A propósito de Raymond Macherot (1924-2008), um mestre da BD franco-belga, Hergé, que muito o admirava, foi um dia taxativo: «Macherot c'est Macherot...». Uma das suas personagens mais queridas, fruto do fascínio que sobre si exercia a Inglaterra, é o patusco Coronel Clifton – Harold Wilberforce Clifton, oficial reformado do MI5, detective amador, escoteiro graduado, com um fleumático bigode imperial, indumentária impecável, governanta previdente e um MG-Type Midget de fazer inveja, ideal para as deslocações entre Londres e a cidadezinha fictícia de Puddington, onde vive.
Macherot assinou apenas três álbuns – e com que sedutora simplicidade de linhas e eficácia narrativa. A transferência da revista Tintin para a rival Spirou obrigou-o a largar Clifton, bem como Clorofila, um rato do campo de quem oportunamente falaremos.
Em As Investigações do Coronel Clifton, publicadas em 1961, um emir das Arábias deposita o maior diamante do mundo no estabelecimento de dois honrados ourives da capital inglesa, para que estes lhe façam um exuberante anel. Assustados com o montante do seguro, optam por guardá-lo no cofre da casa, um impante «”Johnson” superblindado de tripla combinação», mas – estava-se mesmo a ver – no dia seguinte os honestos joalheiros darão de caras com o sítio... Para evitar o escândalo do assalto, recorrem aos serviços do famoso militar retirado.
As Investigações do Coronel Clifton
texto e desenhos: Raymond Macherot
edição: Editorial Íbis, Venda Nova, 1969
(Outubro, 2019)
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