terça-feira, junho 30, 2009

caderninho

A vida não é para mim um deserto que eu atravesse melancólico como um árabe olhando a sua sombra nas areias. Mas que fosse! Para o atravessar de noite, com segurança, uma coluna de fogo me guiaria os passos: o amor do meu filho. Bourbon e Meneses
Novos Solilóquios Espirituais

O Vale do Riff - Cab Calloway, feat. Jonah Jones, «I Can't Give You Anything But Love»

Figuras de estilo - Eça de Queirós

Ah! Vós dizeis que amais o progresso. Amais o progresso que vos inventa cadeiras mais cómodas; o progresso que vos monta operetas de Offenbach para acompanhar alegremente a digestão do jantar; o progresso que descobre melhores limas para cortardes os calos! Esse progresso decerto o amais! Mas o que não amais é o progresso político, porque esse traria uma ordem de coisas que extinguiria os vossos ordenados, levantaria as vossas décimas sonegadas, transtornaria as vossas posições -- isto é, este progresso tirar-vos-ia os meios de poderdes gozar o outro. E aí está o que vós não quereis, amáveis bandidos!


Uma Campanha Alegre
imagem daqui

segunda-feira, junho 29, 2009

O Vale do Riff - The B-52's, «Planet Claire»

quadrinhos






E. P. Jacobs, Blake e Mortimer -- O Segredo do Espadão -- SX1 Contra-Ataca
Hergé, Les Aventures de Tintin Réporter du "Petit Vingtième" au Pays des Soviets
Franquin, Spirou -- Os Herdeiros
Morris, Lucky Luke -- Sob o Céu do Oeste
P. Cuvelier & J. Van Hamme, Corentin -- Le Royaume des Eaux Noires

sábado, junho 27, 2009

acordes nocturnos

Prémio Lemniscata


A Ana Paula, do Catharsis e o Carlos Santos de O Valor das Ideias, blogues que muito aprecio, deixaram-me orgulhoso com a atribuição do Prémio Lemniscata.
Respigo de um deles o texto do referido galardão:
“O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."
Sobre o significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.”
Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores(In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de “Pérola da cultura”.
E, como foram dois prémios, vou, por minha vez, atribuir o Lemniscata a se7e + se7e outros blogues: Aguarelas de Turner (um blogue culto e delicado), Atlântico Azul (Cascais, mar, grande música), Disperso Escrevedor (deveria escrever mais), Elemento Musical (toda a Música) Ferreira de Castro (apetece-me premiar a mim próprio, o blogue merece e preciso de encher a barra lateral) Grande Jóia (o olhar sagaz de Angelina Jolie), Museu de Arte Popular (gosto de contestar a discricionaridade do[s] Poder[es]), O Caderno de Saramago (a minha lata!, dar um prémio ao Saramago...), Old Paint (sinto-me bem a deambular por lá), Pimenta Negra (a nobreza das causas), Resistir (um blogue que se aproxima da perfeição), Rua da Judiaria (no centro da perfeição, fascinante) Tempo Contado, (um estilo impecável, a perfeição aproxima-se dele) e last but not least o Álbum Animador, do meu filho António, que muito enriquece a minha vida.

quinta-feira, junho 25, 2009

acordes nocturnos

Já me desenganou quem me enganava. // Mais foi perda sua que meu dano
Frei Agostinho da Cruz

O Vale do Riff - Fats Waller, «The Joint Is Jumpin'»

Neda Agha-Soltan

Eu vi as imagens da morte de Neda Agha-Soltan, a chispa de incredulidade nos seus olhos, o desespero dos impotentes que a circundavam.
Quis importar o filme do YouTube, mas, por inabilidade, não o consegui.
Neda Agha-Soltan -- que nome fantástico para uma mulher comum, transformada, sem o saber, em bandeira da liberdade.

Antologia Improvável #385 - Arménio Vieira

QUIPROQUÓ

Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar nos lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicídio de um poeta
Senhor, Senhor, que digo eu?
Que ando vestido pelo avesso
E furto chapéu e roubo sapatos
E sigo descalço e vou descoberto


in JL, n.º 1010, 17 de Maio de 2009
foto daqui

terça-feira, junho 23, 2009

caderninho

Certos autores, ao falarem das suas obras, dizem: «o meu livro, o meu comentário, a minha história, etc.» Sentem-se como burgueses que têm bens ao sol e sempre um «em minha casa» na boca. Fariam melhor se dissessem: «o nosso livro, o nosso comentário, a nossa história, etc.» pois que, em geral, há ali mais dos outros do que deles. Blaise Pascal
Pensamentos (tradução de Américo de Carvalho)

O Vale do Riff - The Animals, «Roadrunner»

segunda-feira, junho 22, 2009

acordes nocturnos

Figuras de estilo - Arnaldo Gama

Havia já mais de dez minutos que o Sol mergulhara no ocaso. A noite começava a entenebrecer sobre o vale. As folhas amarelecidas, que o Outono arrancava das árvores e com que a brisa doidejava, arrastando-as sobre a relva verdejante dos campos, já com esta se confundiam numa só massa pardacenta. O castelo do baliado principiava a assombrar-se e a denegrir-se. O chiar dos carros e as vozes dos lavradores tinham cessado. Os cães da aldeia começavam a latir de espaço a espaço e as casas e arribanas, que rodeavam aqui e ali a fortaleza, emantilhavam-se no espesso fumo resinoso que lhes saía pelas fendas dos tectos palhiços e que a calma da atmosfera deixava estacionar sobre eles.


O Balio de Leça

O Vale do Riff - The Kinks, «You Really Got Me»

domingo, junho 21, 2009

quadrinhos






Edgar Pierre Jacobs, O Raio U
Hergé, Les Aventures de Tintin, Réporter du "Petit Vingtième" au Pays des Soviets
Franquin, Spirou -- Os Herdeiros
Paul Cuvelier & Jean Van Hamme, Corentin -- Le Royaume des Eaux Noires
Edgar Pierre Jacobs, Blake e Mortimer - O Segredo do Espadão -- SX1 Contra-Ataca

sábado, junho 20, 2009

Resposta a GJ - As minhas séries (3)

Eu era novíssimo e adorava ver Os Waltons ao sábado à tarde. Recordo-me da enorme família, da carripana (o meu avô paterno, nascido em 1909, teve uma coisa daquelas -- e também uma grande família), das jardineira e dos suspensórios. Drama e conflito , se os houve, não me recordo. Era a faceta feliz da Grande Depressão.

Outros tons - José Afonso, «Os Vampiros»

Antologia Improvável #384 - Fernando Pessoa (2)

CANÇÃO

Sol nulo dos dias vãos,
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
Com externo calor brando
O frio da alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!


Ficções do Interlúdio
(edição de Fernando Cabral Martins)

O Vale do Riff - Pete Seeger, «Guantanamera»

sexta-feira, junho 19, 2009

acordes nocturnos

caderninho

O mau dá ouvidos aos lábios malignos; o mentiroso presta atenção à língua maliciosa. Colecção Salomónica
«Provérbios», Bíblia Sagrada (Missionários Capuchinhos)

quinta-feira, junho 18, 2009

O Vale do Riff - King Crimson, «Level Five»

Figuras de estilo - Carlos Ceia

Apresenta-se ao público como uma personalidade entre um Moniz Barreto, que pouco escreveu e muito disse, e um João Gaspar Simões, que muito escreveu e nada disse.


O Professor Sentado

terça-feira, junho 16, 2009

estampa CLVII

Edgar Degas, Depois do Banho: Mulher Enxugando-se
National Gallery, Londres

A rebelião é uma coisa bela.

É fantástico ver aquela corajosa multidão insubmissa em Teerão. Homens e mulheres de todas as idades, com a raiva de quem se sente defraudado estampada no rosto. Apesar das ameaças e das perseguições e dos crimes dos pides lá do sítio. Formidável.

O Vale do Riff - The Allman Brothers Band, «Ramblin Man»

segunda-feira, junho 15, 2009

Antologia Improvável #383 - Homero Homem

SÔBRE CACILDA. PRETA. POR FOME.

Cacilda. Preta. Por fome
(essa fome brasileira,
mais nortista que sulista,
sergipe de tão comum),

Cacilda, preta, por fome
de comida se dá tôda.
Por amor só dá a um.

Mau comércio de Cacilda.
Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.

Vigarice de Cacilda
pelas ruas do Sol-Pôsto
cavando seu desjejum:

Se espoja em cama-de-vento
apaga a vela a Ogum.
O corpo vira cem pratas.
Com vinte de safadeza,
mais dez de sem-vergonhice,
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.

Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão-prêto
e nana por jerimum.

Deita, Cacilda. Deitada,
a fome quebra o jejum.

Cacilda, preta expedita
polvilha pele e axila.
Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.

Cacilda, preta expedita.
Sempre fatura algum.

Cacilda, negrinha à-toa,
mulher de Cosme e Doum.
Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.


O Livro de Zaíra Kemper & Poesia Reunida

O Vale do Riff - Abbey Lincoln, «First Song»

domingo, junho 14, 2009

quadrinhos






Franquin, Os Herdeiros
Hergé, Les Aventures de Tintin Réporter du "Petit Vingtième" au Pays des Soviets
Jacobs, O Raio U
Hergé, O Vale das Cobras
Jacobs, O Segredo do Espadão 1 - A Perseguição Fantástica

sábado, junho 13, 2009

caderninho

CACHIMBO -- Só fica bem à beira-mar. Gustave Flaubert
Dicionário das Ideias Feitas (tradução de João da Fonseca Amaral)

Outros tons - Green Windows, «No dia em que o rei fez anos»

a terra é menina e o tempo rapaz
Alexandre O'Neill

sexta-feira, junho 12, 2009

O Vale do Riff - Aerosmith, «Remember (Walking In The Sand)»

caracteres móveis - Miguel de Unamuno

O céu da fama não é muito grande, e quantos mais neles entrarem, menos cabe a cada um.


Do Sentimento Trágico da Vida
(tradução de Cruz Malpique)

quarta-feira, junho 10, 2009

Somos crianças feitas para as grandes férias
Ruy Belo

O Vale do Riff - Art Blakey, feat. Freddie Hubbard, «Moanin'»

acordes nocturnos

Antologia Improvável #382 - Duarte de Viveiros (2)

NA HORA DO VÍCIO

Ao Jorge Pereira

A tarde cai sobre a cidade velha...
No céu -- listas violetas -- em desmaio...
É nestas tardes místicas de Maio
Que eu sinto, a arder, a tentação vermelha!

É nestas tardes de opressão, de sustos,
Que a minh'alma potente e vagabunda,
Procura, entre as florestas e os arbustos,
Esses frutos que a dor beija e fecunda!

É nestas tardes sôfregas de amor
Que, olhando em volta, eu vejo que me falta,
P'ra conquistar a situação mais alta,
Alguém que me enterneça, com fervor!

Penumbras de oiro, abraçam na distância,
Os longes desta capital sem pão...
Quem pudesse correr, o arco na mão,
De bibe azul, os bulevares da infância!

A tarde cai nas cúpulas, no rio...
Fecho os meus olhos, abro o coração...
Evoco a graça das mulheres e não
Mitigo as minhas tentações do Cio!

Ao relento de 1911.
Lisboa.

Obra Poética
(edição de Ruy Galvão de Carvalho)

segunda-feira, junho 08, 2009

caderninho

Não consintas que te distraiam os incidentes exteriores! Proporciona-te o vagar para aprender ainda algo de bom e pára de ser arrastado no turbilhão! É preciso também de hoje em diante guardares-te de outra espécie de perdição. Com efeito, bem loucos são aqueles que, à força de agir, estão fatigados da vida e não têm um objectivo para onde dirigir todos os seus esforços e, numa palavra, todos os pensamentos. Marco Aurélio
Pensamentos para Mim Próprio (tradução de José Botelho)

O Vale do Riff - Carlos Santana, «Soul Sacrifice»

é a vida... (um post reticente...)

Derrota devastadora para o PS (que estampanço na recta final!...); vitória insignificante para o PSD (31%...); subida previsível para PCP e BE (duvido que este se aguente nas legislativas...); notável a resistência do CDS. O que sairá daqui? A surpresa será completa, como vaticina a personagem de Hergé, em baixo?...

domingo, junho 07, 2009

quadrinhos






Hergé, O Vale das Cobras
Hergé, Les Aventures de Tintin Réporter du "Petit Vingtième" au Pays des Soviets
Franquin, Os Herdeiros
E. P. Jacobs, O Raio U
E. P. Jacobs, O Segredo do Espadão -- A Perseguição Fantástica

sábado, junho 06, 2009

Resposta à Grande Jóia - As minhas séries (2) - Kung Fu -- O Sinal do Dragão

Eu era miúdo, e ficava agarrado aos velhos televisores de teclas das minhas avós, às sextas ou sábados à noite, já não me lembro bem, fascinado por aquele sortilégio oriental por onde saltitava o Gafanhoto. E depois havia aquela mistura irresistível de western e kung fu. Foi uma das primeiras que me veio à memória quando a GJ me desafiou para este exercício de memória. Por coincidência infeliz, poucos dias depois tinha a notícia da morte de David Carradine.

Outros tons - GNR & Banda Sinfónica da G.N.R., «Morte ao Sol»

voto

Vital começou muito bem e, mal aconselhado, acabou a imitar Rangel na politiquice barata, amplificada pelo jornalismo cretino.
Falo apenas nos dois porque são os únicos que se assumem como federalistas, que é o que me importa.
Eu quero lá saber da porcaria do BPN e da caca da SLN do Oliveira e Costa e do Loureiro, e do BPP do Rendeiro! Quero saber, mas não aqui. Aqui quero que discutam o imposto europeu, a europa social, alargamentos, política externa europeia, e por aí fora.
Que pode fazer um federalista como eu senão esquecer a mixórdia de campanha que acabou e ir votar?
E vou votar: no PS, apesar de tudo, em Vital Moreira, com quem nem simpatizo; e também em Ana Gomes, que mostrou que não é preciso ser-se yeswoman, dando com isso mais dignidade ao exercício da política, e ainda em Elisa Ferreira (se eu fosse portuense, queria-a para presidente da Câmara).

sexta-feira, junho 05, 2009

O Vale do Riff - Horace Silver, «Cool Eyes»

homenagens a Nicot

Artur Loureiro, auto-retrato

Caracteres móveis - Philip Roth

O sexo é todo o encantamento necessário. Os homens acham as mulheres assim tão encantadoras uma vez excluído o sexo? Alguém acha alguém de qualquer sexo assim tão encantador, a não ser que se tenha comércio sexual com essa pessoa? Por quem mais nos sentimos assim encantados? Por ninguém.


O Animal Moribundo
(tradução de Fernanda Pinto Rodrigues)

quinta-feira, junho 04, 2009

O Vale do Riff - Gentle Giant, «The Advent Of Panurge»

A espada de mais fina lâmina / não pode cortar em duas as águas de um rio.
Li Bai /António Graça de Abreu

terça-feira, junho 02, 2009

estampa CLVI

Thomas Gainsborough, A Carroça das Colheitas
Barber Institute of Fine Arts, Birmingham

Antologia Improvável #381 - Martins Fontes (5)

QUIS O IRMÃO FOGO DEVORAR-ME A TÚNICA, E EU, POR MERO DESCUIDO, A RETIREI...

Não apagueis jamais uma candeia,
Nada que fulja, onde rebrilhe o fogo,
Onde corusque o Espírito, no jogo
Das mil cores em que ele se abraseia!

Atendendo aos conselhos do meu rogo,
Quando a flama oscilar, erguei-a, erguei-a,
Atiçai-a, tornando-a viva e cheia,
Deixando-a arder, em pleno desafogo!

Há no incêndio o esplendor da liberdade,
O calor de arrebato, a claridade
Que a fé somente exprime ou bem traduz.

Quem, soprando-o, extinguindo-o, não pondera
Que um hálito humanal, nessa cratera,
Pode, talvez, contaminar a luz?

I Fioretti

O Vale do Riff - Ahmad Jamal, «Darn That Dream»

segunda-feira, junho 01, 2009

caderninho

Não nos cansamos de ouvir falar de um objecto digno de ser amado, não nos cansamos de falar dele. Alegramo-nos com cada palavra nova, certeira, glorificadora. Se dependesse de nós, ele seria o objecto de todos os objectos. Novalis
Fragmentos São Sementes (tradução de João Barrento)

O Vale do Riff - AC/DC, «Hell Ain't A Bad Place To Be»