segunda-feira, agosto 05, 2024

tempo de novela

«Já não posso com estes tipos. A aldeia está a transformar-se numa coisa amarga, numa coisa vasta e amarga, que se não fez para os meus nervos delicados. A verdadeira dor e a verdadeira piedade têm um peso insuportável. Já não posso.» Raul Brandão, O Pobre de Pedir (póst., 1931) § «Danado aquele Malhadinhas de Barrelas, homem sobre o meanho, reles de figura, voz tão untuosa e tal ar de sisudez que nem o próprio Demo o julgaria capaz de, por um nonada, crivar à naifa um abdómen dum cristão.» Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas (1922) § «Eu chamo-me Teodoro -- e fui amanuense do Ministério do Reino. / Nesse tempo vivia eu à Travessa da Conceição n.º 106, na casa de hóspedes da D. Augusta, a esplêndida D. Augusta, viúva do major Marques. Tinha dois companheiros: o Cabrita, empregado na Administração do Bairro Central, esguio e amarelo como uma tocha de enterro; e o possante, o exuberante tenente Couceiro, grande tocador de viola francesa.» Eça de Queirós, O Mandarim (1880) § «O pequeno pegureiro contou as cabras à porta do curral; e, dando pela falta de uma, desatou a chorar com a maior boca e bulha que podia fazer.» Camilo Castelo Branco, Maria Moisés (1876) 

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Saiu da conjura generosa de tão altos expoentes um Camões hiperbólico, congestivo de grandeza e avatares. Comparticiparam dela quantos patrioteiros fazem destes casos jogos de supremacia internacional como nos campeonatos da bola, e os parvos, infinita legião que mete por todos os carreiros de Panúrgio e não compreende nem aceita nos autos independência mental, singularidade de visão, 'self-government' do espírito, como se isso redundasse pôr-lhes a geba à mostra.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro. "Introdução". Ensaio (1950)