sábado, agosto 17, 2024

tempo de romance

«Os caules nus, quase negros, assimétricos, eram colunas dum templo bárbaro, em cuja cúpula transparente o sol ia tecendo prateada e fantasiosa malha. Por vezes, o tecido incorpóreo esfarrapava-se e descia em fluidos caprichosos, até os galhos, formando pulseiras, ou até o chão, onde coagulava em jóias bizarras.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) § «O sol encontrava-o sempre de pé, e em pé, e em pé o deixava ao esconder-se. / Estas qualidades, juntas a uma longa experiência adquirida à custa de muito sol e muita chuva em campo descoberto, faziam dele um lavrador consumado, o que, diga-se a verdade, era confessado por todos, sem estorvo de malquerenças e murmurações.» Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor (1867) § «Reza a história que o servo de Deus vinha trilhado do caminho e tinha sede; aqui lhe foi dado matá-la numa fontainha, que não era este chafariz formoso, talhado, mais parece, para os jardins do papa que para cerca de monges. Por certo que o suor lhe caía do rosto e o bebeu a terra onde pisamos.» Aquilino Ribeiro, A Via Sinuosa (1918) § «A quadra, bastante vasta, pertencia a um segundo pavimento do claustro e suas capelas, que fora paço episcopal em épocas remotas da Igreja e depois albergaria de clérigos e fabriqueiros. Um dos últimos cabidos reedificara-o à moderna, para moradia do prior, do chantre, do mestre de capela e serventuários que à sombra da basílica ficavam tendo acolhimento e guarida certa.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) 

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Nas ventanas do campanário, muito recortado pelo luar, o sino era mesmo a fralda duma moça a chegar à varanda. Mas não se distinguia o 'barzabu' do galo, diluído na farfalha do luar, como nos dias grandes se dilui em sol o cocoricó que os galos autênticos de entre as frangas ao esgravatar nas eiras.»
Aquilino Ribeiro, "Terras do Demo". Romance. (1919)