sábado, abril 30, 2022

sexta-feira, abril 29, 2022

playlist: «Night Hours»

táctica asneirenta (ucranianas LXXVI)

 Se tivessem feito o mesmo quando se deu a visita da permanente figura de Úrsula, do speedy Borrell ou da louca de Malta, seria uma coisa; agora, durante a visita do secretário-geral da ONU?... 

Foi estúpido, e não ganharam grande coisa com isso. E isto não tem nada que ver com o facto de tratar-se de António Guterres, cuja acção foi até agora passível de crítica. Tinha sido giro fazê-lo com os dois patifes enviados pela cia. A fábrica de armamento podia ter sido destruída a qualquer hora. Não há grande paciência, de facto.

ucranianas

playlist: «Eu Só Preciso»

quinta-feira, abril 28, 2022

quarta-feira, abril 27, 2022

terça-feira, abril 26, 2022

"guerra injustificada" -- uma treta para enganar os crédulos (ucranianas LXXV)

1. Ontem, uma especialista em relações internacionais abertamente alinhada com a Nato, Diana Soller, disse que uma das razões por que o corte da importação de gás, petróleo, etc. era inoportuno se prendia com a necessidade de ter as opiniões públicas do lado ocidental.

2. Que as opiniões públicas têm sido sujeitas a uma carga nunca vista de propaganda, da mais primária à mais insidiosa, para todos os públicos, é notório -- um case study para toda essa fauna da comunicação e marketing políticos. 

3. Pressinto, cada vez mais, que a torrente está a chegar ao ponto de saturação. Por muito que os porta-vozes oficiosos da Nato venham ao comentário aldrabar, e por mais que os primatas que fazem de pivôs nos telejornais papagueiem o fraseado cozinhado pela propaganda de guerra americana, com a cumplicidade parvovirótica do trio grotesco que nos coube em sorte à frente da UE -- pressinto que o cidadão comum mais atento, e que não gosta de sentir-se usado, comece a achar esquisitas algumas coisas, como por exemplo:

3.1. A fortuna incomensurável (quaquilhões, em americano) que os Estados Unidos, sempre generosos e solidários, despenderam já em defesa da democracy... A intervenção do Lloyd Austin, após o encontro-farsa em que ele e o Blinken, foram dar um pouco mais de tónus à cúpula cúmplice ucraniana nem conseguiu disfarçar (o quê?...), ao falar da "nossa" (deles) acção de resposta. É hilariante vê-lo a meter os pés pelas mãos e o risinho filho-da-puta (ver aqui o segundo vídeo). Como digo desde antes do início da guerra, trata.se de um conflito entre a Rússia e os Estados Unidos, em que a Ucrânia é campo de batalha e os ucranianos carne para canhão. Qualquer historiador, estrategista ou especialista em relações internacionais que não parta daqui, ou é estúpido ou então, aldrabão. E os líderes europeus, cúmplices, em maior ou menor grau, à excepção do Boris Johnson, um saguim amestrado dos americanos, como antes já havia sido aquele ignóbil Tony Blair.

3.2. Estou também convencido que muitos cidadãos de boa-fé já torcem o nariz a episódios como o das crianças e famílias encerrados nos estaleiros de Mariupol. Que estão a ser usados pelos nazis que lá estão entrincheirados, só não vê quem não quer. Mas se estas crianças e mulheres perfidamente utilizadas vierem a ser uma das muitas vítimas desta guerra que a Rússia foi forçada a levar a cabo (vai a negrito, que é para se ver melhor), não venham chorar-se. São enganados e aparentemente não se importam.

ucranianas


playlist: «Cirice»

segunda-feira, abril 25, 2022

"Leitor de BD"

 



Sapiens Imperium, de Sam Timel & Jorge Miguel

(aqui)

playlist: «Grândola, Vila Morena»

domingo, abril 24, 2022

Páscoa em Kiev, e um outro olhar sobre a religião, seguido de jornalismo a sério e de ranhura (ucranianas LXXIV)

1. Páscoa em Kiev. Sou radicalmente ateu e não suporto quaisquer imposições de índole religiosa. Rio-me delas, porque vivo num país laico e em que a Igreja Católica foi posta no seu sítio depois da Revolução Liberal de 1820 e da Guerra Civil de 1828-1834 -- porventura com excessos e severidade, de qualquer modo com muito menos violência da que foi exercida por si e em seu nome durante séculos. Respeito as convicções individuais e desprezo a hipocrisia.

Mas há alturas em que a religião é um lenitivo quando tudo se desmorona, convém não o esquecer. foi assim em Timor-Leste, durante a selvática ocupação indonésia; assim na Polónia, na resistência ao totalitarismo comunista e a uma sociedade vilmente policiada. Hoje quando vi as imagens comoventes de um padre ortodoxo a aspergir na rua água benta aos fiéis, vi nestes um sorriso de felicidade e conforto. E isso comoveu-me.

2. Jornalismo. Acabo de ver uma incursão na linha da frente pelos jornalistas da sic, Nuno Pereira e José Silva (repórter de imagem). Excelente trabalho, grande coragem. Assim como o que é desenvolvido do lado russo por Bruno Amaral de Carvalho (não sei o nome do repórter de imagem), sempre isento das vezes que vi, ao contrário de alguns colegas seus, e que alguns pulhas de cá insultam na imprensa, como se ele fosse propagandista dos russos -- estes mesmos analfabetos ou oportunistas que debitam a propaganda do Pentágono. Quando vejo alguns deles, ponho-me à procura da ranhura por onde lhes metem as moedas no coiro, antes de começarem a debitar.

ucranianas


playlist: «All That Reckoning (Part 1)»

sábado, abril 23, 2022

quinta-feira, abril 21, 2022

playlist: «Sunrise»

o péssimo discurso de Santos Silva (ucranianas LXXIII)

Não ouvi o final, por causa da box, e não tive paciência para ir à procura outra vez. Santos Silva, que começou bem o mandato, cortando a palavra ao badalhoco do Chega, esteve igualmente bem ao falar da integração harmoniosa dos imigrantes ucranianos na sociedade portuguesa e, já agora, naquele aceno erudito da Sonia Delaunay com o Amadeu de Sousa-Cardoso.

Não esteve nada bem no tom justificativo com que quis mostrar a Zelensky um país obediente aos interesses geopolíticos da Nato, nem na aldrabice de dizer que Portugal é um país respeitador do Direito Internacional. Tem dias... Quando o infractor são os Estados Unidos, lá estamos nós, acriticamente obedientes. Exemplos: o Iraque e o Kosovo, duas manchas, sem falar, com este então ministro, na farsa do autoproclamado "presidente Guaidò" na Venezuela -- não porque o Maduro mereça respeito, não merece nenhum --, mas porque pôs em dificuldade a grande comunidade portuguesa no país, hipotecando-se mais uma vez aos interesses dos Estados Unidos, sem qualquer vantagem para nós -- Estados Unidos, aliás, que se preparam para reabilitar Maduro, graças ao petróleo, deixando cair, como é seu costume o investido factotum na Venezuela.

Zelensky fez um discurso fraco, de ocasião. O PCP deveria ter estado presente, pois, repetindo, estava em sua casa.


(em tempo: e o dispensável ar fortalhaço com que se referiu à Rússia...)

ucranianas

da Sputnik ao Sarmat, começando pelo PCP (ucranianas LXXII)

 1. PCP.  O PCP está em sua casa, por isso tenho dúvidas sobre o acerto da decisão de não assistir à intervenção de Zelensky, por razões aliás bastante atendíveis, sendo que para mim a mais relevante é o seu comportamento como um homem dos americanos, não sei se a gosto ou a contragosto (desconheço a correlação de forças dentro do poder ucraniano). De qualquer modo, como tenho dito, a liderança ucraniana faz o jogo dos patifes dos americanos. Vou ouvir com muita atenção o que ele vai dizer.

2.  Sputnik e Sarmat. Quando os russos foram os primeiros a fabricar a vacina contra a Covid-19, a UE, fiel como uma cadela aos ditames americanos, recusou-se a validar a Sputnik, mesmo que à custa da doença e morte de europeus. Suponho que agora também não queira validar um supositório como o Sarmat. Que obviamente irá ser replicado pela Nato. Mas a questão é que é simplesmente maravilhoso que haja quem trave os pulhas que infestam a administração americana. O mundo será menos pior, e talvez a ideia de uma guerra nuclear limitada a território europeu se desvaneça daquelas cabeças. Como também já escrevi, só um tonto ou um alucinado achará que uma guerra nuclear se limitaria ao Velho Continente.

ucranianas

quarta-feira, abril 20, 2022

playlist: «In Castle Dome»

ah, que orgulho nos nossos valores... (ucranianas LXXI)

Sempre a pugnar pela liberdade e a autodeterminação dos povos, Pedro Sánchez irá a Kiev; claro que isso vai obrigá-lo a fazer marcha-atrás na traição ao povo do Saara Ocidental. Vindo de Kiev, passará por Barcelona, Bilbau e Santiago de Compostela, anunciando o exercício pleno do da democracia -- que ele, Sánchez, não é um reles troca-tintas --, com um referendo sobre a autodeterminação daquelas nações. E já agora, uma pergunta aos oliventinos, cuja vila ocupam ilegalmente: querem voltar ao Alentejo ou permanecer espanhóis?

Diz-se que estarão mulheres e crianças nos estaleiros de Mariupol, onde aboboram os neo-fascistas do Azov. A ser verdade, estão lá a fazer o quê? E a resposta certa é...

E já que estamos a falar dos nossos valores, parece que o Assange sempre será extraditado, depois de anos de tortura (refúgio numa embaixada e solitária na cadeia). Que a Inglaterra, desde que deixou de ser a superpotência imperial que foi até há pouco mais de um século, passou a mastim da ex-colónia.

E já agora: que coveniente aquela acusação de desvio de fundos contra a Le Pen. Se é assim que a UE pensa que vai sobreviver, podemos já dizer adeus a essa bela aspiração secular.

Ah, os valores europeus, que orgulho, que orgulho...

Mas, para mim, nada há de mais valioso do que os valores dos Estados Unidos, democracy, sempre!

ucranianas

«Leitor de BD»



«Uma editora centenária»

aqui

terça-feira, abril 19, 2022

playlist: «Illuminant»

o branqueamento dos neo-nazis (ucranianas LXX)

 Desconheço a proporção de tropa regular, mercenários e neo-nazis que compõem as forças que resistem em Mariupol. Se é dever dos soldados sacrificarem-se pela pátria, de acordo com o seu código, já os mercenários por condição e os neo-nazis, por aversão russa, estão condenados, portanto, não têm outro remédio que não dar luta.

Hoje de manhã, na rádio, duas curiosidades: António José Telo a exaltar o "heroísmo" dos resistentes, comparando-os aos espartanos das Termópilas, com um saboroso anacronismo, para um historiador: os espartanos não eram democratas, mas sacrificaram-se pela Grécia, cuja Atenas era uma democracia (apenas para os atenienses claro, mas isso são pormenores, e não sou eu que vou cair no anacronismo que tanto critico).

Nesta senda de branqueamento dos "ditos" (sic) neo-fascistas, o inefável Bruno Cardoso Reis, no mesmo programa, dá um exemplo contrário, para infirmar essa visão alegadamente distorcida do Batalhão de Azov, os tais cujo símbolo se inspira na benemérita SS: um professor inglês seu conhecido tinha um aluno marxista que, por querer combater num corpo de elite, aí se alistou... E pronto, com historiadores a funcionar assim, estamos descansados quanto ao contexto.

Não é que a Rússia não deva ter carregado a nota sobre a real dimensão dos neo-nazis na Ucrânia, o comando russo ainda não é composto por santos, embora sejam muito religiosos. No entanto, uma coisa é tentar pôr as coisas em perspectiva, outra bem diferente é atirar areia para os olhos. Para isso já temos a propaganda.

ucranianas

quadrinhos

segunda-feira, abril 18, 2022

domingo, abril 17, 2022

mística ascética e profana: A CATEDRAL (1920), cap. X

 
continuar: «Naquela manhã Luciano fizera subir a condessinha e os sesu amigos à galeria do trifório, onde demolições recentes tinham posto, a descoberto, sobre a capela Joanes, a galeria românica primitiva.»  Manuel Ribeiro, A Catedral, início do cap. X, p. 181 da minha edição.

Um problema recorrente de Manuel Ribeiro neste seu primeiro romance, que é um romance de tese, é o desequilíbrio funcional entre o que tem para dizer, o que deve dizer e a forma como o diz. A exposição das teses, de enfiada, prejudica o equilíbrio do todo, não obstante o brilho e a riqueza estilística com que é exposto. Desse ponto de vista, é um regalo, não para aquele leitor, digamos ingénuo, que anda à cata de história ou historietas, mas antes do que se diz através da escrita; pelo menos o quê ao como. Considerado o capítulo linha à linha, é sempre um prazer ler o Manuel Ribeiro; no entanto, considerando que mais de metade das quinze páginas do capítulo se expende uma prelecção de  enfiada sobre o românico, feita por Luciano, suscitada pelo bom do padre Anselmo, que. menosprezando o gótico, contrapondo aos ornamentos "artificiosos" deste, «a beleza natural a transpirar das formas sãs e vigorosas» do românico, acaba por ser excessivo.

Cabe, aliás, ao ascetismo de Anselmo um dos momentos divertidos desta parte, em especial quando compara a Sé e os Jerónimos:

«-- Uma miséria de igrejas esta Lisboa! -- dizia padre Anselmo com ar de lástima. Não temos na capital um lugar onde a gente se refugie, onde se possa orar com recolhimento. Os templos não têm beleza nem tradições e, exceptuando a catedral, são todos modernos e ateatrados. Há os Jerónimos, é verdade. Mas, Deus me perdoe, tresanda a paganismo. Não é igreja, é um galhardo marinheiro das naus da Índia com um barrete de clérigo na cabeça.»

O enleio entre Luciano e Maria Helena, a condessinha, prossegue,  sincera mas superficialmente casto, com a sublimação das formas dela nas da catedral.

playlist: «Desert Rose»

sábado, abril 16, 2022

a adesão da Finlândia à Nato -- o cálculo do risco (ucranianas LXIX)

 A continuar a brincar com o fogo e com lideranças europeias abaixo de cão, o aliciamento da Finlândia para pôr fim à neutralidade -- que bem lhe serviu durante a Guerra Fria --, até parece uma jogada de mestre dos falcões do Pentágono, que em algumas daquelas cabeças belicosas parecem convencidos de estar ao abrigo do arsenal nuclear russo.

A jogada pode ter esta configuração: a Rússia leva a ameaça a sério -- como levou a da Ucrânia (só os indigentes e os vigaristas é que se atrevem a aduzir o argumento de que a Rússia atacou a Ucrânia sem motivo) -- e levando-a a sério, ataca a Finlândia. Como esta ainda não é um país Nato, a organização está dispensada de responder. No entanto, é um país da União Europeia, e não se vê como os estados da UE poderão deixar passar esse ataque. Não parece que possam. E assim estala uma guerra na Europa, com os americanos a ver.

Eu, no entanto duvido de que tudo se fique pelo Velho Continente, embora no Pentágono e na administração do outro senil haja quem possa achar que é um risco calculado.

ucranianas

playlist: «Were Were»

sexta-feira, abril 15, 2022

quadrinhos



 

playlist: «Sei Lá»

regresso ao cinema


Pier Paolo Pasolini, Accatone (1961)

Inovador, instigante e com alguns grandes momentos, porém nunca senti grande interesse pela estetização da miséria pulha.



quinta-feira, abril 14, 2022

quarta-feira, abril 13, 2022

playlist: «Endless Dancing»

bluff e escalada (ucranianas LXVIII)

A posição concertada entre Estados Unidos, Inglaterra e Austrália, com o governo ucraniano, sobre o alegado uso de armas químicas por parte dos russos, e as ameaças tão veladas quanto explícitas de intervenção na guerra e confronto directo com a Rússia, tanto pode ser uma jogada, um bluff, tentativa de intimidação e desmoralização, como a preparação da opinião pública para o que seria um suicídio colectivo.  Julgo saber que há falcões no Pentágono e arredores que acham possível a utilização de bombas nucleares tácticas; e parece claro que os russos não descartam essa hipótese em caso de ameaça séria. 

Para mim, trata-se de uma jogada cretina, um bluff destes pulhas, mas um jogo muito perigoso. Ou alguém acha que o emprego de armas nucleares tácticas ficaria por aí (como julgam alguns deste alucinados)? Ou que ao primeiro sinal de ataque em força da Nato contra a Rússia, esta se limitaria a atirar uma ameixa nuclear, digamos para a Alemanha? Seria para rir, não fora trágico: não só a França e a Inglaterra teriam o seu quinhão reservado, como o território americano, as grandes cidades, teriam um encontro com o destino. Creio que nesse aspecto, os russos estão mais que preparados e bastante atentos a um ataque da Nato. Por outro lado, é penoso assistir ao gingar da França e da Alemanha, em especial esta, muito entalada. Ainda ontem o seu presidente foi destratado pela Ucrânia, o que mostra uma arrogância bem suportada.

Vejo sempre com enlevo aquele cocado porta-voz do Pentágono. Pode ser que esta organização humanitária, ou outras, como a CIA, pensem que a pressão e o medo levará a cúpula dirigente a derrubar Putin. talvez seja esta a brilhante táctica. 

A propósito: Se alguém tiver por aí â mão algo que prove que aquele miserável ataque de armas químicas na Síria foi feito pela Rússia, e não pelos aliados de ocasião dos americanos -- não sei se o daesh ou a alqaeda --, fico desde já agradecido. (A propaganda na altura foi muito semelhante a esta, embora menos massiva; mas talvez por serem árabes e estarem mais longe, a população não apareceu com bandeirinhas sírias com lágrimas ao canto do olho.)

ucranianas

"leitor de BD"

 



terça-feira, abril 12, 2022

playlist: «Eating the Dead»

se o Batalhão de Azov diz, é porque deve ser verdade ou de como se trata uma opinião-pública embrutecida (ucranianas LXVII)

Os novos heróis do mundo livre, das democracias liberais, de tudo aquilo de que tanto gostamos, da liberdade para sermos aldrabados e enxovalhados, ou seja o Batalhão de Azov, acusou os russos de usarem armas químicas em Mariupol. Deve ter o mesmo grau de veracidade com que na Síria a administração democrata, então presidida por Obama, tentou culpar Putin pela mesma utilização -- sabendo-se já então que os Estados Unidos, na sua disputa com a Rússia, se servia do Estado islâmico no terreno, tal como hoje se serve dos neo-nazis. É a conhecida ética capitalista.

Não é muito relevante saber que os neo-nazis são uma minoria na Ucrânia, como gostam de dizer os inocentes e os arregimentados; o que importa é quanto um bando de marginais perigosos organizados em milícias pode condicionar a vida política de um país, em especial com as costas aquecidas pela CIA.

Os russos estão obviamente longe de ser santos, e até acredito que os do Donbass tenham contas sérias a ajustar. Nas guerras nunca há bons e maus de um só lado. E isto serve também para a liderança política: se Putin se tornou um conservador ortodoxo e nacionalista (nacionalismo e religião dá sempre merda), do lado americano, nem sequer sabemos a quem pertence a liderança, que não é obviamente ao senil do Biden e muito menos à tonta que serve de vice-presidente.

A propaganda  que condiciona opiniões públicas brutalizadas pelo viver (ou sobreviver) quotidiano, pelo escapismo imbecil e grosseiro das televisões e da torrente de insignificância online serve às mil maravilhas. A amoralidade capitalista nunca olhou a meios, e eles aí estão em larga escala a servirem-se das massas, acríticas e amorfas, como é da sua condição. Mesmo com a inegável liberdade de imprensa de que dispõem -- uma vantagem sobre qualquer ditadura, diga-se de passagem --, a brutalização é tal, que essa imprensa livre fica sempre circunscrita a um nicho. E a massa move-se ao sabor de quem a comanda, do mais simples cidadão ao pivô analfabeto de um telejornal qualquer.

ucranianas

o curioso caso da CNN-Portugal (ucranianas LXVI)

 A CNN Portugal tem sido um caso curioso na cobertura desta guerra, no que respeita às reportagens, próprias e das casa-mãe e ao comentário. Só é pena boa parte dos pivôs, tão pobrezinhos de Cristo (a Páscoa aproxima-se).

Quanto às reportagens há as que vêm da casa-mãe, pura mistela propagandística, a puxar ao sentimento, com música de fundo... Depois há dos enviados portugueses, e quero destacar para já neste canal a sobriedade de Pedro Mourinho, que está desde o princípio, e o curioso caso do jornalista Bruno Amaral de Carvalho, a cobrir a a guerra pelo lado russo, o primeiro repórter português a entrar em Mariupol. Ao contrário do que poderiam pensar os que se deixam inalar pelos odores fétidos da propaganda, os horrores da guerra estão bem visíveis nas reportagens: as campas improvisadas em parques infantis e à beira dos prédios, entrevistas de ruas com os que não puderam sair, os mais velhos, os mais pobres... Significa que Nuno Santos, director de informação do canal, está a fazer um bom trabalho. 

Já tenho aqui falado dos comentadores militares e de alguns, poucos, civis, que vale a pena ouvir, tal como vale imenso a pena, aos sábados, depois das dez da noite, ver e ouvir Fernando Rosas e Jaime Nogueira Pinto discorrendo sobre a guerra. Quem quiser aprender qualquer coisa, além da maior parte dos militares, deve ouvi-los.

O pior são alguns pivôs, novos, ignorantes e às vezes cretinos. Acabei de ver um deles, cujo nome desconheço, a entrevistar o major-general Agostinho, um dos militares que um canalha da Sábado insinuou que andava a receber dinheiro dos russos. Costa, um dos analistas independentes e dos não muitos que sabem do que falam. Pois a infeliz criança, quando a resposta não vinha de acordo com a cartilha que emprenhou por olhos, ouvidos e sabe-se lá por onde mais, punha-se a rebater empertigado, senhoril e a falar por cima do entrevistado, infelizmente demasiado educado para pôr o menino na ordem.

Pese embora saguins deste tipo e os enlatados da casa-mãe, e havendo gente com qualidade nos outros canais, incluindo a cm-tv, na cobertura da guerra, ao lado de toda uma fauna de vigaristas e nulidades, a CNN-Portugal tem sido a que melhor cobertura tem feito e a mais plural. 

ucranianas

segunda-feira, abril 11, 2022

1 disco - 1 faixa: TEA FOR THE TILLERMAN (1970) - #4 «Sad Lisa»

estaria bem lixado se fosse francês

Vou ser superficial, pois não conheço a política francesa, não sou cidadão, não tenho de aturá-los todos os dias. Escolher entre um ceo como Macron e uma víbora como Le Pen, deve ser uma coisa terrível. De um lado, um político de plástico, um gestor bancário de convicções muito ténues; do outro, uma nacionalista, em cuja moderação não creio, a não ser que tenha feito o seu aggiornamento, e assim ser mais uma dentro do baralho. Se Le Pen ganhar vai ser o fim da UE? Há uns anos acreditava nisso, hoje nem tanto; será uma espécie de Orban num país mais poderoso. O que não deixará de causar grande perturbação. No entanto, a UE transformou-se numa espécie de sucursal da Nato e uma executora dos interesses americanos. E assim será nos próximos tempos. Talvez a UE precise de uma crise política séria. Macron poderá ser estadista? Eh... Estaria bem lixado se fosse francês.

domingo, abril 10, 2022

playlist: «Begone Bonnie Laddie»

problema mal posto (um post que era para ser permanente para lembrar onde tudo começa) (ucranianas LXV)

Partindo do princípio -- não pacifista -- de que a guerra é um mal, embora por vezes inevitável, a maior parte das análises que leio a propósito recaem na condenação da invasão russa da Ucrânia, ou seja, estado agressor e estado agressivo; para os que estão de boa-fé -- e só para esses -- tenho a contrapor que é impossível retirar da equação a postura agressiva dos Estados Unidos com a expansão da Nato e a ideia de cerco por parte dos russos. Qualquer análise honesta tem de começar a partir daqui. Ou seja, não é uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre a Rússia e os Estados Unidos; a maioria dos dirigentes ucranianos são peões dos americanos, tal como Nato (já se sabia), e infelizmente, a UE.

(Este post passará a ser permanente, pois estou cansado da desinformação, da desonestidade intelectual e da vigarice.)

Em tempo: em vez de post permanente, farei outro que irá para a coluna da direita, enquanto isto durar.

ucranianas


"Leitor de BD"



Bottoms Up, de Rodolfo Mariano

 aqui

sábado, abril 09, 2022

os palma cavalinhos; e a propósito de Kramatorsk (ucranianas LXIV)

Para além dos analistas vesgos, há também vários tipos de aldrabões. A última mixórdia infame de que me apercebi, foi na Sábado, um palma cavalão a sugerir que os militares que comentam sem cartilha podem estar a receber dinheiro (dos russos, obviamente). É claro que uma nódoa, já de si suja, não tem possibilidade de macular; mas não se trata tanto dos generais como dos leitores. Se eu estivesse no lugar daqueles, meteria o cavalão em tribunal. 

Estes militares visados por não dizerem o que a propaganda quer, vêm o tabuleiro todo, têm muitos anos em cima, também no terreno e sabem realmente do que falam, ao contrário de cavalitos e cavalões, porque este não é o único salcede.

Kramatorsk: um ataque à estação ferroviária é um crime hediondo e nauseabundo. Como de costume, não sou rápido a apontar o dedo. Se não foi um erro trágico, dou 50% a cada parte a possibilidade de autoria, sem deixar de dizer que uma inscrição mostrada nos telejornais, na carcaça do foguete, em que constava algo como "pelas crianças da Ucrânia", cheira-me sempre a esturro. Mas ainda assim, não sabendo nada, como toda a gente, excepto os que comandam as operações, atribuo a cada parte cinquenta por cento da animalidade.

ucranianas

playlist: «Reputation»

sexta-feira, abril 08, 2022

quadrinhos



 

playlist: «Goodbye»

Ucrânia e Catalunha (ucranianas LXIII)

Sempre detestei a hipocrisia, um sinónimo de desonestidade e falta de carácter. Estou convencido de que muitos dos comentadores que se choram e indignam pela independência da Ucrânia, quando Putin quis fazer tábua rasa da especificidade desta nação, são os mesmo que se agatanharam contra os políticos catalães que pretenderam libertar-se da tutela do estado espanhol, e não se importaram nada -- devem até ter compreendido, quando não saudado -- as perseguições que o mesmo estado moveu àqueles, que aliás se mantêm, com o exílio de Puigdemont e dos companheiros, sob a passividade, para dizer o mínimo, da Dona von der Leyen. Ah, os valores europeus, como são superiores...

Em termos substantivos, descontando a escala territorial e o poderio bélico de ucranianos e russos, catalães e castelhanos ( não há espanhóis), a questão nacional é semelhante -- e do ponto de vista político até mais gravoso para a Catalunha, uma vez que a Ucrânia, por incapacidade de Moscovo, admita-se, e termine esta guerra como terminar, manterá o estatuto de estado independente; aos catalães, na democrática Europa dos valores, nem a um referendo têm direito.

ucranianas

quinta-feira, abril 07, 2022

playlist: «Glattugla»

queriam a nato, não queriam? então tomem lá (ucranianas LXII)

Tenho sido parcimonioso com Zelensky. Goste-se ou não, ele e a família arriscam a vida, e eu aprecio gente corajosa. Ou seja, mostrou estar à altura da situação, e isso merece-me respeito. Mas isto, que não é pouco, acaba já aqui. Por razões que não sei descortinar, Zelensky é também alguém que faz o trabalho sujo dos Estados Unidos e, como tal, co-responsável político pelo que se passa na Ucrânia. 

Aliás, a cúpula política Ucraniana, é preciso repetir tantas vezes quantas as necessárias, pôs o seu povo em risco e arrastou-o para uma guerra que lhes escapa, como qualquer um, se quiser, pode ver. O papel grosseiro dos americanos é cada vez mais indisfarçável: os convites à Finlândia e à Suécia, países historicamente neutrais para participarem nas reuniões da Nato, e agora à Ucrânia; a fita que estão a fazer com a comissão dos direitos humanos, quando se estão a borrifar para os mesmos (não pertence a Arábia Saudita essa comissão?); e agora (fora tudo o resto) a hilariante birra com o G20: como não conseguem condicionar a China e a Índia dizem que não vão se a Rússia estiver presente. É para rir, apesar de tudo.

O PCP. Então o PCP iria aprovar a ida ao Parlamento de um governante que proíbe o PC da Ucrânia, fora as perseguições étnicas etc., a que a Europa dos "nossos valores" fecha os olhos quando convém? (Um dia destes tenho de fazer o paralelo das atitudes relativamente à Catalunha e à Ucrânia -- nunca tive paciência para vigaristas). O que seria se o PCP aprovasse a ida ao Parlamento de um indivíduo que é instrumento da Nato e além disso preside a um estado que ilegalizou o PC de lá?... Drogam-se, ou só se fazem de estúpidos?  

ucranianas

quarta-feira, abril 06, 2022

playlist: «Mundaréu»

ainda o massacre, ou os americanos a esfregar as mãos de contentes (ucranianas LXI)

 Continuo a achar credíveis os massacres, embora compreenda que haja quem duvide, mesmo com jornalistas, pois há os verdadeiros e os porta-vozes do governo ucraniano ou dos Estados Unidos. (Gosto muito de ouvir a expressão "fontes credíveis", lengalenga de papalvos para outros que tais).

O que me convenceu de imediato foram os testemunhos populares: mas a teoria da encenação é bastante tentadora, pese aí uma certa canalha opiniosa que quer calar ou intimidar os outros.

A pressa com que ingleses e americanos estavam já a falar do TPI e a "recolher dados", faz-me, contudo, torcer o nariz. 

Quanto aos russos: é possível que os russos quisessem replicar a Tchetchénia nessas cidadezinhas dos arredores de Kiev? Serão tão estúpidos e selvagens lá no comando da operação, ou foi uma brigada que se descontrolou? É possível. A estupidez e a maldade humanas não têm fronteiras.

De qualquer modo, os americanos a esfregar as mãos, a ganhar para já esta guerra com os russos, usando os ucranianos e a UE da Úrsula e do Speedy Borrell a abrir-lhes as pernas indecorosamente.

P.S. Quem acredita que os americanos se interessam alguma coisa por ucranianos, catalães, portugueses ou suecos ponha o braço no ar. Quando oiço estes gajos falar dos "nossos valores", só tenho vontade de rir.

ucranianas

«Miles From Nowhere»

terça-feira, abril 05, 2022

não é bem assim, PCP (ucranianas LXI)

 Em entrevista à nova líder parlamentar do PCP, Paula Santos, a jornalista, frissonante, pergunta, duas vezes, depois de obter a resposta que o partido condenava todos os intervenientes, Estados Unidos, Nato, UE, Rússia: "mas têm o mesmo peso na balança?..." -- a resposta mantém-se inalterada.

Não, PCP. A resposta certa é: primeiro condena-se os Estados Unidos, por patifaria, saque e chulice; depois a UE, por ser lacaia; em terceiro lugar, a liderança ucraniana, ao serviço dos americanos e a cagar-se para o povo; e só em quarto lugar, mas só em quarto lugar, a Rússia, por imperialismo oitocentista -- embora com a atenuante de fazer uma guerra preventiva para não ter os badalhocos dos americanos à porta. Isto sim, é que seria uma resposta acertada.

playlist: «Épilogue»

quando tudo serve para dizer o que se quer (ucranianas LX)

Desastres e degradações à parte, como as que se avizinham se isto  não acabar depressa, permitem que quase todos digam os que bem lhes apetece, não interessando  nada se o que dizem está correcto ou é apenas ligeiro entorse à verdade. Hoje ouvi em poucos minutos várias coisas de espantar, entre asneiras e delírios. 

A propósito da aludida possibilidade e/ou intenção das adesões da Suécia e Finlândia à Nato (uma retumbante vitória estratégica dos Estados Unidos, a acontecer) com a passadeira vermelha estendida pelo Stoltenberg, parece que impressionados com o genocídio ucraniano (sempre desprezei quem não respeita as palavras), oiço mais uma criatura, até agora para mim desconhecida, a obrar os maiores ditirambos à aliança atlântica recém-ressuscitada. Era tal o entusiasmo, que o homem justifica aquela possível adesão como mais um exemplo de como ex-países da Cortina de Ferro (sic), conhecedores do punho também de ferro dos russos, estão agora à procura de protecção. 

Tem isto importância? Nem por isso, até porque o homem deveria estar a pensar no Ford Cortina do avô e não bem na Cortina de Ferro, mas é uma insignificante amostra de como é difícil ter algum tipo de conversa a propósito da guerra na Ucrânia entre os Estados Unidos e a Rússia.

(em tempo: entretanto leia-se quem sabe e pensa o que diz e escreve, Carlos Branco).

ucranianas

segunda-feira, abril 04, 2022

playlist: «D-Grade Fuck Movie Jam»

levou tempo, mas ainda vão lá (ucranianas LIX)

 Alguns historiadores e especialistas em relações internacionais levaram tempo a perceber que isto não é uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre dois imperialismos. Alguns coitados porém, tendo aí chegado e comendo a papa toda que lhe põem à frente, acham muito mal que se fale em acontecimentos passados (estão a referir-se ao crime do Iraque, mas não o dizem). Como se a lógica fosse diferente em duas décadas, como se a maior parte dos protagonistas tivesse desaparecido, como se o actual inquilino da Casa Branca não tenha estado directamente implicado nessa guerra com pretextos inventados (coisa que não se pode dizer sobre a Ucrânia, correndo o risco de se parecer efectivamente estúpido ou aldrabão). 

Algumas destas luminárias até se dizem de esquerda; uns quantos circularam inclusivamente pela dita extrema. Ora, não se trata de relativizar a acção da Rússia, que formalmente atenta contra o Direito Internacional, e onde a esquerda não existe, mas de estes pífios analistas e historiadores vesgos, com um suposto posicionamento à esquerda, desvalorizarem o que é a estratégia dos Estados Unidos, a potência que lidera a Nato, como se o imperialismo predatório americano houvesse mudado de natureza. Alguns são tão tapados que nem se aperceberam de que o que se está agora a passar estava já a preparar-se com a suposta vitória da Clinton, ficando entre parênteses com a ascensão do Trump, que, pertencendo ao grupo dos que manobram e não dos manobrados -- clintons, bidens e quejandos --, tinha a sua contabilidade própria, sem precisar de pagar a factura da eleição. Parece, pois, já terem percebido que a Ucrânia é um mero campo de batalha, e que os ucranianos são carne para canhão usada pelos seus líderes políticos

Ainda não escrevi aqui algo que toda a gente sabe; mas que nunca é de mais sublinhar: o filho do Biden, um lóbista -- ou seja, um homenzinho de aluguer que se arrenda para conseguir favores em troca dos seus contactos --, tem ligações e interesses na Ucrânia, nomeadamente, segundo pude ler, na empresa de gás ucraniana, e provavelmente outras.

Hoje ouvi na rádio José Manuel Fernandes, um tipo que defendeu a invasão do Iraque, na sequência do Assis (uma caricatura pertencente à raça dos que gostam de se ouvir, o que impressiona qualquer parolo), atirar-se contra um tipo que tem sido muito badalado, ex-espião e mais não sei o quê, que tem uma posição não sei se pró-russa ou equidistante. Nem me lembro do nome, porque aparece na sic, que só vejo por acidente, com medo que ocorra o inefável Milhazes. No entanto, parece que terei de estar mais atento. (Tive de ir à procura do nome do homem de quem se fala: Alexandre Guerreiro -- e a que horas fala ele?)

ucranianas

1 disco, 1 faixa: AGAINST THE WIND (1980) - #2. «Fire Lake»

domingo, abril 03, 2022

crimes de guerra (ucranianas LVIII)

 Os crimes de guerra (execução de civis) que têm sido mostrados nas cidades desocupadas em redor de Kiev, não me oferecem muitas dúvidas quanto a terem sido cometidos pelos russos, apesar dos desmentidos. Não porque a imprensa o diga e muito menos os ucranianos, que a estes dou uma margem de 50% de mentiras (quanto à imprensa, sobre para os 70), mas porque os testemunhos populares me pareceram credíveis.

Sem querer desculpá-los -- não, devem ser investigados, julgados e exemplarmente punidos --, há duas coisa que se me oferece dizer, e que são estas: 

1- Não há guerras sem crimes das ditas (nós, portugueses, fartámo-nos de os cometer no Ultramar). Seria bom que se lembrassem antes de a desencadear -- embora, como disse logo, os Estados Unidos iriam resistir até ao último ucraniano; e

2- Os últimos governos com autoridade moral para falar em crimes de guerra são o britânico e o americano. Blair, Bush e toda a camarilha ainda estão aí à espera de julgamento. 

Como diria Santo Agostinho, não me fodam.

ucranianas

playlist: «The Trees They Do Grow High»

quadrinhos



 

sexta-feira, abril 01, 2022