NOITE
Húmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada,
-- tempo inseguro do tempo! --
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.
Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas.
-- lábio da voz sem ventura! --
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas
A noite abria a frescura
dos campos todos molhados
-- sozinha, com seu perfume! --
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.
Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.
Viagem (1938) / Antologia Poética (1963)
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