segunda-feira, fevereiro 10, 2025

o que está a acontecer

«-- Ai que ma levam!, ai que ma levam! / Uma nuvem desce da serra: arrastam-se rolos pelas encostas pedregosas e depois as baforadas espessas abafam de todo a vila. E noite, cerração compacta, névoa e granito formam um todo homogéneo para construírem um imenso e esfarrapado burgo de pedra e sonho.» Raul Brandão, A Farsa (1903) 

«A sua quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo Douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o Tinhela, por cinco fartas léguas, todo o torrão lhe pagava foro. E cerrados pinheirais seus negrejavam desde Agra até ao mar de Âncora. Mas o palácio onde Jacinto nascera, e onde sempre habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, n.º 202.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Do mesmo modo, quanto mais se lêem os sonetos e restantes líricas, mais perfume de beleza se exala daqueles ritmos de ouro e cristal. Mas os seus estos de amargor, esperança e desesperança, pessimismo e reconforto, languidez e agilidade, desencanto, enternecimento e frescura do coração só se compreendem com um homem profundamente infeliz, espezinhado da vida desde o berço, sobre quem se encanzinou a morfina. Não se cinture o pobre grande homem em precintas de múmia vendidas no bazar da virtude comum.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)