quinta-feira, novembro 29, 2018

50 discos: 23. CRIME OF THE CENTURY (1974) - #6 «Rudy»



vozes da biblioteca

«Como sempre que batem à porta daquele seu gabinete de trabalho, eleva muito a voz, a simular a irritação de quem vê as suas tarefas e lucubrações de dirigente intempestivamente interrompidas.» Assis Esperança, Trinta Dinheiros (1958)

«E sob a chuva ininterrupta, sob as cordas incessantes, a vila, envolta na treva glacial, parece lavada em lágrimas...» Raul Brandão, A Farsa (1903)

«Um vaporzito, com graciosidade de gaivota e calentura de forno, largou de ao pé da Kars-en-Nil e, apitando aqui e ali, que o tráfego fluvial era grande em frente da cidade, começou a subir o rio sagrado.» Ferreira de Castro, do «Pórtico» de A Tempestade (1940)

quarta-feira, novembro 28, 2018

estampa CCCXLI - Natalia Gontcharova




Dançarinas Espanholas (1918)



feias, porcas e más: as televisões privadas como retretes públicas, das antigas, ou saudades da RTP do tempo do fascismo

A sic e a tvi são detentoras de uma concessão, por parte do Estado, ou seja, de todos nós, do sinal de emissão do serviço de televisão. Mais de 90% da programação daquelas estações é má ou muito má. A informação da tvi é superior à da sic; esta tem um grande momento aos sábados, ao fim da manhã, com a transmissão dos documentários da BBC sobre vida selvagem. Quanto ao resto, concursos, telenovelas, parvoíces. Mesmo os canais informativos são pobres, salvam-se alguns programas de debate ("Quadratura do Círculo" e "O Eixo do Mal" na sic; "Prova dos Nove" e "Governo Sombra" na tvi). É muito pouco. 
Mas o que me espanta, perante a indiferença geral, é o à-vontade e a impunidade com que ambas as estações generalistas poluem o espaço público com inanidades e badalhoquices, dos talk shows matinais, em que apresentadores idiotas expõem ao voyeurismo mais grosseiro os infortúnios deste e daquela, até à promoção da mais vulgar boçalidade com os "Casados de Fresco" ou o "Love on Top", -- enfim o esterco despejado em casa das pessoas, quantas vezes com a justificação cínica e vigarista de que é daquilo de que elas gostam (ou até precisam...).
Não falo na cm-tv, a mais ampla cloaca comunicacional, pois está no cabo, e aqui, outros problemas se levantam. O que mais me incomoda, embora não me espante, é a passividade do Estado diante do oportunismo descarado dos operadores, da falta de ética e doutro critério que não seja o de gerar lucro, lançando mão de tudo o que lhe for permitido. 
E pergunto: mas por que diabo devemos nós, e connosco o estado português, que atribuiu as concessões a estes operadores, contribuir para encher os bolsos aos donos e accionistas da sic e da tvi, cuja contrapartida pelo bem público de que se servem é o de espalhar os seus dejectos comunicacionais pelas casas dos portugueses e pelas nossas ruas, através dos painéis publicitários?

Ainda sou do tempo em que as casas de banho públicas das estações da CP do Cais do Sodré e do Rossio eram um antro de porcaria, iam para lá os que gostavam de chafurdar ou os incautos que desconheciam o ambiente. Que haja quem queira fazer televisão com o nível de wc público de país incivilizado, é um problema seu; mas que beneficie do Estado, para o fazer, e que o mesmo Estado contribua, pela inacção, inconsciência, cobardia, para esta caca, isso é que é indesculpável.
Não sei quando se extinguem os prazos das respectivas concessões, mas aqui é que era uma boa oportunidade para a ministra Graça Fonseca introduzir um bocado de civilização, civilidade e civismo nestas pocilgas, ou retirar-lhes a licença para degradar.

terça-feira, novembro 27, 2018

vozes da biblioteca

«Exceptuando a mulher que tinha recebido o velho junto ao portão e com a qual ele conversava nesse momento, não tinha dado pela presença de qualquer alma viva; mas Eguchi, que ali ia pela primeira vez, não tinha conseguido aperceber-se se era a patroa ou uma empregada.» Yasunari Kawabata, A Casa das Belas Adormecidas (1961) (tradução de Luís Pignatelli)

«Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.»   Franz Kafka, A Metamorfose (1915) (tradução de Breno Silveira)

«Wilson estava sentado na varanda do Hotel Bedford com os rosados joelhos nus encostados à balaustrada de ferro.» Graham Greene, O Nó do Problema (1948) (tradução de J. P. de Barreto-Mendonça)

«Take A Tip»

vozes da biblioteca

«Abriu muito os olhos o abade e só então se apercebeu duma mocinha -- corpo que acaba de espigar na adolescência -- que às mãos ambas cobria o rosto e soluçava.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

«No espaço quadrangular, entre o claustro e a ábside, tinham talhado, num período recente de desobstruções, um adorável jardim com os clássicos arruamentos de buxo enquadrando modestos canteiros de rosas e gerânios.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1919)

«Residências a caírem de velhas ou de mal-construídas, rebocos a cobrirem-lhes as fendas e rugas, as suas janelículas, a metros do solo, ostentam-lhes a presunção de inexpugnáveis.» Assis Esperança, Pão Incerto (1964)

no LEFFest #19

Diários de Che Guevara, de Walter Salles. Argentina, EUA, Brasil, Reino Unido, Chile, Peru, 2004). «Homenagem Walter Salles». A génese do Che.

no LEFFest #18

Bleak Moments, de Mike Leigh, Reino Unido, 1971 («Retrospectiva Mike Leigh»). Ainda estou para perceber o ponto de Mike Leigh neste seu filme inaugural: uma concentração improvável de pessoas quase zombies na sua solidão e inabilidade social, e em que a única que está bem é a atrasada mental. Todos os palpites são possíveis. Mas actores superiormente dirigidos, que não se esquecem. 

segunda-feira, novembro 26, 2018

os ladrões cinéfilos

Em 1990, depois do nascimento da nossa primeira filha, deixámos temporariamente o minúsculo apartamento e assentámos arraiais em casa da minha avó, para que ela e a minha mãe (que hoje faria 82 anos) nos dessem competências puericulturais. Num dia em que tive de ir a  casa, provavelmente buscar roupa limpa, dei com o canhão da porta arrombado e esperei o pior. Felizmente, não se confirmaram os meus receios de vandalismo: os larápios haviam aberto gavetas, mas deixaram tudo impecável. Em falta, apenas uma velha televisão, o leitor de vídeo e dois filmes que os ditos foram escolher criteriosamente à pequena videoteca: ambos do Bertolucci, La Luna e O Último Imperador, o primeiro em gravação manhosa feita em casa, a partir duma emissão da RTP, o outro, comprado na loja, bastante mais apresentável. Poderiam ter levado mais, gravados por mim ou em edição de mercado, mas não, negligenciaram o Howard Hawks, o John Ford, o Lawrence Kasdan ou o Woody Allen, só quiseram o Bertolucci. Critérios de ladrões cinéfilos e civilizados... 

no LEFFest #17

L'Homme Fidèle, de Louis Garrel, França, 2018 (Selecção oficial - Em competição). Muito melhor do que esperava, mais do mesmo com o Garrel. Mas o tipo tem substância e tem piada -- assim o demonstrou no Festival, assim pensaram Jean-Claude Carrière, com quem partilhou o argumento, e Laetitia Casta (oh, beleza!...), o papel e a vida real. 

no LEFFest #16

Este Obscuro Objecto do Desejo, de Luis Buñuel (1971) - «Sessões especiais». Sesões especiais, foi o que me saiu primeiro, e assim deveria ter ficado, pois o último do Buñuel é uma febre. Era para contar com a presença de Jean-Claudse Carrière, co-argumentista, que não ocorreu, por motivos de saúde, creio, mas aos oitenta e tal, continua em forma, como verifiquei no filme da noite, o #17.

no LEFFest #15

L'Amore Molesto [Vítma e Carrasco, no infeliz título português], de Mario Martone, Itália 1995 («Homenagem - Mario Martone). Acima de tudo, um filme em que Nápoles brilha,. cintila, esplende.

sábado, novembro 24, 2018

12 sinfonias: 2. Mozart, SINFONIA # 41 (1788) - IV. Molto allegro

no LEFFest #14

Suspiria, de Luca Guadagnino, Itália, 2018 («Selecção oficial - Fora de Competição») O trailer não faz jus ao filme, esteticamente muito interessante, e que me suscitou inicialmente alguma desconfiança. Claro, dispensava algumas fracturas expostas, contorções de quebrar ossos, mas suponho que será o mesmo que querer que um western não tenha tiros. Mas bruxas, portanto, do imaginário tradicional, servas do Satanás, balizadas por expressões do mal absoluto, já não tão pitoresco (o filme passa-se em 1971): o nazismo e o terrorismo, sem aspas ou itálico, da Fracção do Exército Vermelho / Grupo Baader-Meinhof. Tilda Swinton, uma óbvia bruxa. Ainda melhor que o filme, a música do Thom Yorke.

no LEFFest #13

Piazzollla, los Años del Tiburón, de Daniel Rosenfeld, Agentina e França, 2018. «Sessões especiais». Um gigante como Astor Piazzolla tinha de ter um percurso incomum. Revelador, principalmente para os não-argentinos.

sexta-feira, novembro 23, 2018

no LEFFest #12

The House That Jack Buillt, de Lars von Trier - Suécia, Alemanha, Dinamarca, França, 2018 («Selecção oficial -- Fora de competição»). O Lars von Trier é apanhado do clima, mas é outra coisa, está lá em cima, no Olimpo do Cinema.

no LEFFest #11

Vox Lux, de Brady Corbet, EUA, 2018 (Selecção oficial -- Em competição). Junto-me àqueles que se têm referido ao extraordinário papel de Natalie Portman. "Um retrato do século XXI", é o subtítulo deste filme, que nos põe a assistir à transformação da borboleta em crisálida.

quinta-feira, novembro 22, 2018

no LEFFest #10

Double Vies (Non-Fiction), de Olivier Assayas, França, 2018 («Selecção oficial - Fora de competição»). O registo da comédia para falar das questões do nosso tempo é uma abordagem possível, e muitas vezes desejável, desde que não evidencie o encantamento do realizador por si próprio, perigo em que por vezes este incorre, com tanta profundidade a vir ao de cima, e que, por exemplo em Woody Allen, não. Mas nada a apontar, e Juliette Binoche, rapariga da minha idade, continua a ver-se muito bem -- que é uma das coisas que sempre me interessa nos filmes: grandes actrizes -- que ela é (e os outros também) --, de preferência mulheraçamente bonitas, que é uma definição cá minha.

no LEFFest #9

Transit, de Christian Petzold (Alemanha e França, 2018). «Selecção oficial - Em competição» Digamos que o tema 'refugiados' está aí à mão, mas não é para todos, mesmo nesta espécie de parábola, em que os dois magnífico actores aí em baixo mereciam melhor. Digamos que o frio da sala e horas de sono a menos me tornaram inescapáveis os cochilos, mesmo não querendo, mesmo sabendo que os actores magníficos aí em baixo mereciam melhor, incluindo o meu esforço. Nem no fim fui capaz de ter as pálpebras levantadas.  Só espero não ter ressonado que nem um porco.

quarta-feira, novembro 21, 2018

no LEFFest #8

A Pereira Brava, de Nuri Bilge Ceylan -- Turquia, Macedónia, Alemanha, Bósnia-Herzegovina, Bulgária e Sérvia, 2018 (Selecção oficial - Fora de competição). A pereira brava, árvore torta e solitária, mas que parece dá um fruto saboroso. Cineasta de mão-cheia, tem uma pequena pecha na falta de vigilância na extensão de alguns dos diálogos, todavia sempre interessantíssimos. Mas o seu cinema é tão bom, que no fim o que resta é um grande encantamento, que é tudo.

terça-feira, novembro 20, 2018

no LEFFEST #7

Dovlatov, de Aleksey German Jr. Rússia, Polónia e Sérvia, 2018 (Selecção oficial - Fora de competição). Sergei Dovlatov, de quem eu nunca ouvira o nome, amigo de Joseph Brodsky, e o calvário que era ser escritor na União Soviética de ferrugem de Brejnev. Nunca se rendeu à literatura oficial, pagando o preço da invisibilidade. Os leitores, milhões na Rússia, apareceram depois da sua morte, aos 49 anos. Um filme que é também uma parada de literatura russa.

segunda-feira, novembro 19, 2018

vozes da biblioteca

«Os ricos e elegantes foram para Sintra, ou para uma praia qualquer, continuar a vida de Lisboa: as carruagens conhecidas cruzam-se no passeio da tarde, como se cruzavam durante o inverno na Avenida; e à noite, as mesmas soirées reúnem as mesmas pessoas, com os mesmos flirts, e a mesma ponta de má língua -- que, no fim de contas, sempre é uma consolaçãozita na vida.» Conde de Ficalho, «Cartas do Campo - O Repórter, 4 de Setembro de 1888), Dispersos, edição de João Forjaz Vieira (1998)

«Para mim, que conheço a inutilidade dos exércitos, que os considero perniciosos, indignos da nossa época, o gesto do capitão Sadoul, quando há anos demandou a Rússia, mereceu a simpatia do meu espírito.» Ferreira de Castro, «Ecos da Semana -- A Batalha, 15 de Dezembro de 1924), Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade, edição de Luís Garcia e Silva, 2004

«Toda, toda a escrita é compensatória de um silêncio.» Maria Velho da Costa, O Mapa Cor de Rosa (1984)

no LEFFEST #6

Shoplifters -- Uma Família de Pequenos Ladrões, de Hirokazu Koreeda, Japão, 2018 («Selecção oficial - Fora de competição»). A ideia é esta, é velha e por vezes verdadeira: as famílias podem ser o inferno, pelo maltrato ou pelo descaso, e o filme gira em torno duma falsa família de pequenos marginais / biscateiros. É interessante e por vezes ternurento; mas, Palma de Ouro em Cannes?... Não havia por lá melhor? Palma de Ouro para um filme que, a terminar (vide traila), quase parece um daqueles pastelões das manhãs da tv de gouchas & companhia, das famílias do coração e semelhantes bugigangas ideológicas;  mas que encaixa na perfeição nas parvoíces antifamilialistas,  lá isso encaixa. Deve ter sido este pechisbeque sociológico do politicamente correcto que encantou o júri de Cannes e a imprensa americana (vide orgasmos finais no mesmo traila).

domingo, novembro 18, 2018

no LEFFEST #5

Curtas de David Lynch, ou produzidas por si.
Os clips de que mais gostei, feitos com Chrysta Belle, um filme publicitária para a casa Dior, um trailer para um festival de cinema, tudo cheio do turbilhão lynchiano, incluíndo a última que aqui ponho, «Idem Paris», que achei magnífico.



12 sinfonias: 1. Haydn, SINFONIA #104 (1795) - IV. Finale-Spiritoso

no LEFFEST #4

Segredos & Mentiras, de Mike Leigh, Reino Unido e França, 1996 (Retrospectiva Mike Leigh). Como teatro (bem) filmado e british touch. Muito bom.

no LEFFEST #3

Lynch One, de Jason S., França, 2005 (Waiting for Mr. Lynch...). Documentário do processo criativo de David Lynch. 

no LEFFEST #2

Psychogenic Fugue, de Sandro Miller (EUA, 2016) (Waiting for Mr. Lynch...). Recriação por John Malkovich de algumas personagens emblemáticas de David Lynch, e do próprio.

sábado, novembro 17, 2018

12 sinfonias: Tchaikovsky, SINFONIA #4 (1878) - III Scherzo. Pizzicato ostinato

no LEFFEST #1

The Sisters Brothers, de Jacques Audiard. França, Espanha, Roménia, EUA, 2018  (Selecção oficial -- Fora de competição). John C. Reilly esplende; com Joaquin Phoenix forma uma inesquecível dupla de irmãos no cinema.

sexta-feira, novembro 16, 2018

para que serve uma ministra do Mar?

Para nada, a não ser um ou outro número mediático, em especial quando se diz socialista e tem uma atitude teoricamente equidistante, perante um evidente caso de exploração laboral, como sucede com os estivadores do porto de Setúbal.


Adenda (21/XI): Já estamos a falar melhor; mas, bolas, podia ter sido mais cedo.

vozes da biblioteca

«Para que o sr. Director o estimasse, inventava, todos os dias, delicadezas inéditas, cumprimentos, curvaturas de espinha.» Assis Esperança, Gente de Bem (1938)

«Principiara, parece, uma chuva invisível e contínua...» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934)

«Quando, porém, o outeiro, em curva suave de ventre feminino, se cosia ao sinuoso caminho que dava acesso à aldeia, deteve-se, meditativo, a contemplar a sua casita, quase debruçada no Caima.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

quinta-feira, novembro 15, 2018

vozes da biblioteca

«Assim o entendera José das Dornas, que foi amestrando o seu primogénito e preparando-o para um dia abdicar nele a enxada, a foice, a vara, a rabiça, e confiar-lhe a chave do cabanal, tão repleto em ocasiões de colheitas.» Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor (1867)

«Uma vez predispostos a trocarem o certo pelo incerto, em vez de se acomodarem, tal-qualmente os seus avós, às servidões sem chorume, esses homens abalavam "às cegas".» Assis Esperança, do «Prefácio» a Fronteiras (1973)

«Vendido o solar, alguns maços de notas assim recebidos, queimou-os ele raivosamente (queimou-os, como? pelas feiras, em banquetes...) blasonando que só tinha valor o oiro e a prata, por causa da efígie dos reis, -- calculo agora.» José Marmelo e Silva, Sedução (1937)

criadores & criatura



Stan Lee, Steve Ditko e Spider Man / O Homem-Aranha


quarta-feira, novembro 14, 2018

vozes da biblioteca

«Contava Zargtnischekbljmpvundowfyx (o j lê-se i) que a mentira salva a humanidade.» Ernesto Rodrigues, Um Passado Imprevisível (2018)

«Na noite que caía, envolvendo em sombras a figura de mulher que tanta dor exprimira, já mal se distinguiam as feições magoadas por um rictus de sarcasmo e de revolta.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)

«Um, o mais moço e pela aparência o de mais grada posição social, era transportado num pouco escultural, mas possante muar, de inquietas orelhas, músculos de mármore e articulações fiéis; o outro seguia a pé, ao lado dele, competindo, nas grandes passadas que devoravam o caminho, com a quadrupedante alimária, cujos brios, além disso, excitava por estímulos menos brandos do que os de simples e nobre emulação.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

estampa CCCXL - Marc Chagall


Homem-Galo por Cima de Vitebsk (1925)

terça-feira, novembro 13, 2018

vozes da biblioteca

«Isto no Ribatejo, e principalmente na Borda d'Água, o ter feito frente a um toiro é de muito mais estimação que ter fidalgo ou doutor na família.»  Alves Redol, Fanga (1943)

«O acaso / não os favorece»  Adília Lopes, «Os namorados pobres», Dobra (2009) / Resumo -- A Poesia em 2009 (2010)

«Os banhos de mar, que a Medicina empiricamente me aconselha, estorvam-me o maior número de outras ocupações: -- verdade é, que das mais gratas ao coração, já tenho cedido a beneplácito de uma espécie de sezão moral que me apoquenta.»  Camilo Castelo Branco, carta a José Barbosa e Silva, 10 de Julho de 1849, Alexandre Cabral, Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbpsa e Silva, vol. I (1984) 


segunda-feira, novembro 12, 2018

50 discos: 16. OS SOBREVIVENTES (1971) - #6 «O Charlatão»



e que tal o aeroporto de Beja + tgv?

Desde os governos de Marcelo Caetano que se fala na necessidade de um segundo aeroporto que sirva Lisboa. Mais um sinal de que este não é um país para ser levado a sério, e muito menos a miséria das suas elites dirigentes.
Depois dum risco sério de catástrofe, ontem, e de se perceber que nem Montijo (por questões de segurança e risco para as populações) nem Alcochete (pelo atentado ecológico à Reserva Natural do Tejo e pelo risco para a segurança dos voos que comporta uma tão grande concentração de aves) não constituem aparentemente alternativa, pergunto:
não seria mais viável aproveitar o aeroporto de Beja, já construído, com uma linha de comboio de alta velocidade? quanto tempo demoraria o percurso de 178 km entre Beja e Lisboa em tgv?; não ficaria mais barato do que construir um novo aeroporto?; não seria mais seguro para as populações?

domingo, novembro 11, 2018

lido


12 sinfonias: 11. Sibelius, SINFONIA # 1 (1899) - III. Scherzo

vozes da biblioteca

«A hipnose das sociedades ocidentais, rastejando em direcção ao "ter" e ao "produzir", repugna-me, sempre me repugnou, profundamente.» Adalberto Alves, Oriente de Mim (1992)

«D. António Sepúlveda de Vasconcelos e Meneses, senhor do morgadio do Corgo, festejava nesse dia soalheiro de Outubro, em 1807, os vinte anos viçosos da linda Maria do Céu.» Carlos Malheiro Dias, Paixão de Maria do Céu (1902)

«Lá dentro, Doninha, todo nu, estava estirado ao comprido, de costas, pernas e braços abertos, sobre o chão imundo.» Manuel da Fonseca, Cerromaior (1943)

estampa CCCXXXIX - August Macke


Banhistas

sexta-feira, novembro 09, 2018

quinta-feira, novembro 08, 2018

estampa CCCXXXVIII - Leland Holiday


Homem Lendo um Livro

quarta-feira, novembro 07, 2018

vozes da biblioteca

«Do lado oposto à cidade a estrada descrevia uma curva ao longo de muros cerrados, onde os grilos pareciam, de Verão, o queixume da ilha abafada e em que pairava agora um pasmo solto de tudo, menos do mar.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

«Fala-me de outra / Coisa, de não haver pão ou coragem / Para o partilhar.» Rui Almeida, Muito, Menos (2016)

«O vento e o marulho do Oceano fundiam-se num rosnar cavo e profundo.» Romeu Correia, Calamento (1950)

«Oriente»

vozes da biblioteca

«À esquerda era o jardim de buxo, húmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo.» Sophia de Mello Breyner Andresen, «O jantar do bispo», Contos Exemplares (1962)

«E improvida continuaria, se não viesse ocupar, naquela casa, o invejado lugar de filha adoptiva, criado para ela -- mas difícil, tão difícil que muita vez apelava angustiada para a sua firme resolução de ser alguém, tapando a boca a repostadas e rebeldias.» Assis Esperança, Servidão (1946)

«Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente -- depois, então, se vai ver se deu mortos.» João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas (1956)

lido


terça-feira, novembro 06, 2018

Dia Ferreira de Castro no CCB


No próximo sábado, 10 de Novembro, a partir das 15 horas
uma parceria Centro Nacional de Cultura / Centro Cultural de Belém




segunda-feira, novembro 05, 2018

criadores & criatura

imagem

imagem

Alberto Breccia, Héctor G. Oesterheld e Mort Cinder

imagem

vozes da biblioteca

«Ainda que Maria Emília nunca o tenha entendido com clareza, foi aquele espelho que lhe abriu o destino.» Hélia Correia, O Número dos Vivos (1982)

«Na madrugada de Londres, numa noite de Janeiro de 1965, ao som opaco de tambores, ouvem-se passos lentos e cadenciados que vão tomando conta do murmúrio da imensa cidade adormecida.» António Cartaxo, Ao Sabor da Música (1996)

«No isolamento absoluto da noite, as matérias do curso costumavam entrar-me pelo espírito dentro, com uma fluidez e limpidez de água corrente.» Francisco Costa, Cárcere Invisível (1949)

«Red Rain»

domingo, novembro 04, 2018

12 sinfonias: 12 Prokofiev, Sinfonia #1 (1918) - III. Gavotta: Non troppo allegro

ora ai está...

O Golem espreita sob o nome de Fascismo

vozes da biblioteca

«Atravessou de novo a praça, batendo pausadamente o tacão das botas, deixando cair os últimos pingos de lama, e dirigiu-se à redacção da Comarca de Corgos, sempre no mesmo passo oscilante e pesado, como se o levasse a custo o vento que arrastava no chão as folhas quase podres dos plátanos.» Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva (1953)

«Como opinara depois João Fulgêncio, homem de muito saber, dono da Papelaria Modelo, centro da vida intelectual de Ilhéus, fora mal escolhido o dia, assim formoso, o primeiro de sol após a longa estação das chuvas, sol como uma carícia sobre a pele.» Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela (1958)

«Lilias salvou-se da carnificina porque, seis horas antes da batalha, viu o pai morto, como realmente ele haveria de morrer mais tarde.» Hélia Correia, Lilias Fraser (2001)

sexta-feira, novembro 02, 2018

O LIVRO DOS AMORES INÚTEIS - I

amo a abertura interminável do primeiro concerto para piano do brahms à época mal recebido
amo a capitu
amo as capas da antologia do conto moderno da atlântida de coimbra concebidas pelo victor palla
amo a casa centenária da minha avó zé no estoril
amo a casa do balzac em paris longa caminhada à beira-sena para lá chegar
amo a casa do dickens em londres
amo a englishness dos genesis em selling england by the pound
amo a obstinação do meu pai militante activo do pcp aos oitenta e sete
amo a força de braço do john bonham a fustigar as peles
amo a lembrança da minha filha joana dizendo a estranhos chamar-se 'marta isabel'
amo a lembrança do meu filho antónio dizer a estranhos chamar-se 'antónio búfalo'
amo a lenda de despojamento e libertinagem do meu avô joão, da qual me sinto divertidamente herdeiro
amo a loucura do antero de quental da viagem à américa até a um banco de jardim em ponta delgada
amo a aguda lucidez do orwell
amo a memória celta da minha avó celeste
amo a minha mãe
amo a safadeza não-erótica do carlos drummond de andrade
amo a serra do caldeirão atravessada num rolls nos idos de setenta
amo os ângulos da escultura do antónio duarte
amo as mães que fazem porno
amo as mansardas das casas centenárias lembrando a casa centenária em que vivi sem mansarda
amo andarmos em mãos dadas
amo o adagietto da 5.ª sinfonia do thomas mann perdão do gustav mahler
amo o badalo benzo personagem criada pelo meu filho antónio
amo o badminton jogado pela minha filha capi
amo o delírio do sir john tenniel no país das maravilhas
amo o desenlace inesgotável da quinta de tchaikovsky
amo o esgar do pirata barba ruiva a bordo do 'falcão negro'
amo o gabinete de guerra do churchill ao som de londres bombardeada
amo o humor rugoso do goscinny aparentemente para todos
amo o kropotkin anarquista geógrafo príncipe revolucionário encarcerado evadido
amo o leite de vasconcelos de burro pelo país fora pesquisando um passado que no país era ainda presente
amo o leite vigor de odrinhas
amo o loiro dos teus cabelos grisalhos
amo o grisalho nos teus cabelos loiros
amo o rasgo da escultura do cutileiro
amo o sangue africano do meu avô zé
amo o toque na minha da tua pele
amo os combatentes na guerra civil de espanha, pela república
amo os dois volumes da correspondência do eça de queirós editados pelo guilherme de castilho na imprensa-nacional e lidos nos velhos estofos da linha do estoril
amo os dois álbuns do tintin que possuo editados pela flamboyant
amos os papéis da minha filha teresinha
amo os riffs etílicos do rory gallagher
amo os telhados de bruxelas em linha clara
amo todas as mulheres grávidas
amo todos os anarquistas a) coerentes b) sinceros c) verdadeiros (riscar o que não interessa)
amo todos os meus blogues
amo os períodos intermináveis do saramago, a lembrarem as divagações do nemésio na televisão

ainda vai a presidente do Brasil,

o coiso que mandou prender o Lula, com as provas que toda a gente viu. Palhaço.

quinta-feira, novembro 01, 2018

vozes da biblioteca

«A confusão estabelecida pelos "entendidos" em camilografia, em geral simples camilómanos, acerca da obra de Camilo Castelo Branco "A Infanta Capelista" é de tal ordem que os não iniciados nos mistérios da vida desse escritor dificilmente encontram o fio da meada, propositadamente enredada pelos camilófagos e "camelianistas".» Jaime BrasilO Caso de "A Infanta Capelista" de Camilo Castelo Branco (1958)

«Casa pobre com janelas e duas portas ao fundo, uma para a rua e outra para a cozinha. Mesa com livros de escrituração comercial. Inverno. Cinco horas.» Raul BrandãoO Gebo e a Sombra / Teatro (1923)

«Procurava falar português com a mesma fluência dos que tinham saído de Angola já adultos, tal como ouvia as conversas dos mais velhos com o fito de melhorar a língua materna, o umbundu.» Sousa Jamba, Patriotas (1990) (tradução de Wanda Ramos)

50 discos: 39: PERMANENT WAVES (1980) - #6 «Natural Science»



Bondi Trailer - Pirates, Vikings and Knights II (contentamentos de pai)


(animação, edição e música (!) do meu filho)