Chamam-me a atenção para o bruaá no Facebook sobre a nomeação de Rita Rato para directora do Museu do Aljube. Não me apetece nada andar ao tiro ao comunista, quando há anos que apanhamos com a tralha neoliberal e assistimos aos fascistas de ocasião (ou seja, aqueles que se prestam a tudo o que o lumpen cívico quiser), bolsarem para o meio da rua.
Depois do "museu das descobertas" -- não há descobertas mas, em bom português, Descobrimentos, e com maiúscula e que devem ser celebrados criticamente, apesar dos analfabetos da margem esquerda --, depois do propalado museu que, com a cagunfa do costume, já deve estar, com a viola no saco e metido na gaveta --; depois da gritaria com o Museu Salazar ou Centro Interpretativo, projecto liderado por historiadores à prova de bala, que deu brado porque a História é um pormenor para uma determinada concepção política do mundo, incluindo os que se dizem historiadores; agora, o Museu do Aljube.
Independentemente do benefício da dúvida que darei à senhora quanto à sua honestidade intelectual -- parece que não sabia bem o que fosse o gulag, etc. -- e esperando, igualmente que, quanto à Resistência ao Salazar, não se fique pelos camaradas e o frete, noblesse oblige, à tralha republicana (e à gente boa também, Seareiros à cabeça), não se esqueça da Resistência dos anarquistas (é verdade, vai hoje na RTP2 um documentário sobre o Emídio Santana…), dos católicos progressistas e até dos monárquicos.
Considero o PCP, dos grandes e médios partidos, o único consistente e politicamente sério; o resto, do Bloco ao CDS, é a pastelaria do costume. Mas a seriedade do PCP no que respeita à História, dispenso-a eu bem. Tenho exemplos para a troca, caso seja preciso, todos nacionais.
Desejo a Rita Rato o maior sucesso. É claro que não precisa de ser historiadora para dirigir o Museu (e ser militante do PCP não é cadastro, antes pelo contrário), precisa tão-só de ser interessada, que qualidades tem-nas, certamente, deixar o cartão do Partido à porta e perceber que há mais mundos, citando o grande José Régio, também ele oposicionista e resistente, aliás duma coragem moral e cívica assinaláveis.
Mas é preciso estar atento, para evitar não só a tentativa de apropriações -- sem deixar de reconhecer o papel do PCP nessa mesma Resistência -- e manipulações da História. Espero, por isso, que Rita Rato desminta todas as desconfianças e cale as bocas da reacção. Porque não me apetece nada dar razão aos observatórios & outros lavatórios.