domingo, março 31, 2024

3 versos de Alexandre O'Neill

«Deixa ainda / o que a álgebra mais secreta / decidiu a teu favor.» Tempo de Fantasmas (1951)

«Deep End (Paul’s in Pieces)»

150 portugueses: 16-20

16. Sá de Miranda (1481-1558). Poeta renovador, homem de fibra, "de antes quebrar que torcer".

17. Tomé de Sousa (1503-1579). O primeiro governador-geral do Brasil.

18. Vasco da Gama (1469 - 1524). Um dos nomes míticos de Portugal. A realidade tornará tudo mais complexo.

19. D. Afonso II (1185-1223). Terceiro rei de Portugal.

20- Bartolomeu Dias (c. 1450-1500). O navegador que talvez melhor represente a grande história trágico-marítima.

sábado, março 30, 2024

serviço público

5 versos de Fernando Jorge Fabião

«a mesa do poeta / é frágil como os seixos sem idade / é um campo largo / devastado pelas cinzas / de um vulcão extinto.»  Nascente da Sede (2000)

sexta-feira, março 29, 2024

Duke Ellington, «Jack the Bear»

curtas

«A maré transbordava pelas praias, desenhando uma extensa linha branca, que, desde a Capela do Senhor da Pedra, corria, perdendo-se nos areais de Espinho.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894) «E ao outro dia, ainda impressionado, sentou-se à sua carteira com a janela toda aberta, e olhando o prédio fronteiro, onde viviam aqueles cabelos grandes -- começou a aparar vagarosamente a sua pena de rama.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst., 1902) «Ela quase murcha ia-se consolando pelo olhar vago e longínquo do estudante vestido de negro --, a capa e batina dava-lhe um tom de luto que muito preocupava a tenra Branquinha.» Ruben A., «Branca», Cores (1960)

quinta-feira, março 28, 2024

150 portugueses: 11-15

 

11. Leonor de Avis (1458-1525). Se calhar, a nossa maior rainha consorte.

12. M. Teixeira-Gomes (1860-1941). Um dos maiores escritores. Único chefe de estado que renunciou ao cargo e mandou as elites do país à fava.

13. Nuno Álvares Pereira (1360-1441). Guerreiro e monge, latifundiário e santo.

14. Passos Manuel (1891-1852). Governante liberal, uma das glórias das esquerdas.

16. Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Um génio que nos definiu, com o Zé Povinho

Bob Marley & The Wailers, «Zion Train»

caracteres móveis

«As pálpebras arregaladas, a pele crispada da cara, as sobrancelhas de repente revoltas, tudo isso, qualquer o pode verificar, é que se descompôs pela angústia.» José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira (1996)

«Sobressaltada e deixando a visita com a chávena entre o pires e o lábio peludo, D. Mariana galgou corredor e salas, angustiada por ruim pressentimento.» Álvaro Guerra, Café República (1982)

«Trazia os olhos baixos, a boca travada de ira.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

quarta-feira, março 27, 2024

quadrinhos

fonte

 

150 portugueses: 6-10

6. Filipe I (1527-1598) - Filho de portuguesa, herdou, pagou e conquistou. Foi rei de Portugal, país de que gostava, e também do que ele tinha para acrescentar ao seu vasto império, onde o Sol nunca se punha. A História conhece-o como Filipe II.

7. Gago Coutinho (1869-1959) - Um almirante que ficou para a história como aviador.

8. Henrique I (1512-1580) - De inquisidor-mor a rei.

9. Inês de Castro (c. 1320/25-1355) - Uma galega tornada no maior mito português.

10. Jaime Cortesão (1884-1960) - Historiador-poeta, o maior do século; médico e homem de armas, pela liberdade.

terça-feira, março 26, 2024

Bob Seger, «Lucifer»

entrar com o pé direito

É de pequenos gestos de civilidade que se constrói todos os dias a comunidade. O convite do PSD a António Filipe para presidir à abertura da sessão legislativa é disso um bom exemplo. O mesmo se diga do convite de António Costa a Marcelo para presidir ao último Conselho de Ministros.

150 portugueses (agora é que é - para blogue futuro) 1-5

1. D. Afonso Henriques (1109/11-1185) - Primeiro rei de Portugal e criador dos portugueses.

2. Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) - Cientista, sacerdote, personagem de romance.

3. Calouste Gulbenkian (1869-1955) - Mecenas, coleccionador de arte, engenheiro petrolífero.

4. Damião de Góis (1502-1574) - Cronista e diplomata.

5. Eça de Queirós (1845-1900) - Escritor e diplomata.

(recordando os pressupostos)

segunda-feira, março 25, 2024

John Coltrane, «Cousin Mary»

curtas

«Mas à noite estava sentado fumando à janela do seu quarto: era em Julho e a atmosfera estava eléctrica e amorosa: a rabeca de um vizinho gemia uma xácara mourisca, que então sensibilizava, e era de um melodrama; o quarto estava numa penumbra doce e cheia de mistério -- e Macário, que estava em chinelas, começou a lembrar-se daqueles cabelos negros e fortes e daqueles braços que tinham a cor dos mármores pálidos: espreguiçou-se, rolou morbidamente a cabeça pelas costas da cadeira de vime, como os gatos sensíveis que se esfregam, e decidiu bocejando que a sua vida era monótona.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst. 1902) / «[...] O mundo ficara imperfeito e o homem com uma ânsia de perfeição impossível.» Ferreira de Castro, O Senhor dos Navegantes (1954) / «Quem tomava conta era o senhor Joaquim que recebia cinco tostões por cada burro e tinha direito ao estrume.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1954)

domingo, março 24, 2024

quadrinhos

fonte

 

ucraniana CCXXXVI - o que Nuland sabe, já Putin se esqueceu

Confesso que tive as maiores reservas quando ouvi o comentário do major-general Agostinho Costa, feito em cima do acontecimento, atribuindo à Ucrânia a acção terrorista em Moscovo; este sábado, porém, ouvindo o major-general Carlos Branco, que embora não taxativo, não se eximindo a levantar questões complicadas, começo a ver a coisa com outros olhos. Menos pela circunstância de um dos tadjiques perpetradores do atentado ser um mercenário a combater junto dos ucranianaos, e nem tanto pela informação altamente reveladora de os operacionais terem sido previa e parcialmente pagos para executarem aquela missão (trocando por vil metal as virgens prometidas no Paraíso), mas o facto de Carlos Branco ter recordado -- e eu bem me lembro disso -- que antes de ser despedida, Victoria Nuland, essa conhecida doença venérea americana contraída pela Ucrânia, ter deixado no ar a ameaça de alguma surpresas estarem a ser preparadas para Putin.

Clic! O caso, para mim, mudou de figura, e percebo agora porque razão Putin nem se deu ao trabalho de mencionar as ratazanas do Estado Islâmico. É que o que Nuland aprendeu, já Putin se esqueceu.

sábado, março 23, 2024

serviço público

 Viriato Soromenho Marques, «A Ocidente, uma desolada paisagem».

Billie Holiday, c/ Quarteto de Buddy DeFranco, «All of Me»

caracteres móveis

«Durante um ano, Doninha só deu sinais de vida altas horas da noite, todo nu às grades da cadeia, com aqueles gritos uivados para a vila.» Manuel da Fonseca, Cerromaior (1943)

«E por aqui, por ali, ladeando o ilhéu Chão ou a caminho do Porto Santo, pequenas canoas abriam para o céu a sua asa branca.» Ferreira de Castro, Eternidade (1933)

«Fincou a pá num calhote de dividir as águas e ficou-se à espreita, enrolando um cigarro.» Alves Redol, Gaibéus (1939)

quinta-feira, março 21, 2024

curtas

«A tarde estava quase no fim, uma tarde espessa e abafada.» Fernando Namora, «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949) «Lágrimas, gritos, lenços brancos, e ódio, ódio contra si próprios por haverem ficado, sabiam lá até quando, apegados àquela terra misérrima e àquela vida que criara odiosas raízes:» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1938) / «Nasceu quase com o século, filho, como já vimos, de pai incógnito e de uma dessas heróicas mães solteiras, resignada à sua sorte e senhora do brio bastante para criar o filho de cara levantada.» A. M. Pires Cabral, »O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984)

serviço público: abismos que envergonham

Eu não sei se António Costa é sonso, ignorante, leviano, oportunista ou um pouco de tudo isto ao mesmo tempo, após ler as suas declarações transcritas pelo simpático Observador. O vazio, o disparate, a ruminação são impressionantes. Não há nada de novo, todo o palavreado é baço, próprio dum triste catavento. (Uma espécie de Marcelo com arremedos de solenidade).

Que falta de tudo... Nem com o Lula à mão, e já agora com um ramalhete de países africanos e um presidente lusófono Prémio Nobel da Paz, Ramos Horta, que foi também um grande diplomata... A sua indigência estratégica e diplomática é confrangedora (e o que aí vem, também não se anuncia melhor...). 

Sustenta Costa, a certo passo que nem toda a extrema direita é pró-Putin (sim, a pragmática Meloni; o Ventura não conta, por que o Ventura é tudo e o seu contrário, nunca pode ser levado a sério). 

Mas nem toda a esquerda (ou melhor, "esquerda"? -- mas que raio de esquerda  representa o Costa, para além do palavreado inclusivo?); mas nem toda a esquerda alinha com a CIA e o Pentágono.

Viriato Soromenho Marques é um intelectual de esquerda, sabe pensar; e, como não é um polítiqueiro a fazer pela vida, é também uma das vozes (poucas) que se distingue da impreparação e da pobreza conceptual do palavrório, emanadas com mau hálito, aqui no rectângulo e alhures.

Quando lemos Costa, o que vemos? Um tagarela. Ao contrário, leia-se a coluna de Viriato S. M. nos dois números passados do JL, 23-II e 6-III, «A nova catástrofe europeia», e veja-se o que é problematizar para além dos slogans vazios. Mais simples: veja-se o que é ter noção do que se está a passar. 

É fácil estar na Nato e ter uma posição crítica? Claro que não é; por isso, o que deveria haver era grande ponderação e profundidade de análise. Para picaretas, já temos as dianas, os germanos, os isidros, , os poejos, as sónias,  e até o serafim saudade do jornalismo.


quarta-feira, março 20, 2024

caracteres móveis

«A tarde descaía muito límpida; o alto céu tinha uma pálida cor azul; o ar estava imóvel.» Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro (1875)

«Memória pronta, e cultivada com indigesto e aturado estudo, não podia sair-se com menos de um erudito em história antiga, e repositório de notícias miúdas sobre factos e pessoas de Portugal.» Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo (1865)

«Tinha o Evangelho no coração -- o que vale muito mais ainda do que tê-lo na cabeça.» Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor (1867)

Duke Ellington, «Ko Ko»

terça-feira, março 19, 2024

ucraniana CCXXXV -autocracias, plutocracias...

Sim, é verdade, a Rússia está numa deriva autocrática, acelerada pela guerra. Já o escrevi, várias vezes, e mantenho: nunca, na sua longa história, os russos foram tão livres e tão prósperos como com Putin; mas a verdade é que, desde que sobreveio o estado de guerra, essa liberdade contraiu-se. Até por razões psicológicas do próprio Putin, já detectáveis nas entrevistas do Oliver Stone, em que se tem a noção que ele se vê a si próprio como o garante da estabilidade, progresso e segurança do país. 

Assistimos agora a discussões de lana caprina sobre a situação democrática russa, como se isso interessasse a alguém que não aos próprios russos. Também tão pouco me interessa que os Estados Unidos, que obviamente tem coisas fantásticas -- da liberdade de imprensa à liberdade religiosa -- seja uma plutocracia repelente, com milhões de farrapos humanos, das prisões às ruas, que o darwinismo social deixa para trás. Liberdade de imprensa e de expressão que não impediu que os muitos massacres perpetrados pelos americanos por esse mundo além se efectivassem. Talvez os iraquianos, quando foram massacrados por motivos espúrios, levantassem os olhos para o Céu, com este lindo pensamento: são bombas e a minha família vai morrer sem perceber bem porquê; felizmente são lançadas por um país demoliberal, em que a liberdade de expressão e associação é à prova de bala (perdoem a infelicidade da imagem os familiares das crianças massacradas, num país em que o mais forte prevalece sempre, neste caso, a NRA) 

A verdade é que me estou relativamente nas tintas, quando vejo os títeres europeus da plutocracia (a começar pelos portugueses), mais idiotas úteis e outros analfabetos, a  preparar-nos, no mínimo, para alimentar a Nato, braço político do Pentágono. Para já é só dinheiro; há-de chegar a altura (se a Rússia não se despachar a resolver aquilo como deve) em que dirão ser preciso mandar tropas. A desvergonha destes canalhas é axiomática. 

A propósito: digo já que sou favorável a serviço militar e serviço cívico (para os objectores de consciência) obrigatórios, para ambos os sexos, mas não para que os soldados portugueses vão servir de carne-para-canhão dos americanos na Ucrânia, como acontece com os pobres ucranianos. Fica para outro post.

segunda-feira, março 18, 2024

domingo, março 17, 2024

ucraniana CCXXXIV: vontade de rir: a taxa de abstenção nas eleições russas

Nem são os oitenta e tal porcento que Putin teve, mas a elevadíssima taxa de participação, acima dos 70% que fortalecem Putin ainda mais do que já estava.* 

Há largos meses, um dos muitos patetas que vêm a televisão comentar, falava da fraqueza de Putin, por ocasião do da insurreição do folclórico Prygozhin. Já então dava vontade de rir, então agora... Bem pode a CIA pegar em fascistas e nazis e branqueá-los para vender a democracy. Já para não falar do garoto Macron, esbofeteado na rua como um puto, um nada, como disse o outro, um palhaço esportulado pela banca que os prescientes franceses reconduziram no Eliseu.

Como há-de Putin olhar para este pequeno cretino? 

* Ouvir a Casa Branca dizer que as eleições não foram livres nem justas (como se alguém se preocupasse), quando os americanos têm taxas de abstenção de 70 % e se preparam para decidir entre Trump e Biden -- ou seja, entre um bilionário que despreza os seus eleitores, e uma marioneta senil do complexo militar-industrial --, é de ir às lágrimas.

Em tempo: Calhou-me ouvir um excerto do inefável Portas, zero em credibilidade: repete este lázaro ressuscitado a lengalenga: se Putin ganhar na Ucrânia (se?...), a seguir são os outros países da Europa, referindo-se, obviamente, aos Bálticos, e sabe-se lá que mais. Para não me repetir sobre a sua pertença à Nato (bem sei que o Trump provavelmente ganhará), eu responderia apenas: deixem-nos vir. Ou será que a Nato tem agora medo dos russos, em realão aos quais eram alvo de piadinhas dos pobres comentadores das RI e afins?...


Bob Seger System, «Mongrel»

sábado, março 16, 2024

sexta-feira, março 15, 2024

antologia improvável #529 - Manuel Bandeira

 

O AMOR, A POESIA, AS VIAGENS


Atirei um céu aberto

Na janela do meu bem:

Caí na Lapa -- um deserto...

-- Pará, capital Belém!...

Berimbau e Outros Poemas

(antologia por Elias José)

quarta-feira, março 13, 2024

John Coltrane, «Giant Steps»

e que tal um jornal público, independente e para todos?

Pegue-se no pessoal da Lusa e da RTP, reforcem-no e façam um jornal sem outra agenda que não a  do puro jornalismo. Com mais esta machadada no Diário de Notícias (grande trabalho de José Júdice e da sua equipa ao longo de quatro meses), e se o seu fim se vislumbra a breve trecho (como dizia ontem alguém, não se fazem jornais sem jornalistas), resta-nos a miséria de três jornais diários nacionais (em papel), por vezes infrequentáveis: o Público  e a sua agenda woke; o Correio da Manha, agenda porco-mealheiro; o Jornal de Notícias, que, para além de ser um pouco incaracterístico, traz diariamente um descartável de tráfico de carne humana, tal como o diário anterior.

Eu bem sei que imprensa pública, só por si, não é sinal de qualidade. Só é BBC quem sabe e pode sê-lo.  Se há uma agência de notícias pública, televisão e rádio públicas, porque não também um jornal nacional público?

terça-feira, março 12, 2024

ucraniana CCXXXIII - o papa já de há muito viu o filme todo

Ao contrário dos pastores alemães da União Europeia, Francisco não é um zombie nem vassalo de ninguém. Aflige-o a mortandade inútil e perigosíssima. Inútil, porque a Rússia já não largará os territórios que eram seus e que entretanto recuperou, provocada que foi pelos Estados Unidos, até a corda se partir (aquilo que o pontífice em 2022 designou percucientemente como "a Nato a ladrar à porta da Rússia"). 

Não só sabe que a Rússia jamais abandonará o que recuperou, ladre o que ladre von der Leyen, como nos arriscamos todos a ser arrastados pela aventura americana (acolitada pelos ingleses), sem falar nesse parvo do Macron, estéril criatura que não se preocupa com os filhos dos outros, julgando-se Luís XIV ou Napoleão.

Por falar nisso: depois de Costa e ainda com Marcelo, o que virá a seguir destes pensadores da geopolítica? Pior será impossível, mas nunca se sabe. 

curtas

«Ele, rapaz fino de Lisboa, apenas queria brincar com a beleza tenra e limpa de D. Branca.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) / «Quando os marítimos começaram a andar nos barcos com as lanternas penduradas nos cintos, para não chocarem nas cobertas uns com os outros, dado o adiantado da hora, ou para chamarem a noite (tenho a satisfação de deixar isso ao seu critério), chegou ao cais um homem vestido de preto, com chapéu musical, sapatos poéticos, lama nos colarinhos, uma harpa ao ombro e um colete que seria laranja, se trouxesse colete.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) / «Surpreendeu-o a figura de sua mulher, de pé, na franja de espuma, que a onda deixava, na areia, um pouco curvada no empenho de procurar, afastando-se, quando o mar avançava na subida, correndo atrás da resaca, que cada vez deixava menos espaço para a sua empresa.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894)

Charlie Parker, «Smoke Gets In Your Eyes»/«52nd Street Theme»

segunda-feira, março 11, 2024

Ventura cospe no prato em que comeu

Ouvi ontem o Ventura bolsar sobre o 25 de Abril. Sei pouco da criatura, tenho muito mais com que ocupar o tempo. Suponho que tem origens humildes. Talvez os avós andassem descalços, passassem fome, como sucedia aos pobres no pré-Abril, e no Natal tivessem laranjas de presente; talvez os pais tivessem querido estudar, o que não era permitido aos pobres entregues a si próprios. este demagogo, que se licenciou com elevada classificação e doutorado em Direito deve-o ao 25 de Abril, que democratizou o ensino e transformou o país mais atrasado da Europa, em 1974. Não foi perfeito, claro. Por isso, há 18% de ressentidos e/ou saudosistas que se revêm neste ex-pobre que cospe no prato que lhe deu de comer. Abaixo de zero à esquerda.  

eleições

AD - vitória (?) mais sofrida do que estava à espera, a premiar a boa campanha de Montenegro, uma surpresa também para mim. 

PS - boa alocução de derrota (?) de Pedro Nuno Santos. Apesar de tudo, o PS, pelos dois desastrados anos de Costa, merecia uma derrota retumbante, independentemente de PGR e PR.

Ch - Surpreso com os 18%. Pode agradecê-los a Costa. 18 % de deploráveis, mais os paisanos que votaram ADN a pensar que era AD. Em Viseu, o partido antivacinas (!) saltou em dois anos de de 80 para seis mil votos... Como és belo, meu Portugal.

IL - Aguentou bem a pressão do voto útil, manteve o número de deputados.

BE - Aguentou também, mas enquanto a IL tem margem para crescer, o Bloco vai continuar ser comido pelo Livre, PAN e , no futuro, o PS de Pedro Nuno Santos.

PCP/CDU - Ao irreversível envelhecimento do seu eleitorado, em desaparição, teve de arrostar com a campanha sobre a Ucrânia, que o marcou estúpida mas decisivamente. O que não é de admirar, num país com 18% no Chega, mais os paisanos de de Viseu -- esteve quase a eleger. Que país... A esta hora, parece que António Felipe foi eleito. Dou o meu voto por bem empregue.

Livre - Crescimento anunciado e confirmado, pesca no eleitorado do BE, mas não só.

PAN - Sem surpresa.

A ideia com que fico é que isto não vai durar muito. Mas, quem sabe?, talvez Montenegro surpreenda e consiga entalar o Ch.



domingo, março 10, 2024

sábado, março 09, 2024

Duke Ellington, «In A Mellotone»

curtas

«Era ele a única pessoa em quem verdadeiramente sentia uma angústia sem censuras.» Fernando Namora, «História de um parto«, Retalhos da Vida de um Médico (1949) / «Há sempre um pingo que cai ou um surro que se forma ou qualquer outra coloração que disfarça a brancura evidente do branco.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) / «-- [...] O homem ficara com todas as aspirações de um deus e não era completamente deus.» Ferreira de Castro, O Senhor dos Navegantes (1954) 

sexta-feira, março 08, 2024

quinta-feira, março 07, 2024

antologia improvável #528 - Antero Abreu


SARABANDA DE AMOR


Sarabanda de amor

Em tudo quanto é trigo e quanto é flor

Morte e vida repartida

Em cada migalha em cada suor


16/4/984

ucraniana CCXXXII - inicia-se o serviço público, agora que nos querem em guerra (Carlos Branco, Carlos Matos Gomes e Viriato Soromenho Marques, para quem quiser perceber realmente o que é a guerra na Ucrânia)

Noutro post, falarei do silenciamento e censura que a maioria esmagadora dos me(r)dia  impõem a quem pensa pela sua própria cabeça, logo tachados de tudo e mais alguma coisa, mas também elogios, como "comunistas" ou "putinistas", o que para os analfabetos do costume é a mesma coisa, ou parecido.

Para já, a propaganda está em força -- hoje, no carro, na Rádio Observador, uma estação indubitavelmente bem esgalhada, mas mísera no que respeita ao debate sobre a guerra na Ucrânia, a pivô abria a síntese da meia hora mais ou menos assim: " mais de 400 mil soldados russos já morreram na Ucrânia." Depois lá dizem que são dados do governo ucraniano, o mesmo que  assumiu a morte de 30 mil dos seus. Está-se mesmo a ver.

Quem gosta de ser enganado, seja-o, à vontadinha; quem por preguiça mental, come a sopa toda que lhe põem à frente, sem pestanejar, pior para ele; mas para quem tem o hábito de pensar e de se interrogar, com dois dedos de testa, vou passar a fazer as ligações aos esplêndido artigos de análise opinião de Carlos Branco, Carlos Matos Gomes e Viriato Soromenho Marques. Com a excepção do primeiro, na CNN-Portugal, os outros nunca os vi no pequeno ecrã convidados para falar sobre o problema mais sério e preocupante da actualidade. Mas, como disse, isso ficará para outro post.

E as lideranças políticas, em especial Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, servirão para que interesses? Os da nação, do povo, do país? Ou seja, vão ser também eles meros fantoches, ou evidenciarão um mínimo de brio. A resposta que se adivinha é tudo menos satisfatória. Mais uma vez: têm aí o Brasil do Lula ao lado; aprendam e apoiem-se nele, apesar de ser missão quase impossível. 

Serviço público

Carlos Branco, "As palavras e os factos após dois anos de guerra"

Carlos Matos Gomes, "Dopping -- O programa de armamento de Bruxelas

Viriato Soromenho Marques, "'Tempestade ainda' na Europa"

3 filmes de António-Pedro Vasconcelos

quarta-feira, março 06, 2024

ucraniana CCXXXI - quando Zelensky e Macron eram pombas da paz

Zelensky venceu as suas presidenciais não apenas à custa da popularidade televisiva, mas também prometendo ao eleitorado negociar a paz com a Rússia e resolver a situação do Donbass (a guerra começou em 2022?...). Imagino, depois, a desilusão.

Até posso acreditar na sua sinceridade inicial, tanto mais que ele não é etnicamente ucraniano nem russo, mas judeu, cujo povo, até ao ao primeiro quartel do século passado, era periodicamente chacinado em pogroms por aquelas paragens, entre Rússia e Polónia. Havia os Acordos de Minsk..., uma autonomia do Donbass não estava ainda fora da equação.

Quando Zelensky ganhou em vez de Poroshenko, homem dos americanos, encontra uma Ucrânia já minada pela CIA. Depois foi o que sabemos, o pardal tornou-se falcão.

Quanto ao Macron, ainda há dia escrevi como este mercur(i)ocromo da paz benefeciou das idas e vindas a Putin, para tentar contê-lo. Limpou as eleições, escapando ao destino igual ao do pateta Hollande, que lhe estava marcado. Agora, é esta ave de arribação que se vê, permitindo-se até chamar cobarde (indirectamente, claro) ao titubeante Scholz.

Já agora: mão amiga fez-me chegar o sempre extraordinário Carlos Matos Gomes, antigo oficial comando na Guerra Colonial e homem muito culto. Quem quiser perceber ou aprender alguma coisa que o leia -- a ele, a Viriato Soromenho Marques, Carlos Branco, e alguns mais. 

Com esta preparação para a guerra (fria ou quente) que nos estão a aranjar, o tempo para ser anjinho, espécie peculiar de pássaro, já acabou. Por alguma razão ninguém fala disto na campanha eleitoral. Estão pois com mãos livre para fazer o que quiserem, os partidos...

caracteres móveis

«Adiante de mim caminhava, levemente curvado, um homem que, desde as botas rebrilhantes até às abas recurvas do chapéu donde fugiam anéis de um cabelo crespo, ressumava elegância e a familiaridade das coisas finas.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901)

«Já o Cirilo tendeiro, que vagueava de terra em terra, erguera dos amassadoiros do linho o seu mostruário de bonitezas.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

«Um dia, sem perceberem como, tão dados eram à boa paz e ao improviso, faltava-lhes a mama e saltavam, de rompão, para a violência, como lobos acossados.» Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)

terça-feira, março 05, 2024

ucraniana CCXXX - a Europa está "cada vez mais em perigo", diz este sábio -- mas estão à espera do quê?

Borrell, pois claro, quem mais? A "Europa" sanciona a Rússia, fica-lhe com o dinheiro, envia tropa disfarçada de mercenários para a combater na Ucrânia, guia-lhe os ataques dos ucranianos através de satélite, estoiram-lhe com os gasodutos e -- cereja -- vê um yuppie que se tornou presidente de França a ameaçar (ahahah...) enviar tropas para o terreno, agora "oficialmente". 

Mas do que estão à espera estes animais? É evidente que a Rússia não terá, a não ser em caso de mobilização geral, tropa e meios para entrar em guerra com o Ocidente -- mesmo se, admitamo-lo por fantasia, os Estados Unidos se retirassem da Nato. Mas têm armas nucleares, fora o resto.

Há dias li isto do NYT, via DN. A comprovação do que sempre se soube, excepto os detalhes. Ah, as zonas de influências, as soberanias limitadas, os patetas dos comentadores...

mas do que está esta gente à espera para dar-lhe o Camões?.

A propósito da magnífica entrevista que dá hoje ao Público, no dia em que é directora honorária do jornal (bela e justíssima escolha) volto à carga com o óbvio alvitre de atribuir o Prémio Camões a Maria Teresa Horta. Que diabo!, é preciso ser-se um país muito estúpido e provinciano para ainda não ter dado a esta extraordinária poeta do amor, da sexualidade feminina e do corpo; a uma das autoras das Novas Cartas Portugueses, um dos grandes livros do século XX, o seu maior prémio literário, que já distinguiu outros que não lhe chegam aos calcanhares. 



curtas

«A este tempo Carlos, para quem passara desapercebida a cena anterior, saiu da barraca, aconchegando o forte jaquetão azul, esfregando as mãos num contentamento despreocupado, a trautear os compassos alegres de uma canção de caça.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894) / «Macário afirmou-se, e, sem mais intenção, dizia que aquela mulher, aos vinte anos, devia ter sido uma pessoa cativante e cheia de domínio: porque os seus cabelos violentos e ásperos, o sobrolho espesso, o lábio forte, o perfil aquilino e firme, revelavam um temperamento activo e imaginações apaixonadas.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst., 1902) / «O Franciú levantava-se muito cedo para carpir os vagabundos, os desorientados, os gatos e também cães, os mais afectuosos, e desprevenidos rouxinóis que o Toledo deixava pelo caminho, amorosamente desventrados.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984)

segunda-feira, março 04, 2024

Bob Marley & The Wailers, «We and Dem»

ucraniana CCXXIX - porque votarei no PCP

Votarei no domingo, 10 de Março de 2024, no PCP, o único com representação parlamentar que neste momento histórico não me envergonhou. 

Tenho várias razões para votar no PCP, e outras tantas para não votar. Sou um cidadão livre, voto como me apetece. Já votei em vários partidos e também votei em branco. Exerço a minha liberdade, só não deixo de ir às urnas.

A minha decisão está tomada desde que estas eleições foram anunciadas, e prende-se com a guerra na Ucrânia, entre dois imperialismos, e a postura de menorização do país, subserviência e leviandade crassa ignorante de praticamente todas as outras formações concorrentes e dos órgãos de soberania portugueses, que fizeram deste país um mero capacho dos interesses da administração americana, dominada pela rapacidade do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Mais que um capacho, uma excrescência, uma espécie de Hotentócia (o vocábulo é queirosiano...), a quem ninguém liga nenhuma, uma coisa ridícula. 

Um país como Portugal, a caminho dos novecentos anos, com uma forte ligação atlântica aos países que emergiram do seu império e com um património histórico e simbólico ímpar -- uma língua, uma literatura, uma cultura popular --, submete-se à pirataria alheia sem um pingo de vergonha nem brio.

Sou o primeiro a reconhecer os condicionalismos da nossa situação geopolítica de vizinhança com os Estados Unidos (ao contrário de outros, que porventura achariam que a Rússia iria tolerar indefinidamente as investidas e provocações dos patifes da cia e do pentágono), com quem deveremos manter boas relações -- mas de onde está excluída a vassalagem de protectorado que tem caracterizado a política (?) portuguesa, pelo menos desde a destruição da Iugoslávia. 

Se a minha posição não é totalmente coincidente com a do PCP, que acho moderada, só aqui vi uma atitude que chamasse nomes aos bois. Por isso, foram fustigados pelo que disseram e pelo que não disseram, pelo analfabetos e prostitutas da política e do comentariado, que visceralmente me enojam.

Gostaria que o PCP tivesse uma boa votação nestas eleições, mas para mim isso é secundário, pois o país está e estará nas mãos dos mesmos. O que me interessa é mesmo tomar posição, e ela aqui está. 

caracteres móveis

«Declarara-se ali mesmo, com segurança e desenvoltura, falando logo em casamento, enquanto procedia a rápidos planos mentais para a casa do Vale Formoso, desabitada desde a morte do avô Jacinto, que tinha catorze divisões e um grande jardim onde Raquel poderia cultivar as suas preciosas begónias.» Helena Marques, O Último Cais (1992)

«Não faltou receio a Henrique, que supôs a estes bonacheirões quadrúpedes a índole travessa e bravia dos touros, a cuja chegada tantas vezes fora assistir em Lisboa.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

«No exterior, a partir das paredes, há dois palmos de atmosfera lúcida, quase luminosa (intensifica-se pouco a pouco): halo a envolver a casa, a protegê-la (?) misteriosamente.» Carlos de Oliveira, Finisterra (1978)

sábado, março 02, 2024

sexta-feira, março 01, 2024