sexta-feira, setembro 30, 2022

quinta-feira, setembro 29, 2022

a arte de começar mais depressa

 «Prelúdio (A música das ondas)». «Dispensou a cadeira de rodas e atravessou o portão do hospital cambaleando.»

«Amizade». «Quase toda a manhã é o mesmo suplício: quando chego na portaria, a vizinha gorda do trezentos e dois já está esparramada no banco de madeira, tendo ao lado o seu irritante cachorrinho peludo.»

«Gosto de enxofre». «Uma mulher entrar sozinha no bar, escolher a mesa, se sentar e pedir uma cerveja são coisas que nunca se vê por aqui.»

«Caminhos». «Diante da banca de jornais e revistas, o homem parece petrificado, os olhos grudados na primeira página do jornal que estampa a manchete MARADONA ESTÁ MORTO».

«O pedido». «A mulher está sentada na varanda, xícara de café e latinha de biscoitos de maisena no colo.»

«Cicatriz». «Seu Júlio disse que o homem cultivava cavanhaque grisalho e tinha uma cicatriz no rosto que ia do nariz até perto da orelha.»

«A primeira vez».  «Eu jogava futebol de botão no  piso da sala quando a ambulância freou na porta de casa.»

«Como num quadro sacrossanto». «Deus me perdoe, mas parecia que eu estava diante do quadro da Virgem e o menino Jesus -- o delegado repetia.»

«Estação Fim do Mundo». «-- Quanto é a a bala de tamarindo? -- pergunta o homem.»

«Café fraco». «Do jeito que me cataram em baixo da marquise, me despejaram aqui, sem uma palavra sequer, de explicação ou de consolo.»

«O amor é mais frio que a morte».  «Não há nada mais triste do que cemitério em dia de chuva.»

«O último post». «Eu poderia ter resolvido o assunto no tuíter, com menos de cem caracteres, algo como Quando vocês acabarem de ler isto aqui, eu terei acabado com tudo, mas ficaria faltando alguma coisa.»

«Mortos na cabeceira». «E esse medo de ir para a cama?»

«Herança». «A nuvem avermelhada manchava o céu desde o começo da manhã, prometendo que o dia não seria como outro qualquer.»

«Mangas vermelhas». «Marcaram encontro para o fim da tarde e pegaram o caminho da chácara.»

«Ternura». «A filha do velho recomendou que eu não usasse roupas "pronunciantes".»

«Queima de arquivo.» «A dupla formada por repórter e fotógrafo que fazia o plantão da madrugada na redação -- num tempo em que ainda havia plantões, jornalistas e redações -- me tirou da cama antes do galo cantar.»

«A última lembrança».  «Ele disse que não queria me ver nunca mais, nem pintada de ouro.»

«Decisão». «Foi dele mesmo a decisão de se mudar para a casa de repouso -- Solar da Amizade, estava escrito na placa de madeira -- e também a escolha do asilo.» 

«A crooner do Norte». «Hoje eu me lembrei de você, Cauby.»

«Deus sabe». «Quando minha mãe vinha com a trouxa de roupas descosturadas ou precisando de remendos, eu já ficava nervosa.»

«Tempos difíceis». «Cenário: Ponto de ônibus.»

«Cada um sabe de si.» «Lucinha chega ao trabalho com uma mão no olho e outra na boca, cobrindo o hematoma no supercílio e o machucado no lábio.»

«Cruzamento». «Ainda lembrava como se tivesse acontecido ontem do dia em que ela chegou com os olhos duros, aquele mesmo par de olhos que já amolecera tanto antes dos seus.»

«Os caçadores e a caça (Um conto de Natal)». «Na volta da escola, caminhando às margens da belíssima lagoa que ilumina e transluz no crepúsculo, o menino vê o homem passar correndo.»

«A vida é troca». «A vida é dura, doutor.»

«Mais cedo ou mais tarde o teto desaba». «A cena se passa no ano de mil novecentos e setenta e um.»

«Ainda tem sol em Ipanema». «De mãos dadas, Sergio e Clara pulam das pedras do calçadão para a areia morna e caminham para o mar.»

Luís Pimentel, Ainda Tem Sol em Ipanema (2022)

Prémio Ferreira de Castro / 2021

apresentação: Museu Ferreira de Castro, 30-IX-2022, 18 h.

(estão todos convidados)


quarta-feira, setembro 28, 2022

«Stonemilker»

quadrinhos


Jacques Tardi e Didier Daeninckx, Varlot Soldado (1999)

 

a Rússia com o problema resolvido (ucranianas CXXIX)

 Quer dizer: já não sai do Donbass, como era previsível, e também duvido que largue Kherson -- ou o que quer que seja, o que é muito bem feito para quem andou estes anos a provocar e a fazer de peão dos americanos. 

Ah, claro: há sempre a possibilidade de a estratégia americana resultar com o desgaste interno. Eles andam há anos a tentar. Acabam de aprovar o auxílio  de mais doze mil milhões de dólares para a guerra em que só os ucranianos irão perder.

A UE se não se desembaraça da Úrsula y sus muchachos está com os dias contados, o que é uma pena.

segunda-feira, setembro 26, 2022

«Lines In Sand»

Giorgia on my mind (continuem. que vão bem)

 

Giorgia Meloni tem o pecado original do fascismo, de que se quis distanciar -- no entanto o símbolo do partido desmente-o. Faço ideia os rios de tinta e o latim gasto com a ascensão desta mulher -- não sei neste momento se neo-fascista, se ultaconservadora. Mais do que conservador, um fascista é um contra-revolucionário, um reaccionário extremista, violento, ressentido e por norma cobarde.

O cenário para já, parece-me este: a julgar pelo que se tem dito ela é uma mulher de convicções e inteligente -- a inteligência política poderá centrá-la --; mas terá que ter cuidado com o principal aliado, Salvini, um faz-tudo, oportunista, modelo dos políticos de taberna como a anedota que dá pelo nome de André Ventura (zero convicções, tudo ambições); e Berlusconi, um artista de variedades, cadáver adiado da política italiana, cujo desígnio parece ser a presidência da República. vai ter que se precaver com a UE. A França já mandou recados, como se tivesse grande autoridade para falar, no que toca aos migrantes que lhe chegam. Mas a Itália é um grande país, e portanto a UE vai ter que falar fininho.

As minhas irritações

1.a politicalha medrosa, calculista e enganadora, cujo grande desígnio é a gestão da própria permanência no poder: os Sanchez, os Macrons, os Boris desta vida, sem esquecer o Costa das pensões e do todos e todas (credo...); e do Montenegro da troika, do leite achocolatado e do chumbo do pec iv, que aparece agora a consolar velhinhos, depois de os terem roubado e aumentado as rendas miseravelmente.

2. o wokismo imbecil, que entretanto domina já as corporações -- quem não se lembra de um merceeirx qualquer que foi ou é administradorx da TAP, e que, não lhe bastando ser saloix, identificando o cargx que ocupava em estrangeirx, deixou de ser chairman, passando a chairperson,?; ou do poderoso lóbi lgbt, Mickey em tons de arco-íris promovido pela Walt Disney Company (melhor que isto foi quando o dito lóbi avançou, sem sucesso, felizmente, com a tentativa de homossexualizar o Egas e o Becas, coisa duma pertinência enorme -- "direitos humanos, pá!...")? Por cá, a perseguição aos alunos e família de Famalicão por outra anedota que era secretárix- de-estadx e hoje ministrx-- ahahah...

A malta chateia-se, enerva-se, e depois vota na Meloni. Continuem, que vão bem.


1 disco, 1 faixa: SEVEN COMPOSITIONS TRIO (1989) - #3. «Composition 40J / Composition 110A ((+108B+69J)»

domingo, setembro 25, 2022

desenhar a morte

Jacques Tardi (n. 1946) é um dos mestres da banda desenhada europeia, um estilo único; mais do que herdeiro da linha clara de Hergé e Jacobs, foi alguém que a transfigurou, tornando-a marca pessoal imediatamente reconhecível. Neto de um soldado das trincheiras, a Grande Guerra é um tema obsidiante neste autor, que, logo no verso do frontispício, avisa-nos ao que vem: «Tenho a impressão de que não podemos fugir à guerra. Mesmo nós, mesmo hoje. / A guerra que mostro não é mais que o décor de 14-18, os uniformes. / Acho que continua actual, o que me inquieta.» Neste álbum, com argumento do romancista Didier Daeninckx (n. 1949), a insanidade da carnificina do conflito mundial de 1914-18 aparece carregada na sua crueza pela utilização magistral do preto e branco, com terra e carne humana retalhadas pelos projécteis arremessados por todas as bocas de fogo, abrindo crateras no lamaçal da Flandres. Duas vinhetas por página são quanto basta para a respiração do texto de Daeninckx: «Uma tonelada de pólvora da casa Krupp destruiu tudo: os mortos, o pelotão, a pocilga onde nos tinham fechado.» A trama, sendo simples, é rica, explorando os quiproquós em que a comédia humana é fértil, aqui exponenciados pelos desencontros da guerra, à rectaguarda: o hospital de campanha, o bordel, os desertores com destino marcado.

Varlot Soldado (1999)

Argumento: Didier Daeninckx

Desenhos: Jacques Tardi

(EdiçõesPolvo, 2001)

(2019)





«Imigradan»

sábado, setembro 24, 2022

recordando as premissas básicas desta guerra, ou da honestidade intelectual (ucranianas CXXVIII)

 Primeira premissa: o conflito no Donbass, que opõe russos e ucranianos, e tudo o que decorreu desde 2014, ou seja, uma guerra que leva oito anos e que a diplomacia própria (Rússia-Ucrânia) e alargada não resolveu.

Segunda premissa: a interferência insolente norte-americana no coração russo -- Kiev (por alguma razão tem sido poupada) --, o culminar de um cadastro de alargamento da Nato às fronteiras da Rússia, que só os inocentes não vêem (desconto os aldrabões de serviço).

Conclusão: a não ser que a estratégia americana saia vitoriosa -- a corrosão do poder na Rússia, com o afastamento de Vladimir Putin --, a Ucrânia como a conhecemos já foi.

Vale isto uma guerra? Para nós, confortavelmente sentados à beira da Finisterra, cm uma história de 900 anos em que só queremos que nos deixem em paz, nem percebemos bem o porquê. Mas falamos com a barriga cheia de estado-nação; só tivemos disso vislumbre quando os povos por nós colonizados decidiram achar que já chegava. Para os outros, a começar já aqui ao lado na Catalunha, no País Basco ou até na Galiza, da Flandres à Escócia, da Bretanha ao Donbass, vale o que tiver de valer.

A História é como as dívidas dos países; não se resolve, gere-se, já dizia Sócrates, José.

«Don't Panic»

sexta-feira, setembro 23, 2022

a revolta das mulheres (e dos homens), carros da polícia a arder, imagens tão belas, só falta incendiar os aiatolas, se Deus quiser

Direito Internacional , é claro, mas só para alguns (ucranianas CXXVII)

 Um código civilizacional muito útil para manter a paz entre os estados que a ele se sentem ou são obrigados. Inútil quando se trate de Estados Unidos, China ou Rússia, ou países bem respaldados pelas grandes potências, v.g. Israel Os exemplos estão aí à mão, não me fatigo a escrevê-los outra vez.

Dito isto, é óbvio que os referendos são uma farsa, coisa que não sucedeu na Crimeia. Mas então o Ocidente alargado não quis saber. É agora a vez de os russos também não quererem saber. Pessoalmente, acho muito bem que os russos do Donbass e outras regiões vejam acolhida a pretensão de se juntarem à sua pátria. É a vida -- e além disso, não suporto hipócritas.

200 anos da Constituição - "A soberania reside essencialmente em a Nação"

Domingos Sequeira, Alegoria à Constituição de 1822

 

marginália

 

Anátema (1851), o primeiro romance de Camilo, meia dúzia de anos depois da estreia, em verso, com o bonito título Os Pundonores Desagravados...

Diz a contracapa da minha edição que o Camilo do futuro já lá está, e é verdade. O Camilo sarcástico, corrécio, inconveniente e iconoclasta; o escritor a metro, mas um metro abençoado, pois havia que fazer render o peixe do folhetim, diz-me o Alexandre Cabral. naquele invejável Dicionário, que publicado em 2-jornais-2, em Lisboa e no Porto --, o estilista límpido e poderoso. 

Completava vinte e seis anos, e os grandes eram então Garrett, Herculano e Castilho, aparecendo dizendo estar-se nas tintas para o romantismo e respectivos ideais revolucionários, que desprezava. «Escola militante» e «sociedade aspiradora», são duas expressões que dão ideia do vezo polémico deste grande reaccionário, que foi temível e destrutivo, quando queria. E em tom de desafio encerra a apresentação do livro: 

«O escritor destas coisas ainda não abriu matrícula, nem pede que o inscrevam ainda à custa de uma boa reputação de folhetinista. Se a escola, em nome do século, do futuro e da humanidade, o interrogar pela substância útil deste apontoado de palavras, o autor não lhe dá resposta alguma. / Dito isto, começa-se.»

É impossível não adorar este desavergonhado de génio.

quinta-feira, setembro 22, 2022

«A Bala»

a arte de começar

 «Este começa por onde acabam os outros.»

Camilo Castelo Branco (1825-1890), Anátema (1851)

caracteres móveis

 «Em todo os estados e em toda a condição social o homem bem educado é um homem superior. O homem sem educação, por mais alto que o coloquem, fica sempre um subalterno.»

Ramalho Ortigão, As Farpas  II - As Epístolas

«O Novo Normal»

quarta-feira, setembro 21, 2022

duas notas breves sobre a alocução de Putin (ucranianas CXXVI)

1. Só ouvi excertos e cometários na rádio. Descontada a retórica anti-nazi (embora os neofascistas tenham na Ucrânia e noutros países um poder e influência tenebrosos), Putin tem toda a razão no que respeita às manobras dos americanos e respectivos cães-de-fila.

2. Não que as dificuldades militares não existam e não tenham surpreendido os russos, a têmpera guerreira ucraniana e o auxílio decisivo do ocidente alargado em armas e informações. Mas custe mais ou menos, leve mais ou menos tempo, não vejo grandes hipóteses para a Ucrânia, a não ser que as estruturas políticas ruam por dentro, a partir do Kremlin, no que seria uma vitória retumbante dos Estados Unidos, demonstrando o acerto da sua estratégia.

Não é isso que penso, com os dados que tenho, que são os de toda a gente: a Rússia vai abocanhar parte da Ucrânia -- veremos o quanto --, não haverá Ucrânia nenhuma na Nato, embora agora tenham a Finlândia à porta. muito bem enrolada. A rússia terá sempre uma vitória amarga; os americanos irão dar combate até os ucranianos ficarem exangues. Uma tragédia sem inocentes e com uns mais culpados que outros -- mas não são os russos.

Esta Noite Improvisa-se (no TEC)


 

terça-feira, setembro 20, 2022

«I Hear You Paint Houses»

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 «A arte não avança, move-se.» 

José Saramago, Cadernos de Lanzarote I (1993)

segunda-feira, setembro 19, 2022

«Drive»

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 «Metade daquilo que valemos, moralmente e intelectualmente, devemo-la aos contactos e às sugestões dos indivíduos que nos têm rodeado através da existência.»

Ramalho Ortigão (1836-1915), As Farpas (1887-1890), vol. II 

domingo, setembro 18, 2022

continuem a fazer de nós parvos (ucranianas CXXV)

 Crimes de guerra. Já disse aqui o que penso sobre o assunto. Sobre os alegados de Izium, noto que o que foi assinalado como "vala comum " de mais de quatrocentos corpos com crucifixos, são na verdade valas comuns. Com crucifixos? A sério: os soldados russos iriam matar, abrir campas e ainda por cima colocar-lhes cristãmente uma cruz? Tomem-nos por parvos, mas não todos. A vala comum que parece realmente existir, com soldados ucranianos, essa sim é mais consentânea com as circunstâncias, ou seja: o inimigo tem de dar destino aos cadáveres, não od deixando apodrecer a céu aberto ou comidos por animais. Aí, sim, a ocorrência de vala comum faz todo o sentido. As centrais de propaganda a fazerem o seu trabalho, sabendo que a maioria não pensa, a começar pelos pobres pivôs de televisão, que teriam obrigação de o fazer. Quanto a tortura, salas da dita e parafernália digna da Inquisição, não faço a mínima ideia. Quando uma entidade credível como a Amnistia Internacional se pronunciar será outra coisa. Para já estas pseudonotícias valem zero. E mais uma vez, a rapidez orquestrada da difusão, como de costume, com ingleses e americanos, além dos checos tão lestos a pedir a constituição de um tribunal internacional, cheira mal, como eles.

O chorão do Pentágono. Foi um dos que apareceu a denunciar os crimes de guerra. Desta vez não verteu uma sentida lágrima. Testemunhar um tipo do Pentágono a chorar pelas vítimas da guerra é tão grotesco e atroz como ver um padre pedófilo no meio das criancinhas, abjecta canalha.

Democracia plena. A Hungria sancionada pelo Parlamento Europeu, presidido pela doida maltesa; a Polónia deixada em sossego. Por que será? Não andam fatigados de serem tomados por parvos?

«Dounia Tabolo»

sábado, setembro 17, 2022

pedir desculpa, patriotismo e individualismo distorcidos

 Wiriyamu foi ontem, A Guerra Colonial, um crime contra os povos africanos e português -- este também grande vítima de uma cupidez embrulhada num oitocentismo serôdio, insensato e, meço bem a palavra, criminoso. Ora acontece que o massacre perpetrado ontem em Wiriyamu o foi às ordens do mesmo estado e governo do país que hoje é representado por António Costa, que esteve, por isso muito bem. Eu, que nunca fui soarista, considero que um dos mais belos gestos da presidência de Mário Soares foi o pedido de desculpa aos judeus pelas perseguições sofridas no país entre os séculos XV e XVIII (e que tanto prejudicaram Portugal). O país saiu então engrandecido, e eu senti-me orgulhoso com essa contrição. 

O pseudonacionalismo oportunista e politiqueiro logo se manifestou pra arrebanhar simpatias de taberna, com este triste episódio em Moçambique, Não se mencione mais o lixo. Mas também não percebo quantos, como Pacheco Pereira, justificando terem sempre sido opositores ao colonialismo e à guerra, criticam o gesto mais do que justo e necessário do actual Primeiro-Ministro, que obviamente não o fez enquanto António Costa, nem precisava.

sexta-feira, setembro 16, 2022

quinta-feira, setembro 15, 2022

Mortimer encontra o Joker

 

O pastiche e a paródia, sobretudo em forma de homenagem, é uma prática comum em BD. Talvez o melhor exemplo seja a brincadeira de Uderzo e Goscinny com o pirata Barba Ruiva e tripulação, que vogavam nas páginas da revista Pilote, onde Jean-Michel Charlier e Victor Hubinon faziam publicar as aventuras do bucaneiro do 'Gavião Negro', as mesmas folhas que davam guarida a Astérix. E tão bem sucedida foi a graça, que os piratas recorrentemente postos a pique nos álbuns do pequeno gaulês se tornaram mais conhecidos que as personagens originais... A paródia pode mesmo constituir-se como subgénero: na revista Mad tem aí um dos seus pratos fortes; no mundo franco-belga, está nas bancas, inclusive em edição portuguesa, a bem sucedida charge a Blake e Mortimer, As Aventuras de Philip e Francis, de Nicolas Barral e Pierre Veys.

O pequeno volume da colecção «Quadradinho» #16, da autoria de Miguel Abrantes (Lisboa, 1960) e Miguel Rocha (Lisboa, 1968) é um despretensioso exemplo destas recriações. Título e capa remetem de imediato para as personagens de E. P. Jacobs: o primeiro é um divertido achado, combinando O Enigma da Atlântida  e A Armadilha Diabólica; o protagonista inominado, com barba passa-piolho, lembra o Prof. Mortimer, enquanto que o vilão não é o Coronel Olrik, mas um certo Conde Moloch, com acentuados traços do insano Joker, deslocado de Gotham para o lugar de Orelhos, onde se situa o solar lúgubre em que decorre a acção; em perigo e a pedir salvação, uma frágil jovem parecida com Adèle Blanc-Sec.  Melhores os desenhos que o texto, mas o conjunto funciona.  
O Enigma Diabólico (Associação Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, 1998)

(2019)





«As Sylvie Was Walking»

quarta-feira, setembro 14, 2022

caracteres móveis

  «Não sou clássico nem sou romântico; de mim digo que não tenho seita nem partido em poesia (assim como em coisa nenhuma); e por isso me deixo ir por onde me levam minhas ideias, boas ou más, e nem procuro converter as dos outros; isso é para literatos de outra polpa, amigos de disputas e questões que eu aborreço.» 

Almeida Garrett (1799-1854), Camões, nota à 1.ª ed., 1825

terça-feira, setembro 13, 2022

«The Mysterious Vanishing of Electra»

uma guerra stalinista, segundo um general da nato (ucranianas CXXIV)

 O major-general Isidro Morais Pereira, comentador da guerra, apresentado como ex-representante de Portugal na Nato, não tem, neste particular, deixado os seus créditos por mãos alheias. No outro dia, compungido com a destruição provocada pela guerra, disse que os russos levam a cabo uma "guerra stalinista" na Ucrânia, pelo volume de destruição infligido. Dando de barato ao major-general a bestialidade da guerra, e recordando que as malfeitorias infligidas pelo Zé Estaline aos alemães na II Guerra foram para baixo de um décimo da que foi exercida por Hitler a todos os povos da União Soviética (russos e ucranianos à cabeça), o lamento do general suscita-me duas observações: a primeira prende-se com a orografia do território, insusceptível de confronto em campo aberto, em especial quando a desproporção de meios é grande, sendo, portanto, nas cidades e ao seu redor que as refregas acontecem; em segundo lugar, esqueceu-se de que a defesa ucraniana colocou o arsenal bélico dentro, em cima e em torno dos edifícios, ocasionando aquelas imagens de civis usados como escudos humanos, que a insuspeita Amnistia Internacional denunciou, para raiva dos propagandistas do "Ocidente alargado" -- uma maneira de os comentadeiros se referirem aos Estados Unidos sem lhe dizerem o nome.

Acho também extremamente cómico este general Nato, intelectualmente propulsionado pelos nossos (deles) valores, que, como sabemos, são muito democráticos, e até liberais... Nem é preciso recordar a liberalidade com que despejaram napalm no Vietname, faz meio século; ainda há pouco levaram a democracy (os nossos, deles, valores) aos iraquianos chacinados.

Podemos chamar muitos nomes ao Putin (eu, nem por isso, até ver): que tem um nacionalismo distorcido, que é ditador ou mesmo um mauzão (esquecendo-nos que ele salvou a Rússia da debâcle e está a prevenir hoje voltar ao caos dos tempos de Ieltsin -- mas isso é outra história, certamente contestável e com sombras várias). O que não se pode dizer do Putin é que ele invadiu a Ucrânia para rapinar as riquezas do país, como os democráticos e liberais americanos fizeram no Iraque.  Esses arautos do "Mundo Livre" -- criminosos de guerra -- ainda mexem e têm nome, sendo Biden, volto a lembrar, com o seu voto favorável à invasão, no mínimo cúmplice e co-responsável moral pela miséria de que foram agentes, o crime mais hediondo de que fomos testemunhas. 

A Guerra da Ucrânia, perversa, como todas as guerras, não tem mais nem menos valor do que a guerra no Tigré (em África) ou no Iémen (na Ásia), que estão aí a decorrer na indiferença de todos.  O resto é conversa fiada é para tolinhos.

segunda-feira, setembro 12, 2022

»The Gift»

aconselho um pouco de calma (ucranianas CXXIII)

 Nota prévia: sou ignorante em muitas matérias, uma das quais a que concerne à táctica militar. A opinião que se segue estriba-se no que ouvi entre sábado à noite e hoje de manhã a três militares -- Mendes Dias, Arnaut Moreira e Isidro Morais Pereira --, todos partidários de uma derrota russa, embora, quanto a mim, apenas o primeiro se mostrasse objectivo e isento.

A contra-ofensiva ucraniana parece ser um facto, tal como os russos parecem ter sido surpreendidos, pelo que, a acreditar nas imagens vindas a público, estaremos entre a fuga, pela surpresa do ímpeto atacante e a retirada táctica, para reagrupamento e contra-ataque.

Não sei se o que fez a diferença foi o tal armamento ocidental; pelo que tenho ouvido, não terá sido decisivo, como desde o início sucede, o auxílio da Nato nas informações prestadas -- além, obviamente do ímpeto de quem defende o país, de onde deveremos retirar o Donbass, de maioria russa e em guerra desde 2014 (o que serve para os ucranianos serve também para os russos), para não falar na Crimeia, russa até à medula, reposta que foi a normalidade, corrigindo-se a parvoíce etilizada do camarada Krushtchev,

Passando da táctica para a estratégia, só podemos arriscar prognósticos, pois ninguém ainda sabe como isto vai acabar e se o bom senso irá prevalecer em ambos os lados:

A Rússia sairá sempre vitoriosa, embora parcialmente, se mantiver Donetsk e Lugansk -- a Crimeia é um dado mais do que adquirido --, além da interdição permanente da pertença da Ucrânia à Nato (quanto à UE, vamos ver); será derrotada se algum destes pressupostos não se verificarem -- para além da derrota objectiva que significa a adesão da Finlândia e da Suécia; no entanto estas não têm, nem de perto nem de longe a importância, desde logo simbólica que a Ucrânia tem para a Rússia.

Mas pode ser que o bom senso não impere, que o Pentágono -- a entidade que está a dar guerra aos russos utilizando a mão-de-obra ucraniana -- ache que pode alcançar um pouco mais e contribuir para a queda de Putin, o grande objectivo, uma jogada muito arriscada. Nesta altura, como mencionou Mendes Dias, há na Rússia mais radicais que o Putin no que respeita à Ucrânia e à guerra surda -- e agora sou eu que digo -- que os Estados Unidos lhe movem, com a cumplicidade perversa ou a subserviência enconada europeias, conforme os casos. Os próximos tempos dirão o que irá prevalecer, tudo depende da habitual ponderação dos interesses em jogo de cada parte.   

Quanto à situação no terreno, aconselho calma e algumas orações concernentes à resposta russa. Demasiado importante, Kiev tem sido poupada, e esperemos que assim continue.

   

sábado, setembro 10, 2022

quadrinhos

Marta Teives e Pedro Moura, Os Regressos (2018)

 

sexta-feira, setembro 09, 2022

«Richard»

mil quilómetros quadrados (ucranianas CXXII)

O massacre pseudonoticioso a propósito da morte de Isabel II tem-nos poupado por um instante às manobras propagandísticas dos assessore do Pentágono. A última, impagável, é a da contra-ofensiva ucraniana ter ganho já mil quilómetros quadrados. Qualquer dia estão em Moscovo, o que não é de estranhar, com os pobres dos soldados russos a terem de fazer crowdfunding para arranjar botas. Vergonha alheia.

«Ondas do Mar»

quinta-feira, setembro 08, 2022

que era isabelina?

Designação de certo modo, inevitável, com setenta anos de reinado. Mas a História dirá. A sua homónima, Isabel I, também de longo reinado (quarenta e quatro anos) é a rainha da afirmação marítima do país -- depois de desbaratada a Invencível Armada, de Felipe II --, a soberana de Francis Drake, Walter Raleigh, mas também de Shakespeare ou John  Dowland -- a era isabelina, o teatro isabelino, sobressaindo do âmbito mais largo da dinastia Tudor. Este brilho irá preparar o apogeu inglês e britânico noutro longo reinado (sessenta e quatro anos), o de Vitória, imperatriz das Índias. O que foi a era vitoriana, creio que ainda hoje o sentimos: de Disraeli a Dickens, de Darwin a Thomas Hardy, dos Pré-Rafelitas a Elgar, e um longo etc. -- é quase parvoíce desfiar nomes.

Com Isabel II, de Churchill a Thatcher, a inevitável desagregação imperial, uma transformação vertiginosa, entrada e saída na UE. Entre muitas outras coisas, vai ser o período dos Beatles, oh se vai, mas também dos Sex Pistols e dos Smiths. E bom é que assim seja, pois irá sedimentá-la mais no tempo histórico que viveu.

quarta-feira, setembro 07, 2022

«Brinde»

"Leitor de BD", o derradeiro


Marcela Godoy e Renato Guedes, papa-Capim -- Noite Branca

 aqui

terça-feira, setembro 06, 2022

da miséria estratégica da União Europeia (ucranianas CXXI)

 Ouvir a horrível galinhola que preside à Comissão Europeia falar na chantagem do gás por parte da Rússia, ou dá para rir ou para partir a televisão. Se não, vejamos:

Em vez de ser uma terceira parte, cooperando activamente para dirimir a questão do Donbass, a União Europeia pôs-se sob as ordens dos americanos, não só cooperando activamente na intoxicação da sua opinião pública, como ladrando ferozmente a cada pacote de sanções. Quando a Rússia responde, recorrem à dramaticidade das grandes expressões, como a chantagem energética, etc. 

Ao fazerem dos europeus estúpidos, não se importam eles próprios de fazer figura igual. É preciso ter uma grande paciência para aturar esta malta. Era bem feito que a Rússia cortasse o gás todo, para que a UE aprendesse a não ser um mero boneco da estratégia americana.

Acho também muita graça às luminárias que dizem que a Rússia está cada vez mais dependente da China, avançando com uma espécie de satelitização, quando a União Europeia, que contém no seu seio países como a Alemanha, a França, a Itália e até há pouco o Reino Unido, não consegue ter uma autonomia estratégica e uma manifestação de vontade como, por exemplo, a Índia, o Brasil ou até a África do Sul.

A União Europeia, que poderia ser um player (como agora se diz) respeitado, e fazer-se respeitar quer pela Rússia quer pelos Estados Unidos (para não falar da China) é, ao invés, esta miséria, desprezada por russos e americanos, com todas as consequências que daí advêm.

Nunca alinhei na conversa da falta de estadistas, não gosta nada da ideia de "homens providenciais" -- mas perante os homúnculos políticos que lideram a Europa e os respectivos governos nacionais, a situação é mesmo esta: o desprezo que vem com a subserviência; o risco de se tornar numa grande Ucrânia, ou seja: um território onde outros combatem.

Ao contrário do que se diz por aí, a situação está como está porque a União Europeia como realidade estratégica é um mero actor passivo.  

segunda-feira, setembro 05, 2022

«Yadra»

Pacheco Pereira driblado por João Oliveira (ucranianas CXX)

 Ao contrário doutros que andam para aí a falazar, Pacheco Pereira não é um palonço ou um simplório; no entanto, parece que algo se lhe tolda em momentos cruciais. Foi assim (se a memória estiver a atraiçoar-me, alguém corrija) com a justificação / apoio / compreensão com a malfadada guerra do Iraque. 

A posição do PCP é essencialmente correcta, embora muito fácil de ser contestada. Não é porém a minha. Enquanto o partido -- responsabilizando principalmente a Nato, consegue encontrar uma malfeitorias à Rússia capitalista --, eu, deplorando embora a guerra, acho que dificilmente haveria outra alternativa senão a de conter a bandidagem do Pentágono, que manobra e tem a soldo o governo ucraniano, além da boa-vontade do quarteto maravilha das instituições europeias, executando, até ver, o que os americanos mandam fazer.

A verdade é que João Oliveira toureou facilmente Pacheco Pereira. em especial quando este veio com a história da carochinha de que a Nato até havia recusado a entrada da Ucrânia, sendo lembrado pelo ex-deputado do PCP dos exercícios da mesma Nato em solo ucraniano, no ano passado -- tendo ficado na memória aquela provocação do navio de guerra britânico no limiar das águas da Crimeia, e cujo mensagem do lado russo foi: "pela vossa saúde, dêem meia volta".

Chegou a ser cómico. Praticamente não vejo a sic, mas ontem quis assistir. Foi um bom entretenimento.

uma apologia da ruralidade

 

Madalena regressa à aldeia onde viveu parte da infância com a avó paterna, havia pouco falecida, num reencontro com o espaço e o tempo em que foi feliz. Criança diferente, aberta aos sinais da Natureza, girando de médico para psicólogo, os pais decidem-se a deixá-la aos cuidados da avó, a única que não a punha em questão, fazendo perguntas dolorosamente incrédulas a respeito dos relatos da pequena, após as sortidas à floresta, nas imediações da casa. A partir daqui, tece-se uma narrativa de rememorização e perda, até Madalena se integrar no seu derradeiro lugar.

A capa, comecemos por aí, em que predomina a cor verde, dá-nos a imagem de uma jovem mulher à beira-rio, fumando e lendo um livro -- que no interior saberemos tratar-se dos contos de Julio Cortázar, Todos os Fogos, o Fogo, e que ocasionalmente se atravessam na narrativa. O reflexo da água dá-nos a mesma Madalena, mas ainda criança. A imagem prolonga-se para a contracapa, e o tom da clorofila cede aos castanhos de um grosso tronco, provavelmente um carvalho, ao centro do qual lemos o mote, como que inscrito na casca: "Nunca regresses ao lugar onde já foste feliz."
Numa BD, a prancha inicial é tão importante quanto a primeira frase ou o primeiro parágrafo de um romance. Em Os Regressos, quatro vinhetas (uma dela funcionando como duas) incidindo sobre a linha de caminho-de-ferro, condensam o tom da história: a partir da vista aérea panorâmica, a imagem vai fechando-se progressivamente até ao pormenor da máquina sobre os carris, à beira de trucidar um pequeno pássaro campestre. Mas a narrativa começa ainda antes da primeira página, em quatro vinhetas dispostas no frontispício e no verso deste -- recurso repetido no fim --, revelando um cuidado com o detalhe narrativo, sem dúvida um dos aspectos fortes do livro.
Trata-se, em suma duma apologia do mundo rural, com o que este pode revelar para lá das evidências. Texto de Pedro Moura (Lisboa, 1973) que respira muito bem nas pranchas de Marta Teives (Lisboa, 1977), com recurso sabiamente doseado quer à elipse quer ao pormenor, como requer uma narrativa desenvolta, lograda pelos autores. O trabalho da autora mereceu, aliás, o prémio para o álbum com melhor desenho do Amadora BD em 2018. Dito isto, o autor destas linhas, talvez por defeito seu, está longe das visões idílicas da ruralidade, muito distante da estesia pagã que o livro veicula, pois nem o campo se constitui necessariamente como lugar de harmonia em que o todo universal se funde nem a cidade forçosamente obriga ao império do gadget e do prozac. Cidade, idealmente, é sinónimo de civilização; o campo, sê-lo-á, ou não. (Polvo, Lisboa, 2018)
(2019)





domingo, setembro 04, 2022

sábado, setembro 03, 2022

caracteres móveis

 «Deus passa de lado e vê, mas não diz nada sobre a miséria destes seres que ele criou.»

Paulina Chiziane (1955), Niketche -- Uma História de Poligamia (2002)

«Pedestrian At Best»

sexta-feira, setembro 02, 2022

dois nomes óbvios para o Prémio Camões

Maria Teresa Horta (1937)

António Barahona (1939)

(tenho outros, menos óbvios que estes, qualquer deles -- guardo para depois)


o futuro de Portugal

 O futuro de Portugal está no seu passado. No conhecimento dele, e principalmente na sua língua, falada pelo povo e trabalhada pelos escritores -- os que são trabalhadores, os verdadeiros, os que ficam.  (E sim, também a música e as artes do risco. As artes de risco.)

O resto é nada: aeroportos, hubs, manadas turísticas, lítio, escória, porcaria, zero, nada.

um simplório (ucranianas CXIX)

Uma personagem chamada Pedro Marques Lopes, que surgiu do nada e paga tributo constante ao vazio, caiu-me no café da manhã, porque comprei a Visão. Não sou masoquista, e portanto não o leio-o, sempre que me dá para adquirir o hebdomadário; mas como hoje a luminária escrevia sobre a Ucrânia, fui ver, sabendo de antemão dali sairia uma parvoiçada. Há tipos sofisticados, que sabem embrulhar o recado -- no magazine encontram-se alguns, e quem não os tope, até pensa que se tratam de tipos sérios. Este, não; deve ser mesmo sério, mas é como aquelas crianças que acreditam em tudo no que dizem os adultos. O artigo só está disponível para assinantes (não vale o incómodo e o preço), mas resumindo, na guerra da Ucrânia há os bons e os maus, (sofisticação analítica do W. Bush, os evils doers, quem se lembra?) e desta grelha o pobre não sai. Como ele, a perorar inanidades há-se-os aos pontapés, mas não é esta publicação que passa pela news magazine, assim mesmo em estrangeiro, líder não sei do quê na imprensa portuguesa? A sério? Ainda estou para ver o criaturo de facha azul e amarela, de preferência com uma lágrima artisticamente executada.

quinta-feira, setembro 01, 2022

«Old Churchyard»

do risco da sinceridade

Um dos riscos de escrever o que se pensa, como aconteceu no post abaixo, é poder ser confundido com vendidos, cuja associação me provoca náuseas. O facto de eu ser totalmente crítico do bolchevismo, não significa que não sinta muita estima -- e nalguns casos até amor -- por gente do PCP, nada de confusões. Seria para mim repugnante estar no mesmo comboio que o serafins saudade do bolsar comentarial a propósito da Festa do Avante!, à qual não irei porque tenho o Guincho à minha espera. O cartaz deste ano é notável; quem me dera lá estar.