1. «A raça dos Visigodos, conquistadora das Espanhas, subjugara toda a Península havia mais de um século.» (Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero, 1844)
Ainda hoje o termo visigodo nos transporta para a bruma do passado mais remoto; até parece que o povo germânico por cá andou antes dos romanos, quando é o contrário. Aquele, cristão, senhor da Península Ibérica, parte do sul de França e Norte de África. O romance dará conta que foi na guerra civil que assolava o reino de Rodrigo que o Conde de Ceuta pede auxílio às forças de Tárique, no distante 711. A primeira frase do romance dá-nos pois o palco -- a Ibéria -- o tempo aproximado da acção, que o leitor suspeitará avizinhar-se do ataque muçulmano, sempre incompletamente contado, e de que os agentes da acção é esse povo que invadiu a península na sequência da queda do Império Romano e na esteira doutros povos germânicos que por aqui passaram. O título, porém oferece-nos um nome e uma condição eclesial, fazendo nascer em quem lê uma curiosidade acrescida, em que haverá conflito, certamente religioso. O historiador cedia aqui ao romancista, como era forçoso.
Forçoso é também lembrar que o início da narrativa é precedido de uma «Introdução» do autor, que se prende, porém, com a questão do celibato dos padres, distante, pois, do tópico do incipit. Este, por sua vez, é encimado por esta epígrafe, extraída do Chronicon do Monge de Silos (Século XII): «A um tempo toda a raça goda, soltas as rédeas do governo, começou a inclinar o ânimo para a lascívia e soberba.» O conflito a haver não será assim -- ou não será apenas -- religioso, entre cristãos e muçulmanos, mas de outra natureza, civil, adivinha-se também. Mas, como também sabemos, à medida que avançamos na leitura, o choque interior do protagonista não será menos terrível.
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