terça-feira, maio 31, 2022

playlist: «Sinister Waters»

quadrinhos



 

caracteres móveis

 «Acenam de longe à terra, que responde. Têm lágrimas nos olhos, cantigas e risadas na boca. Em frente a Galiza, toda verde e enevoada, como um poema dos Cancioneiros, parece triste, recolhida e misteriosa. Chove.»

José Rodrigues Miguéis, «Gente da terceira classe», Gente da Terceira Classe (1962)

segunda-feira, maio 30, 2022

domingo, maio 29, 2022

caracteres móveis

 «A "angústia" forma pequenos conglomerados de conhecimento e dor, tem essência cognitiva e estética, é um pedaço ensanguentado da realidade.»

Fidelino de Figueiredo, «O gosto de coleccionar», Um Coleccionador de Angústias (1941) 

quatro medalhas de ouro num só dia



https://www.facebook.com/watch/?v=1512364385891388

 

playlist: «History of the Moon»

quadrinhos



 

sábado, maio 28, 2022

playlist: «Hate For Sale»

Mário Mesquita (1950-2022)

Pertence à minoria de notáveis que ajudaram a fazer um país mais culto, mais civilizado, melhor. Jornalista e editorialista, superior e um exemplo para a sua classe, li-o imenso no Diário de Notícias, que dirigiu exemplarmente, e depois na direcção do Diário de Lisboa, o melhor diário que este país já teve. 

sexta-feira, maio 27, 2022

playlist: «Call Me Home»

hip hop e criminalidade -- onde estão os surdos?

 Quando ouvi na rádio que o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) associava o hip hop à criminalidade, fiquei indignadíssimo. O hip hop, como qualquer forma musical, como qualquer prática artística, é um verdadeiro bálsamo para quantos correm o risco de vegetar numa adolescência sem horizontes e alienada -- que é isso que as nossas sociedades têm para oferecer a quantos crescem em meios desprovidos, e não apenas de dinheiro.

O hip hop -- e eu nem tenho nenhum disco do género -- é uma extraordinária manifestação cultural, tanto na arte musical, pelo sangue novo que trouxe à música popular, a  capacidade de misceginação com outros géneros, e, nos melhores casos, o próprio trabalho com as palavras, nas suas significações e sonoridades; como na consciência cívica, espírito crítico, cidadania. E depois, como em qualquer género, do fado à erudita, há de tudo, do excelente ao péssimo.

Mas o RASI não faz uma associação dessa maneira simplista, divulgada pela imprensa; o que diz -- duma forma burocrática e sem chama -- é que no universo dos gangues, se trata de um dos factores de identificação entre os seus elementos. E então? Se um faia do Bairro Alto fosse um apanhado pela "Casa da Mariquinhas", associava-se o Alfredo Marceneiro às quadrilhas de rufias?

Ou seja: a criminalidade não está ligada ao hip hop, pelo contrário, o hip hop traz algum sentido e pode ser até a salvação para quantos, nas sociedades predatórias em que vivemos, são deixados à sua sorte.

Também aqui as massas -- para utilizar uma expressão tão horrível quanto certeira --, também aqui elas são carne para canhão. E não fora o hip hop e muitas outras manifestações artísticas, o triste mundo em que vivemos seria ainda mais feio e perigoso.

playlist: «Big Easy Blues»

quinta-feira, maio 26, 2022

da contenção das obras-primas (menos é sempre mais)

«-- Navio?»  O incipit, e também primeiro parágrafo, do conto «Os faroleiros», que abre Urupês (1919), de Monteiro Lobato, obra fundamental de um dos grandes escritores do Brasil e da nossa língua. Discurso directo, serve a pergunta de pretexto ao narrador para contar uma história trágica passada num farol. Uma beleza de começo.

um princípio. mas ainda não sabemos o fim (ucranianas C)

Está-lhes tudo a correr mal: é o Kissinger, é o Scholz, é a imprensa norte-americana, a inflação, os cereais, as televisões que já nem conseguem aldrabar mais, como se previa. E isto é só o princípio.

O princípio de quê?: do desfecho da guerra a breve prazo, com a previsível vitória militar da Rússia (se Deus quiser e for justo); ou da passagem ao patamar seguinte, o da escalada com o envolvimento de países da Nato (o rumor de que dois batalhões de voluntários (?) polacos terão sido fortemente atingidos pelos russos, não augura nada de bom a confirmar-se, dado o jaez sempre insidioso e traiçoeiros dos Estados Unidos e a miséria do energúmeno polaco, aliado dos líderes de Kiev, os homens de mão dos americanos -- é preciso dizê-lo sempre.)?... 

Quem se lembra daquelas "notícias" dejectadas pelas televisões que envenenaram as opiniões públicas europeias, de que a Rússia, ao fim de duas semanas de guerra, já andava a pedir armamento à China? É claro que os porcalhões que andaram a fazer os telejornais e a pôr os meninos a debitar "notícias" nunca terão vergonha na cara sequer para demitir-se, quanto mais pintar a cara de preto e virem, como nos tempos da Revolução Cultural, a público fazer a autocrítica: "não semos mais que umas putas, e baratuchas".

ucranianas

quarta-feira, maio 25, 2022

playlist: «Umru Mayne»

da ética do despojamento à identificação impossível

«Desta viagem do velho Arlanza até Sout'n' vou guardar uma indelével memória.» José Rodrigues Miguéis (1901-1980), «Gente da terceira classe», Gente da Terceira Classe (1962)

Texto que abre o volume com o mesmo título, publicado em 1962, e apresentado em epígrafe como "Jornal de bordo - 1935", é mais reportagem que conto. Filho de imigrante galego, e licenciado em Ciências Pedagógicas pela Universidade de Bruxelas, fartou-se certamente da parvónia que era Lisboa em 1935, e ruma aos Estados Unidos, onde viverá o resto da vida, com breves intermitências.

Comunista de há muito, os tipos que nos apresenta nesta terceira classe de que obviamente não fazia parte, merecem-lhe uma atenção em que salta à vista a vontade de idealização do povo que aqui está longe de aparecer em carne e osso, por vezes chegando à comiseração, quase à repugnância pelo primitivismo -- que já Raul Brandão, por exemplo notava, ou Ferreira de Castro também, ambos, porém com maior empatia e nunca usando de ironia. Miguéis, diria, vai além da ironia: a mordacidade por vezes quase camiliana, está muito presente. Nem as figuras que nitidamente idealiza -- o antigo marinheiro ou a velha popular do Barroso --  sobrevivem quando abrem a boca. Um marxista com vontade de ideal, numa visão benigna; um cínico diria: o povo não serve?, muda-se o povo! Também foi tentado, com o sucesso que se conhece. No entanto, a sua sinceridade é indiscutível, tal como o apurado sentido crítico, mesmo que ocasionalmente toldado pelo vezo ideológico, sempre discreto, contudo, como se impõe.

terça-feira, maio 24, 2022

playlist: «The Trouble with Angels»

a guerra da Ucrânia vista à maneira do «Maus» (ucranianas XCIX)

 Maus, de Art Spiegelman, se bem se lembram, é uma novela gráfica que conta a história do pai, um sobrevivente de Auschwitz, sob a forma de animais antropomorfizados: os judeus eram ratos, gatos os nazis, e os polacos colaboracionistas, porcos.

Se animalizar os líderes desta guerra entre a Rússia e os Estados Unidos na Ucrânia, Biden será um lobo velho e Putin um urso; Boris Johnson, um porco, Ursula uma cadela, como o rafeiro do Borrell, Stoltenberg, assim como o Duda, da Polónia, chacais; Lukashenko, um facochero. Guterres, sei lá, um mocho ? Já Xi Jiping, esse tem sido um panda, come raízes de bambu e vê.

Em tempo: esquecia-me do Zelensly -- uma raposa, claro.


"Leitor de BD"

 





Lonesome - 1. A Pista do Pregador, de Yves Swolfs

(aqui)

segunda-feira, maio 23, 2022

playlist: «The Gypsy Faerie Queen»

a experiência dos mèrdia (ucranianas XCVIII)

1. Quem já não sabe de cor as "notícias" atiradas pela imprensa, nomeadamente as televisões, a propósito da guerra na Ucrânia? 

Como se fôssemos todos muito analfabetos, carinhas larocas que fazem o lugar de pivôs das estações lançam para uma audiência que supõem igualmente burra e iletrada: "fontes ucranianas avançam que foram destruídos x tanques russos (sempre uma data deles) e mortos não sei quantos soldados". Mas esta nem é a melhor: é particularmente delicioso ouvir coisas como esta: "Segundo o Ministério da Defesa Britânico, o exército russo (...)" (segue-se uma tragédia qualquer). 

2. Entretanto, os negregados militares -- os honestos ou competentes, independentemente  da avaliação que façam -- dizem claramente: a Ucrânia está a perder -- como sucedeu ontem com o coronel Mendes Dias, que assume a sua posição pró-Nato com honestidade, sem deixar de dizer as coisas como elas se lhe afiguram no momento.

Os militares voltam, por isso, na generalidade, e apesar de muto pressionados pela onda propagandística pró-Pentágono, a marcar a diferença ao contrário de uma grande parte dos comentadores e dos jornalistas. 

Já agora, insuspeitos de putinismo, tenho ouvido com agrado Miguel Szymanski (jornalista) e Tiago Ferreira Lopes (especialista em relações internacionais). Ter uma opinião, sem escondê-la dos leitores/espectadores não é incompatível com uma análise honesta.

3. Entretanto, passo pelo café, sintonizado na mtv, uma das muitas dejecções vindas da pátria da democracy, cujas redes transformam em cloacas os domicílios de quem  sintoniza. Certamente partícipe no esforço humanitário projectado por esta galáxia comunicacional, um exibia-se espectáculo ao vivo e em dialecto duma Natalia Przbzbzybzbz, para que fiquemos todos imbuídos do espírito.

4. Claro que dizer que a Ucrânia nunca quis cumprir os Acordos de Minsk ou que preparava, com conveniente assessoria nato, um ataque de Kiev ao Donbass separatista, é coisa que tem de ser dita por um destes majores-generais a quem a vigarice repugna. Mas isso também só existe graças à imprensa livre, que é uma das poucas coisas boas que nos vem de lá. Imagine-se o que seria só termos acesso aos comentários de Raquel Vaz Pinto (ouvir para acreditar) ou do Serafim Saudade da sic?

ucranianas

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«Quem primeiro juntou ao seu ofício de ganhar o pão o gosto de coleccionar alguma coisa -- copos, relógios, caixas de fósforos, selos de correio, ingratidões -- fez dois achados preciosos: um motivo de interesse para a existência pardacenta de cada dia e um expediente para apressar o correr da máquina do tempo.» 
Fidelino de Figueiredo (1886-1967), «O gosto de coleccionar», Um Coleccionador de Angústias (1951)

Pela ironia do objecto coleccionável aduzido se percebe que o coleccionismo de que se falará, num livro que pertence à minha estante definitiva não será de modo algum o de porta-chaves. Fidelino de Figueiredo, que hoje quase ninguém sabe quem tenha sido, é uma dos grandes intelectuais portugueses do século XX, e não só. António José Saraiva dedicou-lhe o notável A Tertúlia Ocidental, ao seu mestre.
Como não somos um país sério nem para levar a sério, apesar da vetusta idade, Fidelino só existe nas bibliotecas e nos alfarrabistas. Outra coisa fôssemos, e haveria, disponível e a preço acessível, um ou dois volumes antológicos. Ele é apenas um em muitos casos. Achavam o Eduardo Lourenço bom? Pois este é melhor.  O azar é nosso.

domingo, maio 22, 2022

flores, generosidades, mas pouca paciência - Costa na Ucrânia (2) (ucranianas XCVII)

 Pode servir para eventuais pretensões europeias de Costa, mas aquela de acelerar a entrada da Ucrânia na UE não terá efeito nenhum. Serviu apara amaciar o Zelensky, uma espécie de cobrador certificado pelos Estados Unidos.

250 milhões de euros entregues a um governo, a uma clique que provocou a Rússia, responsável pela miséria que estamos a ver. Não tenho pachorra.

Em tempo: esta manhã, 23 de Maio, oiço na rádio que Costa foi prudente quanto à entrada acelerada da Ucrânia na União Europeia, depois de no fim-de-semana ouvir relatar o oposto. Em que ficamos? Já não basta a maior parte dos merdia ser veículo imbecil de propaganda?... 

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playlist: «Magnolia»

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sábado, maio 21, 2022

playlist: «Generations Will Rize»

uma alegoria do 'Caminho'





Pier Paolo Pasolini, Passarinhos e Passarões (1966)
Totó, Ninetto Davoli, Femi Benussi
Ennio Morricone, Domenico Modugno


sexta-feira, maio 20, 2022

playlist: «American Idol»

António Costa na Ucrânia (ucranianas XCVI)

Até agora, Costa tem cumprido os serviços mínimos, porque ele, fino como é e com assessores militares que parece parece ter, está farto se ver o filme dos americanos. Mas a verdade é que temos de fazer os que os Estados Unidos mandam. pobres de nós; se até a França e a Alemanha andam a arrastar os pés... A Inglaterra não passa da ponta de lança dos americanos, com um reles que se presta a tudo -- os tories têm o seu Bliar. Quanto à Turquia, veremos, se como é dito pelos analistas, tudo não passa de barganha de bazar. 

Não me parece que a vontade de ir fazer o número com o Zelensky fosse grande, mas há coisas que nos ultrapassam. Eu gostaria que ele não fosse para lá dizer as tretas consabidas e fazer dos portugueses parvos, já nos basta o Santos Silva. Que fosse lá só fazer os serviços mínimos...

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quarta-feira, maio 18, 2022

playlist: «Particles»

o milagre da transformação da rendição em retirada (ucranianas XCV)

Rendição. Todos vimos a rendição de tropa ucraniana aos soldados russos, vindos dos estaleiros em Mariupol.  Tropa essa que seguiu para território ocupado pela Rússia. Que as autoridades ucranianas e aliados tivesse querido minimizar a derrota, falando em retirada em vez de rendição, estão no seu papel, compreende-se. Que as televisões embarquem na propaganda, não espanta, tem sido sempre esse o seu papel, pelas razões que tenho aduzido. Felizmente há os militares, que não estão, na sua maioria para se prestar ao jogo sujo, não se deixam utilizar nem se intimidam com a pressão analfabeta das "redes"..., e falam no óbvio, que toda a gente viu: a rendição. Além de Agostinho Costa e Carlos Branco, que se dão ao respeito, respeitando que os escuta, também o general Pinto Ramalho, ex-CEME, se referiu à rendição. Claro que também ouvi o historiador António José Telo a dizer parvoíces, sustentando de que não, de modo algum, não se tratava de uma rendição mas do cumprimento de instruções superiores. Eu já o tinha ouvido delirante falando na resistência heróica deste pessoal. Descontando o facto de quererem salvar a pele, pois há contas a ajustar relativas a 2014, o heroísmo está todo na cabeça de Telo. E essa das instruções superiores que terão recebido, é de rir. Instruções superiores para se entregarem ao inimigo que nome tem? Não é rendição?

"Heróis da Ucrânia". Ainda mais branqueados os neo-nazis do Batalhão de Azov, agora transformados em heróis da Ucrânia. Claro que os americanos e os seus homens de mão não têm escrúpulos. Mas fazer desta tropa fandanga heróis (o heroísmo foi o de se barricarem nos estaleiros, apesar de tudo), vem até dar razão ao Putin: que raio de país este que faz dos neo-nazis heróis... Claro que a maioria dos ucranianos não é nazi, até pelo que sofreram na II Guerra Mundial. Mas que eles estão ao serviço do Pentágono, e dos agentes que estão no governo da Ucrânia, lá isso...

O interesse da Europa. Pinto Ramalho foi, aliás, claríssimo no que respeita ao interesses da Europa, que não são exactamente os mesmos dos Estados Unidos, criticando aquele ímpeto anglo-americano exortativo: a Ucrânia vai ganhar a guerra. Talvez já não seja até ao último ucraniano, como planeado, mas até ao último europeu. Os militares já viram o filme todo há que tempos, e porque estudam e sabem, sem andarem a mandar bocas nas "redes", são os mais preocupados.

Derrota estratégica. O ministro João Gomes Cravinho, a propósito do pedido de adesão da Finlândia e da Suécia à Nato, afirmou que a Rússia sofrera uma derrota estratégica. É indesmentível. Mais uma razão para não deixar a Ucrânia na mão dos americanos, como estava até aqui. Portanto, para já, meia derrota.

terça-feira, maio 17, 2022

domingo, maio 15, 2022

"Porque nos estão a fazer isto?..." (ucranianas XCIV)

Vi hoje duas intervenções de Carla Rodrigues, com imagem de João Franco, na CNNPortugal/TVI a partir de uma tenda em Zaporíjia -- a antiga Aleksandrovsk do Império Russo --, acolhendo refugiados vindos das cidades do sul, como Mariupol.

Sem ter nada de espectacular enquanto reportagem de guerra -- ataques, fugas, etc. -- foi das melhores a que assisti, pela sua dimensão humana. Muita gente nove e de meia idade, algumas crianças (não me lembro de ver velhos), em actividades tão anódinas como fundamentais pata quem vem de da guerra: tomar uma refeição, falar com o vizinho da mesa, preencher formulários, falar ao telefone com familiares ou amigos, dando ou recebendo notícias.

Segundo Carla Rodrigues, são pessoas exaustas, física e em especial psicologicamente. Pudera. E a ecoar, a pergunta tantas vezes já por mim ouvida, transmitida pelos mensageiros, os jornalistas: porquê isto?; porque nos estão a fazer isto?...

São as vítimas daquilo que o Mircea Eliade designava pelo terror da História. Somos todos nós, quantos querem viver a sua vida sem oprimir ninguém nem ser oprimido ou utilizado, apanhados pelo jogo de interesses e pelas políticas imperiais e belicistas, demasiado fracos para sustê-las, tendo poucas formas de resistir: fugir, ficar ou ficar e pegar em armas conforme o lado de que se esteja.

Sons e imagens que nos forçam à humildade, mas que nos espicaçam ainda mais o sentido crítico, para perceber o que está em causa e as origens de tudo isto. E fazê-lo com honestidade e independência moral, como sempre procurei e continuarei enquanto me deixarem, a propósito desta guerra entre os Estados Unidos e a Rússia em solo ucraniano, como sempre tenho dito e continuarei a dizer cada vez com mais força -- estamos à beira de uma guerra incitada pelos Estados Unidos  (ou pelo Pentágono e a CIA, que, em política externa significam EUA).

Outro momento particularmente comovente foi o da nonagenária de São Petersburgo, sobrevivente do cerco de Leningrado, detida por, maravilhosa, protestar contra a guerra na Ucrânia, empunhando dois cartazes caseiros.

Finalmente, outra cena marcante, agora perto da frente, com a repórter Ana Sofia Cardoso e o repórter de imagem, cujo nome infelizmente não fixei: com uma camponesa ucraniana de enxada na mão quando têm de abrigar-se dos morteiros disparados pelos russos. A camponesa entoa a ladainha, e pela tradução e entoação, percebi que não era apenas um responso de livração do perigo, mas uma verdadeira encomendação da alma. Dramático a valer...

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playlist: «Loud Shoes»

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sábado, maio 14, 2022

playlist: «Love Is The King»

ai Erdogan, Erdogan... (ucranianas XCIII)

Ser contra a entrada na Finlândia e da Suécia na Nato porque servem de refúgio aos membros do PKK... Já vi melhores desculpas. Mas cola, como argumento comunicacional, para os que estão a leste, é claro. Vamos ver quanto tempo aguenta.

A Turquia, país da Nato, não pode dizer o que diz o Papa ou Lula, nem chamar provocadores aos EUA nem àquele rafeiro inglês -- um perfeito representante dos nossos valores. 

O Erdogan é um cágado velho, e sabe perfeitamente que os amigos americanos orquestraram o golpe para o derrubar, mas, claro, não pode admiti-lo.

Só tenho pena que, mais uma vez, os curdos estejam na berlinda. Depois de combaterem por nós contra o Daesh, talvez sirvam de álibi para que não se faça a vontade ao Biden e do inqualificável Boris Johnson. Estar ao lado destes gajos é que é uma verdadeira vergonha, e deixar-se manobrar por eles, ainda pior.

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sexta-feira, maio 13, 2022

playlist: «This Ship Will Sink»

caracteres móveis

«As pessoas poderosas podem dar-se ao luxo de ser malcomportadas, ao passo que as pobres e indefesas têm de ter cuidado consigo. Têm de aceitar a acusação de serem insípidas, de modo a evitar acusações mais graves.» 

Terry Eagleton, Como Ler Literatura (2013, trad. Miguel Martins, 2021) -- a propósito de uma personagem de um livro de Jane Austen.

Quem não tem medo do Poder?: o louco, o desesperado, o que não tem nada a perder. Os outros, mesmo o despojado que nada quer para si a não ser assistir à luz da manhã, até esse tem medo que esta lhe seja retirada

playlist: «Strange Timez»

quinta-feira, maio 12, 2022

sobe a parada (ucranianas XCII)

Como é público e notório, o que me interessa é que os Estados Unidos não ganhem esta guerra com a Rússia. Até porque, a acontecer e com uma Rússia enfraquecida, em poucos anos haverá uma outra no Pacífico, com a China.

Não sei o que irá acontecer. Neste momento, a minha convicção é de que a Ucrânia pode dizer adeus ao Donbass, ficando possivelmente sem acesso ao mar, o que seria um castigo pesado, embora tudo aquilo seja russo desde o século XVIII, as cidades, a maioria da população.

Que as coisas não correram militarmente bem a Putin no início, creio que é uma evidência, salvo opinião mais abalizada. Não vou atrás da propaganda massiva e nunca vista desencadeada sobre a opinião-pública ocidental, mas pelo facto singelo de a operação ter mudado de comando poucas semanas depois de iniciada.

Pelo que tenho ouvido dos militares, a progressão no Donbass tem sido consistente, embora lenta, e parece-me que tem avançado rapidamente no sul.

A utilização do armamento da Nato poderá fazer a diferença, mas, como tem sido dito, será preciso que ele chegue lá e haja gente que o maneje. 

O pedido de adesão, principalmente da Finlândia, à Nato, é uma derrota de Putin, claramente. E, do meu ponto de vista de português à beira do Atlântico, não de um finlandês sobre o Báltico, creio que se trata de um erro, de uma grossa asneira, para o qual contribuiu o compreensível sentimento de insegurança dos cidadãos, que, como todos os cidadãos desinformados em qualquer lado, não compreendem a razão desta invasão, embora ela exista. E com o desenrolar do terror da guerra e da propaganda pesada, os 70% que eram contra a adesão da Finlândia passaram a 20% ou menos. Ou seja: a Finlândia resistiu à União Soviética, mas não resiste a Putin. Ridículo.

Entretanto, numa hábil jogada, hábil e audaz, o peão inglês dos Estados Unidos assina um tratado de aliança e assistência militar, comprometendo-se a entrar na guerra em caso de agressão ou invasão, a pedido dos países invadidos. 

Tal como a maior parte dos observadores, não penso que a Rússia invada a Finlândia, mas pode atacá-la destrutivamente (tal como poderia ter facilmente arrasado Kiev...). E ficar à espera das botas inglesas, sem atacar esta, país da Nato.

É evidente que os analistas do Kremlin estudaram todos os cenários, mesmo se surpreendidos por uma resistência ucraniana com que parece não terem contado. Ou seja: se não desde o início, há semanas que os russos estão à espera disto.

O que vai acontecer? Não sei. O arrastar da guerra na Ucrânia é altamente indesejável para a Rússia, mas não me parece que os ucranianos possam sonhar tirá-los de lá. (Uma situação de guerra de baixa intensidade pode manter-se, mas isso não causará uma tão grande mossa à Rússia, suponho). Ou podem querer, num acto de desafio ainda mais arriscado do que o inglês, fazer pagar caro à Finlândia com um ataque brutal.

Apesar de tudo, espero que não. No entanto, Rússia e Estados Unidos já estão frente a frente.

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quarta-feira, maio 11, 2022

playlist: « Over and Over and Over»

JornaL

1. Abuso de crianças dentro da igreja.  Bem sei que a questão é mais complexa, mas estou convencido de que uma aberração como o celibato obrigatório dos padres e freiras contribuiu para deformar algumas mentes.

2. Lei dos Metadados. Não percebo como é possível a Assembleia da República parir leis inconstitucionais. Não há para lá assessores aos pontapés? Para que servem?

3. "Pégasus". Muitíssimo conveniente as alegadas escutas dos serviços secretos espanhóis a Pedro Sánchez e alguns ministros, depois de serem apanhados a espiar os líderes catalães. devem pensar que somos parvos, carne para canhão comunicacional, à maneira do método emprenhamento artificial usado com a guerra da Ucrânia.

4. Atrasos de vida. Os talibãs voltam a impor o véu completo e recomendam a burca. Primitivos e maus.

5. Les beaux esprits...  João Botelho a filmar a poesia de Alexandre O'Neill, dará um bom filme? É bem provável.

6. Livro que me apetece. Devagar, a Poesia, de Rosa Maria Martelo (Documenta).

7. Uma frase. «[...] O'Neill tem na relação com Portugal um tema cuja intensidade e profundidade apenas encontra paralelo em pessoa.» Fernando Cabral Martins, JL. Será? O primeiro nome que me vem à cabeça é o de Ruy Belo, mas há outros.

"Leitor de BD"



François Shuiten,.

             Blake e Mortimer - O Último Faraó

(aqui)



terça-feira, maio 10, 2022

playlist: «Nha Charme»

sai um memofante para o prof. Azeredo Lopes (ucranianas XCI)

Deu-me ontem para ver o Telejornal. Depois de assistir ao indigente comentário dialogado Márcia Rodrigues-José Rodrigues dos Santos (o ridículo não mata), cai-me no colo a Cândida Pinto. Escusado será dizer que me levantei logo, nauseado, e saí dali. No regresso, liguei para a cnn-Portugal, como de costume (quem diria....). 

Depois, chego aos agregadores de notícias, e dou com um texto do antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes, que mostra bem o quanto a universidade bateu no fundo. Condenar a invasão russa da Ucrânia com base no óbvio ululante de que o Direito Internacional foi violado, pode servir para o papagueamento comunicacional político-jornalístico, mas é inadmissível para um observador objectivo das relações internacionais, a não ser por parcialidade, que deveria ser assumida sem ambiguidade, em vez de se acobertar sob a capa da análise. Outro fosse o protagonista e seria só analfabetismo.

(parênteses: Eu cá sou parcialíssimo: em primeiro lugar sou anti-americano (primário, secundário e terciário -- anti-administração, repito-me); depois logo se vê. Entretanto, Tulsi Gabbard...)

Lopes esquecido: esquece-se de que a Rússia só aceitou a independência da Ucrânia depois da desnuclearização desta, que foi efectivada. Por alguma coisa seria. Achava-se então que a previsível (?) adesão da Ucrânia à Nato seria algo a que Putin, ou outro qualquer, aceitaria impávido, pois estava em causa o Direito Internacional?...  Claro que há sempre os vigaristas que dizem: "Nãããão... A Entrada na Nato não estava em cima da mesa...!" Não, pois não estava...

Ao menos podiam aprender alguma coisa com o Papa, e até com o antigo operário Lula. Que jornalistas superficiais vão na cantiga, é apenas triste; mas o espaço comunicacional está a abarrotar destas habilidades, destas meias-verdades e também deste tipo de burrice, forjada ou efectiva. 

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segunda-feira, maio 09, 2022

playlist: «Lisboando»

a geometria variável dos altifalantes do Pentágono e um aviso à navegação aos mais excitados (ucranianas XC)

 Ouvi ontem um dos muitos especialistas em relações Internacionais (alguns são bons; outros, poucochinho), elocutar mais esta parvoíce: a Rússia fica cercada, tornando-se um pária internacional. A senhora, nada desagradável, diga-se, acha que o mundo se resume aos Estados Unidos e à União Europeia, esta tornada numa espécie de Bielorrússia dos americanos -- notoriamente. Esquecem-se de que existe a China, a Índia, o Irão (que tem o melhor cinema do mundo, já agora...), toda a América Latina -- que conhece bem o cadastro dos americanos --, a começar pelo Brasil.

Há aqui uma série de pessoas, por razões várias, que me dispenso de analisar, não s exime ou a mostrar a parcialidade ou a amochar. 

Também, verdade seja dita, não só não se convidam analistas que defendam a Rússia, como são pouco os que se dão ao luxo de dizer tudo o que pensam -- só os séniores como Jaime Nogueira Pinto, Fernando Rosas ou Ângelo Correia, e pouco mais, entre os quais alguns, poucos, militares.

Isto sem contar, com as ameaças. É nestas situações que eu tenho pena de não ser um verdadeiro putinista...



domingo, maio 08, 2022

playlist: «Lavender's Blue»

questões nucleares ou as barbas dos finlandeses (ucranianas LXXIX)

A Nato "a ladrar" às portas da Rússia levou à reacção de Moscovo, disse o Papa. Talvez as declarações de Francisco possam abrir os olhos a muitos, e questionar para onde nos estão a levar os idiotas dos dirigentes europeus, a mando dos americanos. O Papa não é parvo nem é um coninhas, ao contrário de boa parte daqueles.

Discordo do grande Lula. Diz que Zelensky é tão culpado quanto Putin. Não é bem assim: como também disse o anterior e espero que próximo presidente, "Zelensky quis a guerra". Como tenho dito e redito: enganado, comprado ou ambas as coisas pelo aparelho militar americano.

Numa visita a uma fábrica de armamento, Biden, senil como sempre, saiu-se com esta junto de trabalhadores (cito de memória): estas armas vão salvar vidas e proteger-nos de uma III Guerra Mundial em solo europeu. Boneco de ventríloquo do Pentágono e da indústria de armamento, aquele senil deixou fugir o que todos sabem: a convicção de que uma guerra nuclear no Velho Continente é possível sem que lhes bata à porta.

"Especialistas" de meia-tigela em relações internacionais, jornalistas analfabetos, esportulados pela CIA, e demais putedo comunicacional sortido têm servido de agentes de comunicação oficiosos do Pentágono. No outro dia, uma destas senhoras que vêm debitar a propaganda americana foi candidamente clara (ou então já nem se preocupa em disfarçar): a Rússia não pode ganhar esta guerra e os Estados Unidos não a podem perder, pois a seguir virá a China. Já se tinha percebido há muito.

Finlândia. Tal como a Polónia e os estados bálticos, a Finlândia tem razões de queixa da União Soviética, mas ao contrário destas, gozou de um estatuto de neutralidade que, repetindo-me, proporcionou-lhe uma prosperidade e bem-estar que são conhecidos. A opinião pública assustada pela reacção russa à estratégia americana desenvolvida na Ucrânia, porém mascarada pelos propagandistas do Pentágono, inclina-se para a adesão à NATO, constituindo-se, assim, uma nova ameaça para a Rússia. Para mim, trata-se de uma flagrante imprudência, não sendo de admirar que esta faça um aviso definitivo e musculado -- e quem sabe devastador. A fronteira finlandesa está mais próxima de São Petersburgo que a ucraniana. Não faço ideia o que seja a classe dirigente finlandesa, mas não me admiro que seja da mais baixa extracção política. como a maioria dos congéneres europeus. O melhor será os finlandeses porem as barbas de molho.


sexta-feira, maio 06, 2022

quinta-feira, maio 05, 2022

playlist: «Villa Mariana (Pela Madrugada)»

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a "Batalha de Kiev" e outras aldrabices (ucranianas LXXVIII)

E não só: o miserável Johnson falou aos deputados ucranianos. Este traste, aplaudido por Zelensky, comprovadamente outro homem dos americanos, disse que a Ucrânia vai ganhar esta guerra. 

É de rir.  Desde que os Estados Unidos passaram a tomar conta do país, a Ucrânia já perdeu. Tem de arrostar com a ira dos russos, pode dizer adeus ao Donbass, a uma parte, senão a toda a costa do Mar Negro, e será afortunada se conseguir manter Kiev. A não ser que haja um golpe de estado em Moscovo (nem estou a ver bem por que razão, para já). 

Tentam prolongar a guerra à custa do povo ucraniano e da destruição do país. à espera que o golpe chegue. Mas com ou sem Putin, a política externa não sofrerá grandes alterações. Mesmo com o bebedolas do Ieltsin, os russos só aceitaram uma Ucrânia independente desarmada (a ligeireza com que estas coisas se esquecem...) e a manutenção da frota do Mar Negro, em Sebastopol.

Bem pode por isso o Biden pedir ao Congresso para despachar a dotação de 30 mil milhões de dólares em ajuda à Ucrânia. Em última análise o mais que conseguirão é um encontro marcado com o destino. Já me perdi com os montantes da generosa espórtula americana à Ucrânia. Meu Deus, como eles são altruístas... Comove-me grandemente nesta fight pela democracy. E quando eles falam na "batalha de Kiev"? Mas eles estarão a falar para quem? Para as opiniões-públicas que andam a enganar. Se o tempo corre contra a Rússia, o que é verdade, também corre contra a manipulação.

A incrível Úrsula, a perorar belicosa no Parlamento Europeu, ou seja, uma presidente da Comissão Europeia, totalmente enfeudada aos interesses americanos, com um discurso agressivo. Depois desta fraseologia vem o quê? Com a Alemanha manietada, a Polónia de garra garra afiada, estamos entregues às perícias do Macron, sem esquecer o inestimável Orbán, que, no que respeita à UE não é um banana como nós aqui (do Chega ao Bloco, uma frente unida; salva-se o PCP, honra lhe seja.)

Por falar em imprensa, li na sic, no restaurante ao almoço, que o russo de Setúbal "tem ligações ao Kremlin". Está-se mesmo a ver: saído daquela enxovia onde tem a sede directamente para a mesa de seis metros do Vladimir. Que o homem trabalhe para a embaixada, ainda posso admitir; mas em Setúbal? Certamente à cata de inéditos fesceninos do Bocage, para desmoralizar o país e dar mais argumentos á Úrsula.

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quarta-feira, maio 04, 2022

terça-feira, maio 03, 2022

«Mamma Roma»





Um filme que é a Magnani, e que não difere muito de Accattone, excepto em subtileza e nas referências há pintura de Caravaggio, fui lembrado, Mantegna, claro. O final é glorioso.

domingo, maio 01, 2022

foi uma pena os russos não terem mandado uns mísseis quando lá esteve a estafermo da Pelosi (ucranianas LXXVII)

A indecorosa Nancy Pelosi foi a Kiev visitar os seus homens, dar ânimo às suas tropas. Eu comecei esta série sobre a maldita guerra dizendo que os americanos iam dar guerra naos russos até ao último ucraniano. E é isso mesmo que está a acontecer, debaixo dos nossos narizes.

Com sorte, a guerra vai bater-nos à porta. Temos os homens dos americanos na Europa: o saguim do Stoltenberg, todo o governo inglês, a figura de Úrsula, os polacos.  E o Zelensky, agora comprovadamente um joguete dos americanos, algo que até agora eu tivera sempre cuidado em não dizer, porque não gosto de falar no ar

Ou o Putin consegue acabar depressa com esta porcaria e nos livra da Ucrânia e dos seus agentes americanos, ou então adeuzinho ao Putin, talvez até a uma boa parte da Europa. Mas aí, talvez os americanos não se fiquem a rir, como até agora. Se o mal chagar, vamos também pensar neles nas nossas orações.

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playlist: «All The Love in Paris»

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