De férias e sem televisão, e só agora com net no domicílio estival, não tenho visto tudo sobre a greve; mas o que li nos jornais e ouvi na rádio possibilitam-me escrever o seguinte:
1. O que parece incontroverso: o descontentamento elevado dos motoristas de pesados, em especial os das matérias perigosas, daí a forte adesão a esta greve.
2. Ordenados mínimos para estes trabalhadores, com extras pagos por baixo da mesa, de acordo com as notícias; ou seja: em baixa médica ou reforma, o trabalhador vence pelo mínimo. Além disso, fuga aos impostos por parte dos patrões.
3. Ao anunciarem uma greve por tempo ilimitado, os dois sindicatos estão a dar um passo maior que a perna. Obviamente que o estado não pode ficar de braços cruzados em questões estratégicas. Crítica ainda aos sindicatos, por darem pretexto ao governo por exercer a maior limitação alguma vez vista ao direito à greve.
O que me leva à questão política: o PSD tem razão quando denuncia a dramatização do governo; no entanto essa oportunidade foi concedida de mão beijada a António Costa pelos sindicatos grevistas, não só porque a greve é impopular (a maralha está sempre pronta a reclamar, mas, quando mexem com os seus interesses, endossa sempre a autoridade), como ainda não se apagou da memória a nódoa dos fogos de 2017, de que obviamente não foi o principal 'culpado', mas não se pode eximir à responsabilidade pela actuação da Protecção Civil.
A forma como se procurou matar a greve no ovo foi um golpe de génio, dirão alguns. Sim, temos um primeiro-ministro que é um habilidoso, um verdadeiro artista, como diria o outro; mas estas habilidades são dispensáveis e lesivas de uma vida democrática sã. Não é porém de agora, nem deste governo, mas não deixa de ser nauseante assistir ao cerceamento de um direito fundamental por parte do executivo da Geringonça. Não há-de a direita estar desorientada e em decomposição...
Verifico que é um sindicato da CGTP que esvazia a greve. E talvez com ganhos de causa, o que lhe dará alguma razão. Isso os especialistas dirão. Mas não deixa de ser curioso.
Finalmente, não tenho opinião formada sobre Pedro Pardal Henriques. Está na linha de fogo, inevitàvelmente. Se, como por aí se diz, vier a tornar-se candidato às legislativas por um partindúnculo qualquer, mostrará que não passa de um aventureiro e um espertalhão. No entanto, merece o benefício da dúvida, como qualquer pessoa. A circunstância de ser filho e irmão de motorista, também não é indiferente. Mas, centrar o problema neste indivíduo é querer fazer dos outros parvos, pois a questão essencial, com ou sem Pardal Henriques, está lá em cima, no ponto n.º 1.
P.S. (21-VIII): a candidatura confirma-se, por um partido sem credibilidade. São dois descréditos em um.