«Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha Vida -- que neste século, tão consumido pelas incertezas da Inteligência e tão angustiado pelos tormentos do Dinheiro, encerra, penso eu e pensa o meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.» Eça de Queirós, A Relíquia (1887)
«Nenhum outro passageiro descera. Dois homens rústicos, tipos de guardadores de gado, de mantas e safões de pele de ovelha, ostentando militarmente cajados altos como armas em descanso, atentaram nele, curiosos, pasmados, mas sem quebrarem suas atitudes rígidas, indiferentes àquele estranho que chegava.» Manuel Ribeiro, A Planície Heróica (1927)
«Horácio estava junto de Idalina, também conhecida de "Piloto"; estavam sentados num dorso de rocha que emergia da terra, ao cabo das decrépitas e negrentas casas do Eiró, no cimo da vila. E tão atarefado parecia Horácio com as palavras que ia dizendo à rapariga, que não deu, sequer, pela chegada do cão.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
1 comentário:
«Também li a obra de Campos Júnior, mas já me não lembro nada de nada das peripécias e enredo. Com certeza que devia entrançar os amores do poeta com a Infanta, com Catarina de Ataíde, com a Leonor, de cantarinha na anca, e Camões figurar sucessivamente de garboso estudante em Coimbra, Trinca-fortes em Lisboa, Aquiles no Oriente, etc., etc. Tudo isso se condimentava de panache em barda, fidalguia de quatro costados, duelos, saraus no Paço, em suma, trinta por uma linha de cor e de prosápia, a letra precursora do filme com que acabaram por inebriar-se as almas simples e megalómanas dos Portugueses.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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