sábado, fevereiro 18, 2023

25 romances (2) - o arejar da prosa

 

2. «Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo -- entende-se.» (Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra, 1846)

A ideia de viagem, substantivo e verbo, empregue no título e incipit do romance de Garrett; substantivo no plural, uma vez que ao percurso físico se somam as múltiplas digressões que o autor nos oferece ao longo do livro. Como já aqui escrevi, o incipit da Viagem à Volta do Meu Quarto (1839), de Xavier de Maistre (1763-1852), servindo como epígrafe -- -- «Qu'il est glorieux d'ouvrir une nouvelle carrière, et de paraître tout-à-cop dans le monde savant un livre de découvertes à la main, comme une comète inattendue étincelle dans l'espace!» --, dá o tom paródico e descontraído do texto, ajudado pelo sumário prévio do capítulo -- «De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas viagens.», etc. --,  mas também a noção de uma via que Garrett abre, um arejamento na prosa nacional, brisa que chega até nós.

Neste capítulo inicial, são expostas as razões, no tom vivificante da hora em que Garrett vai tomar o vapor no Terreiro do Paço -- seis da manhã de um dia de Julho de 1843 --, alarga-se nas primeiras considerações com que polvilhará todo o romance, detendo-se numa benigna e pitoresca disputa entre varinos e campinos sobre quem é mais forte: se os ribatejanos ou os beirões do litoral. 

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