Paul Gillon, Jean-Claude Forest e Os Náufragos do Tempo
quarta-feira, fevereiro 27, 2019
vozes da biblioteca
«Na sala de jantar da minha avó havia um aparador com portas de vidro e dentro desse aparador um pedaço de pele.» Bruce Chatwin, Na Patagónia (1980) (trad. José Luís Luna)
«Ontem dobrámos o cabo de S. Vicente sob um luar digno dos dramas de Shakespeare.» Eça de Queirós, O Egipto (1869/1926)
«Pequeno, dez, onze anos melancólicos e tímidos, subíamos ao cume da serra que padroa a casa onde nascemos e ali, entre urzes e pinheiros, nos quedávamos a contemplar vizinhas terras.» Ferreira de Castro, A Volta ao Mundo (1940-44)
terça-feira, fevereiro 26, 2019
vozes da biblioteca
«A torre -- a porta da Sé com os santos nos seus nichos --, a praça com árvores raquíticas e um coreto de zinco.» Raul Brandão, Húmus (1917)
«Havia braços de rainhas de mãos pendentes, brancas e com anéis, rosários de olhos como bolindros variegados com ternuras incalculáveis e molhadas e também com ódios e estupidez, mitras e cogumelos, como anémonas que se tinham nascido e morrido era por acaso, ao sabor do vaivém do sangue, na pele sei lá de quem.» António Pedro, Talvez uma Narrativa (1942)
«Preparar o futuro -- preparação para a morte.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)
Etiquetas:
António Pedro,
morceaux choisis,
Raul Brandão,
Vergílio Ferreira
segunda-feira, fevereiro 25, 2019
na morte de João Bigotte Chorão
Ensaísta, crítico e também diarista, ao lermos a reunião dos seus ensaios em volumes como O Escritor e a Cidade, Galeria de Retratos ou O Espírito da Letra ou ainda sínteses modelares como O Essencial sobre Camilo Castelo Branco, verificamos que ele pertence àquele grupo de autores, que não é multidão, que tem a literatura como alimento espiritual (não exclusivo, é certo) e paixão, que a serve em vez de dela se servir. Era o maior camilianista vivo; e a escritores, como Carlos Malheiro Dias, João de Araújo Correia, Francisco Costa ou Tomás de Figueiredo, entre muitos outros, deu o brilho da sua inteligência e a elegância do seu estilo.
Entre nós, alguns encontros, após aquele primeiro em que, já não sei porquê, evocámos a função salvífica dos sonetos do Shakespeare na vida periclitante de Stefan -- herói do Bosque Proibido, do Mircea Eliade --, numa circunstância dramaticamente incerta.
vozes da biblioteca
«Dedico este poema aos foragidos, / Àqueles que saem à noite e não voltam, / Aos animais que ninguém pode domesticar, / Aos objectos que se partem / Sem que ninguém os toque.» José Pascoal, «Dedicatória», Sob Este Título (2017)
«Imagina o que serás amanhã, daqui / A seis meses, ao fim de um século, não / Gastes o instante: o agora é nunca. [...]» Rui Almeida, Muito, Menos (2016)
«Noite, / noite velha / nos caminhos.» Eugénio de Andrade, «Nocturno», Primeiros Poemas
Etiquetas:
Eugénio de Andrade,
José Pascoal,
Rui Almeida,
silva
domingo, fevereiro 24, 2019
sábado, fevereiro 23, 2019
vozes da biblioteca
«Atravessava Nimur uma ponte velha, fechada de correntes, por onde ninguém ousava passar.» Mário de Carvalho, «Agade e Nimur», Contos da Sétima Esfera (1981)
«Num árido e abrupto vale, habitado apenas pelo rumor longínquo do rio lutando para conseguir passar entre as estreitas fragas, uma voz disse-me que só estamos aqui de passagem, que a nossa estadia na terra é temporária.» Rui Chafes, «O perfume das buganvílias», Entre o Céu e a Terra (2012)
«Se Portugal não pode hoje conquistar Cacilhas, porque -- ai de nós! ela não é moira; é necessário que quando nos voltamos para o passado, possamos sentir a alma, porque ele vivia para o compreendermos; de outra forma a história torna-se ou uma cronologia muda, ou, o que é talvez pior, a justaposição de fonomonalidades animais.» Oliveira Martins (1872), Correspondência
«Se Portugal não pode hoje conquistar Cacilhas, porque -- ai de nós! ela não é moira; é necessário que quando nos voltamos para o passado, possamos sentir a alma, porque ele vivia para o compreendermos; de outra forma a história torna-se ou uma cronologia muda, ou, o que é talvez pior, a justaposição de fonomonalidades animais.» Oliveira Martins (1872), Correspondência
Etiquetas:
Mário de Carvalho,
morceaux choisis,
Oliveira Martins,
Rui Chafes
vozes da biblioteca
«E os outros, -- toda a malta da terceira, imunda e sórdida -- miseráveis, porque trocam a sua pobreza livre pela escravidão?» Joaquim Paço d'Arcos, Diário dum Emigrante (1936)
«Logo de manhã, aos primeiros sinais do sol, à frente dos pequenos guardadores seminus, as cabeças de longos cornos negros curvadas para o chão, os búfalos caminham com lentidão, enquanto remoem o capim, e do outro lado da estrada vermelha, a perderem-se de vistas, os talos decepados do arroz ficam rebrilhando nas várzeas desertas.» Orlando da Costa, O Signo da Ira (1962)
«Neste jardim, que só os cónegos velhos frequentavam em manhãs de bom sol morno no intervalo do serviço religioso, não passeava a esta hora ninguém; e dos claustros, igualmente desertos, subia o silêncio de ruínas mortas, entrecortado pelo murmúrio argentino dum turíbulo que oscilava, com isócrona cadência, por detrás da capela-mor, nas mãos diáfanas duma criança grave.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920)
Etiquetas:
Joaquim Paço d'Arcos,
Manuel Ribeiro,
morceaux choisis,
Orlando da Costa
sexta-feira, fevereiro 22, 2019
Arnaldo Matos
Uma vez, em Vila Franca de Xira, numa sessão sobre o romance Emigrantes, de Ferreira de Castro, apareceu o histórico do PCTP/MRPP Arnaldo Matos. Ouviu, atento, e foi o primeiro a aplaudir. Fiquei contente.
Etiquetas:
Arnaldo Matos,
Ferreira de Castro,
obituário
quinta-feira, fevereiro 21, 2019
quarta-feira, fevereiro 20, 2019
vozes da biblioteca
«Com os seus setenta anos, o velho Buddenbrook ainda se conservava fiel à moda da sua mocidade, renunciando sòmente aos grandes bolsos e aos alamares.» Thomas Mann, Os Buddenbrook (1901) (trad. Herbert Caro)
«Deus sabe que já vivi em Paris o tempo suficiente para não me sentir surpreendido com coisa alguma.» Henry Miller, Opus Pistorum (póstumo, 1983) (trad. José Jacinto da Silva Pereira)
«Por cada uma que triunfa, isto é, por cada uma que consegue casar com um bom rapaz ou agarrar-se a um velho, quantas caem na desgraça ou são agarradas pelo grande sorvedouro da miséria?...» Octave Mirbeau, Diário de uma Criada de Quarto (1900) (trad. Adelino dos Santos Rodrigues)
terça-feira, fevereiro 19, 2019
vozes da biblioteca
«A mesma expressão apavorada, mas agora baça e fria, abria-lhe os olhos para o tecto.» Manuel da Fonseca, Cerromaior (1943)
«Ali estava no que dava uma vida daquelas: Lourenção, o senhor das terras, dos poisios e da gente do Covão, morto a cacete como um cachorro danado!» Carlos de Oliveira, Alcateia (1944)
«Fascinados pela presença do lugre, partir, não interessava de que modo, eis o último recurso a que poderiam deitar mão.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)
Etiquetas:
Carlos de Oliveira,
Manuel da Fonseca,
Manuel Ferreira,
morceaux choisis
segunda-feira, fevereiro 18, 2019
«As ideias religiosas, os símbolos religiosos têm para nós a grandeza de criações do espírito humano e devem ser respeitados como tais.»
Teixeira de Queirós a João de Barros, aqui.
Etiquetas:
correspondências,
João de Barros,
Teixeira de Queirós
domingo, fevereiro 17, 2019
vozes da biblioteca
«Em cima da cômoda / uma lata, dois jarros, alguns objetos / entre eles três antigas estampas» Francisco Alvim, «Luz», in Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1976)
«Era Setembro e não pensei / que os homens não cantavam lá nas verdes vinhas / da minha pátria onde a vindima é triste.» Manuel Alegre, «Do poeta ao seu povo», Praça da Canção (1965)
«O poeta ia bêbedo no bonde.» Carlos Drummond de Andrade, Brejo das Almas (1934)
Etiquetas:
Carlos Drummond de Andrade,
Francisco Alvim,
Manuel Alegre,
silva
sábado, fevereiro 16, 2019
sexta-feira, fevereiro 15, 2019
«Porque não sou comunista, também eu quero combater a ideologia comunista, não me interessando de nenhum modo combater as pessoas comunistas, porque só as ideias e não os homens eu julgo que merecem ser combatidas ou seguidas.»
José Magalhães Godinho a Marcelo Caetano, aqui.
Etiquetas:
José Magalhães Godinho,
Marcelo Rebelo de Sousa
quinta-feira, fevereiro 14, 2019
vozes da bilioteca
«O adorno de um cargueiro obliquado sobre o azul de Delft, o azul do primeiro nome que um dia conseguiu articular.» Rui Nunes, «Quem da Pátria Sai, a Si Mesmo Escapa?» (1983)
«Explica-se bem esta diferença, dizendo que o cavaleiro era um elegante rapaz de Lisboa, que fazia então a sua primeira jornada, e o outro um almocreve de profissão.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
«Se no mato morreu animal de pouco, certo que cheirará ao podre do que morto está.» José Saramago, Levantado do Chão (1980)
Etiquetas:
José Saramago,
Júlio Dinis,
morceaux choisis,
Rui Nunes
quarta-feira, fevereiro 13, 2019
terça-feira, fevereiro 12, 2019
presos políticos catalães julgados por 'rebelião', 'sedição' e 'devio de fundos'
Qualquer democrata deve demonstrar a sua repugnância pelo que se passa hoje em Madrid. Não basta vociferar, e bem, contra as hungrias e as polónias; ou tomar parte das mal contadas histórias da Venezuela, sobre a qual muito haverá que falar. Se o governo português tem e deve conter-se, como sempre tenho defendido, nesta delicadíssima questão -- e 'conter-se' não significa arriar as calças, como por vezes sucede --, não se segue que a sociedade portuguesa, onde se incluem os partidos políticos, não tome posição, fazendo ver ao poder castelhano-espanholista-franquista (que este fim-de-semana juntou 45 mil infelizes em manif madrilena) que há limites para a indecência em sociedades civilizadas. Podiam aprender com outros países europeus e não fazer esta figura triste de politicamente subdesenvolvidos.
segunda-feira, fevereiro 11, 2019
domingo, fevereiro 10, 2019
vozes da biblioteca
«Camilo é o tipo do grande escritor escravo da sua terra e da sua época.» João Pedro de Andrade, O Problema do Romance Português Contemporâneo (1943)
«Ilustrar o célebre livro de Ferreira de Castro era, para ele, continuar, embora sob um aspecto novo, o alto canto que de há tantos anos vem espalhando, com energia e ternura, por pequenas e grandes telas e por quilómetros quadrados de paredes de edifícios públicos: um canto amassado de lágrimas e de brados, de ira e amor.» Mário Dionísio, 12 Ilustrações de Portinari para o Romance A Selva de Ferreira de Castro (1955)
«Só escreve obscuro quem pensa obscuro -- ou quem, simplesmente, não pensa.» Eugénio Lisboa, O Objecto Celebrado (1999)
"Com a minha modesta fortuna não podia fazer filhos e livros ao mesmo tempo."
Alexandre Herculano a Joaquim Filipe de Soure, aqui.
Etiquetas:
Alexandre Herculano,
correspondências,
Joaquim Filipe de Soure
sábado, fevereiro 09, 2019
sexta-feira, fevereiro 08, 2019
os candidatos às eleições europeias
A sério -- o PS não arranja melhor do que Pedro Marques?... Deve ser um rapaz muito esperto, mas pensamento sobre a Europa foi coisa que nunca ouvi vindo dali. Até posso perceber que em tempos cristínicos e cretinos não seja, digamos, mobilizador avançar com alguém com substância como cabeça de lista, como, por exemplo Maria João Rodrigues; ou, mudando de partido, que o PSD continue a apostar num demagogo bem falante, em vez, por exemplo, de José Manuel Fernandes, que parece ser um grande deputado europeu. É por estas e por outras que os partidos progressivamente se alienam da cidadania
Os tempos não estão fáceis. O CDS, completamente desinteressante e irrelevante, joga pelo seguro; Bloco e CDU, idem, mas estes não são europeístas: BE, numa inconsistência de nem-carne-nem-peixe; PCP, em isolacionismo tipo albanês, apesar de os deputados (BE e PCP) serem muito bons; porém, não interessam: se votar em Marques, Rangel ou Melo é um voto deitado para o lixo, que não serve para nada, Matias ou Ferreira representam partidos que são puros impasses em política europeia -- e um dos problemas da UE é o impasse, o imobilismo, a estagnação, a letargia.
Ou seja: a União Europeia, e estas eleições, que são talvez as mais importantes de sempre, passam à margem dos cinco partidos parlamentares; quem quiser discutir e pensar a União Europeia nestes tempos críticos, e não apenas crestínicos, de forma estruturada, só terá duas hipóteses a atender: o Livre, qualquer que venha a ser o candidato, que pensa a Europa desde que foi fundado (aliás, a Europa e a União que integramos está nos fundamentos do próprio partido), veremos como se vai comportar; e, curiosamente, um partido anedótico, o Aliança, que surpreende com Paulo Almeida Sande, o único cabeça de lista dos anunciados com músculo europeu.
quinta-feira, fevereiro 07, 2019
« A razão é porque, comprando os particulares nacionais sem regra nem medida tudo quanto lhe querem fiar os Estrangeiros, introduzem de modo ordinário em um ano Fazendas que necessitam de três anos p.ª se consumirem.»
O Marquês de Pombal a seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governando-geral do Grão-Pará e Maranhão, aqui.
vozes da biblioteca
«Das duas uma: ou as pessoas se fazem ao nome que lhes puseram no baptismo, ou ele tem de seu o bastante para marcar a cada um.» José de Almada Negreiros, Nome de Guerra (1938 [1925])
«Eu sentia-me tão frouxo que entrei no primeiro café cuja mancha luminosa esparrinhava nas pedras molhadas.» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934)
«Vendo-se miserável, vaiado, escarnecido, desatou a perseguir na rua os bandos de garotos que o não reconheciam como "fidalgo daquém e dalém mar, senhor da tropa e das arábias"; e nenhum Sancho amigo se amerceou dele, nem ninguém, salvo a própria vida, que, depois de castigá-lo tão impiedosamente como merecia, o abandonou ao descanso da sepultura comum.» José Marmelo e Silva, Sedução (1937)
Etiquetas:
Almada Negreiros,
José Marmelo e Silva,
José Régio,
morceaux choisis
terça-feira, fevereiro 05, 2019
segunda-feira, fevereiro 04, 2019
domingo, fevereiro 03, 2019
vozes da biblioteca
«Em pequenino ponto desse corpo, / a fonte, o fogo, o mel se concentraram.» Carlos Drummond de Andrade, «Amor -- pois que é palavra essencial», O Amor Natural (póst., 1992)
«Secretas vêm, cheias de memória» Eugénio de Andrade, «As palavras«, Doze Poemas (1995)
«Só bens me dê o céu! eu tenho provas / Que não há bem que pague o desta vida.» Afonso Duarte, Rosas e cantigas», Um Ramo de Rosas -- Colhidas por José da Cruz Santos na Poesia Portuguesa e Estrangeira (2010)
sábado, fevereiro 02, 2019
sexta-feira, fevereiro 01, 2019
«estou completamente estúpido para tudo o mais: sou como um instrumento em que todas as cordas se quebraram menos uma -- e que já não dá mais que um som em qualquer parte e por qualquer modo que o firam»
Almeida Garrett a Rosa Montúfar Infante, viscondessa da Luz, aqui.
Etiquetas:
Almeida Garrett,
correspondências,
Viscondessa da Luz
Subscrever:
Mensagens (Atom)