Laerte Coutinho (São Paulo, 1951), de cuja mão saíram, entre outros, os iconoclastas Piratas do Tietê e Suriá, a Garota do Circo, para um público mais jovem, está na linha da frente dos grandes autores brasileiros de quadrinhos. As tiras humorísticas de BD implicam um espírito crítico apurado, capacidade de síntese e, naturalmente, o talento do humor. Essas qualidades tem-nas Laerte em elevado grau, lançando um olhar irónico e inteligente sobre a sociedade e as pessoas que nela se movem. Mordacidade de alto nível, que lança mão de todos os recursos para atingir o seu fim, o de fazer-nos rir; mas nunca é um riso gratuito ou grosseiro, antes uma provocação que nos faz pensar, em que recorre ao trocadilho e ao cómico de situação, entrando pelo absurdo. Em Laerte nada está, felizmente, a salvo: a vida social de manada, a História, o imaginário e a cultura populares, a publicidade, o sexo e as relações pessoais, a deficiência – tudo serve para o seu manejo exímio do inesperado e do contra-senso. Por vezes, lembra os norte-americanos Johnny Hart e Grant Parker (B.C. e O Mago de Id).
Classificados
são tiras publicadas no caderno de anúncios da Folha de São Paulo, de
grande prestígio na imprensa brasileira. Ou muito nos enganamos, ou as páginas
de anúncios seriam das mais vistas pelos leitores: por cada tira, o sorriso
estava garantido e a gargalhada era uma forte possibilidade.
Classificados
texto e desenhos: Laerte
edição: Devir, Lisboa e São Paulo, 2001
(Setembro, 2019)
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