda
«banco de jardim ao sol onde me sento / espero que a morte me leve / à velocidade da luz / para a explicação da vida»
Palavras, Músicas e Blasfémias que Envelheço na Cidade (1986)
quarta-feira, junho 04, 2025
3 versos de José Pascoal
«Sei de nomes e de rostos que conheço, / E daqueles, também, que desconheço, / E que tudo tem fim no seu começo.»
«Oração de sapiência», Sob Este Título (2017)
terça-feira, junho 03, 2025
2 versos de Carlos Queirós
«E escravo, como sempre me encontraste, / Do mais breve sorriso que tu esboces.»
«Frivolidade», Desaparecido (1935)
o que está a acontecer
«Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha Vida -- que neste século, tão consumido pelas incertezas da Inteligência e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa o meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.» Eça de Queirós, A Relíquia (1887)
«Nenhum outro passageiro descera. Dois homens rústicos, tipos de guardadores de gado, de mantas e safões de pele de ovelha, ostentando militarmente cajados altos como armas em descanso, atentaram nele, curiosos, pasmados, mas sem quebrarem suas atitudes rígidas, indiferentes àquele estranho que chegava.» Manuel Ribeiro, A Planície Heróica (1927)
«Horácio estava junto de Idalina, também conhecida de "Piloto"; estavam sentados num dorso de rocha que emergia da terra, ao cabo das decrépitas e negrentas casas do Eiró, no cimo da vila. E tão atarefado parecia Horácio com as palavras que ia dizendo à rapariga, que não deu, sequer, pela chegada do cão.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
segunda-feira, junho 02, 2025
debate sobre o controlo da comunicação e das mentes, a propósito da Guerra da Ucrânia -- é claro que vou!
Haverá uma jornalista a moderar, e ainda bem, pois jornalismo é coisa que raramente se viu até agora -- pelo contrário: impreparação, ignorância, desleixo, descaso, mediocridade crassa, enfim. No liceu, tive uma cadeira chamada 'Iniciação ao Jornalismo'. Aí aprendi que o jornalismo deve, por exemplo, reportar ambos os lados de um conflito. Alguém, com excepção de um free lancer, mandou uma equipa de jornalistas ao outro lado?, alguém ouviu os habitantes da Crimeia, do Donbass? A RTP, televisão do estado, é gritante: enviou para Kiev um lamentável pé de microfone da propaganda americana, chamado Cândida Pinto; correu com o rebarbativo Raul Cunha, demasiado inconveniente; convida Agostinho Costa quando o rei faz anos; foram preciso quase três anos de guerra para que uma das vozes mais cultas, críticas e lúcidas (o grande problema é mesmo ignorância e boçalidade cultural) do espaço público, como Viriato Soromenho-Marques, fosse dizer qualquer coisa à RTP, e primeiramente a propósito de outro assunto (as eleições americanas); Carlos matos Gomes, um militar que foi um intelectual esplêndido, além de romancista de alto coturno, nunca lá pôs os pés, que eu saiba (a não ser para falar sobre a Guerra Colonial); Pezarat Correia nunca aparece. Em geral, quem aparece são uns marrões que seguiram a carreira académica, atrasos de vida que lêem imensos papers, lixo igual ao que produzem, ou então não percebem nada do que lhes passa debaixo dos olhos. A generalidade das estações de notícias (a sic e a grotesca parelha Rogeiro-Milhazes, ou a falcoa Vaz Pinto), exceptuando a cnn-Portugal, valha-nos deus, apesar do humorista Botelho Moniz e da inefável Soller, entre tantas outras personagens da carnavalização do comentário geopolítico). Da imprensa escrita e radiofónica, nem se fala.
Por isso, vou fazer o sacrifício de pegar em mim e ir de Cascais a Lisboa -- talvez fique a perceber por que razão o que nos é vendido como jornalismo não passa da negação do próprio jornalismo.
5 versos de José Régio
«Aqui, sentado, / Sobre mim próprio dobrado, / Com livros ao lado, / Canetas e aparos, / Tinteiro e papel timbrado,»
«Caos», As Encruzilhadas de Deus (1936)
uma sociedade doente, desconjuntada e à beira do colapso
Bem pode o ministro do interior francês falar em minoria de bandidos que cometeram os desacatos sexta à noite, em Paris, após a vitória do PSG. O que mostram as imagens, mesmo que se trate de duas ou três ruas em cada cidade, é o mal-estar daquela sociedade, à beira de se desconjuntar. Quem tem andado por lá, pelas ruas, nos transportes, sente-o.